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Perdido em Firenze e o inferno do Mogwai

Detalhe do Batistério em Firenze

Florença é uma cidade cara, uma das mais caras de toda a viagem. Um gelato aqui pode custar 9 euros (quase R$ 30) e um almoço simples pode sair por quase R$ 50. Refrigerantes são um assalto. Uma coca-cola lata não sai por menos de R$ 10 no centro histórico, que é deslumbrante, mas pode derrubar muitas economias claudicantes, como a nossa.

Na Galeria Degli Uffizi, o mais significativo museu da Renascença, por exemplo, a entrada é mais cara do que a do Louvre, e não aceita cartões nem dá desconto para estudantes (só para integrantes da Comunidade Europeia). E, ainda assim, as filas são enormes, uma das maiores que encontramos em toda a viagem. Agendamos um horário para o dia seguinte, e fomos descansar.

A Ponte Vecchio em Firenze

Na verdade, Lili foi descansar. Eu fui fazer a grande aventura da viagem até o momento: ir a show do Mogwai em um lugar que eu só sabia onde era pelo mapa, mas não tinha a mínima ideia de como chegar por ônibus, que não são lá tão explicativos como em outras cidades europeias que visitamos. O lance era pé na estrada, e vou te dizer que foi beeeeem divertido.

Li sobre o show em um jornal, e não sabia o horário, então parti às cegas com o mapa na mão atrás da Fortezza da Basso, uma antiga e enorme fortaleza datada do século 14 que hoje em dia é sede de inúmeras conferências, reuniões, concertos e iniciativas nacionais e internacionais, como o show do Motorhead, que tocou um dia antes do Mogwai.

Descobri por cartazes no caminho que o show estava agendado para às 21h30, e eu já estava bem perto do lugar às 19h30. Bacana. Era torcer para o lugar não ser monótono, pois eu teria duas horas para matar ali. Monótono? Nestes dias de julho a Fortezza da Basso está recebendo uma Feira Latina com comidas, bebidas, grupos e tudo mais o que você pode imaginar.

É um feirão com barracas de churrascarias gaúchas, “picanharias” argentinas tocando tango, quiosques de comida colombiana, tequilas e petiscos mexicanos, e tudo o mais. Deu uma puta vontade de encarar um churrasco brasileiro, mas acabei optando por um básico kebab acompanhando de uma cerveja dinamarquesa.

Mogwai em Firenze

E tô eu ali, convite do show no bolso, tomando a minha cerveja, quando o cara da mesa ao lado (com um amigo e outra amiga) elogia a minha camiseta com estampa de Miles Davis. Retribui elogiando a dele, do Jimi Hendrix Experience, e a garota da mesa comenta que falei em espanhol (portunhol, na verdade), e começamos, cada um de sua mesa, a falar de shows e tal.

Em dois minutos já estávamos amigos. Ele se chama Leonardo, tem 29 anos, mãe carioca (ele mesmo nasceu no Rio de Janeiro), mas veio para Roma aos 9 anos e hoje em dia trabalha com jornalismo e marketing no site EcologiaInViaggio. O diálogo rolava mais ou menos em portunhol da minha parte, com o italiano misturado com o carioca da dele, com a menina (que eu não entendi o nome) queridíssima traduzindo no bom espanhol. Foi hilário.

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Tomamos uma boa leva de birras os quatro, e eles (que são de Roma) contaram que estavam em Firenze para ver o Mogwai, e partiam na mesma noite para a cidade praieira de Livorno para ver, no dia seguinte, Kraftwerk e Aphex Twin. Ele tentou arranjar um espaço para mim e para Lili na casa em que eles iriam ficar em Livorno, mas não rolou. Mesmo assim estamos cogitando ir.

No fim, combinamos de trocar informações de bandas e artistas de cada país. Falei para ele da ótima cena independente nacional, ele contou que o cenário mainstream italiano está “una mierda”, tal qual o nosso. Todos na mesa reclamaram, e muito, do governo Berlusconi, e todos me ofereceram abrigo em Roma, caso eu e Lili ainda não tivéssemos reservado algum lugar.

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Dali, partimos para o show do Mogwai, que ficava em uma tenda aberta no centro da festa. Tente você imaginar a orgia de guitarras altíssimas dos escoceses tendo como fundo uma festa latina? Foi assim que aconteceu. O show foi absurdamente bom, daquele nível Mogwai de ser. As canções começam lentas e vão até o inferno tentar salvar anjos caídos.

A primeira do set list (em foto mais abaixo) foi “Friend of The Night”, do álbum “Mr. Beast”. Do último disco, “The Hawk Is Howling”, marcaram presença “I’m Jim Morrison,  I’m Dead” e o hit “Batcat”, mas o set list caprichado abriu espaço para os hinos infernais “Mogwai Fear Satan”, “Summer” e “You Don’t Know Jesus”.

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Na volta do bis, o aviso: “Essa é a última canção”. Nos primeiros acordes, sorrisos no meio do público, afinal não é sempre que a última canção de um show dura mais de 20 minutos. Desta forma, “My Father, My King” fechou o show de forma absolutamente ensurdecedora. Show finito, despedidas e e-mais trocados, hora de ir embora. E não é que eu me perdi em Florença…

Foram duas horas e pouco de show – acabou bem perto da meia noite. Com os ouvindos zunindo, saio por outro portão numa praça que já havia passado de ônibus. Procuro um ponto e caminho até lugar nenhum. As ruas raramente tem placas, então sigo o instinto (inseguro). Ali pelas 00h40 encontro o Rio Arno, e o rumo de casa. Compro um panino, uma coca e vou encontrar Lili, que estava preocupada. Sem problemas, a noite em Florença é bela.

mogwai4.jpg

Leia o diário de viagem Europa 2009 completo aqui

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