Londres: Hyde Park, Big Star e Tindersticks
O céu é azul de um claro que impressiona. O sol não dá trégua, mas também não podemos reclamar: estes dias em Londres estão absurdamente lindos. Depois da correria dos primeiros dias decidimos fazer as coisas com calma, poupando as pernas. Assim, acordamos tarde e decidimos fazer apenas duas coisas no dia: comer o autentico café da manhã britânico e ir ao Hyde Park.
O café da manhã foi… uma experiência estranha, mas interessante. Claro que não me incomodo com bacon no café (imagina, amigos sabem que passei boa parte das manhãs dos últimos anos acordando com baconzitos e Fanta Uva), mas feijão, e ainda mais esse feijão cujo caldinho é de ketchup, não rola. O prato ainda vem com cogumelo passado na chapa, tiras de pão de forma na manteiga, dois ovos (adoooro) e duas salsichas (outra coisa que não desce pra mim). Ou seja, não foi um café, mas sim um almoço.
Na sequencia, fomos conhecer o Hyde Park, um parque no centro que, junto com Kensington Gardens, que fica adjacente, forma uma das maiores áreas verdes da cidade, com 2.5 km² de extensão. Ele é atravessado pelo lago Serpentine, e era ali em suas margens que iriam acontecer os shows de Big Star e Tindersticks, mais de noite. O parque ainda tem uma galeria (que eu já havia comentando uns posts atrás), um memorial para Diana e uma estátua em homenagem a Peter Pan (!?).
A ideia era não caminhar muito, mas camelamos ao sol até encontrarmos o local correto do show. Para descansar, alugamos duas espreguiçadeiras e descansamos na margem do lado, debaixo da sombra de uma árvore. Milhares de pessoas lotavam o lugar para correr, jogar beisebol, futebol, nadar no lago (há uma área para isso), andar de cavalo e de pedalinho no Serpentine. Optamos pelo pedalinho em um passeio de uma hora que valeu muito a pena e que começou com Blur passando o som com “Song 2”, “Coffee and TV” e “End of Century” (eles tocam na quinta e na sexta no Hyde Park).
Terminamos o passeio uns 20 minutos antes das Serpentine Sessions começarem. Deu para entrar no local, pegar uma pizza grande (a mais cara de nossas vidas, 17 pounds), uma Pepsi Light e um Red Bull Cola (horrível) e, assim que conseguimos uma mesa, ouvimos ao fundo os primeiros acordes de “In The Street”, clássico do Big Star (que ficou conhecida como abertura do seriado “That 70s Show”). Fomos com pizza e tudo para a tenda, e o grupo não economizou emendando “Dont Lie To Me”, outra do debute “#1 Record (1972), e depois “I Am the Cosmos”, do ex-parceiro (genial) Chris Bell.
O líder Alex Chilton, gênio diminuto de terno cinza em um canto do palco, veio acompanhado do baterista original do grupo Jody Stephens mais Ken Stringfellow (ex-Posies e músico de turnê do R.E.M.) e John Auer (ex-Posies) e a plateia essencialmente grisalha vibrou aos primeiros acordes da linda “September Gurls” e em duas do obrigatório “Third / Sister Lovers” (que o xará Marcelo Orozco defendeu aqui): “Till the End of the Day” (assista a um trecho), grande cover dos Kinks, e “Thank You Friends”. Uma horinha de show para deixar corações power pop sorrindo a toa.
Pausa para uma cerveja Tuborg, de Copenhague, na Dinamarca, uma pilsen levíssima de 4,2% que combinou bem com o sol de fim de tarde no Hyde Park. Para o show do Big Star, nem 1/4 da tenda estava lotada. Já David Kitt se apresentou sozinho acompanhado de uma bateria eletrônica num coreto improvisado apenas para fazer som ambiente, porém assim que os portões da tenda foram novamente abertos, o publico partiu para as grades para assistir ao belíssimo show do Tindersticks.
São 12 pessoas no palco: os seis integrantes mais um sexteto de cordas que faz o coração bater mais forte em muitos momentos da noite. Stuart A. Staples, o vocalista de voz grave e jeito desesperado, comanda a orgia apaixonada cujo centro é o repertório do belíssimo “The Hungry Saw”, um dos grandes discos de 2008, mas a banda não nega seus clássicos buscando no fundo do baú coisas como “City Sickness” e “Her” (do álbum de estreia de 1993) além de “A Night In”, “She’s Gone” e “Sleepy Song”, pérolas do segundo disco (1995), e números de todos os outros álbuns.
Stuart A. Staples falou bem pouco com a plateia, mas lamentou quando o show chegou ao fim: “Esta é a última. Para mim passou tão rápido. Não sei para vocês”. O bis, incessantemente pedido pela tenda lotada, veio com uma dobradinha do álbum ”Simple Pleasure” (1999): “Before You Close Your Eyes” e “If She’s Torn” em versões redentoras, inesquecíveis. Acabou? Não. Staples voltou para a poderosa facada final, “Tiny Tears”, outra do segundo disco da banda, que fechou com beleza rara uma apresentação irretocável, daquelas que acalmam a alma. Suspiro. Amanhã é o retorno do Blur…
Diário de Viagem: Europa 2009
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