Turismo: Buenos Aires e Deserto do Atacama
Em janeiro de 2008 comecei a escrever o que seria um roteiro da viagem que eu e Lili fizemos para Argentina e Chile em julho de 2007. Aquele primeiro post versava sobre comida (leia aqui), e fiquei de escrever depois um outro com dicas aleatórias sobre a viagem, que acabou ficando no limbo. Como um amigo está animado em fazer um roteiro parecido, lá vou eu tirar poeira da memória para relembrar os deliciosos 21 dias que passamos viajando. Do começo…
A idéia começou com a vontade de conhecer o Deserto do Atacama. Na verdade, o Chile como um todo, esse país alto e magro. Fizemos algumas pesquisas de preço e descobrimos que sairia mais barato ir de São Paulo para Buenos Aires, e lá pegar outro vôo para Santiago, do que se fossemos direto para a capital chilena. Ótimo, pois assim ganhamos de brinde alguns dias na deliciosa capital argentina. Particularmente fiquei muito tentado a esticar até Machu Picchu, no Peru, pois a passagem de Santiago para Lima era baratíssima, mas acabamos desistindo.
Repetindo a operação (com valores de hoje) seria algo assim: São Paulo para Santiago direto partindo no dia 30/06/09 e voltando no dia 21/07 via Gol daria R$ 1612. São Paulo para Buenos Aires indo no dia 30/06 e voltando no dia 21/07 via Gol daria R$ 684. E de Buenos Aires para Santiago partindo no dia 03/07 (ou seja, tiramos três dias para curtir a cidade na ida) e voltando no dia 19/07 (com um dia de folga para Bue) daria R$ 527. Ou seja: direto fica R$ 1612. Indo para Santiago por Buenos Aires fica R$ 1211, uma economia de R$ 400. \o/
Bem, decidimos o roteiro com base nessas idas e vindas e ficou assim:
30/06 – Buenos Aires
01/07 – Buenos Aires
02/07 – Buenos Aires
03/07 – Buenos Aires / Santiago
04/07 – Santiago
05/07 – Santiago
06/07 – Santiago
07/07 – Santiago / Valparaiso
08/07 – Valparaiso
09/07 – Valparaso / Santiago
10/07 – Calama / San Pedro de Atacama
11/07 – San Pedro de Atacama
12/07 – San Pedro de Atacama
13/07 – San Pedro de Atacama
14/07 – San Pedro de Atacama
15/07 – San Pedro de Atacama / Calama
16/07 – Calama / Santiago
17/07 – Santiago / Buenos Aires
18/07 – Buenos Aires
19/07 – Buenos Aires / São Paulo
Na verdade, houve algumas mudanças no percurso, mas isso eu relato mais abaixo. O que importa é que descemos no Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, no dia 30, uma sexta-feira, no meio da tarde. Quem conhece, sabe: do aeroporto até o centro são 35 km, e há opções para todos os bolsos. O viajante confiante pode pegar o ônibus de linha (nº 86) que custa 1,60 pesos e o deixa no centro da cidade após uma hora, uma hora e meia. Se você estiver sozinho, uma boa pedida é o ônibus fretado Tenda de Lion (há um guichê para comprar a passagem no aeroporto), que custa uns 30 pesos e faz o trajeto em 40 minutos. O taxi sai entre 70 e 90 pesos, e pode compensar para grupos de duas ou mais pessoas, mas compre sempre o ticket nas agências de taxi, pois histórias de taxistas tentando dar golpe em estrangeiros não são poucas.
Minha idéia inicial era chegar na cidade e procurar um albergue. Tremenda bobagem. Fomos no alto inverno, e deveríamos ter reservado antes. No Hostel World (http://www.portuguese.hostelworld.com) existem várias opções, mas não custa nada perguntar para algum amigo que já esteve por lá. Eu, por exemplo, fui de pacote nas duas vezes anteriores, o que nunca mais faço. É muito bacana e econômico fazer o seu próprio trajeto. Nesta terceira, porém, sem reservar estadia, eu e Lili batemos em quatro ou cinco albergues (carregando mochilas pesadas), todos lotados, e acabamos achando um hotel de quinta categoria (ok, quarta) em San Telmo que acabou sendo uma boa economia, o que não deixou de ser cansativo e arriscado.
Já falei sobre as comidas aqui, e sobre passeios (como era a primeira vez da Lili lá) fizemos o roteiro básico de passar pela Plaza de Maio, tirar fotos em frente à Casa Rosada, caminhar pela sensacional Calle Florida, passear em Porto Madero, ir à feirinha de San Telmo e visitar à Recoleta (e ver o túmulo de Evita Perón). Não resisti e fui mais uma vez olhar minha grande paixão, La Toilette de Venus, de William Bouguereau, no Museu Nacional de Buenos Aires. Lili, por sua vez, adorou o Malba (sim, vimos o Abaporu). E, claro, fomos à La Boca, passear pelo Caminito e entrar em La Bombonera. É uma região que não dá para bobear e nunca, nunca saia da área segurada pelos comerciantes, mas tem que ir. E eu comprei alguns CDs (veja onde comprar CDs em Bue aqui).
Três dias depois partimos para Santiago. Aprendemos com os erros de Bue e reservamos um hotel em Santiago. A idéia era ficar quatro dias na cidade, e de lá voltar (via Cordilheira passando pelo Aconcagua) de ônibus para Mendoza, na Argentina, passar três dias e então voltar para Santiago e partir em direção ao Deserto do Atacama. Descemos no Aeroporto de Santiago pós 22h. Se possível, não faça isso! É terrível chegar em um lugar que você não conhece no meio da escuridão, e no nosso caso, após alguns contratempos em Buenos Aires (um assalto em La Boca), não estávamos tão seguros e confiantes nas pessoas.
Assim que pegamos nossas malas e adentramos o saguão, vários homens com placas de taxis se colocaram em nossa frente. Fiz o cambio ali mesmo (um mínimo de dinheiro só para pagar o taxi) e escolhemos um dos senhores, que estava em um ótimo carro de passeio (sem placas de taxi) e fez um preço fechado até o centro de Santiago (que descobrimos depois ter sido 50% mais caro que um taxi normal, mas até dá para contar que era bandeira 2, ok). No caminho fomos conversando, e como dissemos que era nossa primeira vez em Santiago, o motorista (bastante educado) fez um mini-tour conosco no centro mostrando alguns pontos históricos até nos deixar na porta de nosso hostel. Bacana. Porém, vale ir para o aeroporto de ônibus. Pagamos 13 mil pesos chilenos no trajeto de taxi, e o ônibus custa apenas 1400 pesos chilenos, e é bem confortável.
Um roteiro básico para sair do aeroporto de Santiago gastando pouco: aqui está o mapa das linhas de metrô e aqui as infos do ônibus. Você pega o ônibus CentroPuerto, desce no ponto final, Estação de metro Los Heroes. Dali você pega o metro em direção a estação Escuela Militar, linha vermelha mesmo, e duas estações depois já está no centro da cidade (local em que ficam os principais hotéis – e também alguns albergues baratos). É bom comprar uns 5 mil pesos (cerca de 20 reais) para fazer esse trajeto aeroporto/hotel. Se gasta 3 mil pesos com o ônibus (casal), mais uns mil pesos com o metro. Lá no centro existem casas de cambio, mas tem um Itaú (para quem tem cartão internacional, vale muito) atrás do palácio de La Moneda.
Não gostamos do hostel. Como tínhamos reservado (e pago) três dias no Hostel Londres, acabamos ficando, mas com a idéia de trocar (que é o que fizemos indo para o Hotel Paris) para outro ao vencer a última diária. A cidade de Santiago é bem bonita, e merece uma visita com cuidado. Pegamos uns mapas no centro de turismo e batemos perna atrás do famoso Mercado Municipal, da Plaza das Armas e de alguns museus. Na verdade, adoramos as lojas do Paseo Ahumada, com preços excelentes (olhe as jaquetas de couro!!!), vimos uma troca de guardas no Palácio de La Moneda e fizemos dois tours de vinho, um na vinícola Concha Y Toro (12 dólares por pessoa) e outro na Viña Cousiño Macul, ambos fácil de se chegar (seja de metrô ou ônibus). Por fim uma subida no Cerro San Cristobal, local que abriga o Parque Metropolitano da Cidade, que pode ser observada do alto do morro. Subimos de ascensor e descemos de teleférico. Vale.
Acordamos no oitavo dia de viagem com passagem comprada antecipadamente para Mendoza, mas ao chegar ao local de embarque fomos avisados que a estrada estava fechada devido à neve no Aconcagua, e que a viagem estava cancelada. Ao invés de pegarmos o dinheiro de volta, perguntamos que horas saia o primeiro ônibus para Valparaiso, o que iria acontecer em 30 minutos. Compramos passagens de ida e volta para passar o fim de semana em Valpo, visitar Vina Del Mar, olhar o por-do-sol no Pacífico e se encantar com La Sebastiana, uma das três casas do poeta Pablo Neruda no Chile. E tivemos sorte: descemos na rodoviária e fomos ao centro de atendimento ao turista, onde pedimos indicações de albergues. Indicaram-nos o El Rincón Marino (www.rinconmarino.cl), que acabou sendo o melhor albergue da viagem. E ainda assistimos “Ratatouille” dublado em espanhol no cinema (e achamos Vina Del Mar muito… Guarujá).
De volta à Santiago (em um novo hotel), começamos a nos preparar para nossa aventura no Deserto do Atacama. Visitamos o site da cidade (www.sanpedroatacama.com), anotamos vários endereços de albegues, e começamos a correr atrás de reservas. Acabamos acertando, por telefone, com um hostel torcendo para ele ser ok. Para viajar, cotamos ônibus, mas a viagem de quase 30 horas seria um gasto de tempo enorme em uma viagem de 21 dias. Optamos por um vôo de duas horas Santiago para Calama pela Lan Chile (hoje em dia em torno de 300 dólares o trecho), depois uma viagem em um ônibus até o oasis de San Pedro de Atacama. O centro da cidade é minúsculo, e pouco movimentando. O guia do centro turístico explicou com chegar a nosso hostel, e lá fomos. Bem, é claro que o hostel era mais caro que os outros, e pior, afinal estávamos no deserto, mas nada que não fosse contornável. Principal: durante o frio da madrugada (que podia chegar ao zero grau), não sentíamos nada. Isso importa (risos).
San Pedro de Atacama funciona assim: a cidade é um deserto em algumas horas do dia, mas se movimenta perto dos horários dos tours. Existem várias companhias na cidade que fazem tours para os principais pontos turísticos, assim como pacotes que acabam resultando em uma economia. Pesquisamos em quatro os passeios que queríamos fazer, pechinchamos um pouco na última, e acabamos montando um pacote que – os valores são aproximados – ficou em 36 mil pesos chilenos (cerca de R$ 135 por pessoa) e que nos levava ao Valle de La Luna, Valle de La Muerte, o Parque Nacional do Geyser Del Tatio, o Salar de Atacama, as Lagunas Antiplânicas e os Pueblos Andynos. Não esperávamos gastar esse valor, mas os passeios valeram demais. No site da cidade existem preços para se ter uma média: Vale da Lua e da Morte, 5 mil pesos chilenos (R$ 20); Geysers, 12 mil pesos chilenos (R$ 45); Lagunas, 35 mil pesos chilenos (R$ 130). O pacote ajuda muito a baratear o preço. No nosso pacote não estava incluso as Termas de Puritama nem as viagens até a fronteira com a Bolívia.
Começamos por uma dobradinha: o deserto de sal do Atacama (Salar do Atacama) e as Lagunas Antiplanicas. O tour começa às 8h, passa pelo povoado de Toconao e depois segue para Salar (que é muito bonito). Ao meio-dia há uma parada no povoado de Socaire para um interessante almoço local (incluso no pacote – já comeu tomate roxo?) e depois segue em uma longa viagem cordilheira acima (28 km) para as sensacionais lagunas antiplanicas, para mim e para a Lili, as vistas mais bonitas que colocamos os olhos na América do Sul. São duas lagunas: Miscanti e Miñiques. A primeira, maior, tem 15 quilômetros quadrados e fica a uma altura de 4.200 metros acima do nível do mar. No inverno, blocos de neve se espalham pela paisagem e as lagunas estão quase congeladas. No trajeto é possível observar dezenas de vulcões ativos (o mais bonito se chama Putana – ao fundo na primeira foto) além de criações de lhamas. De todas os tours é o que mais vale a pena bela imensa beleza do local.
O segundo dia de tour foi gasto com os Vales da Morte e da Lua. O tour deixa a cidade às 15h (o que permite ao visitante aproveitar, e bem, o centro de San Pedro). O Vale da Morte é simplesmente um longo território sem nenhuma vegetação. É um passeio ok, que cresce muito em interesse quando se parte para o Vale da Lua. Todos os tours tentam chegar no local cerca de vinte, trinta minutos antes do sol se por. Eles deixam o visitante no sopé de um morro e dizem: “Está vendo o topo da montanha? Você tem que chegar lá em 15 minutos. Bom passeio”. E lá vão todos correndo em meio a dunas de areia para pegar o melhor local para observar, facilmente, o pôr-do-sol mais bonito da América do Sul, e um dos mais bonitos do mundo. É uma confusão de cores que deixa os olhos marejados. Quando o céu já está escuro, o tour leva todos os visitantes de volta à cidade. Ai vale escolher algum dos restaurantes de renome da cidade, como o La Cave, que serve cevit de lhama, e cujo corpulento chef frances Michel é uma simpatia.
O terceiro dia de passeio foi de longe o mais cansativo – e o que mais exigia do corpo: a visita ao Parque Nacional Del Tatio. O tour pega o visitante em seu hostel às 4h da manhã, e durante duas horas e meia sobe a cordilheira até chegar ao parque. Em certo momento da viagem, o guia gritou: “Está 16º abaixo de zero”. E devia mesmo. Eu estava com três calças, três meias, três blusas, gorro, luva e o escambau, e estava com os pés congelados. Quando chegamos no parque, a temperatura já devia ter baixado para uns 9 graus, mas Lili se recusou a sair da van, e só deixou o carro quando os primeiros raios de sol deram as caras. O Tatio é um campo geotérmico que marca o encontro, em seu subsolo, dos rios gelados subterrâneos com as rochas quentes. Então, grandes colunas de vapor saem para a superfície através de fissuras na crosta terrestre, alcançando a temperatura de 85°C e 10 metros de altura. Bonito de se ver. Assim que chegamos, o guia nos mostrou uma piscina térmica e disse que quem quisesse se aventurar, à vontade. Todos riram. Ali por volta das 9h, com o tempo mais “quente” (sei lá, mas devia estar -2 ou mesmo zero grau), muita gente encarou a piscina cuja temperatura alcança 35 graus.
Na volta do passeio paramos para lanchar no pequeno povoado de Machuca. Tomamos chá de coca, Lili comeu algumas empanadas de queijo de cabra e eu não resisti aos espetinhos de anticucho de lhama, uma delicia. Conversamos com um casal de brasileiros que estava encantando com o pais, com o ótimo vinho em excelente preço, e coisas assim. Eles estavam vindo de quatro dias de um tour que adentrava a Bolívia. Chegamos em San Pedro arrebentados por volta das 12h, e dormimos o resto do dia para eu acordar à noite e ir atrás do meu jogo de xadrez “Incas x Espanhóis”. Já sem dinheiro para algum outro tour, antecipamos nossa ida para Calama, e dormimos o último dia na região por lá, para acordar no dia seguinte e pegar um avião para Santiago (mais dois dias, que serviram para abastecer a mochila de garrafas de vinho – boa dica para compras: Supermercado Diez, Alameda Los Conquistadores, 2260, no bairro de Providencia. Detalhe: trouxemos oito garrafas de vinho e uma de Pisco, a cachaça chilena). No dia seguinte estávamos em Buenos Aires, e dois dias depois em São Paulo.
Olhando agora este calhamaço de narrativa, acho que ainda faltam dicas mais úteis, práticas, e os espaços de comentários estão ai embaixo para isso. E não só para perguntas, mas também para atualizações de coisas legais de quem esteve em Buenos Aires, Santiago, Valparaiso ou no Atacama nos últimos tempos, e quer dividir alguma dica legal com os leitores que planejam fazer essa viagem (aliás, uma boa aquisição é o Guia O Viajante Independente na América do Sul, um livro excelente para qualquer viagem por este belíssimo continente). Fiquem à vontade. A casa é nossa.
Todas as fotos por Marcelo Costa e Liliane Callegari
Foto 1: Uma parada sobre a ponte do Lago Putana. Ao fundo, o Vulcão Putana, ativo.
Foto 2: Dia de chuva em Santiago
Foto 3: O Caminito, em La Boca, Buenos Aires
Foto 4: A parte alta de Valparaiso, no Chile
Foto 5: San Pedro de Atacama
Foto 6: Salar de Atacama
Foto 7: Vale da Morte
Foto 8: Lagunas Antiplanicas
Foto 9: Complexo Turistico Tatio
Foto 10: Pôr-do-sol no Vale da Lua
Leia também:
– Onde comprar CDs em Buenos Aires, por Marcelo Costa (aqui)
– Turismo em Buenos Aires, por Marcelo Costa (aqui)
– Roteiro de Viagem: Argentina e Chile – Parte 1: Comida (aqui)
0 comentário
Faça um comentário