Random header image... Refresh for more!

Diversão, descompromisso e pontos nos ís

Texto e fotos: Marcelo Costa

A banda foi formada faz menos de seis meses e o debute chegou às lojas brasileiras na semana passada. No entanto, os três shows que o Little Joy agendou para São Paulo esgotaram em tempo recorde para padrões paulistanos: cerca de 1h30 cada um. Uma banda praticamente desconhecida esgotando shows em São Paulo denota que realmente estamos vivendo um novo tempo e é bem provável que as 700 pessoas que lotaram a casa nas duas primeiras noites nem tivessem pegado na mão o primeiro disco do trio, mas conheciam todas as canções de cor.

É claro que o termo “banda desconhecida” não se encaixa tão bem ao Little Joy. Projeto feito de brincadeira entre Rodrigo Amarante (Los Hermanos) e Fabrizio Moretti (Strokes), acrescido da vocalista, tecladista e namorada deste último, Binki Shapiro, o Little Joy é o tipo de banda que já nasceu com vários fãs (egressos de duas grandes bandas do rock nacional e mundial anos 00), e o som do grupo, quando não esbarra no rock praieiro e californiano dos sixties, se divide entre Strokes (“How To Hang A Warhol”, “Keep Me In Mind”) e Hermanos (“Evaporar”, “With Strangers”).

O clima de felicidade reina no palco. Amarante agradece pela presença e diz que está feliz com a recepção. Moretti joga confete: “Nós tocamos ontem à noite aqui e foi legal, foi legal. Mas hoje… é uma festa”. O público delira. Depois, inverte a posição de escudeiro com Amarante e se prepara “para fazer uma besteira total”, segundo o próprio: “Eu vou cantar. Essa é uma música dos Kinks e é chamada ‘This Time Tomorrow’”. A versão fidelíssima é um dos grandes momentos da noite ao lado de outra versão, “Walkin’ Back To Happiness”, de Helen Shapiro (que não guarda nenhum parentesco com a loirinha da banda).

Os dois “famosos” da noite assumem as guitarras enquanto Binki divide-se entre o teclado, xilofone, escaleta e vocais e ainda arranja tempo para deixar escorrer algumas doses de charme. Ao vivo o trio é acrescido das participações de Matt Romano, na bateria, Todd Dahlhoff, no baixo e Noah Georgeson (produtor de Devendra Banhart e Joanna Newsom) na terceira guitarra, no glockenspiel e teclados. O show é correto e tem jeito de ensaio aberto. A platéia, feliz, canta todas as músicas e, quando pode, grita “Amarante, Amarante” (o que acontece duas vezes nesta segunda noite) entusiasmadamente.

Como era de se esperar, o show é curto. O álbum tem pouco mais de 30 minutos e acrescentando-se uma música nova – ainda sem nome – e mais dois covers passamos de pouco mais de 40 minutos de show, mas a audiência está feliz. Apesar da diversão e do descompromisso, o Little Joy não sai com o cinturão de campeão da noite. O Cidadão Instigado, que abriu a balada, mostrou algumas músicas inéditas e arrasou em versões soberbas de “Os Urubus Só Pensam Em Te Comer” e “O Pobre Dos Dentes de Ouro”, duas faixas do disco que ganhou o Prêmio de Melhor do Ano pela Associação Brasileira dos Críticos de Arte e, também, do Prêmio Scream & Yell 2005 (aqui).

Comandada pelo vocalista e guitarrista Fernando Catatau, a ótima apresentação do Cidadão Instigado causou um choque interessante e representativo no resumo da noite – e do mundo atual. O trabalho do Cidadão Instigado está bem à frente do Little Joy, mas são os cariocas (Fabrizio também nasceu na cidade) que saem ovacionados pela audiência. Amarante e Moretti criaram uma deliciosa diversão descompromissada que foi ao encontro de um público carente dos projetos originais de suas bandas em férias. Eles são a banda nova que o público já gostava antes de ver e/ou ouvir, mas musicalmente precisamente trabalhar muito para fazer algo… instigante. Por isso a noite foi do Cidadão Instigado. Pena que pouca gente percebeu…

http://www.flickr.com/photos/maccosta/

Leia também:
– “Existem 15 bandas melhores que o Little Joy”, por Tiago Agostini (aqui)

janeiro 31, 2009   No Comments