Estrada Real e Os Profetas
Quando disse no post anterior que iríamos fazer um “bate e volta” para Congonhas, não imaginava que seria uma quase aventura (hehe). Aviso aos navegantes: no site de Ouro Preto consta que existem ônibus direto da cidade para Congonhas, mas essa linha foi desativada. Agora são dois os caminhos a seguir: pegar um ônibus de Ouro Preto para Ouro Branco ou então para Conselheiro Lafaiete, e de lá para Congonhas.
Parece simples, não. Não é. Para Conselheiro Lafaiete só existem duas partidas e voltas diárias. Para Ouro Branco há mais possibilidades. Acabamos optando pela primeira, cujo ônibus saia quase uma hora antes da segunda, mas não fazia o mesmo trajeto pois a estrada estava “fechada” (como descobriríamos na volta), então a linha seguia um longo atalho pela Estrada Real (http://www.estradareal.org.br/).
A Estrada Real inicialmente ligava a antiga Villa Rica, hoje Ouro Preto, ao porto de Paraty, mas pela necessidade de uma via de escoamento mais segura e mais rápida ao porto do Rio e, também por imposição da Coroa foi aberto um “caminho novo”. A rota de Paraty passou a ser o “caminho velho”. Com a descoberta das pedras preciosas na região do Serro, a estrada se estendeu até o Arraial do Tejuco (atual Diamantina), deixando Ouro Preto como o centro de convergência.
Muitos anos atrás, ainda na época em que eu trabalhava na Pró-Reitoria de Extensão da Universidade de Taubaté, fiz um trecho de caminhada pela Estrada Real de Cunha até Parati com alunos de Arquitetura. Agora pegamos mais de quarenta minutos em estrada de terra batida com asfalto em paisagens lindissimas, mas é preciso estômago para se concentrar no visual e não enjoar diante das dezenas de curvas.
Atravessamos Cachoeiro do Campo, um pedacinho de Glaura, Santo Antônio do Leite, Engenho Correia, Miguel Burnier e Lobo Leite. Foi quando percebi uma placa de Congonhas, e sai correndo para falar com o motorista, que nos deixou debaixo de uma ponte na BR-040 avisando: pode ficar ai que o ônibus para Congonhas passa logo. Não deu outra: dez minutos depois pegamos um que vinha exatamente de Conselheiro Lafaiete. No mínimo duas horas de economia.
Na Rodoviária de Congonhas, o pessoal meio que olhou torto quando perguntamos sobre o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, até se atentarem que estávamos na verdade querendo conhecer a Basílica. Há um ônibus com este mesmo nome que deixa o visitante na porta do santuário, obra de Aleijadinho em 1757 (e terminada em 1790) sob encomenda de Feliciano Mendes como forma de pagar uma promessa para o santo.
É aqui que estão os famosos Profetas de Aleijadinho, obras impressionates que praticamente flutuam na entrada da igreja. É um conjunto tão forte que é impossível não querer traze-los pra casa, nem que for em miniatura, como eu fiz (ok, não vou ter espaço para os 12 profetas, mas já separei alguns para amigos). O Santuário é completado com seis capelas que ilustram os Passos da Paixão de Cristo em obras também de Aleijadinho. De cair o queixo.
Almoçamos no Restaurante da Ladeira, ali mesmo, um típico prato de Tutu a Mineira que serve para dois, mas na verdade dava fácil para quatro, acompanhado de uma cachaça artesanal (mais uma). Na volta ainda passamos pela igreja matriz (também de Aleijadinho) e partimos para a saga do retorno para Ouro Preto, com escala em Ouro Branco, passagem rápida pela Vila de Itatiaia, mais um trecho da Estrada Real e uma parada estratégica.
Lembra que tivemos que fazer um longo trecho em estrada de terra pois a estrada que liga Ouro Preto com Ouro Branco estava fechada? Então, mais ou menos fechada. Na verdade, está proibida a passagem de ônibus sobre a ponte do Rio Falcão, então o que o pessoal da empresa Vale do Ouro faz: eles levam o passageiro de Ouro Branco até a ponte, e trocamos de ônibus atravessando a pé (passageiros do outro lado fazem o caminho inverso). Coisas de Brasil.
A paisagem na volta é novamente belíssima apesar das nuvens baixas e da chuva constante. Chegou a lembrar o alto da Cordilheira dos Andes, na região do Atacama, quando visitamos alguns lagos perto de vulcões ativos. É impossível não ter vontade de fazer o caminho da Estrada Real conforme as tradições: a pé, de bike ou, melhor, à cavalo. Quem sabe um dia, né mesmo.
Hoje o dia amanheceu ensolarado novamente em Ouro Preto, mas a maioria das igrejas abre para visitação após o meio-dia. Após um bom café no albergue, lá vamos nós atrás das belezas do barroco mineiro. Me aguarde.
Fotos: Marcelo Costa (http://www.flickr.com/photos/maccosta/)
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