De Diamantina para Ouro Preto
Sete horas de viagem. Cinco de Diamantina para Belo Horizonte mais duas de Belo Horizonte para Ouro Preto. Viajar de ônibus, meus caros, cansa. Aliás, fica a dica: saem vôos de Belo Horizonte para Diamantina todos os fins de semana (só nos fins de semana) por R$ 99. Como o ônibus custa quase R$ 60, compare o tempo das viagens, planeje e faça sua escolha: de ônibus são 6 horas; de avião só meia-hora. Se nós tivéssemos pesquisado antes…
Deixamos Diamantina sob chuva, fraquinha, mas chuva. Passamos o dia todo caminhando para cá e para lá, e sou obrigado a dizer que a cidade me conquistou, embora a infra-estrutura no quesito “turismo” deixe bastante a desejar. Não me compreenda errado: fomos muito bem tratados em todos os lugares em que passamos (aquele jeitinho mineiro de querer que você se sinta como se estivesse em casa) e a cidade merece sua visita. No entanto…
Bem, parece que a cidade não acordou para o turismo… ainda. Das seis igrejas históricas da cidade, três estavam fechadas para o público. Se você for pensando em comer comida mineira, vai precisar camelar muito. Quase todos os restaurantes atendem no formato self-service, e com sorte você encontra um a la carte com comidas típicas (que eles dizem que o prato dá para duas pessoas, mas fácil que alimenta quatro amigos famintos). E nem parece que Minas tem mais de 2 mil cachaças. Nenhum bar tinha variações da marvada.
Fora isso, se você quiser fazer alguma trilha, visitar o Caminho dos Escravos ou a Estrada Real, ou mesmo visitar algum garimpo, terá que dar sorte do centro de atendimento ao turista estar aberto para pegar telefone de algum guia e marcar um horário. Ou seja: você precisa ir atrás. Ao contrário de diversas outras cidades turistas, em que guias e agências oferecem uma variedade de passeios ao público, em Diamantina é preciso peneirar, peneirar e peneirar. Mas vale a pena.
Diamantina é uma graça. O calçamento da cidade é feito todo em pedra e as casas não possuem recuo frontal, o que torna o centro bastante aconchegante. O conjunto arquitetônico do centro histórico da cidade foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1938, e, em 1999, foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial.
A igreja mais rica da cidade é Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, que teve sua construção iniciada em 1766. Sua maior característica pode ser observada por fora: os sinos ficam na parte de trás da construção, e muita gente diz que ela foi construída assim para que o barulho dos sinos não acordasse Xica da Silva, a ex-escrava que viveu um romance com o homem mais rico da região (e que mandou erguer esta igreja). Dentro dela chama a atenção uma estatua em madeira do Profeta Elias que pesa mais de 80 quilos.
A Igreja do Carmo pode ser a mais rica, mas a mais fofa é a de Igreja de São Francisco de Assis (procure o Artur e peça para ele contar histórias sobre o prédio). Aqui os santos são todos de roca. A outra capela aberta na cidade é de Nossa Senhora do Amparo, e vale a visita pelo belíssimo presépio do secúlo 18 feito todo com conchinhas. Além destas igrejas vale visitar a Casa de Juscelino, o Casarão de Xica da Silva, o Museu do Diamante e o Passadiço da Casa da Glória.
No Museu do Diamante apreciamos uma belíssima exposição de fotos de Assis Horta, fotógrafo que registrou os anos 30 e 40 da cidade. E é bom não esquecer que aqui também se encontram três construções desenhadas por Oscar Niemeyer, como o Hotel Tijuco, marcas de uma parceria com Juscelino que acabaria, por fim, nos dando Brasília (há rascunhos de desenhos de Lúcio Costa na casa do ex-presidente).
Tudo muito bem, tudo muito bom. Assim que entrei em Ouro Preto não fui muito com a cara da cidade. Diamantina é uma joiazinha enquanto em Ouro Preto está tudo mais misturado. Porém, bastou parar na frente da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco para deixar o queixo cair, bater no chão, e voltar ao rosto. Obra máxima do gênio Aleijadinho (e do mestre Athayde), a Igreja de São Francisco já entra no meu Top 3 ao lado da Abadia de Westminster (Londres) e da Catedral de Glasgow, mas falo mais sobre ela depois.
Ps. A Sagrada Família, de Gaudi, é hors-concours, ok.
Fotos: Marcelo Costa (http://www.flickr.com/photos/maccosta)
janeiro 3, 2009 No Comments