“Dirt Don’t Hurt”, Holly Golightly and The Brokeoffs
Quando alguém define a sonoridade de uma banda ou álbum como de garagem, uma névoa de pavor paira sobre muitos ouvintes. Holly Golightly, a dama britânica do folk que emprestou o nome da personagem principal do filme “Bonequinha de Luxo”, já avisa no título de seu novo álbum: “Sujeira não machuca”. “Dirt Don’t Hurt” é o segundo trabalho ao lado do músico Lawyer Dave (ele, sozinho, responde pela alcunha de The Brokeoffs), cuja estréia da parceria se deu em 2007 com o álbum de título genial “You Can’t Buy a Gun When You’re Crying”.
“Dirt Don’t Hurt” foi gravado na estrada, em um intervalo da turnê. O duo encontrou um estúdio na Espanha equipado com uma bela seleção de microfones vintage e de tesouros antigos para brincar, afastou os fantasmas do lugar e em cinco dias (um a mais do que no primeiro álbum) registrou as 14 canções de “Dirt Don’t Hurt”. Holly conta: “Nós estávamos um pouco cansados e sujos. Se você prestar atenção, ouvirá a lama em nossos sapatos em algumas faixas”.
Além da lama também fica audível/perceptível uma certa camada de poeira na sonoridade do duo. Os vocais são divididos enquanto Holly assume o violão e o banjo e Dave fica com a guitarra, a percussão e as demais coisas com cordas. Logo na primeira faixa, a ótima “Bottow Below”, percebe-se uma vasta semelhança do vocal de Dave com o de Mark Lanegan, o que aconchega ainda mais o ouvinte. “Up On The Floor”, o número seguinte, é uma deliciosa balada rancheira, daquelas para se ouvir por tardes a fio.
“Burn Your Fun”, com seu refrão empolgante, e a suingada “Slow Road” fazem a cama para jogar o ouvinte sobre o primeiro single do álbum, o country acelerado “My 45” que avisa no refrão empolgante: “Querida, quando eu chamar seu nome, é melhor você correr, é melhor você esconder minha 45”. Há espaço ainda para um blues climático (“Indeed You Do”), countrys aceleradissimos (“Getting High For Jesus”) e músicas tradicionais rearranjadas no porão duo (“Cuck Old Hen”, “Boats Up The River”).
Entre os grandes momentos do álbum estão “Bottow Below” e “My 45”, o countryzinho sem-vergonha movido por banjo “Accuse Me”, a boa versão para “Hug You, Kiss You, Squeeze You” (que já havia sido gravada por Stevie Ray Vaughan) e a balada “For All This”, com Holly mastigando as silabas com seu fio de voz. Holly Golightly começou sua carreira no grupo Thee Headcoatees, mas ganhou fama quando estreou solo, em 1995, e principalmente quanto fez um ménage a trois musical com Meg e Jack White na canção “It’s True That We Love One Another”, do álbum “Elephant”.
“Dirt Don’t Hurt” é daqueles discos bonitos em que um punhado de canções executadas com paixão se tornam-se atemporais em uma arte cada vez mais marcada pelo agora. As vozes de Holly e Dave combinam que é uma beleza, o que só amplifica a qualidade do material gravado pelos dois em cinco dias de folga de uma turnê de mais de 50 datas. Produzido pelo próprio duo, “Dirt Don’t Hurt” é daqueles álbuns que correm o sério risco de grudar no seu Windows Media Player, e ficar lá por um bom tempo. Eu, se fosse você, corria o risco. Vale a pena, afinal, a sujeira não machuca.
“Dirt Don’t Hurt”, Holly Golightly and The Brokeoffs (Damaged Goods)
Preço em media: R$ 55 (importado)
Nota: 8
My Space: http://www.myspace.com/hollygolightlyandthebrokeoffs
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