Posts from — novembro 2008
Cenas da vida em SP – Bonnie ‘Prince’ Billy
Foto: Marcelo Costa / Scream & Yell
O show está no meio, mas o rapaz quer evitar as filas e se encaminha para o caixa para pagar a conta. Uma garota, meio bêbada, balança para lá e para cá perto do local. Ela olha esperando cumplicidade, e o rapaz se coloca atrás dela como se estivesse entrando numa fila. O segurança orienta a posição correta, e isso basta para ela puxar papo:
– Como se fosse fazer diferença, né.
– É…
Ela olha e ele tenta decifrar o que está passando pela cabeça dela até que um amigo chega e lhe passa um celular. Ela olha quem está ligando, leva o aparelho ao ouvido, e começa o diálogo:
– Oi. Onde você está? (parece perguntar a pessoa do outro lado)
– Estou num funeral – responde a menina, irritada, emendando ainda – Não posso falar muito alto, pois é capaz do cara que está encostado no bar bater em mim (diz ela olhando em direção ao homem).
A ligação continua, mas já não é possível entender o diálogo. Alguns “shhhhhhh” dominam o ambiente. Ela desliga o celular e volta para a fila. Olha o rapaz e pergunta:
– Você sabe quem é esse cara que está tocando?
– Bonnie “Prince” Billy.
– Ahhhh, ele é estrangeiro?
– Americano.
– E o que é esse som?
– Folk.
– Punk?!?!
– Foooolk!
– Ahhhhh. Parece música de velório – diz ela, virando-se para um amigo e ordenando – Vamos embora daqui antes que alguém bata em mim. E lá se foi ela para alguma balada eletrônica… ou algum forró.
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Essa cena é bastante comum em São Paulo. Na primeira vez que vi o Echo and The Bunnymen, no Via Funchal, 1999, eu havia saído de Taubaté para vir ver o show na capital. Exatamente na minha frente, ali quase no gargarejo, um rapaz vira para o lado e pergunta a outro:
– Que música toca essa banda ae?
– …
– Eles não tem nenhum sucesso, alguma música famosa?
– Olha, tem vários…
– Acho que nunca ouvi nada deles, mas eu gosto de vir a shows aqui. Semana passada eu vi o Alphaville. Foi bem legal…
O diálogo parou por ai, mas fiquei pensando durante muito tempo em quantas pessoas gostariam de estar no lugar deste cara que não tem a mínima idéia do que seja Echo and The Bunnymen ou, atualizando, no da menina que acha que Bonnie “Prince” Billy é um cantor de velórios. Em Taubaté, nos anos 80 e 90, qualquer show era um grande evento. Em São Paulo parece um mero passatempo. E passatempo é o que menos o show de Bonnie “Prince” Billy foi, apesar do Studio SP não inspirar intimismo e o som estar assustadoramente baixo.
Durante duas horas e meia (!), Bonnie “Prince” Billy mostrou ao público que realmente enxerga a escuridão. Acompanhado por mais um violão, o músico jogou tristeza no colo do público, e durante a primeira meia hora assisti ao show colado ao palco, fotografando e admirando a melodia das palavras e acordes. Porém, ao tentar curar minha gripe com cerveja, desloquei-me para o bar e deixei-me levar pelo cenário esquizofrênico de uma noite típica de São Paulo, em que algumas tribos diferentes se esbarram e se relacionam.
Fãs do cantor grudavam no palco e pediam canções, que eram atendidas de imediato. Esse fanatismo musical seguia-se até a quarta ou quinta fileiras que rodeavam a frente do palco. Dali para trás já havia um grupo – de fãs e não fãs – que separava o “gargarejo” das rodas de bate papo. E o “shhhhhhh” foi a coisa mais ouvida em toda a noite. Fiquei perto do bar conversando com um amigo, bebendo cerveja e ouvindo um fio de voz ao longe gritar “I See a Darkness”. Bonnie “Prince” Billy merecia maior atenção, mas a noite foi bastante interessante.
Quem sabe, numa próxima vez, ele não toque em um teatro em que a música seja a principal estrela e não precise ficar brigando com a busca pela cerveja, vodka ou afins; com amigos discutindo o real valor de “Chinese Democracy”, se Paul McCartney vem ou não vem e qual noite do R.E.M. em São Paulo foi a melhor; com meninas paquerando enquanto gingam o corpo dançando um som que não tem ginga. É bem provável que a noite tenha sido ruim apenas para a turma que ficou na linha que separava os dois públicos. De ambos os lados do muro a noite parece ter sido divertida. Apesar de toda a tristeza…
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Mais fotos do show de Bonnie ‘Prince’ Billy em São Paulo (aqui)
novembro 28, 2008 No Comments
Always The Bridesmaid, The Decemberists
Colin Meloy está prestes a transformar sua banda, os sensacionais Decemberists, em sensação pop. Como se fosse um R.E.M. do novo milênio, o grupo estuda o próximo passo com cautela enquanto diverte-se em projetos paralelos. Após grandes elogios a “The Crane Wife” (2006), último álbum do grupo, Colin Meloy e banda sumiram e reapareceram apenas agora para apoiar a candidatura de Obama, anunciar um novo disco para 2009 e entregar três compactos duplos 12’ em vinil 180 gramas com material inédito.
“Always The Bridesmaid: A Singles Series” é composto por seis músicas, e faz um tempo que o mercado não recebe um grupo de canções tão arrebatador. “Valerie Plame”, a faixa que abre o primeiro single, é uma das mais belas canções pop feitas nessa década. São cinco minutos delirantes em que viola, acordeom, órgão, baixo, bateria e vocais levam o ouvinte aos céus. A letra conta a história da ex-espiã da CIA – que dá nome à música – cuja identidade secreta foi vazada à imprensa depois que seu marido, um ex-embaixador crítico ao governo Bush, escreveu um artigo no New York Times questionando as razões do presidente para invadir o Iraque.
No lado b, “O New England”, uma falsa balada emocional de batida limpa de violão que conta uma triste história de amor. Ele tenta conseguir um sorriso dela, e a leva para onde o amor dos dois começou, mas “esta aqui é a fábula de uma tentativa fracassada”. Para o segundo single foi escolhida “Days Of Elaine”. De batida acelerada e refrão forte que lembram Wilco, Belle and Sebastian e Smiths, “Days Of Elaine” é mais uma das histórias fantasiosas de Colin Meloy, e narra uma mãe (a tal Elaine) contando coisas para o filho. No lado B uma cover fidelíssima de “I’m Sticking With You”, do Velvet Underground, com Jenny Conlee bancando Maureen Tucker e Meloy, Lou Reed.
O volume 3 de “Always The Bridesmaid: A Singles Series” chama-se “Record Year”, que abre de forma dilacerante com violão, viola e violino: “Eu li no jornal de hoje: Tem sido um ano recorde de chuva / E você estava encostada contra a parede do banheiro / Em seu vestido solitário / Foi só o seu vestido”. A canção segue épica entre dias cinzentos. “Raincoat Song” surge no lado b, quase country, e conta a história de Caroline, uma garota de 28 anos que está com raiva porque está dormindo sozinha e tem medo de ficar solteirona. Diz o refrão: “Você usava capa de chuva quando choveu hoje, e acho que isso só fez chover mais”.
Logo após o lançamento de “The Crane Wife”, Colin Meloy, que já havia gravado EPs com canções de Morrissey e da cantora folk irlandesa Shirley Collins (“Colin Meloy Sings Morrissey”, de 2005, e “Colin Meloy Sings Shirley Collins”, de 2006), voltou com uma homenagem a Sam Cooke e também um álbum ao vivo (“Colin Meloy Sings Live CD”) que traz canções da primeira banda do compositor, Tarkio, duas faixas inéditas e citações de Smiths, Pink Floyd, e Fleetwood Mac. O baixista Chris Funk montou o projeto Flash Hawk Parlor Ensemble e o baterista John largou as baquetas e foi tocar guitarras no Perhapst. Agora todos voltam ao Decemberists.
O volume 1, “Valerie Plame / O New England”, foi lançado em 14 de outubro; O volume 2, “Days of Elaine / Sticking With You”, em 04 de novembro; e o volume 3, “Record Year / Raincoat Song”, começa a ser vendido no dia 02 de dezembro. Cada um dos três volumes está sendo lançado em edições limitadas de vinil (500 cópias) e podem ser comprados no site oficial da banda. São seis canções brilhantes, pequenas epopéias de um compositor que continua escrevendo músicas como se estivesse esculpindo diamantes. Fique atento(a): o Decemberists tem tudo para ser a maior banda do mundo nos próximos dois anos. Senão for não tem problema. Será uma de suas bandas mais queridas. Acredite.
“Always The Bridesmaid: A Singles Series”, The Decemberists (Capitol)
Preço em media: R$ 30 por single (importado)
Nota: 10
Site: http://www.decemberistsshop.com/zencart/
Leia também:
– “The Crane Wife”, The Decemberistis, por Marcelo Costa (aqui)
– Decemberists ao vivo em Columbus, Ohio, por Marcelo Costa (aqui)
Foto: Divulgação
novembro 25, 2008 No Comments
SP Noise: “Parece Glasgow nos anos 90”
Texto: Marcelo Costa / Fotos: Lili Callegari
Mais do que trazer uma escalação com nomes badalados no circuito independente, a primeira edição do SP Noise prometia uma mistureba de estilos que poderia soar, no mínimo, inusitada. A variedade abrangia o rock matemático de Helmet (confirmado na última hora) e dos belgas do Motek passando pelos inenarráveis Ambervisions, de Santa Catarina, pela surf-music dos argentinos do The Tormentos, pelo rock de clima punk flower power do Black Lips até o som climático e viajandão do Black Mountain, mas era impossível não olhar para as roupas.
Do visual adolescente e fanfarrão do Black Lips passando pelo modelo hippie adotado pelo Black Mountain, o de garçons de transatlântico exibido pelos argentinos do Tormentos, a falta de uniformidade do Vaselines (Stevie Jackson de bancário, Bobby Kilddea de camiseta de pijama gola v, Frances de qualquer coisa e Eugene de mestre de cerimônias de festa country) até chegar ao “grande momento” do fim de semana: o colete de couro com franjas e calça de oncinha de Eduardo Martinez, vocalista argentino do combo finlandês Flaming Sideburns, o SP Noise foi muito mais visual que musical.
O primeiro dia foi aberto pelos goianos do Black Drawing Chalks que fizeram um barulho de muita responsa. Os argentinos do Tormentos repetiram o show mediano que vi deles em Buenos Aires, quatro anos atrás. Provável que daqui a cinqüenta anos estejam fazendo um show igual. Os Ambervisions fizeram o público rir com seu vocalista, Zimmer, de cabeça enfaixada, óculos e maracas, mas o show não honrou a barulheira de seus dois álbuns. O Motek me cansou na terceira vez que multipliquei 4 x 4 alcançando um resultado de 16, mas os CDs da banda foram bem vendidos na barraquinha.
No quesito show, o festival começou mesmo quando os finlandeses do Flaming Sideburns pisaram no palco 2 jogando seu glam rock com pitadas hard no colo do público. A banda usa uniforme (que podem ser o da turnê anterior do Hives) e soa extremamente afiada. O vocalista argentino Eduardo Martinez é uma peça. Baixinho, meio fora de forma, mas de colete e sem camisa, e ostentando uma legitima calça de oncinha, Martinez é daqueles que amam os clichês do estilo. Dançou de rostinho colado com uma menina na pista, se jogou no colo de um cara que ficou alisando seu cabelo (curto) enquanto ele cantava e até plantou bananeira no palco. Fora de forma quem?
Fechando a primeira noite, os canadenses do Black Mountain só faltaram acender incensos no palco 1 para deixar o clima flower power contaminar o pequeno público. Enquanto rapazes suspiravam pela vocalista Amber Webber (que mais tocava maracas, pandeiro e posava do que cantava), o grupo mandava ver na sonoridade setentista com bastante propriedade num misto de psicodelia com folk e momentos de hard rock. Tudo ia bem até o show ser interrompido bruscamente pelo pessoal da casa, que devido ao avançado do horário (22h e pouco) precisava esvaziar o local para começar uma outra balada noturna. Um pecado que vitimou uma boa apresentação.
O segundo dia começou com um público muito maior e os paulistas do Homepie abrindo os trabalhos no palco 2 mostrando influências de Belle and Sebastian e um longo trajeto a percorrer para chegar a algum lugar. Os norte-americanos do Calumet-Hecla fizeram um barulho dos diabos no palco 1 com a ruiva Anne fazendo caras e bocas, mas não chamaram muito a atenção do público, que preferiu ficar no bar, jogando Nintendo Wii ou aproveitando os últimos resquícios de sol, antes da chuva. O Do Amor (“Cheiro do Amor?”, perguntou um amigo) apresentou sua mistura de (indie) rock, carimbó e axé-music, mas dispersou o público, que também deixou passar os chilenos do The Ganjas.
Os moleques desajustados do Black Lips lotaram o palco 2, e o show foi melhorando progressivamente até honrar a fama conseguida com boas resenhas em grandes veículos da imprensa internacional. A rigor, o show foi menos caótico do que a apresentação no Fib, na Espanha, em julho. Mas lá eles estavam no enorme palco principal (que naqueles dias recebeu Leonard Cohen, Morrissey, Raconteurs e My Bloody Valentine) enquanto aqui sofriam com problemas no som, chegando ao ponto do vocalista e guitarrista Cole Alexander colocar uma meia no microfone para evitar choques. Outro bom show interrompido pela casa cujo melhor momento foi o arremesso de cuspe do vocalista para o alto, e que lhe beijou a testa.
O Helmet – responsável pelo aumento de vendas de ingressos para o festival assim que confirmou, na quinta passada, sua presença em São Paulo – honrou sua história. O líder e único remanescente da formação original da banda, Page Hamilton, mostrou logo de cara que não estava para brincadeiras. Assim que alguém pediu uma música, ele mandou: “Foda-se! A gente só vai tocar o que a gente quiser”. E assim foi o massacre. Teoricamente é um som que não deveria agradar a quem tem mais de 18 anos, mas é lindo ver uma roda de pogo quebrando tudo e até o segurança batendo cabeça de costas para o palco. Disparado o melhor show do festival.
Fechando o fim de semana noise, os escoceses do Vaselines subiram ao palco com muitos problemas no som e a fama de banda preferida de Kurt Cobain, que gravou três covers do grupo no Nirvana. O show abriu, inclusive, com uma delas, “Son of a Gun”, e a desordem no palco honrava a tradição tosca do grupo. O baixista Bobby Kilddea não conseguia ouvir nada no retornos, o guitarrista Stevie Jackson se enrolava com a guitarra e o microfone de backing e o baterista Michael (o Michael da música do Franz Ferdinand, que não tem nada, mas nada mesmo de sexy) descia a mão no kit básico sem nenhuma variação. Era 1, 2, 3 e vamos pular.
No centro do palco, Eugene Kelly e Frances McKee tentavam entreter o público em meio a tosqueira. Eugene chegou a levar um choque quando tentava testar o microfone, largou a guitarra e saiu emburrado. Voltou depois, com o microfone trocado, e apresentou “Molly’s Lips” (outra gravada por aquele grupo de Seattle), cuja temática é o sexo oral, como uma canção sobre “beijar bucetas”. Francês emendou totalmente desavergonhada: “Como se você soubesse o que é isso”. A vocalista fez várias referências a sexo durante a apresentação. O som melhorava em faixas mais roqueiras como “Dying For It”, mas capengava em números mais lentos – como “Jesus Wants Me for a Sunbeam”, o que não chegava a incomodar o público.
“You Think You’re a Man” veio no bis, tornando-se um grandes momentos da noite. “Dum-Dum” fechou o show – com os responsáveis pela casa irados e pedindo para que o show acabasse o mais rapidamente possível. Um pouco antes, em meio aos inúmeros problemas de som no palco, e a chuva lá fora, Frances brincou e praticamente resumiu o fim de semana: “Isso tudo está parecendo Glasgow nos anos 90”.
O São Paulo Noise, nos anos 00, tropeçou no apertado dos horários (não se começa um festival na cidade numa sexta-feira às 18h nem no meio de um quase feriado, pois ninguém consegue chegar) e no line-up sufocado em um horário de matinê sem chance de erros e improvisos. É ótimo sair de casa para ver um show e chegar antes da meia-noite, mas para não prejudicar as atrações principais é melhor escalar menos bandas. O saldo final é positivo, pois os tropeços desta primeira edição podem ser consertados nas próximas. E quem sabe no ano que vem São Paulo pareça um lugar melhor.
Ps. Frances, Glasgow é uma das cidades mais chatas do mundo!
Ps2. Mais fotos do SP Noise, por Lili Callegari (aqui)
novembro 23, 2008 No Comments
Titãs e Sonic Youth nas telonas
“A Vida Até Parece Uma Festa”, de Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves
Cotação: 1/5
Uma das principais formações de rock do país, o Titãs chega às telonas (via Mostra RJ e SP – estréia oficial apenas em janeiro) com um documentário caseiro que procura contar a trajetoria da banda através de imagens de programas de TV e registros que Branco Mello começou a fazer quando comprou sua primeira câmera VHS em 1986. Dividido a quatro mãos entre o titã e o diretor Oscar Rodrigues Alves, “A Vida Até Parece Uma Festa” tropeça enquanto cinema, mas fãs vão adorar.
Os melhores momentos do filme são quase que exclusivamente retirados de programas de televisão em imagens de (90%) péssima qualidade. Mesmo assim é hilário ver o grupo pulando do Barros de Alencar para o Qual é a Música de Silvio Santos, gastando adrenalina no Cassino do Chacrinha, divertindo-se no Programa do Bolinha e Perdidos na Noite, programa do Faustão na Band. E o raro flagra do Trio Mamão (Bellotto, Mello e Fromer) e as Mamonetes em um programa da TV Tupi é histórico.
Porém, se forem retiradas as imagens de TV, pouca coisa relevante sobra em “A Vida Até Parece Uma Festa”. A edição caótica também não ajuda. Não há um fio condutor que dirija a história, e sim idas e vindas que só não vão confundir quem realmente é fã da banda. As cenas extensas são outro ponto negativo. Exemplo: a cena seguinte após o caso da prisão de Arnaldo e Belloto com drogas é ilustrada com uma colagem da música “Polícia” em diversos lugares que poderia ser muuuuuito mais curta. Outra, com a banda enlameada na Chapada das Guimarães, também poderia ser cortada pela metade.
Para fazer a ligação entre alguns trechos carentes de imagens de arquivo, Alves filma o que restou da banda no ônibus de turnê a caminho de algum show, o que poderia ter sido um ótimo vértice para a história, mas é usado raramente e poderia valorizar passagens interessantes como uma em que a banda vota para escolher quais canções vão entrar num álbum (com Nando Reis frustrado diante da câmera), outra em que Charles Gavin leva um esporro do produtor Liminha ou, ainda, uma terceira, mais recente, com Arnaldo quase caindo da cadeira ao passar uma canção em casa com outros titãs.
Os pontos primordiais da história da banda ganham espaço na tela – a saída de Arnaldo Antunes e Nando Reis; a morte de Marcelo Frommer; o começo, meio e momento atual da banda; a vida na estrada – mas poderiam ser melhor explorados. No fim fica a impressão que “A Vida Até Parece Uma Festa” foi feito exclusivamente para fãs com mais foco na história musical do que no cinema. Até por isso destaca o roteiro capenga. Há bons momentos no documentário, mas uma banda do porte e trajetória do Titãs merecia muito mais. A gente não quer só comida.
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“Sonic Youth: Sleeping Nights Awake”, de Projeto Moonshine
Cotação: 3/5
Imagine a cena: sete estudantes do segundo grau têm uma “tarefa” para o fim de semana: registrar a passagem da turnê “Rither Ripped”, do Sonic Youth, por sua cidade, a pequena Reno, no estado de Nevada, Estados Unidos. O trabalho faz parte do Projeto Moonshine (http://www.projectmoonshine.org), uma organização sem fins lucrativos que visa ensinar cinema a adolescentes para que eles possam documentar importantes eventos em suas comunidades. “Sonic Youth: Sleeping Nights Awake” foi o primeiro longa do grupo, e o Projeto se saiu muito bem.
Não há nada de revolucionário no método de filmagem e roteiro de “Sonic Youth: Sleeping Nights Awake”, pressuposto correto para um grupo iniciante na arte de cinematografia. O grupo parte do básico nos registros e captações de imagens: acompanha a banda de sua chegada em Reno até a partida com reveladoras entrevistas com membros da equipe técnica e com os próprios músicos até imagens dos shows (com a integra de canções como: “Tom Violence”, “Shaking Hell”, “Mote”, “Incinerate” e “Kool Thing”).
A edição é primorosa e valoriza imensamente o resultado final. Com sete câmeras nas mãos de estudantes, o Projeto mixa várias imagens (todas em PB) estilosas que muitas vezes começam e/ou terminam desfocadas, opção que casa à perfeição com a pouca experiência do grupo de estudo e também com a sonoridade do Sonic Youth. Outro ponto alto é a relação dos integrantes – principalmente Thurston Moore – com a filmagem, agindo numa naturalidade raras vezes vista em um documentário.
“Já faz 17 anos desde a última vez que tocamos aqui, não lembro o nome do lugar”, diz Thurston em certo momento do show. Um fã, no meio da platéia, grita o nome do local, e Thurston emenda: “Esse ai. Obrigado por terem nos trazido de volta”. E começa o massacre com “Kool Thing”. O Projeto entrevista uma garota cujo pai tem o nome do grupo tatuado na perna. Minutos depois o encontra para que ele mostre a tatuagem para ás câmeras. O descompromisso toma conta e contagia.
Kim Gordon fala sobre a dificuldade de cantar, a vida na estrada e filhos, um deles trabalhando na turnê, na banca de camisetas da banda. Lee Ranaldo tenta explicar como a banda dura tanto e o ex-baixista do Pavement, Mark Ibold, fala sobre a adaptação ao grupo. Mas os melhores momentos são de Thurston, que parece não levar à sério o documentário. “Vocês são estudantes da high school? Legal. Querem Hersheys?”, pergunta no camarim. “Só tem dois. Vocês vão ter que dividir”, diz o guitarrista já de mochila nas costas enquanto Kim comenta: “Vou levar um pouco de comida para o ônibus”.
Um dos momentos reveladores do longa, porém, parte de um dos membros da equipe técnica. O entrevistador pergunta: “Como você sabe que eles estão felizes no palco, que a noite está sendo boa?”. O rapaz hesita, mas responde: “Eu sei quando eles não estão felizes. Por exemplo: na turnê do álbum ‘Sonic Nurse’, ainda com o Jim O’Rourke na banda, o clima não estava bom… então eles tocavam versões de 20 minutos de uma música, só microfonia, nenhum movimento. Eles estavam jogando sobre o público todas as suas frustrações”, diz, explicando por tabela a frustrante apresentação no Claro Que é Rock, em 2005, após a primeira passagem antológica, no Free Jazz, em 2000.
O intimismo e a espontaneidade valorizam “Sonic Youth: Sleeping Nights Awake”, um documentário jovem que flagra uma das bandas mais importantes do cenário independente mundial. Apesar de ter por base a execução ao vivo das canções do grupo – as entrevistas surgem entre uma música e outra, o documentário soa interessante também para aquele público que não conhece e/ou nem é fã do Sonic Youth, mas tenha curiosidade pelos bastidores de uma banda de rock em turnê, num registro que merece ser visto.
Leia também:
– “Sonic Nurse” exibe as cicatrizes do Sonic Youth, por Marcelo Costa (aqui)
– “Murray Street”, do Sonic Youth, faixa a faixa, por Marcelo Costa (aqui)
– Claro Que é Rock em São Paulo, por Marcelo Costa (aqui)
novembro 21, 2008 No Comments
Bill Graham e Otis Redding
Trecho sensacional do livro “Bill Graham Apresenta: Minha Vida Dentro e Fora do Rock”, lançado no Brasil pela Editora Barracuda (aqui):
“Havia um grande músico que todo mundo queria ver. Todo mundo dizia: ‘Este é o cara’. Otis. Otis Redding. Ele era o cara. Para todo mundo que falava comigo. Para fazer Otis vir tocar no Fillmore, eu fui de avião até Atlanta para depois ir até Macon, que ficava no meio do nada. Acho que acabei impressionando o cara por ter ido tão longe. Mas eu pensava: ‘Como é possível explicar para alguém que eu realmente quero que ele vá tocar para mim?’. Eu poderia ter oferecido dez mil dólares, o que significaria a minha morte. Meu negócio quebraria. Na época, eu não podia pagar tanto dinheiro. Ou então eu poderia dizer que quando eu falava com artistas que respeitava, Paul Butterfield, Michael Bloomfield, Jerry Garcia, e perguntava quem era o cara, quem era o número de suas listas, eles sempre diziam que era você.
Tentei ser humilde com ele. Nada de ‘você tem que vir tocar no maravilhoso Fillmore’. Foi o contrário. ‘Todo mundo me diz que eu preciso convencer você a tocar. Eu sou fã de música latina e não conheço a sua música. Sou fã de Carmen MacRae’. O pessoal dele me perguntou sobre os jovens que iam ao Fillmore e as drogas que tomavam. Só faltava acharem que havia rituais de vodu no lugar. Aquelas tintas, as luzes, as roupas malucas. Era uma coisa estranha para eles. E esse foi outro motivo por que ir até Macon ajudou. Porque eu era um cara supercertinho que não se vestia de um jeito maluco. Finalmente, ele concordou em vir com sua banda, chamada Robert Hathaway Band. Ele tocou em dezembro de 1966. Otis Redding foi o talento mais extraordinário que eu já vi na vida. Disparado. Não havia comparação. Nem naquela época, nem agora.
Todo artista na cidade pediu para abrir o show do Otis. Na primeira noite foi o Grateful Dead. Janis Joplin chegou às três da tarde no dia do primeiro show para ter certeza de que conseguiria um lugar na frente. Até hoje, acho que nenhum músico conseguiu fazer com que todo mundo viesse para um show como ele fez. Todos os músicos apareceram. Ele era o cara. O VERDADEIRO cara. Gostasse de rhythm n’blues, rock de brancos, rock de negros ou jazz, a pessoa sempre ia ver Otis.
Ele tinha uma banda enorme. Dezoito músicos. Na primeira noite usou um terno verde, uma camisa preta e uma gravata amarela, com uma corrente de chaveiro pendurada no cinto. Tinha um metro e noventa. Era um Adônis negro. Ele se movia feito uma serpente. Uma pantera à espreita da presa. Ciente de que era o dono do universo. Belo, brilhante, negro, suado, sensual, apaixonado. Era o predecessor daquele que finalmente conseguiu tocar diante de uma platéia de fãs de rock and roll negros e brancos. Foi só quando Jimi Hendrix apareceu que me dei conta de que Otis esteve lá antes. Jimi foi o primeiro a ter mulheres brancas o desejando abertamente sem nem se dar conta disso. Mas Otis foi seu predecessor.
No palco o homem não parava de se mexer. Ele tocava uma música e, no fim, andava pelo palco. ‘Yeah! Uff! Hey! Oh! Yeah! Vamos lá! Oh! Yeah! Uff! Um, dois…’. e ai entrava na música seguinte. Três, quatro músicas depois do set da primeira noite, eu já estava em pé ao lado do palco. Eu não conseguia acreditar no quanto ele era bom. Ele começou a andar para cima e para baixo. ‘Yeah! Uff! Hey! Oh! Yeah!’. Enquanto fazia isso, uma mulher estava debruçada na frente do palco. Uma jovem negra belíssima num vestido decotado. Ela começou a suspirar como se não pudesse se conter. ‘Otis! Ah! Oh!’. Ele viu. Ele andava para cima e para baixo e dizia: “Yeah”. Estava com o microfone na mão. Ele a viu e ela disse: ‘Uhhh’. Ele atravessou o palco, se debruçou, pegou o microfone e fez uma coisa que nunca ninguém fez igual. Ele olhou para ela, e era um cara grandão e bonito, e ela estava toda animada. E ele disse olhando bem dentro dos olhos dela. ‘Essa vai com tudo para você, querida. Um, dois…’ e todo mundo fez ‘Hah!’ juntos.
Eu esperava algo especial, mas não aquilo. Aquela coisa animal. Ele fez algo naquela noite que ninguém conseguia fazer. Todo mundo batia palma enquanto ela falava ‘fa fa fa fa’ andando pelo palco. Quando terminou as pessoas estavam loucas, gritavam, ‘Yeah! Yeah!’, aplaudindo loucamente, e pouco antes do aplauso morrer tocou ‘I Been Lovin Too Long’. Ele sempre recomeçava logo antes do ânimo morrer. Logo antes de a platéia se acalmar. Vocês estão nas alturas? Vão cair? Eu ainda estou aqui. Não fui embora ainda. Ninguém nunca conseguiu isso. Até hoje eu nunca vi ninguém fazer isso. Quando Richard Pryor estava no ápice não dava para parar de rir. A gente ria, ria, ria de novo, e doía. No caso de Otis, nunca doía. O negócio é que ele era calmo. Era um cara relaxado. Mas se mexia também. Era o verdadeiro Tom Jones. A pessoa que Tom Jones sempre quis ser.
Foi uma maravilha. Otis terminou o show. Ele estava lá em cima, no camarote. Eu estava do lado de fora e ele me chamou: ‘Bill! Bill’. Eu entrei e ele disse: ‘Eu amo essas pessoas!’. Estava sem fôlego e suava loucamente porque tinha acabado de pôr o lugar abaixo. Estava lá sentado com um monte de toalhas, e eu disse: ‘Otis, nem sei o que dizer, meu deus’. E ai eu desatei a falar. A primeira coisa que ele me disse foi: ‘Muita mulher bonita aqui. Mulheres muito bonitas’.
– ‘Meu Deus’, eu disse a Otis. “Mais duas noites. Existe algo que eu possa fazer por você?’.
– ‘Não, não’, disse ele.
Quando eu estava saindo, ele disse. ‘Espere, Bill. A gente acabou de chegar da Inglaterra, e quando você faz shows lá nunca tem gelo. Será que você pode me arranjar um negócio grande com gelo e 7-Up’.
– ‘Sem problema’, eu disse.
Desci correndo as escadas até Denise, que trabalhava atrás do balcão. E falei:
– ‘Denise, preciso de contêineres grandes com gelo e 7-Up’.
– ‘A máquina quebrou’, ela me disse.
– ‘Como assim, quebrou?’
– ‘Bom, a gente continua servindo as bebidas, mas não tem gelo’.
Então sai de lá. Sai correndo de lá, possuído. Desci a Geary e fui até um mercado que ficava a um quarteirão de distância. Comprei um saco de gelo. Subi correndo a Geary de volta e entrei no Fillmore. Quebrei o gelo no balcão. Quando entrei estava resfolegando. Aí coloquei o gelo nos copos e coloquei o 7-Up. Quando cheguei lá em cima, comecei a pensar: ‘Como posso fazer o Otis saber que fiz isso por ele?’. De propósito, comecei a resfolegar de novo. Comecei a respirar como se tivesse corrido. ‘Aqui está o 7-Up’, eu disse. ‘Está bom de gelo?’.
– ‘O que houve?’, perguntou Otis.
– ‘Bom’, eu disse, ainda tentando respirar calmamente. ‘Não é nada demais… eu…. a gente… hm… a máquina de gelo quebrou. Eu tive que descer a rua para pegar gelo para você. Mas não foi nada’.
E ai Otis fez algo grande. Ele agarrou a minha camisa e disse: ‘Você fez o que? Você desceu a rua para pegar gelo para mim?’.
– ‘É. E o que que tem?’
Ele me deu um grande abraço. Depois se afastou e disse: ‘Deixa eu falar uma coisa, cara. Quando eu tocar aqui, a partir de agora, vou tocar para você’.
Se alguém quisesse saber como era o mundo dos negócios na música, eu sempre achei que aquela noite respondia. Como eu podia deixar claro que eu queria que ele voltasse a tocar para mim? Com 7-Up com gelo.”
novembro 19, 2008 No Comments
A Nova Idade Média
“Você gasta um tempão e uma baita grana fazendo um disco e as pessoas pegam aquilo de graça.”
Jim Reid, Jesus and Mary Chain, na Revista Bravo (Novembro/2008) (aqui)
“Baixar a música pela internet é danosa, mas ajuda a divulgação. Música é fonte de renda para muita gente. Tem muitos profissionais por trás. O cara baixa e não vai comprar seu CD. Por outro lado, ajuda com a divulgação. Fazendo um balanço, ajuda mais do que atrapalha.
“Zezé di Camargo na Folha de São Paulo (Novembro 2008) (aqui)
“No momento em que se vende menos música na história, escuta-se mais música do que nunca”.
Jesus Miguel Marcos, do Jornal Publico, de Barcelona (Julho 2008) (aqui)
A Nova Idade Média, por Marcelo Costa
A Indústria da Música está em coma, respira por aparelhos, mas continua vivendo em uma bela mansão repleta do bom e do melhor. Ela ainda sobrevive – e fatura milhões – em um mercado cujos dias estão contados, mas lamenta os dias de bonança que viveu décadas atrás, antes da Internet democratizar a distribuição da música e o MP3 derrubar o comércio de discos.
É interessante perceber que a discussão sobre a ética que envolve a distribuição de música pela Internet junta pessoas tão dispares quanto o frontman de uma das bandas britânicas mais barulhentas dos anos 80 com um dos baluartes da música brega sertaneja que dominou o mercado brasileiro no final da mesma década. Jim Reid e Zezé di Camargo simbolizam o homem desacostumado com os novos tempos, aquele que não percebe que o mundo mudou e que o passado é uma roupa que não nos serve mais.
O disco de vinil surgiu em 1948, substituindo os obsoletos discos de goma-laca de 78 rotações, que até então eram utilizados para vender música em série. A década de 50 marca o início da popularização da música de massa, mas foi nos anos 60 que o cenário tomou proporções estratosféricas. O disco mais vendido dos anos 50, “Elvis’ Christmas Album”, totalizou 7 milhões de cópias. Na década seguinte, o Álbum Branco, dos Beatles, somava quase três vezes aquele número: 19 milhões de cópias vendidas.
O que está acontecendo neste momento da história é que vivemos uma revolução sem precedentes, e muitas pessoas – principalmente as que vivem com os lucros da Indústria – ainda querem utilizar um método antigo e arcaico de comercializar e negociar música sem perceber que o mundo mudou, as ferramentas mudaram, e é preciso adaptar-se aos novos tempos. A Internet e as novas tecnologias facilitaram o ato de fazer música e distribuí-la. A cada dia que passa, a Indústria perde poder.
Mais do que qualquer coisa, é interessante observar que vinil, CD e fita K7 são suportes ultrapassados que só interessam a quem viveu os anos dourados da Indústria da Música. Adolescentes que desconhecem estes suportes e acostumaram-se a baixar músicas pela web nunca vão comprar um disco, pois aprenderam a ter isso de graça. Mais do que um problema ético, estamos diante de um símbolo de liberdade. Agora, cada pessoa ouve a música que quiser. Um disco a um clique do mouse.
“Como ganhar dinheiro com a minha arte?”, perguntam os músicos. Fazendo shows, caros amigos, fazendo shows. Estamos voltando à Idade Média. Estamos diante de um novo Renascimento. Naquela época, os artistas não tinham suportes que os permitiam vender sua música em série, e mostravam sua arte apresentando-se de cidade em cidade. Clichês repetidos a exaustão entram na pauta do dia: “O artista vai onde o povo está” ou “Quem sabe faz ao vivo”.
É por tudo isso que Matt Berninger, do grupo novaiorquino The National, agradeceu à Internet no show que fez em São Paulo, no Tim Festival. Foi ela quem possibilitou que as pessoas conhecessem sua música, e produtores os trouxessem ao Brasil, mesmo sem o grupo não ter tido nenhum de seus quatro discos lançados no país. O mesmo aconteceu com o grupo Spoon, show elogiado do Festival Planeta Terra, com nenhum disco lançado no Brasil, mas o público cantando em coro várias canções. Novos tempos.
Vivemos um momento extraordinário da história, um momento em que as novidades surgem todos os dias e qualquer coisa pode acontecer. É perfeitamente entendível que algumas pessoas queiram continuar vivendo como viviam há dez, vinte, trinta anos atrás, mas é preciso perceber que o mundo está mudando, e que certos dogmas precisam ser adaptados ao novo momento que está surgindo. E pensar que se a Indústria está morrendo, a Música está cada vez mais viva. O Rei está morto. Viva o Novo Rei.
novembro 16, 2008 No Comments
“Dirt Don’t Hurt”, Holly Golightly and The Brokeoffs
Quando alguém define a sonoridade de uma banda ou álbum como de garagem, uma névoa de pavor paira sobre muitos ouvintes. Holly Golightly, a dama britânica do folk que emprestou o nome da personagem principal do filme “Bonequinha de Luxo”, já avisa no título de seu novo álbum: “Sujeira não machuca”. “Dirt Don’t Hurt” é o segundo trabalho ao lado do músico Lawyer Dave (ele, sozinho, responde pela alcunha de The Brokeoffs), cuja estréia da parceria se deu em 2007 com o álbum de título genial “You Can’t Buy a Gun When You’re Crying”.
“Dirt Don’t Hurt” foi gravado na estrada, em um intervalo da turnê. O duo encontrou um estúdio na Espanha equipado com uma bela seleção de microfones vintage e de tesouros antigos para brincar, afastou os fantasmas do lugar e em cinco dias (um a mais do que no primeiro álbum) registrou as 14 canções de “Dirt Don’t Hurt”. Holly conta: “Nós estávamos um pouco cansados e sujos. Se você prestar atenção, ouvirá a lama em nossos sapatos em algumas faixas”.
Além da lama também fica audível/perceptível uma certa camada de poeira na sonoridade do duo. Os vocais são divididos enquanto Holly assume o violão e o banjo e Dave fica com a guitarra, a percussão e as demais coisas com cordas. Logo na primeira faixa, a ótima “Bottow Below”, percebe-se uma vasta semelhança do vocal de Dave com o de Mark Lanegan, o que aconchega ainda mais o ouvinte. “Up On The Floor”, o número seguinte, é uma deliciosa balada rancheira, daquelas para se ouvir por tardes a fio.
“Burn Your Fun”, com seu refrão empolgante, e a suingada “Slow Road” fazem a cama para jogar o ouvinte sobre o primeiro single do álbum, o country acelerado “My 45” que avisa no refrão empolgante: “Querida, quando eu chamar seu nome, é melhor você correr, é melhor você esconder minha 45”. Há espaço ainda para um blues climático (“Indeed You Do”), countrys aceleradissimos (“Getting High For Jesus”) e músicas tradicionais rearranjadas no porão duo (“Cuck Old Hen”, “Boats Up The River”).
Entre os grandes momentos do álbum estão “Bottow Below” e “My 45”, o countryzinho sem-vergonha movido por banjo “Accuse Me”, a boa versão para “Hug You, Kiss You, Squeeze You” (que já havia sido gravada por Stevie Ray Vaughan) e a balada “For All This”, com Holly mastigando as silabas com seu fio de voz. Holly Golightly começou sua carreira no grupo Thee Headcoatees, mas ganhou fama quando estreou solo, em 1995, e principalmente quanto fez um ménage a trois musical com Meg e Jack White na canção “It’s True That We Love One Another”, do álbum “Elephant”.
“Dirt Don’t Hurt” é daqueles discos bonitos em que um punhado de canções executadas com paixão se tornam-se atemporais em uma arte cada vez mais marcada pelo agora. As vozes de Holly e Dave combinam que é uma beleza, o que só amplifica a qualidade do material gravado pelos dois em cinco dias de folga de uma turnê de mais de 50 datas. Produzido pelo próprio duo, “Dirt Don’t Hurt” é daqueles álbuns que correm o sério risco de grudar no seu Windows Media Player, e ficar lá por um bom tempo. Eu, se fosse você, corria o risco. Vale a pena, afinal, a sujeira não machuca.
“Dirt Don’t Hurt”, Holly Golightly and The Brokeoffs (Damaged Goods)
Preço em media: R$ 55 (importado)
Nota: 8
My Space: http://www.myspace.com/hollygolightlyandthebrokeoffs
novembro 16, 2008 No Comments
Cenas da vida em São Paulo – Parte 8
Sexta-feira. Ônibus parcialmente lotado. No fundão, três amigos conversam. Um oriental está ao lado da janela do lado direito. Ao lado dele, um moreno. Na cadeira do meio, um branquelo, que o oriental insiste em chamar de mestre. Do outro lado, um homem pesca peixes sonhadores, dormindo com o sacolejar da lotação. O oriental o aponta para os dois, e ri. Os três aparentam ter mais de 35 anos.
É o oriental o responsável por manter o fluxo narrativo da conversa. Quando o silêncio se aproxima, ele logo emenda um novo assunto, como fugindo do gongo que anuncia o final da luta no boxe:
– Então, acho que o Radiohead vai tocar em março aqui…
Os outros dois amigos se olham com cara de sexta-feira à noite após uma semana de trabalhos forçados:
– Quem? É uma banda?
– É – responde o interlocutor
– Não conheço – responde um dos rapazes, pelos dois.
Alguns segundos de silêncio e o mesmo rapaz que respondeu diz, quase que de forma inaudível:
– Eu comprei um CD do Renato Borghetti.
– Renato o que? – pergunta o amigo da ponta.
– Borghetti. É um sanfoneiro.
– Tipo o Gonzaguinha? – pergunta outro
– Não, ele é gaúcho. Faz música regional.
– …
O juiz sobre o ringue de boxe começa a contagem para encerrar a conversa. Quando chega no oito, desesperado, o oriental vai e pergunta qualquer coisa para um dos amigos:
– Você comprou algum livro do Dostoievski na feira da Geografia
– Quatro – responde o outro.
O ouvinte, que flagra a conversa dos três amigos, começa a pensar que – em menos de cinco minutos – a conversa saiu de Thom Yorke, passou por Renato Borghetti, chegou em Gonzaguinha e terminou em Dostoievski. Poucos escritores no mundo conseguiriam tal façanha em um curto diálogo.
O ônibus está chegando ao final, e enquanto um dos amigos tenta adivinhar os Dostoievski que foram comprados por aquele que não conhece Radiohead, mas é fã do Borghettinho (“Crime e Castigo”, já tenho, “Os Irmãos Karamazov”, já tenho, “O Idiota”, já tenho, “Os Demônios”, já tenho, “Noites Brancas”, esse eu peguei agora), o outro retoma o ponto inicial da conversa:
– Qual banda que você falou que vai tocar mesmo nesse feriado?
– Radiohead, responde o outro, envolvido na descoberta dos outros três Dostoievski que foram comprados.
Se alguém disser a você que o Radiohead vai tocar em São Paulo no feriado, duvide.
*************
O ônibus chega ao ponto final, metrô Vila Mariana. Os três amigos descem e uma conversa entrecortada passa pelo ouvinte, que só consegue pegar uma frase. Uma amiga diz para a outra, enfaticamente:
– Eu quero essa cidade só para mim.
Nananinanão. Vai ter que dividir.
novembro 15, 2008 No Comments
Renovando passaportes
Renovando passaportes
Boas novas no mundo de Wry, The Tamborines, CSS e Kissing Kalina
Por Luciana Lazarini, especial para o Scream & Yell
(www.myspace.com/lulazarini)
Fotos: Divulgação
Há algumas semanas voltei para casa após um ano de Londres. Depois da zonzeira dos primeiros meses na ilha, entre os inúmeros shows, bandas e lojas de discos com tudo-o-que-você-sempre-quis nas prateleiras e artistas do mundo todo mantendo a agenda cultural ultra-diversificada, rolou Justice abrindo para o Cansei de Ser Sexy no Brixton Academy (com o famoso “sold out” estampado no letreiro da fachada), The Tamborines nas noites do Sonic Cathedral e Wry na ‘segunda-casa’ do Buffalo Bar, um inferninho bem ao lado da estação de metrô Highbury e Islington.
Como eles mesmos insistem, não se trata de uma cena de bandas brasileiras em Londres. O que The Tamborines, Wry, Cansei de Ser Sexy e Kissing Kalina têm em comum são histórias de músicos que botaram o pé na estrada para não parar mais de fazer shows e criar músicas que transpiram as experiências deles lá. Sem pretensão de se apresentar como uma banda brasileira ou uma banda dessa ou aquela cena da semana, eles preferem diluir alguns rótulos e seguir cada um seu rumo, estilos e referências. A idéia aqui então não é estabelecer fronteiras entre eles, mas ouvir o que têm de novidade – novos singles, shows e histórias de bastidores.
Em poucos toques: Wry planeja turnê (retorno definitivo?) no Brasil, The Tamborines vai lançar o primeiro álbum, CSS – às voltas com o traumático segundo LP – segue com a agenda lotada e Kissing Kalina descola elogios com o primeiro single. O bate papo todo segue abaixo. Que tal fazer uma visitinha à Londres?
Wry: novos rumos?
www.myspace.com/wrymusic
No ano em que o Wry completa a simetria de sete anos de banda no Brasil e sete anos na Inglaterra, os destinos dos sorocabanos ainda é incerto. Há até quem diga que eles já voltaram de vez para o Brasil. Por enquanto, não. Eles ainda estão circulando pela região de Stoke Newington e pelo Buffalo Bar, apesar de já terem oficializado o último show do ano da banda, pouco antes do baterista André Zanini ir embora de Londres no final de maio. Um retorno que, nas palavras dele, “não deixa de ser um protesto contra a magia londrina que atinge qualquer pessoa que fica aqui e não consegue deixar mais a Inglaterra”.
Mesmo com o destino ainda incerto, a novidade para os fãs brasileiros é que o Wry vai tocar no Brasil entre abril e agosto de 2009 e daí mora a possibilidade de eles darem um tempo a mais por aqui. O grupo segue lançando seus álbuns pela Monstro Discos no Brasil e com a Club/AC30 no Reino Unido e, ainda esse ano, sai o “National Indie Hits”, álbum de covers de bandas brasileiras que homenageia gente como Walverdes, MQN, Pin Ups, Snooze, Astromato, Pelvs e Killing Chainsaw, entre outros. No começo de 2009, a banda lança o álbum “Whales and Sharks” no Brasil (que só saiu na Inglaterra pela ClubAC30).
Como o Wry passou grande parte de 2008 dentro da casa-estúdio em Stoke Newington gravando e mixando o novo álbum, “She Science”, o lançamento está previsto para abril. Quer mais novidade? Neste último álbum algumas das músicas são cantadas em português. Lá pelo meio de um ensaio, o vocalista canta a primeira das músicas em português e, só depois de finalizado o transe, bateria, baixo e guitarra se dão conta da ‘nova’ linguagem.
… Some candy talking …
Quem acompanha o blog do Mário Bross (http://mariowry.blogspot.com/) sabe que ele viveu neste ano um dos momentos mais delirantes da banda, que, antes dos primeiros acordes, eram um grupo de adolescentes que sonhava em ser um time de basquete.
16.05.2008. Norte de Londres. Na programação do Buffallo Bar daquela noite, Wry e Le Volume Courbe. O vocalista do Wry checa a lista de convidados do Volume com nomes como Douglas Hart (The Jesus and Mary Chain) e os My Bloody Valentine Kevin Shields (namorado da vocalista do Volume, Charlotte Marionneau), Colm O’Ciosoig e Debbie Googe, além de Bobby Gillespie, vocalista do Primal Scream. Nada mal para Mario Bross, que é declaradamente obcecado por MBV, e teve a certeza de que deveria montar uma banda quando, nos anos 90, assistiu a um cover do Jesus. Os caras assistiram ao show do Wry, que subiu ao palco como quem se entrega para um ritual. Parando a história aqui, eles já teriam ganhado a noite. O tom extasiado do relato do vocalista me impede de tentar recontar. Então, pausa um trecho do blog do Mário Bross sobre o candy talking com Kevin Shields após o show.
“Ele apertou minha mão firme e disse o quanto o show tinha sido bom. Apertou de novo e completou dizendo que teve momentos do show em que ele pensou em músicas novas. Que tinha se inspirado. Eu disse ironicamente que não acreditava no que dizia, mas que depois pagaria uma bebida para ele. Ele sorriu e eu saí dali, com a cabeça a mil. Poucas coisas me atingem, mas algumas me matam, como essa acima. (…) Já era 11pm e conversamos muito depois, sobre tantas coisas diferentes e até segredos que não são contados a jornalistas e que não vou relatar aqui. Um dia talvez eu te conte pessoalmente. Kevin acrescentou mais tarde que a música “Bitter Breakfast” fez ele mesmo pensar numa outra música. Falando com o Luciano, ele disse que estão escrevendo músicas novas pros shows que vão fazer este ano. Conversaram sobre pedais. Sons, Ebay. Conversamos sobre cachês, Brasil, Londres, guitarras, Belinda e os ensaios da banda”.
The Tamborines: entre-tempos e muralhas de pedais
www.myspace.com/thetamborines
Depois de assistir a shows do The Tamborines no Brasil e na Inglaterra, acompanhar os últimos singles lançados e mergulhar pelas viagens de “Sally O’Gannon”, chego à conclusão de que eles são uma banda que sabe brindar o passado e o presente, como quem tem olhos para contemplar o agora. É o tipo de música que revê tempo e espaço. É como se alguém tivesse oferecido aos músicos a oportunidade de viver o ‘espírito do tempo’ de Londres nos anos 60, seguir para a muralha de guitarras distorcidas dos anos 90 e, finalmente, chegar aos anos 2000 para criar uma estética que, provavelmente, nunca vai estar entre os charts, mas tem lugar garantido nos circuitos independentes que (ainda) existem.
O power trio formado por Henrique Laurindo, Lulu Grave e Renato Tezolin – agora de volta à bateria -, lançou o single “31st Floor/Come Together” em agosto – classificado pela revista NME como “The Byrds em uma bad-trip de ácido”. No Brasil, o compacto está à venda pela Sonic Flowers em uma edição transparente fofíssima, com arte e finalização feita pela própria banda. Em novembro, o Tamborines vai lançar a música “Sonic Butterflies”, um single com a banda Black Nite Crash, de Seattle. Depois de bagunçarem a vida com um primeiro label e só após seis meses lançarem “Sally O’Gannon” pelo Sonic Cathedral, o Tamborines agora decidiu viver o ‘do-it-yourself’ e criar o próprio selo, Beat-Mo Records. “Nós mesmos gravamos as músicas, produzimos tudo, da arte da capa até posters. É mais bacana assim, temos liberdade e fazemos quando bem entendermos”, explica Henrique.
A novidade é que a banda está agora concentrada em gravar o primeiro álbum, que vai ser lançado pelo selo Planting Seeds nos Estados Unidos e tem planos de fazer uma turnê por lá no ano que vem (pedido recorrente na página de recados do Myspace deles). Para quem conheceu o Tamborines ainda no Brasil ou por algumas turnês que eles fizeram por aqui, ainda não há shows previstos para o Brasil. “Adoraríamos. Seria legal ir ao Brasil na mesma época, mas tudo depende de custos. Ao mesmo tempo, temos material novo que gostaríamos de começar a gravar assim que este álbum sair, então temos que ver como tudo isso vai se encaixar no nosso calendário”, adianta Henrique.
Com uma lista de top shows no Natural Music Festival, na Espanha; no Truck Festival, em Oxford e Anson Rooms, em Bristol, e um tributo ao Tony Wilson, da Factory Records, o power-trio deixou para trás os palcos improvisados de Maringá. Desde então, eles acumulam momentos lendários, como no show em que um cara da platéia invade o palco, toma conta de um dos microfones e canta metade do set da banda. “Bem, o que ele não sabia é que o técnico de som havia desligado o microfone dele. Por fim, este acabou sendo um dos nossos melhores shows”, lembra Henrique. No Brasil, ele diz que a banda só começou a ser levada a sério depois de elogios do exterior.
Com a palavra, o músico: “No fim das contas, somos uma banda bem underground. Não acho que a crítica do Brasil esteja interessada, pois eles precisam de músicos polêmicos ávidos em alimentar a cena… Na Inglaterra, somos bem respeitados. Ainda que volta e meia consigamos entrar pela porta dos fundos da indústria (através de corporações como BBC ou NME), nós nunca tivemos que apelar ou fazer algo que não acreditamos. As pessoas que nos colocam lá não estão recebendo dinheiro. Acredite: existem as raríssimas exceções, porém quem lida com gravadora grande tem as mãos sujas. But it’s only rock n’roll, right?”
Kissing Kalina: outsiders sintetizados
www.myspace.com/kissingkalina
Eles se consideram outsiders e desviam de fronteiras. De uma combustão musical espontânea, surge o duo Kissing Kalina, formado por Danny Sanchez e Lily Valentine. Ele saiu do Brasil anos atrás e passou por ‘cerca de 843 bandas’ até surgir o KK. Lily cresceu em Londres e entrou em contato com o KK pela primeira vez em 2007, enquanto trabalhava no projeto solo dela: “Fiquei completamente encantada por este mundo estranho e bonito que o Danny havia criado”. No ano seguinte, quando já fazia parte da banda, o duo criou o selo Honey Buzz Records para ter liberdade ao lançar a música deles.
Nas primeiras vezes que se escuta “Here She Comes”, o debut do duo que acaba de ser lançado e pode ser baixado no My Space, a sensação é de ter encontrado uma nova seqüência para ouvir andando rápido pela cidade, relembrando os planos-sequência do filme-B que deu sentido à noite passada. Nas palavras deles, Kissing Kalina soa como The Ronettes numa viagem de heroína. Talvez The Cramps numa onda beatnik. Com single à venda no circuito indie das lojas Rough Trade e Intoxica, a dupla esteve no tracklist do programa da BBC de Tom Robinson, além de rádios da Espanha, Nova Zelândia, Áustria e Estados Unidos. Por enquanto, apesar de eles serem a fim, ainda não têm previsto nenhum show no Brasil.
Para eles, pouco importa definir as origens da banda. “O KK nasceu aqui. Mas como temos uma alta rotação de colaboradores, pessoas de lugares de todo o mundo já tocaram conosco. Daí fica difícil de saber se a banda é inglesa, brasileira, londrina, japonesa, italiana…. Na verdade acho que ninguém envolvido com a banda já parou para pensar nisso”, diz Daniel.
Então esqueça a idéia de uma banda que se apegue a rótulos ou aceite ser encaixada em alguma nova “cena” recém-criada. “Tivemos alguns problemas quando começamos. Algumas pessoas não entendiam porque não soávamos como Libertines, Artic Monkeys ou derivados… Ou porque tocávamos mais alto do que as outras bandas. Algumas pessoas eram um pouco mais agressivas. Me diverti bastante…”, ironiza Daniel. Lily diz nunca ter entendido por que alguém gostaria de fazer parte de uma “cena” e perde o respeito por aqueles que passam a seguir uma nova moda passageira, sem identidade musical. Nessa mesma sintonia, Daniel diz que em Londres não há uma “cena” de bandas brasileiras e, pela diversidade cultural característica da cidade, o que há são “músicos/bandas/artistas/produtores/charlatões de todo o mundo. Cada um faz seu trabalho da melhor maneira possível, ou tenta…”. Eles estão tentando… da melhor maneira possível.
CSS: um assento na janela, ao lado da saída de emergência
www.myspace.com/canseidesersexy
O que não falta para o Cansei de Ser Sexy são polêmicas e rótulos por diversos cantos da internet. De banda brasileira fenômeno mundial, a crise do segundo álbum rendeu história, inclusive, com o rompimento com a baixista Ira Trevisan e o antigo produtor da banda. Tudo revelado em matéria de capa da revista inglesa NME (New Music Express) com direito a choro, traição e a revanche na música “Rat is Dead”. Digno de novela brasileira. Mas o capítulo agora é outro e, depois de uma turnê extensiva de shows pela Europa que durou cerca de dois anos, eles continuam na estrada, agora com o novo álbum, “Donkey” (haja fôlego!).
Com a agenda lotada e sem nenhuma janela até o final de dezembro, segundo o baterista Adriano Cintra, os fãs brasileiros vão ter que esperar mais um pouco para vê-los ao vivo. “Mas queremos muito tocar no Brasil. Tocar aí foi incrível”, garante. Em novembro, eles passam por sete de países na Europa e, na seqüência, Japão. Mesmo que a energia e espontaneidade do primeiro álbum já deixem uma ponta de nostalgia, eles continuam nas pistas de dança do leste de Londres e estão sempre em pauta nas revistas de lá (sem dúvidas, com mais destaque lá que aqui). Neste mês, rolou o lançamento do single “Move” em CD e compacto 7″… mas o vídeo já tinha “vazado” na rede. Confira os remixes no MySpace (vá direto ao do Cut Copy, please).
A proposta é continuar como uma banda média: “Não somos obrigados a fazer coisas que não queremos, como voar amanhã para a Austrália para gravar um programa de tevê. Não, obrigado. Quando você joga um jogo mais pesado, tem que fazer esse tipo de coisa contra sua vontade. Tem que deixar a gravadora meter a mão no seu disco. A Sub Pop nem ouviu as demos de ‘Donkey’! Eu pedi pra mixar com o Mike Stent e eles “tudo bem”. Acho que o CSS gostaria de ocupar um assento na janela, no meio do avião, de preferência na saída de emergência em cima da asa do lado esquerdo. Tá. Somos uma banda de porte médio que está feliz com o tamanho que tem e não tem pretensão alguma de ser algo que não é. Já tocamos no Brixton Academy sold out, já tocamos quatro vezes no Wembley Arena abrindo pra gente muito maior que a gente (o Basement Jaxx e a Gwen Stefany) e no Brasil somos uma banda que deu certo no exterior”, define Adriano.
Agora morando em Londres nos intervalos das turnês, ele diz ser ao mesmo tempo muito bom e esquisito morar fora do Brasil. “É bom porque aqui é primeiro mundo. E esquisito porque a comida aqui na Inglaterra é horrível”.
novembro 4, 2008 No Comments
Woody Allen de 0 a 10 (atualizado)
10
– “Hannah e Suas Irmãs”, 1986 (resenha)
– “Manhattan”, 1979 (resenha)
– “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, 1977 (resenha)
9,5
– “Crimes e Pecados”, 1989
– “Ponto Final”, 2005 (resenha)
– “Zelig”, 1983
9
– “A Era do Rádio”, 1987
– “A Rosa Púrpura do Cairo”, 1985
– “Tiros na Broadway”, 1994 (comentário)
8,5
– “Desconstruindo Harry”, 1997
– “Vicky Cristina Barcelona”, 2008 (resenha)
8
– “Memórias” , 1980
– “Poderosa Afrodite”, 1995
7,5
– “A Outra”, 1988
– “A Última Noite de Bóris Grushenko”, 1975
– “Blue Jasmine”, 2013 (resenha)
– “Contos de Nova York”, 1989
– “Meia-Noite em Paris”, 2011 (resenha)
– “Poucas e Boas”, 1999
– “Tudo Pode Dar Certo”, 2009 (resenha)
7
– “Bananas”, 1971
– “Broadway Danny Rose”, 1984
– “Café Society”, 2016 (resenha)
– “Dorminhoco”, 1973
– “Interiores”, 1978
– “Misterioso Assassinato em Manhattan”, 1993
6,5
– “Homem Irracional”, 2015 (resenha)
– “Melinda e Melinda”, 2004 (resenha)
– “Sonhos de Um Sedutor”, 1972
– “Trapaceiros”, 2000 (resenha)
6
– “Celebridades”, 1999
– “Para Roma com Amor”, 2012 (resenha)
– “O Sonho de Cassandra”, 2007 (resenha)
– “Testa de Ferro Por Acaso”, 1976
– “Todos Dizem Eu Te Amo”, 1996
– “Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo”, 1972
– “Um Assaltante Bem Trapalhão”, 1969
5,5
– “Dirigindo no Escuro”, 2002 (resenha)
– “Magia ao Luar”, 2014 (resenha)
– “Men of Crisis: The Harvey Wallinger Story”, 1971
– “O Que Que Há, Gatinha?”, 1965
– “Setembro”, 1987
– “Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão”, 1982
5
– “Scoop – O Grande Furo” , 2006 (resenha)
– “Simplesmente Alice”, 1990
– “O Escorpião de Jade”, 2001 (resenha)
4,5
– “Maridos e Esposas”, 1992
– “Neblinas e Sombras”, 1992
4
– “O Que Há, Tigreza?”, 1966
– “Igual a Tudo na Vida”, 2003 (resenha)
3.5
– “Cassino Royale”, 1966
3
– “Você Vai Encontrar o Homem dos Seus Sonhos”, 2010
Leia também:
– “Quem precisa pensar sobre tamanhas bobagens”, Woody Allen (aqui)
– Os filmes prediletos de Woody Allen em todos os tempos (aqui)
– Cenas da Vida em São Paulo, parte 3, por Marcelo Costa (aqui)
novembro 4, 2008 No Comments