Resumão de idéias confusas
Não sei, mas acho que esse post tem tudo para ser enorme. Sinta-se desobrigado de ler tudo, e perdoe a confusão de idéias que devo tentar transformar em palavras, mas meu coração, neste momento, arde em chamas. Foi absurdamente inebriante fazer essa viagem. É impossível não falar o óbvio, e eu tenho que me juntar ao coro dos contentes: a Europa é… foda. Foda, foda, foda.
Ok, você já sabia disso, né. Eu também, mas a coisa toda é de uma proporção que eu não imaginava ser. Nos meus planos pessoais sempre me imaginei morando fora do Brasil em um certo período da minha vida, e após passar 40 dias vivendo um choque cultural – que mais aproxima do que afasta – a vontade é juntar as coisas e se mandar. Sério.
Nada contra o Brasil. Eu amo esse país com todas as forças que tenho. Lembro sempre do tempo em que servi o exército, companhia de infantaria, pelotão de metralhadoras, no Batalhão de Aviação do Exército, em Taubaté. Cantávamos o hino nacional todos os dias de manhã, e todos os dias de manhã eu me pegava cantando arrepiado. Um ano, um mês e quatro dias assim.
Sempre lembro, também, de uma velha entrevista da Legião na Bizz. A repórter abre perguntando: “Que Pais é Este?”. O Bonfá, afoito, diz: “É um país jóia, maravilhoso, as pessoas são legais pra cacete, não saio daqui por nada. Putz, as pessoas falam a mesma língua que eu”. O Renato, sempre ele, corta: “Não sei. Às vezes fico achando que as pessoas falam uma outra língua que não a minha”.
Essas realidades são bem palpáveis. Tenho muitos amigos no Brasil, minha família é daqui. Nasci em São Paulo, a alguns poucos quilômetros de onde moro. Fui registrado em um cartório na rua Augusta (que se mudou para a Frei Caneca), pertinho daqui, mas muitas vezes sinto que não entendo o que acontece com essa cidade, com esse país.
Ian McCulloch, quando perguntei sobre o que ele achava do Brasil, respondeu: “Acho que gosto das pessoas daqui porque elas sempre estão felizes, apesar de todos os problemas. É bem diferente do que acontece na Inglaterra”. Sinceramente, não sei se isso é bom ou ruim. Temos o dom da felicidade, e parece que por isso não lutamos por um mundo melhor. Já somos felizes.
Somos felizes apesar de todos os problemas. Apesar das milhares de pessoas dormindo ao relento e passando fome na rua. Apesar do clima tenso de possíveis assaltos a qualquer momento, em qualquer lugar. Apesar dos políticos que elegemos sabendo que eles vão nos roubar sem nos dar, em troca, o mínimo: a esperança de um país melhor.
Vivemos uma condição terceiro-mundista que marca forte na pele – como ferro em brasa – quando você está no exterior. E não é que não haja mendigos, assaltos e políticos corruptos na Espanha, na França ou na Inglaterra. Existem, claro. Como diria um amigo, gente de má índole nasce em qualquer lugar do mundo, não é privilégio nosso.
Também não é que eles sejam melhores que nós. Não são. Há, apenas, um acesso maior aos bens de primeira necessidade: educação, saúde e segurança. Apenas. E é um “apenas” que faz toda a diferença, caros amigos. O choque cultural é imenso, mas no mínimo do mínimo do mínimo, o que faz a diferença são os bens de primeira necessidade.
Em termos culturais, o Brasil é uma ilha. Na minha inocência, eu acreditava que a internet havia nos aproximado do velho mundo, mas não. Continuamos na América do Sul, praticamente inacessíveis a shows de pequeno e/ou grande porte (os que chegam aqui são os médios) sonhando o dia em que o Radiohead fará apenas uma apresentação aqui, num país de 8.514.876.599 km².
O mais engraçado é que passamos uma imagem – inspirada logicamente pelo carnaval – de sermos pessoas liberais, mas estranhamos o top less (nas praias espanholas, nas margens do Sena) e o mictórios ao ar livre e ao lado do palco nos grandes festivais. Aliás, grandes festivais na Europa são sinônimos de sujeira. Existem lixeiras, mas todo mundo joga tudo no chão. Assusta.
Mesmo assim, os museus sensacionais, a história escrita em cada rua, praça e avenida, e as cidades encantadoras com sua beleza antiga ganham o coração da gente de uma forma que eu não imaginava ser possível. São o tipo de coisa que a gente conhece de livros, revistas e fotos, e que não deviam impressionar, mas impressionam, e muito.
É difícil falar das diferenças, do que encanta tanto que faz a gente não querer voltar para a terrinha. Eu me devia essa viagem desde os 29 anos, quando voltei para São Paulo após um longo exílio em Taubaté. O certo teria ter ido aos 19, mas parecia um sonho grande demais e impossível para um filho de classe média baixa. Na verdade, acredito agora que fui na hora certa, e vou voltar.
Uma viagem dessas pressupõe grandes amizades pelo caminho, e agradeço ao Carlos que me apresentou ao Werchter e me ambientou muito bem com bons papos e cervejas na chegada a Europa; à Odile que me abrigou em Leuven e nos recebeu – a mim e o Carlos – com um jantar caprichado; à comitiva recifense (Augusto, Sandro e Rafael) que rendeu boas risadas em Leuven e Bruxelas.
Ao Pepe, companheiro de cervejas alemãs e do show do Radiohead em Berlim; à Ju e a Re que conseguiram o impossível: fizeram de Glasgow um lugar legal; à Carol, Renata e ao pessoal do Alto Falante (James, Machado, Thiago) pelo excelente astral em Benicassim; e ao Daniel, Beth, Luciana e Samuel (e a Coco) por fazerem eu me sentir em casa em Londres.
À você que leu, comentou, deu dicas oportunas e fez com que eu me animasse em escrever esse “diário de viagem maluco” contando as aventuras em cada uma das cidades que passei: Leuven, Bruxelas, Berlim, Glasgow, Bournemouth, Barcelona, Benicassim, Málaga, Madri, Paris e Londres. E, claro, a Leonard Cohen, Lou Reed, Thom Yorke, Michael Stipe, Jason Pierce, Neil Young, Nick Cave e Morrissey, por tudo.
Ainda vou fazer um ranking detalhado do top 10 das cervejas, e segue abaixo um top 30 de shows e um top 10 de cidades, discos comprados e lugares, ok.
Distâncias aproximadas da viagem
São Paulo para Madrid – 8137km
Madrid para Bruxelas – 1572km
Bruxelas para Berlim – 766km
Berlim para Glasgow – 1759km
Glasgow para Bournemouth – 732km
Bournemouth para Barcelona – 1654km
Barcelona para Benicassim – 265km
Benicassim para Malaga – 746km
Malaga para Madri – 535km
Madri para Paris – 1271km
Paris para Londres – 456km
Londres para Madri – 1071km
Madri para São Paulo – 8137km
Dez Cidades
01- Paris (França) (foto)
02- Barcelona (Espanha) (foto)
03- Londres (Inglaterra) (foto)
04- Leuven (Bélgica) (foto)
05- Berlim (Alemanha) (foto)
06- Málaga (Espanha) (foto)
07- Madri (Espanha) (foto)
08- Bruxelas (Bélgica) (foto)
09- Bournemouth (Inglaterra)
10- Glasgow (Escócia) (foto)
Dez Lugares
A Casa Milá, em Barcelona (foto)
A margem do Sena e a Torre Eiffel brilhando, em Paris (foto)
A margem do Tamisa, em Londres (foto)
O Palácio Real, em Madri (foto)
A Grande Praça, em Bruxelas (foto)
A Unter den Linder, em Berlim (foto)
A Abadia de Westminster, em Londres (foto)
A Prefeitura Gótica, em Leuven (foto)
A Catedral, em Glasgow (foto)
O Museu do Louvre, em Paris (foto)
Dez CDs comprados
– Live At Royal Albert Hall 2008, R.E.M. (mais)
– Secret Rainbows, Live in London 2008, Radiohead
– Live in San Francisco 1978, Neil Young and Crazy Horse (mais)
– The Vogue Years, Francoise Hardy (mais)
– Here Comes That Weird Chill, Mark Lanegan (mais)
– Era Vulgaris Tour Edition, Queens of The Stone Age (mais)
– His ‘n’ Hers Deluxe Edition, Pulp (mais)
– Collection Vol 1, 2 e 3, Django Reinhardt
– The Complete Pell Sessions, Wedding Present (mais)
– Volume I, Billy Bragg (mais)
Ps. Beeem mais baratos que esses preços da Amazon….
Trinta Shows
01- Leonard Cohen (Benicàssim) (foto)
02- Lou Reed (Málaga) (foto)
03- Radiohead (Berlim) (foto)
04- Morrissey (Benicàssim) (foto)
05- R.E.M. (T In The Park) (foto)
06- Pogues (T In The Park) (foto)
07- Sigur Ros (Benicàssim) (foto)
08- Neil Young (Werchter) (foto)
09- The National (Werchter) (foto)
10- Spiritualized (Benicasim) (foto)
11- Grinderman (Werchter) (foto)
12- Vampire Weekend (Werchter) (foto)
13- American Music Club (Benicàssim) (foto)
14- Raconteurs (Benicàssim) (foto)
15- The Hives (Werchter) (foto)
16- Babyshambles (Benicàssim) (foto)
17- British Sea Power (T In The Park) (foto)
18- Richard Hawley (Benicàssim) (foto)
19- Sons and Daughters (T In The Park) (foto)
20- The Ting Tings (Benicassim) (foto)
21- The Verve (Werchter) (foto)
22- Gossip (Werchter) (foto)
23- Nada Surf (Benicàssim) (foto)
24- Ben Folds (Wertcher) (foto)
25- José González (Benicassim) (foto)
26- The Kills (Benicàssim) (foto)
27- Echo and The Bunnymen (T In The Park) (foto)
28- Interpol (T In The Park) (foto)
29- The Subways (T In The Park) (foto)
30- Kaiser Chiefs (Werchter) (foto)
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