Nem Sadine, nem o anao de jardim…
E… choveu em Paris. Logo depois que escrevi o post de ontem, sai pra rua e uma garoa fina, de verao, diminuia o mormaco do calor europeu. As ruas ficaram lindas. A iluminacao dourada refletia nas pocas d’agua e transformava uma simples rua em uma visao de cair o queixo. Choveu e, ih, acho que me apaixonei por essa cidade. Fiquei horas caminhando na chuva e sorrindo a toa…
No hotel, um novo banho e cama, ja que os planos para o vigesimo oitavo dia de viagem eram mirabolantes. Mas ate que deu tudo certo, dentro do possivel. Acordei e em poucos minutos estava em frente a Catedral de Notre Dame, admirando esse templo gotico repleto de historias que comecou a ser construido em 1163 e so foi terminado em 1333, 170 anos depois.
Napoleao se coroou (retirando a coroa das maos do papa Pio VII e colocando ele mesmo a coroa sobre sua cabeca) imperador aqui, e apesar de ja ter visto catedrais mais belas (como a de Glasgow), é impossivel nao sentir um friozinho na barriga la dentro. Gostar mesmo eu gostei da parte externa, com todos aqueles monstros saindo das partes laterais da catedral para espantar o mal.
Dali fui correndo para a Sainte-Chapelle, a poucos metros. A capela fica dentro do complexo do Palacio da Justica, que ainda abriga a Conciergiere. Dez euros para fazer a visita custou caro. A capela é fofa, mas esta bem detonada, e é essencial visita-la ao escurecer. Durante o dia, os vitrais de 15 metros de altura e as estrelas desenhadas no teto tambem impressionam, mas deve ficar absurdamente lindo a noite.
Isso sem contar que a capela, de acustica excelente, abriga concertos classicos. Hoje, por exemplo, Christophe Guiot, violinista solista da Orquesta Nacional de Opera de Paris, estara apresentando a versao – integral e original – de “As Quatro Estacoes”, de Vivaldi. Nos proximos dias, concertos com obras de Bach tambem estao no programa. Mas o preco… 25 euros. Fica para a proxima.
O ticket de 10 euros da direito a conhecer, tambem, a Conciergerie, palacio construido por Filipe, o Belo (esses nomes sao uma graca, nao?), em 1301, e que na epoca da Revolucao se transformou em prisao, com muitos futuros decapitados aguardando aqui a sua hora. O quarto da presa mais ilustre, Maria Antonietta, esta aberto aos visitantes. Pra sair do reino da Disneylandia, ops, o Palacio de Versailles, e vir pra ca, ela tinha que perder a cabeca mesmo…
A ideia, na sequencia, era dar uma passadinha no Hotel dos Invalidos, palacio construido em 1671 para abrigar ex-combatentes de guerra, e que abriga, hoje em dia, os restos mortais do senhor Napoleao Bonaparte, mas acabei trocando o imperador por uma visita a dois templos do consumismo: a FNAC e a Virgin Megastore, na Champs Elysees. Tinha varias promocoes, mas sai de maos abanando.
Dali segui para o Centro Cultural Georges Pompidou, que o James nao avisou que fechava as segundas e tercas (risos). Inaugurado em 1977, essa maravilha moderna é o lugar mais visitado de Paris (sim, mais do que o Louvre e a Torre), e se destaca por sua arquitetura particular, que joga pra fora do predio todos os canos e estruturas que deviam estar dentro. Pirado, e interessante.
Sai dali disposto a enfrentar um filé com arroz e fritas, mas eis que olho ao lado, e uma multidao (vai, umas vinte, trinta pessoas) esta toda alojada em frente ao Pompidou, armada de baguete, refrigerante ou cerveja, e fruta, fazendo um piquinique em plena hora do almoco. Nao resisti. Peguei uma baguete de salame com queijo brie (oi, Lili), uma coca-cola, e fui para a frente do museu admirar essa rotina tao parisiense.
Em Berlin, bebe-se cerveja em todos os lugares: na rua, no onibus, no trem, nas pracas. Em Paris, come-se baguetes e lanches em todos os lugares: na rua, no onibus, no trem, nas pracas. Quando eu estava chegando na FNAC, contei em uma quadra doze pessoas que passaram devidamente “embaguetadas”. Para mim, pessoalmente, soa ate transgressor: acho estranho comer em publico, assim, andando, mas se voce esta em Paris, faca como os parisienses, certo.
Proxima parada: Sacré-Coeur, a igreja prostrada no alto do boemio bairro de Montmartre, cuja vista ao entardecer, dizem, enche os olhos. O problema é que, no verao, entardecer significa, quase, virar a madrugada. Cheguei na frente da igreja por volta das 16h, um sol danado. Decidi sair caminhando pelas ruas do bairro que encantou Salvador Dali (ele morou aqui) e que foi pano de fundo para a historia de Amelie Poulain.
Desci me perdendo pelo bairro ate chegar a zona (literalmente) de meritricio, que abriga a famosa “casa para maiores” Moulin Rouge. Me senti na Augusta: a cada dez passos alguem perguntava se eu queria dar uma espiadinha nas garotas. Curti o lugar – com dezenas de bares com as cervejas top da minha lista – mesmo sem ter visto a Nicole Kidman como Sadine (suspiro) e nem ter encontrado o anao de jardim…
Um pouco antes, no caminho para a Sacré-Coeur, vi um cartaz no metro que anunciava um festival de jazz na Esplanada de La Defense do dia 14 ao dia 29. Estrelas: Dave Holland, Solomon Burke e Herbie Hancock. Pensei comigo: o ultimo dia é hoje! Sai correndo para o lugar, achando ter tirado a sorte grande, mas eu devia ter confirmado o mes: o festival foi em juin e nao em juillet…
A confusao me levou ao bairro de La Defense. Para nao encher de predios altos o centro da cidade, a prefeitura jogou os predios comerciais e governamentais no lado oeste, em La Defense. Aqui, a arquitetura moderna se destaca dos predios de design maluco ao imenso calcadao/jardim (que lembra um Anhangabau, mas muuuuito mais bonito). No fim ha o Grande Arche, uma visao moderna do Arco do Triunfo. Bacana.
Agora passa das 21h, e o sol ainda nao se foi. Estou enrolando pois queria muito fazer o passeio noturno pela Catedral de Notre Dame, que se encerra as 23h, mas quem diz que vai ser um passeio noturno se ainda tiver sol? Mesmo assim, vou pra la. Apesar do dia ter acordado nublado, o sol dominou o dia todo. Amanha tem Louvre e Pompidou no programa. Haja pernas…
Ps. E soh da Brasil na capa das revistas culturais gratuitas nessa cidade. A Trois Coulers (cinema, cultura e tecnologia) crava: “Bresil, Terre de Cinema”, destacando “Cidade dos Homens” e “Tropa de Elite” em uma reportagem de nove paginas. Alem, traz um texto que pergunta: “Tupi or not tupi?” e abre dizendo: “Voce conhece a literatura brasileira?” Ja a OpenMag coloca o CSS na capa com a chamada “Fiesta do Brazil” e entrevista…
julho 29, 2008 No Comments