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FIB 2008, Viernes


Texto e fotos: Marcelo Costa

Almocei cerveja na sexta-feira, segundo dia do Festival Internacional de Benicàssim. Fui encontrar o pessoal do Alto Falante, que está em um hotel de frente para o mar – e para as europeias de topless – na própria Benicàssim (invejaaaaa), e quando cheguei eles tinham acabado de almoçar. Fomos para um bar ao lado que vendia cerveja (Heineken) a 1 euro. Chamei pelo garçom duas vezes, para pedir uma tortilla de jamon (omelete de presunto), e ele não veio, então tive que me contentar com a cerveja como almoço.

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A primeira coisa que fiz ao entrar no FIB foi ir direto comer um taco numa barraquinha de comida mexicana. Facada: 10 euros, mas valeu, estava bem bom. E estou eu lá, no meio do prato, quando cola uma menina ao lado: “Você fala inglês ou espanhol?”. E eu: “Nem um nem outro, mas diga”. Ela: “Cara, estou com muita fome, você pode me dar um pouco da sua comida?”. O nome dela era Roxanne, era francesa e depois de duas garfadas – cujo sabor deu para perceber em seus olhos – se despediu: “Como se diz bon appetite em português?”

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Já tinha acontecido algo assim no primeiro dia, antes mesmo de eu pegar a pulseira do festival. Do lado de fora, uma barraca vendia copos de cerveja de 1 litro por 6 euros. Com o sol a pino, decidi encarar. Uma inglesa colou em mim no balcão e desembestou a falar. E eu: “Calma, calma, devagar”. E ela: “Você é alemão? Fala inglês?”. E eu: “Mais ou menos”. E ela: “Legal, você me entende. Me empresta 2 euros para eu comprar um kebab?”. O atendente, espanhol, comentou: “Você devia ter dito que não sabia falar inglês”. (risos)

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Roxanne, a francesa, estava ali para ver Pete Doherty. Os portões para o palco principal foram abertos quinze minutos antes do show, e assim que cheguei perto a vi colada na grade. É interessante observar o fascínio que esse moleque provoca em seu público. Ele preferiu trocar uma das bandas britânicas mais fodas do anos 00 pelo vício em drogas. Depois, deixou uma das modelos mais cool do mundo ir embora. Mas ele continua, chapéu enfiado na cabeça, batida na guitarra marca Mick Jones e pose blasé. Para a infelicidade dos detratores, Pete Doherty está bem vivo.

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O show é correto no jeito Pete Doherty de ser: ele emenda uma canção na outra através de riffs clashianos preguiçosos que parecem que vão se desmanchar no ar, mas de repente embalam e revelam uma grande canção. Ao vivo, as músicas do fraquíssimo primeiro álbum crescem e empolgam e as poucas canções boas do segundo álbum, “Shotter’s Nation”, ficam de fora, com exceção da ótima “Delivery”. O show não dura nem 40 minutos, mas a banda sai ovacionada após uma versão incendiária de “Fuck Forever”, num daqueles momentos pra não se esquecer.

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O New York Dolls vem na sequência abrindo, de cara, com “Looking For a Kiss” para incendiar a galera. O show, no entanto, é calcado muito mais no repertório do álbum de 2006, “One Day It Will Please Us to Remember Even This”, do que na dobradinha clássica “New York Dolls”/”Too Much Too Soon” (1973 e 1974, respectivamente). E não é só David Johansen que está igualzinho ao Mick Jagger: a própria banda escarra Rolling Stones por todos os poros. Bom show, e só.

Enquanto o Hot Chip abria a noite na tenda FiberFib, o público começava a dolorosa separação: uma parcela para o Vodafone Club que iria receber o Spiritualized e outra (maior) para o Escenário Verde, dito palco principal, que iria abrigar as loucuras guitarreiras de Kevin Shields e seu My Bloody Valentine. Apesar do jornal valenciano El Mundo definir o show do My Bloody como “os setenta minutos mais intensos dos 14 anos do FIB” (leia aqui), só consegui ver o número final, “Soon”, fodido, e um casal tapando os ouvidos criando uma cena divertidíssima.

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Só vi o número final pois, enquanto Kevin Shields tocava seus clássicos do inferno, eu estava ajoelhado frente a Jason Pierce, que estava convertendo novas almas com seu Spiritualized. A espinha central do show são as canções do sensacional “Songs In Accident and Emergency” (traduzindo: “Canções de UTI”) que formam um núcleo de fazer o corpo levitar: “Soul On Fire”, “Sweet Talk” e “Sitting On Fire” são de chorar. Mas é com a versão arrepiante da clássica “Come Together” que Pierce faz um estrago violento no coração dos presentes. Daqueles momentos que você pensa: “Eu nunca mais vou ser o mesmo depois disso!”.

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O show foi curto, quarenta minutos, mas serviu para me deixar completamente descoordenado. Sai da tenda Vodafone em estado de transe e embora a noite ainda prometesse com Róisín Murphy e Mika, o único destino após um show do Spiritualized é o céu, que para mim pôde ser transferido para um banho de três horas na banheira do hotel, tentando entender o que tinha acontecido. Assim, melhor não falar mais nada. Mesmo porque não tenho mais palavras. Foi foda. Basta.

O terceiro dia do FIB promete: tem o Ting Tings, José González, The Brian Jonestown Massacre, American Music Club, My Morning Jacket, The Kills, Tricky, Raconteurs e Gnarls Barkley às 3 da manhã. Vou ali pegar uma praia, beber alguns litros de cerveja e tentar comer uma paella, mas eu volto. Eu acho…

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Saiba como foram todos os dias do FIB 2008 e 2011

julho 19, 2008   No Comments