T In The Park 2008, Saturday
Texto e fotos: Marcelo Costa
O T In The Park, maior e mais badalado festival da Escócia começou na sexta-feira, com Verve, Stereophonics, Feeder, Futureheads, Wombats e Chemical Brothers, mas devido ao alto preço dos ingressos (em libras), compramos os tickets apenas do fim de semana. E dá-lhe gastos em pounds: o ônibus ida-e-volta de Glasgow para o festival (1h30 de viagem) custa 22 libras (mais de R$ 70), a programação com o horário de cada show sai por 8 libras (quase R$ 30) e o festival ainda destaca milhares de oportunidades para você gastar o seu rico e suado dinheirinho.
O T In The Park até parece um shopping center tamanho o número de lojas. Tem de tudo: as comidas mais variadas (e servidas de forma tosca, claro), energéticos especiais apenas para maiores de 18 anos, massagem, cabelereiro, lojas de roupas e… roda gigante, bungee jump, trem fantasma e carrinho de bate-bate. Ou seja, o festival não é um shopping, mas sim um circo. Boa parte do público marca presença não por causa desta ou daquela banda, e sim pelo fato de que o lance é estar aqui, independente das atrações.
Quanto as atrações, elas são divididas em oito palcos, sendo três tendas de música eletrônica, uma tenda para bandas novas, dois palcos maiores (Main Stage e NME Radio 1 Stage) e duas outras tendas bacanas. O certo seria escolher uma ou duas tendas próximas, ficar se revezando entre elas e esquecer o mundo, mas quem diz que a gente consegue. Haja perna, pois as caminhadas são beeeem longas, mas costumam valer a pena.
Cada um fez sua programação pessoal, e saímos na batalha. Começamos com os belgas do dEUS, que tinham fechado o Werchter, na semana passada, e aqui praticamente abriam a tenda NME Radio 1. Bom show, ao menos as quatro músicas que vimos. Passamos pelo Main Stage para olhar a Kate Nash. O microfone estava dentro de uma armação em forma de ostra, e apesar da Kate ser toda fofinha, o show não embalou. Duas músicas depois e já estávamos no palco das bandas novas, o Futures Stage, vendo os ingleses do The Metros. Eles têm muuuito o que caminhar ainda, mas valeram as três músicas que vimos.
O festival realmente começou, com cerveja voando pro alto e a galera cantando junto, quanto o The Subways entrou no NME Radio 1. Fazia um tempo que a banda não pisava na Escócia, e a saudade foi compensada com uma apresentação vibrante, que até compensa a falta de qualidade da banda em estúdio.
O primeiro grande show do dia aconteceu na tenda King Tut’s Wah Wah. Jogando em casa, os escoceses do Sons and Daughters, responsáveis por um dos grandes discos de 2008 (”This Gift”), só tinham 40 minutos (dos quais usaram 36 apenas), mas mandaram bem focando nas canções mais antigas (”Johnny Cash”, “Rama Lama”, “Dance Me In”) e no poderoso single “Gilt Complex”. Adele, com um longo camisão com Leonard Cohen de estampa sobre um micro shortinho, derreteu corações. E Scott Paterson segura tudo na guitarra. Showzão.
Na sequencia, um pouquinho da honestidade rocker do Hold Steady, da pieguice pop do Kooks (ovacionados no Main Stage) e o único momento de dúvida do dia: Raconteurs ou Pogues? Bem, imaginei que o Raconteurs tem 105% de chance de tocar no Brasil, se não for neste ano, que seja no ano que vem, enquanto o Pogues, never. Sem contar que ainda tinha o acréscimo de que cruzo o Raconteurs no Benicassim, na próxima semana, e de que o Pogues estaria tocando “em casa”. Ganhou Shane MacGowan, o Wander Wildner do Reino Unido.
A escolha não poderia ter sido mais acertada (e não só pelo fato do show do Raconteurs, segundo a Juliana, ter sido meia boca). Quinze minutos antes do show começar, a tenda já estava superlotada com o público entoando as canções do grupo como se estivéssemos todos em um estádio de futebol. A segurança foi reforçada de cinco para quinze pessoas na frente do palco, que distribuíam água para as primeiras filas tanto como cuidavam dos desmaiados e dos mais afoitos, que tentavam pular a grade. A banda começou atacando um número instrumental, e assim que Shane pisou no palco, dezenas de celulares foram ao alto para registrar o momento.
Shane MacGowan é como um deus bêbado para este povo. Ele se enrola com o microfone, caminha cambaleante pelo palco, briga com o backing, e canta como se estivesse em um pub rodeado por cervejas. O público vai junto, e “Dirty Old Town”, um dos clássicos da banda, rende um dos momentos mais belos que a música pode proporcionar, com pessoas chorando, cantando abraçadas, balançando bandeiras e se emocionando. Lindo de se ver. Shane estourou o horário em vinte minutos, mas ele pode, pois ele é um deus bêbado e desdentado que esse povo ama. Amém.
E acabou o festival? Não. Ainda tinha Interpol, Kaiser Chiefs, Ian Brown e Rage Against The Machine, todos no mesmo horário. Meu plano era ver três músicas do Interpol (só para confirmar o que eu já sabia) e ir ver outro deus tocar canções de sua ex-banda, uma tal de Stone Roses, e cabular Kaiser Chiefs e Rage.
Vi as três músicas do Interpol (sim, é aquilo mesmo: as músicas do dois primeiros discos são foda, as do último são lixo) e parti pra tenda Kings pra ver Ian Brown. Quem disse que consegui entrar? Apesar de sua carreira solo ser frouxa, o homem é idolatrado, e o show vale pois ele toca várias canções do disco que mudou o rock britânico nos anos 90, mas depois de ter batido a cara na porta, decidi voltar ao Interpol (no caminho conferi três músicas do RATM), que fechou a noite com hits e mandou todo mundo feliz pra casa.
Uma coisa interessante, e que você já sabia, mas custa nada falar: todos os shows que vi na Europa até agora, e que já tinha visto no Brasil, foram melhores aqui. Até o Kings of Leon! Esse do Interpol foi a prova dos nove: dava para se ouvir as duas guitarras, o baixo, bateria e voz perfeitamente, como se estivéssemos ouvindo um CD. Foda. Bem, uma hora e tanto depois já estávamos de volta ao hostel.
Estou de malas prontas para embarcar para Barcelona nesta segunda, mas antes tem o último dia do T In The Park. Minha agenda pessoal: Brian Jonestown Massacre, The Ting Tings, British Sea Power, Vampire Weekend, Echo and The Bunnymen, Amy Winehouse, Hot Chip e R.E.M.; Se a Amy der cano, vou me ajoelhar na frente do palco do National, novamente. Assim que der, volto pra contar. Me aguarda!
Leia também:
– Saiba como foi o domingo do T In The Park 2008 (aqui)
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