Festival Rock Werchter, Bélgica, Day 3
Ou “o dia em que o Sigur Ros roubou a festa do Radiohead”…
Bem, o terceiro dia do festival era disparado o de melhor line-up, e não só pela presença do Radiohead fechando a noite. O dia começou com a fofinha Beth Ditto encaixando “Psycho Killer”, dos Talking Heads, inteirinha dentro de “Listen Up”. E em toda pausa ela mostrava a potência de sua voz cantando “Crazy”, do Gnarls Barkley, que também iria tocar no Werchter neste mesmo dia (e no mesmo horário do Sigur Rós). O show do Gossip foi bem bom, com o ponto alto ficando, claro, para “Standing In The Way of Control”, com a pessoa mais cool do mundo em 2007, segundo a NME, cantando no meio do público.
O Hives veio na sequência. Os dois últimos discos não são lá grande coisa, mas o show é muuuito bom. Howlin Pelle Almqvist é um entertainment de primeira, um dos melhores do novo rock. Brinca com o público, conta histórias, faz piadas sobre a vida em turnê e obriga todo o público a esticar a mão direita e prometer sempre ouvir Hives. O show já seria bom se não tivesse hits, mas imagina o que cancões poderosas como “Main Offender”, “Tick Tick Boom” e a sensacional “Hate To Say I Told You So” podem fazer numa pista de dança e você terá ideia da festa que foi quando elas apareceram no Werchter. Pelle é responsa.
Já na hora do Hives a chuva tinha voltado, e não ia ser o Editors que iria me fazer encarar água e lama. Vi algumas músicas de longe, o vocal é muito bom ao vivo, mas nada me fez ter vontade de ir lá “pra frente”. O Kings of Leon, que fez um dos piores shows da história do Tim Festival uns anos atrás, mostrou competência, muito embora eu vá morrer sem saber qualé o motivo da existência do quarteto. Eles não tem sex-appeal, suas canções abusam dos clichês e o vocalista não consegue formar uma frase – em inglês – para se comunicar com o público. Definitivamente, não consigo entender. Já Ben Harper mostrou seu bom show (que passou pelo Brasil em 2007) com a galera cantando junto várias canções.
E então o Sigur Rós entrou no palco. Por um motivo de “estratégia”, eu estava encostado em uma das grades perto do palco, para ver melhor a turma de Thom Yorke que viria na sequência. Quem acompanha o Scream & Yell lembra que não fui muito simpático com os islandeses quando eles tiveram no Brasil, tocando entre Grandaddy e Belle and Sebastian. Na verdade, eu nunca tinha tido muita paciência com o grupo, e aquele show em particular foi uma balde de água fria para quem estava embalado pelas outras duas bandas da mesma noite. No Werchter, porém, o grupo fez um show apoteótico que descongelou meu coração.
De cara, tocaram seu maior “hit”, “Svefn-g-englar”, a única coisa que eu lembrava como sendo deles. No Werchter, ao vivo, o Sigur Rós me pareceu o meio termo, a ponte perfeita entre Arcade Fire e Mogwai. Os islandeses começam onde termina o som dos canadenses e terminam quando começa a usina de barulho dos escoceses. Rock com guitarra tocada com arco de violino. Baixo tocado com baqueta de bateria. Barulho e melodia no mesmo compasso. Comandado por Jón Þór Birgisson, e mais 11 pessoas (incluindo um quarteto de metais), o Sigur Rós emocionou (e nem precisava do por-do-sol às dez da noite).
Pela qualidade do show do Sigur Rós, o Radiohead iria ter que trabalhar muito para fazer uma apresentação mais poderosa, porém, quem diz que eles ligam para isso. Com uma decoração de palco fantástica, e o telão dividido em seis, com imagens flagradas das já populares mini-camêras que o quinteto tem usado em seu estúdio particular, o Radiohead fez um show de lados b eletrônicos no Werchter. É claro que o show foi fantástico, afinal, se eles fizerem um show com lados C e D, a possibilidade de ser uma apresentação sensacional é enorme, mas… faltaram mais hits, desculpa dizer isso.
A rigor, foi uma música do “The Bends” (“Just”), duas do “Ok Computer” (“Lucky” e “Paranoid Android”), cinco do “Kid A” (incluindo “Idioteque”, um dos grandes momentos da noite, e “Everything in Its Right Place” em versão eletro), uma do “Amnesiac” (“You and Whose Army?” completamente irreconhecivel), três do “Hail To Thief” (“There There”, “The Gloaming” e “2+2=5”) e oito cancoes do “In Raimbows” (“House of Cards” é uma das que ficou de fora).
É difícil explicar o que eu esperava de um show do Radiohead. A apresentação foi sensacional, a banda ao vivo é impecável, a melhor formação do mundo atual sobre um palco, mas ficou um gostinho de “podia mais”. Quem sabe eu mude de ideia na terça-feira, em Berlim, quando assisto novamente a banda ao vivo. Espero que eles mudem o repertório e que Thom Yorke esteja mais animado. Neste show ele só foi ao microfone uma vez para falar que era uma honra estar tocando no mesmo palco que Neil Young tocou um dia antes. “Ele é um dos meus ídolos”, disse Thom. Na boa, o show de Neil Young também foi melhor…
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