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Posts from — abril 2008

Coisas que não combinam

Ressaca com ir ao trabalho numa segunda-feira nublada.

abril 14, 2008   No Comments

Uma frase

“Não existe guerra alguma, é só o capital cruzando o mar”

Fred 04

abril 12, 2008   No Comments

Cinema: “Um Beijo Roubado”

“Um Beijo Roubado”, de Wong Kar-Wai – Cotação 2,5/5

“My Blueberry Nights” (”Um Beijo Roubado”) narra à história de Elizabeth (Norah Jones emprestando fraqueza a um personagem que sobrevive disso), uma jovem que foi trocada por outra mulher na vida de um homem. Ela não aceita. Procura vasculhar os detalhes interrogando o dono de um café localizado na esquina da casa do ex-namorado.  Jeremy (Jude Law em atuação discreta), o dono do café, como quase todas as pessoas que já passaram dos trinta anos, coleciona histórias de amor que não terminaram bem. Da última restou um molho de chaves e o desejo do esconderijo atrás de um balcão.

Elizabeth e Jeremy tornam-se grandes amigos. Inspirada pela decisão de cercear o ex, Elizabeth passa a freqüentar o café todos os dias, devorando tortas de blueberry e ouvindo as histórias do amigo. Afundada no desespero do fim de relacionamento, e pressentindo a aproximação romântica do amigo, Elizabeth deixa Nova York para trás e parte em busca de sanidade do coração entregando-se ao trabalho e ao cansaço em mundos que a desconhecem. Nessa epopéia romântica, é jogada no centro de histórias de perda, que colocam sua dor em segundo plano.

Lizzie parte, mas não deixa de manter contato com Jeremy. Através de postais (um hábito tão demodê em tempos de internet, e tão romântico), ela vai contando ao amigo de suas aventuras e desventuras na estrada. Ele, por sua vez, sai a caça dela ligando para todos os restaurantes de Memphis procurando por uma Elizabeth, pela sua Elizabeth, mas não a encontra. Mais de mil quilômetros os separam, e eles estão muito mais próximos – romanticamente – do que centenas de casais que dividem a mesma cama todas as noites em lugares tão díspares quanto São Paulo, Pequim ou Nova York.

“My Blueberry Nights” dura 90 minutos apenas, mas parece muito mais (interessantemente) extenso pela maneira que Wong Kar-Wai explora as histórias secundárias. Norah Jones e Jude Law não inspiram compaixão, mas se a história de amor de Arnie Copeland com Sue Lynne (David Strathairn e Rachel Weisz excelentes) não lhe deixar sem ar, é melhor consultar o doutor William Butler Yeats, pois a chance de seu coração ter perdido o ponto cardíaco romântico é grande. São nos fragmentos secundários que Kar-Wai exercita sua crença nos desencontros, e consegue alcançar (por mais rápidas que sejam as passagens) a beleza de “Amor à Flor da Pele” e “2046?.

A rigor, o diretor ainda conta suas histórias com delicadeza, calma e segurança, iluminando a tela com imagens que se sobrepõe umas as outras valorizando os tons verdes e vermelhos. A crença no desamor permanece, e as vidas semi destruídas dos personagens secundários, que precisam recomeçar do zero após terremotos emocionais, rendem bons momentos na tela (Natalie Portman, abandonada no fim do mundo, está sensacional com sotaque texano), mas não chegam a dar unidade ao filme, o que não chega a comprometer a película, mas a diminui em comparação direta com a obra anterior do cineasta.

Hollywood parece ter amolecido a crença do chinês Wong Kar-Wai nos desencontros românticos. Após duas obras dramáticas e sublimes de temática dolorida, Kar-Wai estréia na língua inglesa com um drama romântico que mantém em grande parte do tempo sua característica de bom contador de histórias trágicas de amor envolvidas em belas fotografias, mas cede as convenções do mercado norte-americano, ao premiar seu personagem principal com a oportunidade de recomeçar após ser jogado no reino dos corações partidos. Poderia ser entendido como uma segunda chance do cineasta aos românticos, se as entrelinhas não fossem notadamente cruéis. Mas você tinha dúvida disso, caro leitor?

Leia também:
– Três filmes: Wong Kar-Wai 1994, 1994, 1995 (aqui)
– Três filmes: Wong Kar-Wai 1990, 2000, 2004 (aqui)

abril 12, 2008   No Comments

Cinema: “Em Paris”

“Em Paris”, de Christophe Honoré – Cotação 4/5

Jonathan acorda. É de manhã. Do lado esquerdo da cama, uma mulher. Do lado direito, um homem. Ele se desenrola do lençol e salta sorrateiramente, nu. Coloca uma samba-canção, sai do quarto, encontra o pai dormindo sentado na sala, beija-lhe levemente a face, e vai para a sacada do apartamento. Ali ele encontra o espectador, e trava um monólogo com a pessoa sentada à frente da tela procurando explicar o que se viu minutos atrás, e preparar o terreno para o que virá a seguir encerrando o bate papo entre personagem e público com uma pergunta: “É possível pular de uma ponte por amor?”.

Com este início pouco usual e deliciosamente interessante, o jovem diretor Christophe Honoré joga as cartas na mesa acerca de seu terceiro longa, o drama romântico familiar “Em Paris”. Paul (Romain Duris da dobradinha “Albergue Espanhol”/”Bonecas Russas”) acabou de sair de um relacionamento, e está como quase todo mundo fica ao sair de um relacionamento: um bagaço sentimental. Ao sair da casa da ex, optou por voltar a casa do pai, deslocando o irmão Jonathan (Louis Garrel de “Os Sonhadores”) para uma cama improvisada na sala.

O cenário é de caos familiar. Paul está naquele momento em que a melancolia quer afundar a pessoa dentro de um buraco inacessível a todo e qualquer ser-humano. Ele não come, não ri, passa o dia inteiro na cama de pijama ouvindo compactos franceses antigos. Jonathan, por sua vez, está detonado. Chegou no meio da madrugada da balada, se ajeitou desajeitadamente na sala e foi acordado nas primeiras horas da manhã pelo pai, Mirko (Guy Marchand em belíssima atuação), que só desiste da tarefa de fazer o filho levantar quando este pula da cama improvisada no sofá, nu novamente.

Christophe Honoré usa esse núcleo familiar caótico formado por três homens para fazer um elogio à amizade, ao amor e a Paris. O pai procura de uma forma afavelmente descontrolada tirar o filho do poço fundo da tristeza. O irmão vai por outro caminho, evitando tocar no assunto que desencadeou todo o drama, e enquanto luta para mostrar a Paul que a vida vale a pena, caminha pelas ruas da cidade-luz apaixonando-se a cada esquina e demorando mais de doze horas para completar um percurso que deveria demorar apenas trinta minutos.

Lidar com destreza com a ocupação do tempo na tela é um mérito de Christophe Honoré. O argumento de “Em Paris” – o valor da amizade e da vida – poderia render um filme piegas (e na maioria das vezes rende), mas o diretor francês acerta em quase todas as suas escolhas bastante pessoais, como a abertura que traz um dos personagens conversando diretamente com o público, convidando-o a sair da cadeira do cinema e a adentrar a história como observador. Durante o filme, Jonathan olhará para o espectador mais algumas vezes ressaltando a cumplicidade.

Chega a ser surpreendente como o diretor traduz de forma sublime a melancolia (”Subestimamos a tristeza dos outros”, diz Paul em certo momento, mostrando delicadamente a maneira correta de se agir perante um afogado em desilusão), o amor familiar (quando o pai desfere um tapa no rosto do filho, que ri, mas não por desrespeito, e sim por entender o quanto aquilo que ele falou bateu forte no peito do velho) e os romances desfeitos (em um emocionante dueto ao telefone de Paul com Anna – Joana Preiss –, sua ex) em um filme que teria tudo para se tornar uma bobagem na mão de muitos outros diretores, mas que nas mãos de Christophe Honoré torna-se grande arte.

Ps. Sobre a resposta a pergunta do primeiro parágrafo, bem, é óbvia, não é mesmo.

abril 11, 2008   No Comments

Da melancolia

Um filme e cinco Bohemias. Faz nove anos que moro em São Paulo, e só hoje experimentei a sensação de assistir a um filme de dentro do café da sala do Cinesesc. Explico para quem não é de São Paulo: a sala do Cinesesc, na Augusta, é um relíquia dos quase extintos cinemas de rua. O Sesc comprou a sala, que abrigava o Cinema 1, em 1979, e se preocupou em manter seu principal destaque: um café dentro da sala. Isso mesmo. Separado da sala por um vidro, e com som ambiente do filme, o café permite ao espectador assistir ao filme dali de dentro enquanto saboreia um delicioso bolo de banana com nozes, uma quichê de alho-poró, ou bebe-se. Não dispensei a quichê nem o bolo, mas me abasteci de cinco latas de Bohemia durante a exibição de “Em Paris”.

Bem, não vou falar muito sobre o filme, já que ele merece um texto só dele, mas é incrível como os filmes franceses têm me chacoalhado nos últimos anos. O último filme que me fez encher garrafas de 500ml com lágrimas foi “Bonecas Russas”. “Em Paris” não exibe tantas semelhanças com “Bonecas Russas” além de trazer o mesmo ator no papel principal (o bom Romain Duris), não me fez chorar como “Bonecas Russas”, mas deu uma boa chacoalhada no coração e na alma. Sai da sala meio bêbado, parei no carrinho de pipoca na rua, caminhei na garoa e comecei a lembrar de coisas dispersas, tipo o que cada bar da Augusta me lembra (reunião de pauta com amigos em um, termino de namoro em outro, açai com vodka em outro, e bons amigos que deixaram de ser amigos em outro) e cheguei em casa emocionado.

Mais do que me preocupar com a pergunta inicial de um dos personagens (”será que alguém pularia de uma ponte por amor?”), talvez pela resposta ser óbvia demais para mim, o que mais gostei em “Em Paris” foi sua leveza e sua maneira simples e direta de lidar com a tristeza e melancolia. Nada melhor do que encontrar uma boa tradução para estes meus dias melancólicos e… eu tinha mais coisa para escrever quando abri esse post, mas perdi em algum lugar que não consigo encontrar. Se eu achar, continuo. Se não, não se preocupe. A melancolia passa, um dia qualquer, mas passa. (risos – que post mais sem pé nem cabeça).

Ps. Já que esse post está uma bagunça, custa nada bagunçar mais: escrevi de Elvis Costello e Whiskeytown. Leia aqui.

abril 10, 2008   No Comments

Dois discos para baixar

O cantor e compositor Beto Só antecipa seu novo disco, “Dias Mais Tranqüilos”, no MySpace. O disco ficará disponível na integra por dez dias no http://www.myspace.com/betoso.

“Não Esperem Por Nós”, derradeiro álbum do Pipodélica, também está disponível no My Space. Aqui: http://www.myspace.com/pipodelica.

abril 10, 2008   No Comments

Quatro dias na Bélgica

No começo de março postei o line-up do Rock Werchter, festival que irá acontecer de 03 a 06 de julho em uma cidadezinha pertinho de Bruxelas. Ontem foi anunciado que Raconteurs e Gnarls Barkley vão engrossar o line-up que já tinha R.E.M., Radiohead, Neil Young, Beck, Chemical Brothers, Soulwax, Verve, Babyshambles, Hives, Editors, Gossip e Kaiser Chiefs, entre outros. Então fui olhar novamente o line-up no site oficial, e não é que existem mais nomes que eu não sabia que já tinham sido confirmados: Vampire Weekend, Ben Folds, Slayer, My Morning Jacket e… Grinderman!!!! Abaixo, o line-up atualizado e meu pré-roteiro de viagem.

Julho
01 Bruxelas (Bélgica)
02 Bruxelas, Leuven (Bélgica) *
03, 04, 05, 06, Leuven / Rock Werchter (Bélgica)
07 Leuven, Bruxelas (Bélgica) e Berlim (Alemanha) *
08 Berlim / Radiohead (Alemanha) **
09 Berlim (Alemanha) e Glasgow (Escócia) *
10 Glasgow (Escócia)
11, 12 e 13 Glasgow / T In The Park (Escócia) ***
14 Glasgow (Escócia)
15 San Sebastian / Bruce Springsteen (Espanha) ****
16 San Sebastian / Madri (Espanha)
17 Madri / Bruce Springsteen (Espanha) ****
18 e 19 – Madri, Benicassim FIB 2008 (Espanha)
20 – Benicassim FIB 2008 (Espanha)
21 – Benicassim / Madri (Espanha)
22 – Madri / Lou Reed (Espanha)
23 – Madri (Espanha) / Paris (França) *****
24 – Paris (França) *****
25 – Paris (França) *****
26 – Paris (França), Londres (Inglaterra) *****
27 – Londres (Inglaterra) *****
28 – Londres (Inglaterra) *****
29 – Londres (Inglaterra) *****
30 – Londres (Inglaterra) *****

* Viajar de madrugada (de trem, se possível) para economizar na hospedagem
** Ingressos do Radiohead já estão esgotados, mas vou até a porta pois quero ficar ao menos dois dias em Berlim
*** Se rolar vender os ingressos, bye bye T In The Park (tomara que role)
**** Esse é o mais complicado show da viagem; não sei se quero ir até San Sebastian, local em que os ingressos pro show ainda não esgotaram; em Madri já esgotou, mas estou cogitando ir até a porta do estádio e tentar comprar de cambista em um preço camarada; porém, dependo de saber se neste mesmo dia, terá alguma grande atração em Benicassim. Ou seja, dia 17 é um dia bem complicado!
***** Esse é um desejo pessoal, mas não posso garantir que vai ser assim por: 1) Ainda não tenho idéia de quanto vou gastar até o dia 22, e a chance de ter que encurtar a viagem é enorme 2) Preciso acertar essa segunda perna da viagem com os amigos que vão fazer a viagem comigo. 3) Quero pegar mais algum showzinho (barato, please) por estes dias.

Ps. Carteira de Alberguista e Passaporte em mãos. Agora falta treinar beeeem o péssimo inglês…

abril 9, 2008   No Comments

Extra, extra, extra

Raconteurs e Gnarls Barkley confirmaram presença no Werchter 2008, festival belga que será minha primeira parada em terras européias em julho. Tô vendendo meus tickets do T In The Park. :)

abril 8, 2008   No Comments

Dez coisas

– Hoje faz 14 anos que o cara que inspirou o nome desse blog se foi.

– Estão ótimos os comentários da coluna “Você trocaria todos os seus CDs por MP3?” (leia e comente aqui) Vou tentar escrever uma nova coluna refletindo os comments.

– Os discos novos do Bazar Pamplona (”À Espera de Nuvens Carregadas”) e do OAEOZ (”Falsas Baladas e Outras Canções de Estrada”) estão fazendo bonito aqui em casa.

– Ando viciado na caixa “Ensaio Geral”, do Gil, que cobre o período dele na Phillips (1967/1977). Primeiro foi “Viramundo” (ao vivo com coisas dele pós exílio) e agora é “Cidade de Salvador” quem disputa espaço na correria do dia-a-dia.

– Queria dormir ouvindo o novo do Spiritualized por dias e dias e dias…

– Listei sete filmes em cartaz no sábado passado para tentar ver um por dia. Assisti a “Shine a Light” no sábado mesmo, ‘matei a aula’ no domingo (mas vi “Era Uma vez no Oeste” – ah, a Claudia Cardinale – Zé Ricardo, foi só um suspiro), e preguicei ontem. Hoje eu ia tentar fazer uma rodada dupla. A idéia era ver “A Famíla Savage”, “O Banheiro do Papa” ou “Irina Palm” ás 19h e pouco e emendar com “Antes de Partir” ás 22h. Ainda na lista: “A Culpa é do Fidel” e “Senhores do Crime”. Porém, apesar de ter chegado em casa com tempo de sobra para pegar as duas sessões, uma chuva forte me fez perder a primeira, e no horário da segunda eu já estava me divertindo com um pacote de CDs importados que chegou em casa. Ou seja, nada de cinema.

– Isso tudo sem contar que começou o Ciclo Melhores Filmes de 2007 do CineSesc. Ou seja: mais filmes para se ver. Quinta vou assistir ao “Em Paris” e tentar pegar algum da listinha… :/

– E para você ver como sou um dos caras mais enrolados do mundo, hoje que decidi falar da exposição Magnum 60 anos, descobri que a exposição acabou anteontem. Catzo. Vi a exposição umas semanas atrás, e fiquei tão emocionado com algumas fotos, de encher os olhos mesmo (disfarçando pra Lili não perceber), que tinha que comentar aqui. Hoje, que devido a desistência de dois filmes, sobrou um tempo, a exposição já saiu da Paulista. O mínimo que posso fazer e linkar uma galeria com várias das fotos que estavam lá expostas e abrir e fechar este post com as minhas duas preferidas.

A primeira, que abre esse post, é de Marc Riboud, e data de 21 de outubro de 1967. Milhares de manifestantes estavam na frente do Pentágono, em Washington, para protestar contra a guerra no Vietnam. O fotógrafo, que trabalhava para a agência Magnum, seguiu uma determinada jovem que parecia querer colocar uma flor na arma de um soldado da Guarda Nacional. Diz se não é uma foto de chorar? A segunda tem um viés mais cômico, característica do fotógrafo Elliott Erwitt. A foto em questão, “Felix, Gladys and Rover” mexeu comigo de tal forma que, se pudesse, eu teria arrancado a moldura da exposição e levado pra casa. Olha a expressão do Chihuahua!!!! Linda demais. Bah, chorei de novo. A propósito, a Magnum é uma agência cooperativa fundada em 1947 por Robert Capa junto a David Seymour, Henri Cartier Bresson e George Rodger…

– Pego meu passaporte nesta quarta. Tenho que marcar dentista e marcar aulas de inglês com alguém que ainda não sei.

– Vou esquentar o caldo verde de ontem e me enrolar no edredom. Baixou uma melancolia por aqui e ela precisa de atenção…

abril 8, 2008   No Comments

Música: “Shine a Light”, o disco

Existem duas maneiras de ‘curtir’ a música de “Shine a Light”: a primeira, óbvia, é dentro de uma boa sala de cinema, com as imagens sensacionais que praticamente colocam o espectador no gargarejo de uma das melhores bandas do mundo sobre um palco. Nesta primeira opção há um artifício que funcionou a perfeição no filme: quando a câmera foca um integrante da banda, o que ele estava fazendo pula a frente dos outros instrumentos, o que dá um colorido todo especial ao som, mas que funciona ali, na sala de cinema.

A segunda maneira de curtir “Shine a Light” é se jogar no CD duplo que chega às lojas com o melhor das duas noites em que os Stones se apresentaram – no segundo semestre de 2006 – no histórico Beacon Theatre, um pequeno teatro nova-iorquino, o que por si só já atiça a curiosidade de qualquer fã de rock acostumado a trombar com o grupo em estádios lotados quando não praias. Se na telona, as boas tomadas, a bela iluminação e a vitalidade dos sessentões sobre um palco impressionam, o que “resta” para o CD é um conjunto de canções afundadas em guitarradas.

“Shine a Light” é o nono disco ao vivo da carreira dos Stones, e entra de cara na briga pelo posto de melhor som que a banda já transpôs de um palco para um álbum. “Jumpin’ Jack Flash” nunca soou tão forte ao vivo como agora, e só não bate a versão sinuosa e clássica do álbum “Get Yer Ya-Ya’s Out!”, deixando para trás os registros do álbum “Love You Live” (1977) e “Flashpoint” (1991). “Tumbling Dice” é outra que cresce ao vivo, embora as versões do álbum “Love You Live” e “Rarities” sejam brilhantes. “Sympathy for the Devil”, “Start Me Up” e “Brown Sugar” também são honradas com boas versões.

Apesar de ser uma apresentação dentro da turnê “A Bigger Bang”, o repertório do show do Beacon Theatre não seguiu o padrão balanceado que reunia canções de 1965 a 2005 na “A Bigger Bang Tour”. A música mais “nova” do repertório escolhido é “She Was Hot” (em versão arrasa quarteirão), do álbum “Undercover”, de 1983, ignorando completamente material mais “recente” (inclusive as canções do excelente “A Bigger Bang”). Das 18 canções reunidas no filme (no CD são 22), a mais antiga é “As Tears Go Bye”, gravada por Mariane Faithfull em 1964, e o álbum mais privilegiado foi “Some Girls”, que completa trinta anos em 2008.

Detonado na época do lançamento e atropelado pelo punk, “Some Girls” marca presença com quatro músicas: a faixa título, “Shattered” e “Just My Imagination”, as duas em versões superiores as do “Still Life” (1981), e o excelente country “Far Away Eyes”. Dentre os convidados, Jack White divide violões e vocais com Mick Jagger em uma pungente versão de “Loving Cup”; Christina Aguilera se sai bem em “Live With Me”, mas o grande momento acontece em “Champagne & Reefer”, única canção inédita do show, um cover dos Stones para o original de Muddy Waters. Buddy Guy entra com guitarra e um vozeirão que arrepia. No fim, ganha a guitarra de Keith Richards.

Entre as quatro canções que estão no CD, mas não estão no filme, “Paint it Black” aparece em uma boa versão, mas a do álbum “Flashpoint” ainda é a mais contagiante. “Little T&A” surge em grande versão e traz novamente Keith para frente do palco. “I’m Free” também mantém está no alto nível de qualidade do álbum, mas é inferior a versão do álbum “Stripped” (1995) e a cover do Soup Dragons, que retirou a canção do limbo e a tranformou em hit mundial em 1990. Para fechar, “Shine a Light”, a canção que dá título ao filme de Scorsese, e só aparece no filme em um curto trecho no final, outra que também ganhou uma versão irrepreensível no álbum “Stripped”, mas que aqui também surge emocionante. Fora essas quatro, “Undercover of the Night” entrou de bônus na edição japonesa.

Dentre os nove álbuns ao vivo dos Stones, “Shine a Light” traz um dos melhores repertórios já apresentados ao vivo pela banda além de dar um tratamento para lá de especial às guitarras de Keith Richards e Ron Wood. A voz de Mick Jagger (como ele consegue cantar tão bem correndo tanto de lá pra cá e de cá pra lá prestes a completar 65 anos???) e a bateria de Charlie Watts não ficam atrás (o baixista Darryl Jones, um monstro nas quatro cordas, também merece destaque, assim como a backing Lisa Fisher, o tecladista Chuck Leavell e o saxofonista Bobby Keys) construindo uma massa sonora de qualidade impressionante que confirma o óbvio: sobre um palco, os Stones são imbatíveis.

Leia também:
– “Shine a Light – o Filme”, de Martin Scorsese (aqui)
– “A Bigger Bang”, dos Rolling Stones, por Marcelo Costa (aqui)
– “Rolling Stones in Rio”, por Marcelo Costa (aqui)

abril 7, 2008   No Comments