Talharim Alla Amatriciana
E lá se foram meus três dias de folga. É incrível como o tempo escorre pelos dedos. Das coisas que eu queria fazer, até que fui bem. Não terminei de ler o livro do Camus, mas o Meursault já matou o árabe e está neste momento recebendo a visita de Marie. Nos CDs, Jens Lekman voltou a ocupar o windows media player, desta vez com o belíssimo “When I Said I Wanted To Be Your Dog”. E nos filmes, vi “Letra e Música” ontem (comédia romântica menor, mas com boas piadas sobre os terríveis anos 80) e pretendo assistir a “Todos Os Homens do Presidente” daqui a pouco.
O lance do passaporte está em stand by. Fui até a sede da Polícia Federal, lá na Lapa, hoje de manhã, mas não teve jeito. “O senhor tem que agendar um horário pela internet”. Agendei para o final de março. Se soubesse, não tinha desembolsado os R$ 156 da taxa agora. Mas ao menos está encaminhado. Não levei o monitor para a assistência técnica (ficou pro sábado), mas instalei as luminárias, que ficaram legais, algo que satifez Lili imensamente (apesar de eu achar que a casa ficou muito mais escura agora).
Além de escrever sobre os shows do fim de semana, publiquei um texto do Leo Vinhas sobre o festival portenho Cosquin Rock, o que deu uma boa atualizada na capa do Scream & Yell. A idéia era escrever mais, mas fiquei impossibilitado. Queimei dois dedos da mão direita fazendo caldo verde pra Lili na segunda. E na terça tirei um bifinho do dedo indicador da mão esquerda. Ou seja, nada de teclar muito, o que até ajudou a me manter afastado do computador e da web.
Por fim, eu tinha prometido tentar aprender uma receita nova, né. Sem chance. O dia se foi, a fome veio, Lili tinha curso e apostei no certo ao invés de experimentar. Fui de Talharim Alla Amatriciana, uma das minhas três ou quatro especialidades (vamos contar: tournedos com ervas, risoto de bacon, talharim a amatriciana e caldo verde, que eu já dei a receita) na cozinha.
Uma das vantagens do talharim é que é bem rápido para se fazer. Se você não for como o cumpadi Inagaki que é fã do miojo cru, vale a pena esperar. Aliás, cumpadi, se você experimentar a massa semi pronta de talharim da Mezzani, irá viciar. Eu mesmo devoro várias tiras cruas. Bem, voltando a receita, o que você vê lá em cima no abre do post é uma improvisação: a receita que sigo (do meu companheiro “Guia Para Sobrevivência do Homem na Cozinha“) é para quatro pessoas, e os que está disposto sobre o fogão na foto é uma adaptação para uma pessoa. Mas tudo que precisamos está lá: o bacon, a panela com água, os tomates pelados, o macarrão, a cebola picada e a pimenta inteira.
O lance todo é bem simples. Você frita o bacon no azeite em uma panela. Assim que estiver quase torradinho, você acrescenta a cebola picada e a pimenta, e deixa cozinhar por cinco minutos em fogo brando. Depois, retire e jogue a pimenta fora, acrescente os tomates nus devidamente amassados, misture bem, coloque sal (eu acrescento pimenta do reino e manjericão, sempre) e cozinhe por aproximadamente 30 minutos. À parte, cozinhe a massa al dente e escorra. Depois é só juntar a massa na panela do molho e servir. Fica bom, viu.
A receita é isso:
– 500 gramas de tomates bem maduros picados ou duas latas de tomates pelados;
– 100 gramas de bacon magro
– 1 colher de sobremesa de azeite
– 1 cebola
– 1 pimenta vermelha inteira
– 500 gramas de talharim
Abaixo, o talharim alla matriciana está acompanhado de uma saladinha básica (alface e azeitonas), queijo ralado, azeite, sal e um copo de Guiness (presente do amigo Fábio) atolado de coca-coca light. Servido (a)?
fevereiro 20, 2008 No Comments
Jards Macalé e Jorge Mautner em SP
A idéia de juntar os dois compositores mais malditos da música popular brasileira sobre um mesmo palco era bastante interessante. Em plena atividade, Jorge Mautner (acompanhado de seu inseparável parceiro Nelson Jacobina) lançou um álbum de inéditas em 2007 (”Revirão”) e alguns de seus grandes momentos no show vieram do novo disco. Jards Macalé, que fez vários shows em São Paulo no ano passado (incluindo uma antológica apresentação na Virada Cultutal), lançou “Real Grandeza” em 2005 e segue em sua luta solitária pela inclusão da palavra amor no lema da bandeira brasileira.
Maldito que é maldito não facilita. Por mais que a proximidade teórica das alcunhas seja visível de Marte, por mais que os dois já tenham dividido o mesmo palco várias vezes no decorrer dos últimos 60 anos (Mautner está com 67, Macalé com 64), por mais que eles tenham composto juntos algumas canções, havia uma grande distância entre Mautner e Macalé no palco. A falta de ensaio e entrosamento era visível, mas cada qual seguia sua persona a risca, e no fim o que se prevaleceu nas duas noites em que a dupla se apresentou no palco do teatro do Sesc Vila Mariana foram os shows individuais.
Logo na abertura da noite, a dupla se juntou (acompanhada de Jacobina) para interpretar a bela “Puntos Cardinales” (parceria dos dois datada de 1973). Juntos eles ainda tocaram “Vapor Barato” e a versão censurada de “Planeta dos Macacos” (outra parceria de ambos) no meio do show, e uma dobradinha de Noel Rosa – “Palpite Infeliz” e “Com Que Roupa” – no encerramento. No entanto, em nenhuma das cinco canções em que se apresentaram juntos, o trio brilhou como em vários momentos da apresentação solo de cada um.
Sozinho no palco, Macalé abriu seu show com “Contrastes”, samba delicioso de Ismael Silva (dos versos: “Existe muita tristeza na rua da alegria / Existe muita desordem na rua da harmonia / Analisando essa história, cada vez mais me embaraço / Quanto mais longe do circo, mais eu encontro palhaço”) que Jards gravou em 1977 e que, desde então, é presença obrigatória em seu repertório. Na seqüência, resgatou um samba de Sebastião Fonseca e Cícero Nunes, “Cidade Lagoa”, relembrando uma semelhança entre São Paulo e Rio de Janeiro: basta uma chuvinha qualquer para que a cidade vire um caos.
“Anjo Exterminado”, “Revendo Amigos” (que Macalé pulou no set list no domingo por causa da gripe) e “Falam de Mim” (outra de Noel Rosa) ganharam versões poderosas ao vivo, com Macalé juntando samba e blues nos arranjos. O grande momento foi a versão arrepiante para “Consolação”, de Baden e Vinicius. No sábado, Macalé estava tão desconcentrado devido à gripe que precisou de uma colinha do público para finalizar “Positivismo” (mais um Noel Rosa). No domingo compensou com uma apresentação vigorosa e inspirada, e por mais que soe clichê é preciso dizer: faltaram muitas canções.
Jorge Mautner, por sua vez, fez duas apresentações rigorosamente iguais. O grosso do repertório veio do recém-lançado “Revirão”, produzido por Berna e Kassin e que contou com a participação de vários integrantes da Orquestra Imperial. Ao vivo, porém, Mautner se apresenta apenas com seu violino e seu fiel escudeiro Jacobina na guitarra. Das novas, destaque para as ótimas “Os Pais” (parceria com Gil que discute liberdade e repressão de forma divertida) e “O Executivo Executor” (não menos hilária). Já “Nicanor” – outra das novas – foi o “momento bocejo” da noite.
Do álbum em parceria com Caetano Veloso também vieram três canções para o show: a gostosa valsa rancheira “Todo Errado”, o impagável samba “O Homem Bomba” (do hilário verso: “Lá vem o homem bomba / Que não tem medo algum / Porque daqui a pouco / Vai virar egun”) e a excelente faixa discursiva “Morre-se Assim” (numa versão milhares de quilômetros à frente do original de estúdio).
Ainda marcaram presença os sucessos “Vampiro” (gravada por Caetano) e “Maracatu Atômico” (pela Nação Zumbi), mas a grande ausência foi ”Samba dos Animais”, que constava do set list, mas não foi apresentada, evidenciando um dos problemas do encontro: tanto Mautner quanto Macalé fizeram meio show por noite, o que limitou o número de canções. Apesar da qualidade das apresentações, meio show de Macalé e meio de show de Mautner é muito pouco para o público, mas maldito que é maldito também é malandro.
fevereiro 20, 2008 No Comments