“O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford”
“O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford”, de Andrew Dominik – Cotação 3/5
Jesse James foi um temido fora-da-lei que viveu no velho oeste norte-americano na segunda metade do século 19 e que ficou famoso por assaltar bancos, trens e matar pessoas com uma frieza rara naquela época. Jesse James ameaçava governadores, prefeitos e xerifes e tinha uma personalidade que dividia opiniões: alguns diziam que ele era um Robin Hood do velho-oeste; para outros, era um assassino frio e cruel. “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” não se preocupa em desvendar qual das opiniões é a certa, mas sim cavalgar pela história analisando o simbolismo de palavras fora de moda como honra e covardia.
A história flagra os últimos anos de Jesse James, quando ele já era uma lenda no velho-oeste, retratado em milhares de histórias em quadrinhos e reportagens de jornais que traziam todos os detalhes do homem: como ele sorria, como ele empunhava uma arma, como ele sabia a hora certa de atirar, e em quem. Com pouco mais de trinta anos, Jesse James trazia no corpo marcas não cicatrizadas de balas, cansaço nos olhos e vertigens no pensamento. Era perseguido não só pela policial, mas também por caçadores de recompensas que queriam ter seu nome gravado na História por terem assassinado o homem mais temido do oeste.
“O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” conta a história de um primo de Jesse James que cresceu admirando os feitos do fora-da-lei, mas acaba sucumbindo à ganância e ao desejo de ser alguém na vida, nem que seja para ser “o homem que matou Jesse James”. Ou seja, temos aqui mais uma daqueles filmes em que o público já entra no cinema sabendo o final do filme (o que não quer dizer muita coisa, já que o filme recordista de todos os tempos, “Titanic”, também tinha essa característica): Jesse James morre pelas mãos do covarde Robert Ford.
Porém, não é o final que interessa neste western dramático; ou melhor, não só final. O desenrolar da história – adaptada do romance homônimo de Ron Hansen – e, principalmente, suas conseqüências, é que fazem de “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” um filme a ser visto. O diretor Andrew Dominik perde o rumo em alguns momentos, culpa do roteiro que se complica metade do filme, mas é salvo pela excelente fotografia de Roger Deakins (colaborador de longa data dos irmãos Coen) e pela excelente trilha sonora assinada por Nick Cave e Warren Ellis. Os escorregões, no entanto, não evitam o óbvio: uma enxugada de 20 minutos deixaria o filme brilhante.
Excessos à parte, o filme se vale de uma grande questão: a fama sempre tem um dono, e mesmo que outro queira roubá-la, ele até poderá usá-la por alguns minutos (15, talvez, como professou Andy Warhol), mas ele nunca será o dono. Robert Ford (em excelente atuação de Casey Affleck) chega ao Olímpo após o feito, mas cai como Ícaro que sonhou em voar, voar, subir, subir, mas teve suas asas queimadas pelo sol. “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” se arrasta por quase duas horas para se fazer valer nos últimos vinte minutos, quando o fora-da-lei já está morto e as conseqüências de seu assassinato começam a surgir nas páginas em branco da História.
Brad Pitt levou a Copa Volpi de melhor ator no Festival Veneza por sua brilhante atuação, e embora tenha sido “esquecido” pela Variety (que publicou uma lista de apostas para o Oscar 2008 com oito nomes colocando Daniel Day-Lewis como favorito e não citando Brad Pitt; Casey Affleck está na lista de coadjuvantes), é tido como nome certo entre os indicados para a premiação (o que alguns julgam um acerto com um dos atores que levam público aos cinemas independente da qualidade da obra, isso em uma época em que as salas enfrentam perda constante de quorum).
Já o filme corre por fora como azarão em um ano de diversas películas medianas, mas pode surpreender, assim como quem não quer nada, atirando pelas costas e saindo com a recompensa. Se isso acontecer, a metáfora da história de Jesse James brilhará novamente. E em dois anos não lembraremos de mais nada. Onde estão os heróis de verdade? Onde estão os clássicos?
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