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Posts from — outubro 2007

Os 100 melhores discos nacionais

A Rolling Stone Brasil publica em sua 13ª edição um especial com os 100 melhores discos brasileiros de todos os tempos. Para chegar aos 100 escolhidos a publicação convidou 60 profissionais (a grande maioria, colaboradores da revista) que enviaram – cada um – uma lista com 20 discos. Comparando, os melhores do ano do S&Y contam com 92 votantes (nos dois últimos anos), e para o tamanho e importância de uma revista como a Rolling Stone, resumir um especial deste porte apenas a redação é pensar pequeno (era só seguir o método Uncut, que convida centenas de músicos, e ainda pede para que eles escrevam sobre um dos discos que escolheram). Seria bem legal ver os votos de Caetano, Rita Lee, Fred 04, Pauo Ricardo, Japinha (só para ficar em cinco artistas díspares).

O método de forma alguma invalida a lista, que é bastante interessante, e uma das melhores (senão a melhor) já publicadas no País. Desde sexta estou ouvindo um a um os discos da lista (neste momento estou no 12º) e por mais que “Acabou Chorare” (1º) seja um disco sensacional, numa “lista minha” ele apareceria atrás do coletivo “Tropicália ou Panis Et Circenses” (2º). Em terceiro, o não menos sensacional “Construção”, de Chico Buarque. Em quarto, “Chega de Saudade”, de João Gilberto, o único dos 20 primeiros que não tenho em casa (na falta, Lili colocou o ao vivo “In Tokio”). A estréia dos Secos e Molhados aparece em 5º; o doidaço e divertido “A Tábua de Esmeralda”, de Jorge Ben, surge em 6º; o coletivo “Clube da Esquina”, comandado por Milton Nascimento e Lô Borges, surge em 7º (e, não adianta, tentei ouvir mais uma vez, mas não consigo curtir esse disco – ok, “Paisagem da Janela” vale, mas é pouco prum disco duplo).

O oitavo lugar traz “Cartola”, o segundo disco do sambista que junta uma porção de pedras preciosas da música brasileira (”O Mundo é Um Moinho”, “Minha”, “Preciso Me Encontrar”, “As Rosas Não Falam”, “Ensaboa”, “Cordas de Aço” e “Peito Vazio” – esta última sempre surge em minha memória com uma interpretação brilhante de Nelson Gonçalves para o tributo “Bate Outra Vez”). “Os Mutantes” surge em nono (pessoalmente prefiro o segundo); “Transa”, de Caetano Veloso, surge em 10º; “Elis & Tom” em 11º (merecia estar umas cinco posições a frente, viu); “Krig-Ha Bandolo!”, de Raul Seixas, em 12º (acabei de descobrir que não consigo mais ouvir “Mosca na Sopa” e “Metarmofose Ambulante”, mas tudo bem, pois esse disco ainda tem “Dentadura Postiça”, “Cachorro Urubú” – que o PT usou em um segundo turno ae por causa do verso certeiro: “Todo jornal que eu leio, me diz que a gente já era, que já não há mais primavera, baby, a gente ainda nem começou”-, a maravilhosa “How Could I Know” e, zuzu bem, “Ouro de Tolo”); “Da Lama ao Caos”, de Chico Science e Nação Zumbi, em 13º; “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais MCs, em 14º, e “Samba Esquema Novo”, de Jorge Ben, em 15º. Titas aparece em 19º com “Cabeça Dinossauro”; Legião em 21º com “Dois”; Ultraje em 27º com “Nós Vamos Invadir Sua Praia”; Paralamas em 39º com “Selvagem?”; Los Hermanos em 42º com “Bloco do Eu Sozinho”; Sepultura aparece em 46º com o matador “Chaos A.D.”; Blitz em 50º com o álbum de estréia.

Até pensei em fazer uma listinha minha com 20 discos agora, mas não dá. Isso não é coisa para se fazer assim, do nada. Se eu conseguir me organizar, tento publciar uma até quarta ou quinta… mas esse top 100 da Rolling Stone Brasil merece ser visto, debatido e, principalmente, ouvido.

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O novo do The Hives já está por ai…

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Dos 100 discos da lista da Rolling Stone, nove aparecem na lista especial dos Melhores dos Anos 90 feita pelo Scream & Yell em 2001. No total, a Rolling Stone trouxe onze discos da década de 90, e três dos anos 2000 (dois dos Los Hermanos e um dos Racionais). Abaixo os Melhores dos Anos 90 pelo Scream & Yell:

Internacional
“Óbvio, óbvio. O trio inicial já era o esperado. “Nevermind” disparado na frente. “Ok Computer” não tão atrás, e “Acthung Baby” levando o bronze. A briga mesmo veio do quarto lugar para frente”. LISTA INTERNACIONAL

Nacional
“Votação equilibradíssima. A estréia do Raimundos venceu por um ponto “Carnaval na Obra”, do Mundo Livre S/A, que ficou com o segundo lugar tendo um ponto de vantagem sobre “Afrociberdelia”, do Chico Science & Nação Zumbi. Alias, esse trio manipulou os primeiros lugares. Das sete primeiras posições, seis são deles, cada um cravando dois álbuns.” LISTA NACIONAL

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Top 20 anos 90Como se fossemos Rob Fleming, por Marcelo Costa

outubro 14, 2007   No Comments

Catherine Deneuve x Audrey Hepburn

Assisti, ontem no HSBC Belas Artes, a “Repulsa ao Sexo”, clássico de Roman Polanski com Catherine Deneuve interpretando uma manicure com sérios distúrbios de sexualidade, que acabam rendendo cenas impressionantes e interessantes.

Agora, e sei que não devia dizer isso, mas a Catherine não me impressionou não, viu. Seu personagem é pálido, o que está perfeitamente inserido no contexto do filme, mas mesmo ela parece tãooo normalzinha (uma loirinha bonitinha, só isso). Femme fatale? Sei não.

Na verdade, acho que estou muito influenciado por “Sabrina”, de Billy Wilder (estou escrevendo aliás um textinho “rápido” sobre três filmes dele que revi nesta semana), que vi na sexta, em casa. Principalmente por Audrey Hepburn, que tomou meu coração de sonhador, e está brincando com ele. Na boa, entre ela e Deneuve, escolho a Audrey. Ih…

outubro 14, 2007   No Comments

Disco da Semana: “Shotter’s Nation”

outubro 10, 2007   No Comments

Uma estante de CDs ou uma novela?

Bem, após mais um amigo me perguntar da saga das estantes percebi que já está na hora de mostrar como ficou a casa com elas prontas, ok. Lili queria desenhar umas coisas bem legais, mas desistiu porque a quantidade de CDs era tanta que a estante teria que ser o mais básica possível. E assim foi. Para aproveitar ao máximo a madeira de chapa de MDF, Lili calculou 1,83m de altura por 1,10m de largura, que resultou em uma estante com 11 prateleiras, totalizando aproximadamente 125 CDs por prateleira (1375 por estante).

Para facilitar (sic), claro, pedi que uma das estantes tivesse um espaço maior para os DVDs. E também disse que queria alguns caixotes para os vinis e os boxes. A idéia era fixar as estantes na parede, e colocar os caixotes embaixo, formando tudo um móvel único. No entanto, com as peças em casa, descobrimos que os caixotes funcionavam bem na parede verde (eu já disse algum dia que Lili me fez pintar a parede da sala de jantar de verde? Bem, ela fez), além de poderem ficar ajeitados de diversas formas. Na foto está o formato padrão.

Três estantes de CDs ocuparam toda a parede da sala de jantar. A quarta ficou no corredor, frente à porta da cozinha, e além dos CDs também recebeu DVDs. Como organização ficou perfeito. Os CDs, agora, se encontram todos juntos, divididos em nacional e internacional, seguindo uma ordem alfabética, com exceção para as coletâneas, trilhas sonoras, tributos e discos que ainda preciso ouvir, que ficaram na estante do corredor, que também tem DVDs, mais de 100 CDs de MP3 e, acredite, VHS (além do pen-drive contendo o álbum “A Marcha dos Invisíveis”, do Terminal Guadalupe: nunca uma estante juntou tantas mídias – risos).

Com as estantes prontas liberamos espaços para alguns livros nos cubos da sala. Agora, livros de arquitetura convidem ao lado de livros de música. Lester Bangs com Herman Hertzberger, Tony Parsons com Leonardo Benévolo, a biografia de Billy Wider, o livro de Rainer Maria Rilke sobre Auguste Rodin, “Clássico Anticlássico” de Giulio Carlo Argan; “A Era dos Festivais” de Zuza Homem de Mello, e revistas Rolling Stone, Piauí, Uncut e AU (Arquitetura e Urbanismo). Bem, a sala ficou mais ou menos do jeito que vocês vão ver abaixo:

Foto 1: vista da entrada da casa (com o sofá laranja ao fundo):

2) A foto não ficou boa, mas essa é uma peça das quatro estantes:

3) Vista da sala para a entrada do apartamento:

4) Close na parte dos DVDs:

5) O caixote com os vinis e os boxes na parede verde

6) Geral da parede verde (o relógio de vinil foi presente de aniversário):

Bem, é isso. Estou anexando o PDF que a Lili finalizou para o marceneiro, apesar da relutância dela (que diz que alguns dados estão errados), mas é mais para se ter uma idéia de como fazer, caso você precise fazer uma destas. Na verdade, depois que o “nosso” marceneiro nos deu cano, e deixou o serviço pela metade, percebemos que rolava termos feito nos mesmos. Na madeireira você entrega as medidas e eles entregam a madeira toda cortada para você, que “só” terá que juntar. Claro que não é tão simples. É um trabalho milimétrico, e a parte do acabamento é bem chatinha (essa coisa de colar as bordas e tal). Mas não é impossível. Se eu e Lili tivéssemos feito as quatro peças da nossa, com certeza elas teriam saído muito melhor que o trabalho meia-boca que nos foi entregue (pela metade) pelo marceneiro que encontramos. Vale tentar.

PDF – Estante de CDs

outubro 8, 2007   2 Comments

OAEOZ no Scream & Yell

O quinteto curitibano OAEOZ está festejando 10 anos de atividade com um show especial e o lançamento do segundo single extraído das gravações do novo disco, “Canção Para OAEOZ”, que traz como “lado b” uma versão para “Loucura”, música do Ídolos da Matinee, banda curitibana dos anos 80. O show especial acontece na quinta-feira (11/10), e as duas músicas que compõe o segundo single do novo álbum do OAEOZ você baixa aqui, agora, com exclusividade do Scream & Yell:

Download: “Canção Para OAEOZ”

Uma década distribuindo boa música pelo cenário independente é um fato que deve ser comemorado. Bandas surgem todas as noites, bandas acabam todas as manhãs. Um grupo permanecer na ativa por uma década apenas pelo tesão de se fazer o som que gosta não é pouco, e diz muito sobre a paixão que esses caras sentem por algo maltratado/usado pela indústria, e que um dia convencionou-se ser chamado música.

“Canção Para OAEOZ” é a cara do OAEOZ. Um violão conduzindo, as guitarras pontuando o arranjo com detalhes; o vocal entregue que vez em quando foge da nota para criar o seu próprio espaço em uma melodia que cresce e se transforma em uma canção, uma canção do OAEOZ, uma canção para OAEOZ, uma canção para Curitiba: “Vou deixar a porta aberta / Esquecer o que aprendi / A chuva fria de Curitiba / Pra mim é o sol do Havaí”, canta o guitarrista Carlos Zubek. “Loucura”, apesar de ser uma versão, está perfeitamente contextualizada no som do OAEOZ.

Este segundo single segue “Impossibilidades”, lançando em junho, e que trazia como “lado b” uma versão acachapante de “Città Piu Bella”, uma das faixas luminosas do luminoso álbum “Amor Louco”, do Fellini. O que era folk na versão felliniana se transformou em rock espacial de altíssima qualidade com o OAEOZ.

outubro 8, 2007   No Comments

“Tropa de Elite”, um quase grande filme

Há muita coisa para falar sobre “Tropa de Elite” sem necessariamente falar de cinema. O fato (inédito para uma produção nacional) de o filme ter vazado antes da estréia tornando-se um sucesso nas mãos de camelôs (estima-se que mais de 1 milhão de cópias piratas do filme já foram vendidas em todo o País); a sua “derrota” unânime (0×6) frente a “O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias” como filme representante do Brasil no Oscar 2008; a patrulha ideológica que está crucificando seu diretor, José Padilha; entre muitas outras coisas. No entanto, o cinema vem antes. Vamos seguir a cronologia.

Se José Padilha tivesse dirigido apenas o documentário “Ônibus 174? sua vida cinematográfica já teria valido a pena. “Ônibus 174? ganhou diversos prêmios ao redor do globo e elogios merecidos de toda a crítica. Porém, esses prêmios agora vão parecer menores frente a carreira que “Tropa de Elite” iniciou nos cinemas no primeiro fim de semana de outubro. Menores porque tudo em “Tropa de Elite” é hiperbolizado, de sua violência desmedida as reações que vem causando; da narrativa impactante aos protestos da Polícia, de cineastas, da classe média. A vida de José Padilha se divide em antes e depois de “Tropa de Elite”.

O sucesso do filme em camelôs ameaçava sua escalada nos cinemas, acredita Padilha. Grande bobagem. Do mesmo jeito que o filme circulou no boca-a-boca Brasil afora, agora vai circular de cinema em cinema. Quem viu o DVD e viu no cinema irá encher o peito para dizer: no cinema é ainda melhor. E esse blá blá blá vai deixar o público curioso, principalmente aquele público que não costuma visitar a sala escura. Será esse público que fará a diferença, no final. E ele irá ao cinema mesmo sabendo que as diferenças são microscópicas porque ninguém resiste a própria curiosidade.

A rigor, as mudanças (roteiro, edição) são praticamente imperceptíveis, mas o impacto do som, das imagens em alta escala e da sensação claustrofóbica de uma sala escura tendem a dar ao filme ainda mais força do que a que ele mostrou nos aparelhos de televisão por ai. São duas experiências completamente diferentes que funcionam para valorizar a obra acabada em seu lugar de desfile: o cinema. Neste lugar, “Tropa de Elite” é violento, devastador, impactante e inebriante. Os tiros ouvidos (e vistos) na tela tem endereço certo: o estômago do freguês.

Wagner Moura dá vida ao Capitão Nascimento de tal maneira que é impossível não admirar o trabalho do ator, embora seu personagem seja quase um animal de caça. Sua atuação é inquestionavelmente impressionante, ganhando força até mesmo quando ele pontua a narração com um “amigo” (repetido várias vezes) em finais de frase. Os personagens secundários também brilham, mas é o Capitão Nascimento que coloca ordem na casa auxiliado pelo roteiro esperto e pela edição vertiginosa, duas grandes qualidades de seu filme primo, “Cidade de Deus”, que “emprestou” Daniel Rezende (edição) e Bráulio Mantovani (que assina o roteiro a seis mãos com José Padilha e Rodrigo Pimentel).

A comparação com “Cidade de Deus” seria dispensável, mas ajuda (e muito) a entender o fenômeno “Tropa de Elite”: Por que o primeiro virou um marco do cinema nacional, chegando ao Oscar com quatro indicações (igualando a façanha de “O Beijo do Mulher Aranha”) e ganhado elogios rasgados da imprensa internacional, e o segundo nasce sobre a égide da polêmica, incitando acalorados debates que, quase sempre, apontam o filme como fascista? Qual a diferença entre Buscapé e Capitão Nascimento? O que fez de um filme queridinho da crítica e público enquanto o outro nasce massacrado por boa parte da imprensa? Várias coisas, caro leitor, várias coisas.

A primeira que surge é a aparição de um personagem forte que veste farda e se diz incorruptível. A imagem que a maioria do povo brasileiro tem da polícia é aquela retratada na faixa clássica que encerra o primeiro álbum do Capital Inicial, de 1986, e que fez com que o álbum levasse um carimbo de “venda proibida para menores de 18 anos”. A letra, assinada por Renato Russo, questionava: “Porque pobre quando nasce com espírito assassino / Sabe o que vai ser quando crescer desde menino / Ladrão para roubar, marginal para matar / Papai eu quero ser um policial quando eu crescer”, e seguia contando a história de “assassinos armados, uniformizados”. “Tropa de Elite” é o rascunho quase perfeito desta letra, mas há uma glamourização na forma com que este rascunho é desenhado que muita gente deixa o cinema fã dos soldados do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro, o Bope.

A culpa não é só do filme muito menos de seu diretor. A culpa também é do público (na verdade a culpa é do Estado, mas esse é o ponto final da discussão, local para o qual todas as análises deveriam convergir). E o público é culpado por se deixar levar pela espetacularização da história e acreditar (e isso sim é assustador) que tudo aquilo que acontece na tela é realmente o que tem que acontecer na sociedade que vive. Dai a pecha de fascista que lhe imprimem alguns analistas, mais preocupados com o blá blá blá extra filme do que com o que acontece na tela. Para estes, “Tropa de Elite” glorifica a violência, a tortura, a morte sem julgamento; e o Bope nada mais é do que um braço de nossas forças armadas, a mesma instituição que encarcerou o País em uma ditadura repressiva e direitista durante anos. José Padilha permite essa leitura, mas é um lado “copo meio vazio” de se ver as coisas (da mesma forma que seria acusar o filme “Clube da Luta” de responsável por um jovem maluco que entra em um cinema atirando em todo mundo).

Outra maneira de olhar “Tropa de Elite” é entendê-lo como um reflexo de uma sociedade que vem empurrando durante anos e anos com sua imensa barriga assuntos delicados como descriminalização, corrupção e abuso de poder. O mundo em que o Capitão Nascimento vive deixou de ser um mundo comum para se transformar em um campo de guerra com o agravante de a batalha estar acontecendo 24 horas por dia ao nosso lado. “O que fazer para consertar tudo isso” deveria ser a grande questão suscitada pelo filme, mas tudo na tela parece desvalorizar essa premissa, pois “Tropa de Elite” não permite a presença do público: somos meros espectadores observando a carnificina desumana praticada tanto por mocinhos (oficiais do Bope) quanto por bandidos (a máfia da droga). O filme pede a todo o momento para que você escolha o lado dos mocinhos (a narrativa em primeira pessoa pesa nessa decisão), e erra tanto quanto acerta por exagerar na forma e no conteúdo. Ou seja, o que faz de “Tropa de Elite” um filme excelente é a mesma coisa que o diminui: seu ritmo vertiginoso e acachapante não abre espaço para reflexões nem críticas.

Essa avaliação de forma alguma faz do filme uma bandeira fascista como alguns tolos e/ou preocupados querem pichar tanto quanto não o transforma no melhor filme já apresentado nos cinemas brasileiros desde o Tratado de Tordesilhas. Ele apenas opta por jogar luz sobre um ponto de vista raramente visto no cinema nacional: o da polícia. A primeira mensagem do filme surge antes mesmo das imagens: uma citação do psicólogo Stanley Milgram, que diz que o comportamento do indivíduo é determinado pelas circunstâncias, algo que pelo filtro do roteiro justifica uma outra famosa citação, essa muito mais em sintonia com a proposta, aquela de Jean-Jacques Rousseau em “O Contrato Social”, que diz que “O homem nasce bom e a sociedade o corrompe”.

Capitão Nascimento e seus soldados foram corrompidos pela idéia de estarem praticando o bem com base nas circunstâncias de uma sociedade que fecha os olhos para a corrupção enquanto acredita dormir o sono dos justos. Assim, ao lado de uma das falas do Capitão Nascimento (notadamente aquela que diz que muitos jovens precisam morrer na favela para um playboy enrolar um baseado) é preciso colocar outra: é a omissão da sociedade que faz o Bope apertar o gatilho. Existe alguém que não seja culpado nessa história toda, cara pálida? Não, somos todos culpados. Porém, pouca gente vai vestir a carapuça. E da-lhe camisetas do Bope bombando em camelôs. A moda a serviço da filosofia. Rimos ou choramos?

“Tropa de Elite”, intenso enquanto cinema, instável como mensagem, um quase grande filme.

Leia também:
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– “Se há alguma pecha negativa a se colar em Tropa de Elite é o fato, inegável, de sua mensagem ser reacionária”, por Marco Antonio Bart

outubro 6, 2007   No Comments

Quanto vale o novo disco do Radiohead?

Ôôôôôôô, quanto vale o show, Lombardi?
Quer pagar quanto, Sílvio?

Direto ao ponto enquanto o garçom traz uma cerveja escura: o Radiohead é a melhor banda do mundo, e isso já faz dez anos, mais precisamente desde quando Thom Yorke e cia jogaram o arrebatador “Ok Computer” (ainda em formato real, CD mesmo) nas lojas. E 1997 parece tãoooo distante. Foi o ano que Woody Allen chocou o mundo ao se casar com sua enteada, Soon-Yi; o mesmo ano em que Xuxa anunciou sua gravidez; e em que Fernando Henrique Cardoso estava exercendo a metade de seu primeiro mandato como Presidente de uma República chamada Brasil (ou seria Eldorado?).

De lá pra cá quando se fala o nome de Woody Allen ninguém pensa mais em Soon-Yi, mas sim em Scarlett Johansson, atual musa do diretor em seus filmes recentes (principalmente no excelente “Match Point”); Sacha, a filha de Xuxa, já ganhou capa “solo” de Caras versando sobre seu aniversário em que rolaram Bonde do Tigrão, “Ilarie” e outras pérolas; e Luis Inácio Lula da Silva (quem diria) já está no meio de seu segundo mandato. O Corinthians era 17º no Brasileirão de 1997 e está em 18º no deste ano, o que prova que nem tudo muda, não é mesmo.

Mas o que aconteceu com o Radiohead? A rigor, a fama e o sucesso conquistados com “Ok Computer” deram um nó na cabeça dos integrantes da banda, que precisaram aprender em um ano o que o R.E.M. teve uma década para decorar – e o que levou Kurt Cobain para o lado de lá da força em apenas dois anos: a maneira certa de lidar com a mídia e a indústria. O resultado desse curso rápido e intenso pode ser verificado no excelente documentário “Meeting People Is Easy”, que flagra o momento exato de uma banda se libertando do mercado fonográfico (e de si mesma, por que não).

Os próximos passos foram óbvios: discos impopulares que serviram para despistar a mídia enquanto o público iniciava uma idolatria sobre o quinteto cujo altar passou a ser a Internet (nada mais normal para uma banda que cravou “Ok Computer” como nome de disco). Shows, aparições em TV, letras, entrevistas e tudo o mais superlotou a rede com informações passo-a-passo do grupo britânico. “Kid A” (2001) foi um dos primeiros álbuns a ser vazado em larga escala na Web (bons tempos do Napster), o que não atrapalhou sua escalada normal nas paradas nem diminui as filas para os shows do Radiohead, muito pelo contrário.

Seis anos e dois álbuns oficiais depois (”Amnesiac” – também conhecido como “Kid B” – e o político “Hail To The Thief”), o Radiohead pára o mundo pop com o anúncio de um álbum novo de forma totalmente inusitada: na segunda-feira passada (01/10), o site oficial do grupo avisava que a partir do dia 10/10 estará á venda “In Rainbows”, sétimo álbum de inéditas da banda. Não bastasse o anúncio surpreendente, o modo de vender o trabalho também é inovador: “In Rainbows” terá venda online com dois meses de antecedência no site oficial (www.inrainbows.com) e o ouvinte irá pagar pelas músicas o valor que ele quiser pagar. No dia 03 dezembro, uma versão real do álbum será vendida por 40 libras (aproximadamente R$ 150) e conterá um disco duplo de vinil, um CD multimídia com todas as nove faixas deste primeiro lançamento mais sete faixas extras, fotos, arte e letras. Uau.

O que tudo isso significa, caro leitor? Não só que o Radiohead continua sendo uma banda à frente de seu tempo, mas que as gravadoras como nós a conhecíamos estão com os dias contados – agora mais do que nunca. Porque “In Rainbows” não será lançado por nenhum grande selo. O contrato da banda com a poderosa EMI/Parlophone terminou em 2005 e desde então o Radiohead tem o “passe livre” na música pop. Essa estratégia doida de lançamento de “In Rainbows” cheira a revolução. Pense: não estamos falando de qualquer banda, mas sim da principal banda do mundo (e não sou eu apenas quem diz isso; qualquer tablóide de qualquer canto do mundo carrega nas tintas em relação ao grupo de Thom Yorke). A estratégia do Radiohead de se desamarrar das gravadoras pode demarcar uma nova era no modo de se negociar música pop, e para uma indústria que já perdeu a batalha do MP3, a derrota digital no modo de se negociar canções pode significar o fim da guerra – e de um abusivo controle sobre a obra artística musical de décadas e décadas.

A importância de “In Rainbows” para a música pop é muito mais teórica do que prática. Não que o valor de suas músicas seja inferior em qualidade a sua importância histórica, mas a estratégia de lançamento tende a causar um burburinho que poderá colocar as canções em segundo plano. É um fato, ainda mais se levarmos em conta que das dezoito canções anunciadas para o álbum, só quatro são realmente inéditas: “Weird Fishes”, “Faust Arp”, “MK 1? e “MK 2?. As outras catorze canções e meia (incluindo a metade da faixa quatro, “Arpeggi”) circulam pela rede – em excelente qualidade e diferentes versões – faz meses. Ou seja, “In Rainbows” já chegará ao tocador de MP3 do fã como um álbum conhecido, que ele terá ouvido muito mais do que vários discos reais lançados neste ano. Apesar da palavra final em termos de arranjo e letras ser dada apenas no dia 10, “Bodysnatchers”, “15 Steps” e “Down Is the New Up” (por exemplo) podem ser ouvidas em alta qualidade agora-neste-momento-já na Internet.

E ouvindo estas versões das novas canções, à primeira impressão é de que os arranjos continuam fundindo rock e eletrônica, mas a guitarra de Jonny Greenwood está muito mais presente no som da banda (”Bodysnatchers”, “Down Is the New Up”, “Up On The Ladder”), embora existam momentos calmos/líricos (”All I Need”, “Videotape”, “4 Minute Warning”). Nas letras, Thom Yorke novamente dá sinais de querer se desvencilhar do cargo de Messias: “Eu não tenho a mínima idéia sobre o que estou falando / Estou preso neste corpo e não posso sair”, canta no refrão de “Bodysnatchers”. Porém, ele nunca foi tão direto quanto em canções como “House of Cards” (”Não quero ser seu amigo / Quero ser seu amante”) e “All I Need” (”Eu sou todos os dias / que você escolhe ignorar / Você é tudo que eu necessito”). O que permanece nas letras, no entanto, é um forte sentimento de inadequação que agora também se confunde com partida: “Esta é minha maneira de dizer adeus / Porque eu não posso fazer isso cara-a-cara”, canta Thom em “Videotape”; em “Weird Fishes/Arpeggi”, o protagonista se compara a um peixe que planeja escapar; em “4 Minute Warning” o personagem quer se esconder dos bombardeios.

Entre letras e músicas em versão bootleg fica quase impossível cravar uma avaliação da qualidade de “In Rainbows”, mas as onze canções disponíveis permitem algumas pequenas certezas: “In Rainbows” parece um “Hail To The Thief 2? da mesma forma que “Amnesiac” parecia um “Kid B”. Não parece destacar nada que venha a fazer do álbum algo tão importante quanto “Ok Computer”, e talvez nem precise mesmo. O Radiohead já caminha faz tempo à frente do mundo pop. Sua estratégia de divulgação, no entanto, deve dar uma chacoalhada em todo o cenário, entrar para a história e abrir um novo caminho no modo de se comercializar música. Acredite: é algo muito importante porque lida com as relações entre um determinado artista e seu público. Na prática, ninguém precisa pagar para baixar as músicas de “In Rainbows”, afinal elas vão estar em programas de trocas de arquivo e blogs de MP3 minutos após serem colocadas à venda no site oficial. A grande sacada, no entanto, é a banda depositar sua confiança sobre seu público. Pode ter certeza que muita, mas muita gente mesmo vai pagar pelo álbum. Pelo simples prazer de se apoiar uma idéia original e que respira a revolução. Quanto vale? Bem, o preço é o de menos, mas estive pensando em quanto vou pagar, e acho que, Seo Silvio, o show vale US$ 5, algo em torno de R$ 10, para mim um bom preço sobre um CD que virá sem capa, encarte, letras e um material tateável que me faça sentir sua real existência.

Pago com prazer e vou ficar torcendo para que daqui dez anos o Radiohead ainda me surpreenda com boas músicas e atitudes acima de qualquer suspeita. Vou esperar, também, que Woody Allen permaneça vivo e filmando, que Sacha chegue as vinte anos sendo matéria de capa da Bravo ou da EntreLivros (hehehe) e que os futuros presidentes dessa Eldorado chamada Brasil consigam nos devolver a fé não só nos partidos políticos, mas nas pessoas mesmo. Ok, Corinthians campeão do mundo, mas ai seria pedir demais. Realmente, acho que só posso contar com as mãos do cinema de Woody Allen e o abraço da música de Thom Yorke e seus amigos. Será que as gravadoras vão existir/resistir até 2017?

Tracking List: – CD 1 (10/10)
“15 Step”
“Bodysnatchers”
“Nude”
“Weird Fishes/Arpeggi”
“All I Need”
“Faust Arp”
“Reckoner”
“House of Cards”
“Jigsaw Falling Into Place”
“Videotape”

Disco bônus: (03/12)
“MK 1?
“Down Is The New Up”
“Go Slowly”
“MK 2?
“Last Flowers”
“Up On The Ladder”
“Bangers and Mash”
“4 Minute Warning”

outubro 5, 2007   No Comments

500 Toques e Guilhermina Guinle na Vip

Tributos ao R.E.M. (15 anos do maravilhoso “Automatic For The People”) e aos Beatles (40 anos de “Sgt Peppers) gratuitos para download e mais a coletânea latino-americana “Porque Este Océano Es El Tuyo, Es El Mio” no site.

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Ontem à noite, quando passava pela padaria Bela Paulista para comprar pão (e, sim, é possível comprar várias outras coisas na Bela Paulista além de pão, antes que alguém banque o engracadinho), da fila pude observar na estante de revistas a nova edição da Vip com Guilhermina Guinle na capa. Lili, meu amor, me desculpe, mas fiquei sem ar. A capa assim como o ensaio são de tirar o fôlego…

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“Tropa de Elite” estréia, enfim, na sexta-feira, apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Não concordo com o privilégio a estas duas praças, mas entendo a preocupação da produtora em não deixar a poeira baixar. Assisto ao filme no fim de semana, comparo com a edição em DVD pirata que tenho em casa, e comento tudo em um texto especial na segunda-feira, prometo (ih). Enquanto isso, o compadre Inagaki (que não viu o filme) se diverte com as estripulias que o BOPE está rendendo por ai. Além, a querida Re Honorato publicou uma nota em seu Game Girl sobre um possível jogo inspirado no filme. Leia abaixo:

– Capitão Nascimento matou a Taís e foi ao cinema, por Alexandre Inagaki
– Tropa de Elite in Game, por Renata Honorato

Off Topic: Dez razões para amar Jack White, pelas Garotas Que Dizem Ni

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Além da discotecagem em Curitiba, está pintando uma em Ribeirão Preto :)

outubro 3, 2007   No Comments