Cenas da vida em São Paulo: Batman
Na sexta, ao sair da casa da minha amiga aniversariante, com uma Nortenha e pouco na cabeça, caio na Amaral Gurgel esquina com a Major Sertório. Quem é de São Paulo sabe: esse é um território dominado por travecos. Atravesso a avenida em direção ao posto de gasolina do outro lado da rua.
No posto, um casal de idade observa com interesse o rebolar de um(a) moreno(a), que insiste em tentar baixar a micro-micro-micro-micro saia que não tapa nem 10% de sua bunda (perfeita, por sinal, o que o diferencia da grande maioria das mulheres. Como diz um amigo meu, se a mulher é muito perfeita, peitos, bunda e tal, desconfie: pode ser um travesti).
Com um fio dental, ele(a) se arrebita todo(a) na porta de um taxi, fala alguma coisa, levanta e xinga o motorista com uma voz mais grossa do que a minha. Não bastasse a cena surreal, cerca de dez passos depois a piada se completa: um senhor aparentando uns 60 anos baixa a porta de ferro de sua loja. Ele parece um portuga típico, com barba, bigode, barrigão, cara séria de quem acha que está sendo passado para trás. Ao baixar a porta até o fim, ele se vira para um pequinês que eu nem havia percebido no cenário, e diz com um fiozinho de voz insuspeito, que poderia facilmente não ser ouvido tamanho a leveza das palavras: “Vamos embora, Batman?”.
Me perdoe, mas a vida é deveras divertida.
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