Cenas da vida em São Paulo: Batman
Na sexta, ao sair da casa da minha amiga aniversariante, com uma Nortenha e pouco na cabeça, caio na Amaral Gurgel esquina com a Major Sertório. Quem é de São Paulo sabe: esse é um território dominado por travecos. Atravesso a avenida em direção ao posto de gasolina do outro lado da rua.
No posto, um casal de idade observa com interesse o rebolar de um(a) moreno(a), que insiste em tentar baixar a micro-micro-micro-micro saia que não tapa nem 10% de sua bunda (perfeita, por sinal, o que o diferencia da grande maioria das mulheres. Como diz um amigo meu, se a mulher é muito perfeita, peitos, bunda e tal, desconfie: pode ser um travesti).
Com um fio dental, ele(a) se arrebita todo(a) na porta de um taxi, fala alguma coisa, levanta e xinga o motorista com uma voz mais grossa do que a minha. Não bastasse a cena surreal, cerca de dez passos depois a piada se completa: um senhor aparentando uns 60 anos baixa a porta de ferro de sua loja. Ele parece um portuga típico, com barba, bigode, barrigão, cara séria de quem acha que está sendo passado para trás. Ao baixar a porta até o fim, ele se vira para um pequinês que eu nem havia percebido no cenário, e diz com um fiozinho de voz insuspeito, que poderia facilmente não ser ouvido tamanho a leveza das palavras: “Vamos embora, Batman?”.
Me perdoe, mas a vida é deveras divertida.
agosto 18, 2007 No Comments
Entrevista ao Sampaist
Entrevista concedida a Lucas de Oliveira Fernandes (dezembro de 2006)
Marcelo Costa aposta que que o CD tal qual o conhecemos ainda não morreu, mas vai morrer, e logo. Ainda assim tem 5 mil desses disquinhos ocupando toda sua sala. “O CD vai morrer, mas não a música. O suporte mudou, mas a música continua a mesma.” E quando não está ouvindo ou pensando em música, está tocando ou escrevendo sobre ela. De “profissão séria” é editor de homes em um portal de internet, editor do site Scream & Yell e escreve sobre música, cinema e cultura pop. Quer alguém mais gabaritado para comandar as pick ups da festa do Sampaist no Studio SP?!
De onde veio e para onde vai Marcelo Costa?
Marcelo Costa já veio e já foi para tanto lugar que nem sabe mais onde ele está. Ele continua procurando algo que ainda não sabe o que é. É um eterno insatisfeito que, ironia das ironias, é apaixonado pela vida.
São Paulo produz boa música? E sabe consumir boa música?
Das capitais que produzem boa música, São Paulo deve estar em sétimo, oitavo lugar. Existem ótimas bandas aqui (Ludov, Pullovers, CSS), mas essas boas bandas não constituem uma cena. Há boa música, mas em comparação, é menos do que se produz em capitais como Curitiba, Porto Alegre, Goiânia e Recife, por exemplo. Mas a noite daqui é agitada e quente. As pessoas vão atrás das informações. São Paulo é a capital cultural do país. É o melhor lugar para um apaixonado por cultura pop viver.
Qual a trilha sonora de SP?
Acho que o Pullovers está vestindo essa camisa, sabe. Esse papel que era do Ira! nos anos 80, de se dizer paulista e se sentir orgulhoso por ser daqui.
Falta algo aqui?
A minha mãe (risos). Ela ama São Paulo, provavelmente mais do que eu, mas acho que não teria coragem e pique de voltar a viver aqui. São Paulo é uma cidade muito agitada.
Quem for à festa do Sampaist vai ouvir o que na pista?
Sempre monto a discotecagem na hora, mas deve ter rock da melhor qualidade, muita coisa nova, muita coisa velha e “Be My Baby” encaixada no meio de tudo.
Qual a característica mais comum de um paulistano?
A pressa. São Paulo não anda, corre.
Que banda nacional você tem ouvido?
Duas: Terminal Guadalupe, de Curitiba, e Violins, de Goiânia. Ambas lançam discos novos no começo de 2007. Ambos discos sensacionais.
Onde comprar CDs e discos de vinil?
Há, pelo menos, uma dezena de lojas de CDs ótimas nessa cidade. As minhas preferidas são a Velvet CDs e a Sensorial no centro da cidade, a Nuvem Nove no Itaim e as filiais da Neto Discos (tem uma ótima, com muita coisa de MPB, na frente do Espaço Unibanco, na Augusta). Vinil é na Benedito Calixto ou na Baratos Afins, na Galeria do Rock.
De ônibus, metrô, carro, moto, bicicleta ou à pé?
Como moro na Maria Antônia, quase Consolação, todo o trecho de cinemas (Bristol, Cine Bombril, HSBC, Espaço Unibanco, Reserva Cultural), baladas (Vegas, Inferno, Outs, Funhouse, A Loca, Sarajevo) e lugares para comer (Bela Paulista, Pedaço da Pizza, Exquisito) e beber (os botecos da Augusta próximos ao Espaço Unibanco) até a região da Paulista faço a pé. É ótimo andar por ali. E os corredores de ônibus melhoraram – e muito – o transporte na cidade.
Qual paulistano merece uma música só pra ele?
Putz, sou paulistano, da Mooca, mas ouso dizer que os paulistanos que mais admiro são paulistanos adotados, como o Tom Zé, por exemplo. Ele, que já fez várias músicas pra São Paulo (“Augusta, Angélica e Consolação” é uma das músicas que descobri neste ano, e é tão linda), merecia uma música em que São Paulo o reconhecesse com paulistano (de coração) que ele é.
Um amor e um ódio na cidade.
Um ódio: o trânsito. Um amor: a Paulista
Qual a hora de Revolution?
Toda hora é hora de Revolution.
agosto 18, 2007 No Comments