Faixa a faixa: Conheça “Leftover Land”, o segundo e ótimo disco da Elephant Run

introdução de Marcelo Costa

É difícil resistir ao som do Elephant Run. A pegada indie festeira que flerta com psicodelia, pisca o olho para o jazz e tira uma onda com a bossa nova soa muito mais à vontade em “Leftover Land” (2024), recém-lançado segundo disco (pelo selo Maxilar, de Gabriel Thomaz), do que no bom álbum de estreia, de oito anos atrás. As sementes que foram plantadas lá floresceram aqui.

A diversão, como você irá perceber no faixa a faixa abaixo, é um norte para a banda, formada por uma sueca que vive em Malmo (Amanda W. Plantin, voz e piano) e três paulistanos (Fernando Coelho na guitarra, Ladislau Kardos na bateria e Renato Cortez no baixo). Eles gravaram o primeiro disco em 2016 e Amanda retornou para a Suécia no ano seguinte. De volta ao país por dois meses em 2022, ela se reuniu com a banda e gravou “Leftover Land”.

Nas raízes da Elephant Run, o choque da cultura sueca trazida por Amanda com o som de três ótimas bandas indies de São Paulo: Mamma Cadela (Fernando e Ladislau), Seychelles (Fernando e Renato) e Ozorio Trio (Ladislau e Renato). Resultado desse encontro nórdico-tropical, “Leftover Land” flagra uma banda em evolução, bastante à vontade e com o compromisso de se divertir com a proposta de um cabaré psicodélico. Ouça o disco abaixo lendo o faixa a faixa especial que eles escreveram para o Scream & Yell.

01) “Hanoi” – Foi uma das músicas mais desafiadoras para gravar em estúdio… Uma música com a vibe do ao vivo porém lapidada com muito cuidado. Uma música com várias partes, timbres, mudanças de tempos e melodias rítmicas. A letra escrita em sueco aborda essa nossa travessia humana e a necessidade de se observar durante a trajetória….

02) “Autophobic” – Quando fizemos o disco não tínhamos certeza se essa música ia ser gravada ou não, uma parte da banda queria gravá-la, outra parte não. Mas quando começamos a gravar ouvimos que tinha potencial pra ficar bem legal. Ela está cheia de harmonias e tem um coro bem agressivo, representando a ambivalência da protagonista. A última parte da música está em sueco e é mais frágil, com muitas harmonias em loop.

03) “Make it Real” – Nos ensaios da banda é comum o processo de jam session e de brincarmos com as ideias que trazemos um para o outro. No caso de “Make it Real”, o riff da guitarra veio antes e junto da bateria se formou o esqueleto e o mood da música. A vontade de termos uma canção dançante, envolvente e o prazer de tocarmos juntos fez com que ela se tornasse realidade e uma das escolhidas para entrar no disco.

04) “We Are Heroes” – A mais longa e a preferida da banda. Desde a gravação, sabíamos que estávamos mexendo com algo especial. A construção foi delicada, pois o clima da música, o astral não dava pra ser atingido facilmente. Era preciso entrar na atmosfera do som antes de gravar qualquer take, qualquer instrumento. Aperta o play e boa viagem.

05) ”Urubu” – Essa faixa é nossa música mais Beatles no disco. Tentamos dar um arranjo com a nossa cara, mas tudo começou com harmonias e levadas de guitarra inspiradas no disco “Sgt Peppers”. É uma faixa que também experimentamos o uso de três idiomas (inglês, português e sueco).

06) “Pega Mal” – Essa canção foi escrita e interpretada pelo Coelho, nosso guitarrista. Num clima meio Bukowski, meio Lebowski, é o som mais jazzy do disco. Debochada, noturna, sarcástica, rendeu as melhores risadas no estúdio, sem sombra de dúvidas!

07) “Your Head First” – Quando começamos a escrever essa música era pra ser um experimento industrial, com bateria eletrônica e sintetizadores gerando texturas experimentais. Fomos para o estúdio e decidimos levar para um caminho mais rock soturno, com a bateria tradicional mais pesada e o tema instrumental inspirado em música erudita com a guitarra dobrando com o piano e glockenspiel.

08) “Utsålt” – Quando começamos a brincar com essa ideia a banda se divertiu bastante. A gente tinha problemas em decidir como ia ser o ritmo do riff e ao invés de escolher um jeito só acabamos usando três jeitos diferentes na música. Para facilitar e diferenciar os jeitos demos nomes diferentes aos riffs – um jeito por exemplo se chama “momento Black Sabbath”.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.



Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.