entrevista de Davi Caro
O jornalista André Forastieri escreveu, em um já distante 2013, que a cidade de Jundiaí “fica a 57 quilômetros e mil anos-luz de São Paulo. Jundiaí fica no interior, no presente, no previsível”. O notável crítico musical, é claro, ainda não sabia da existência da Jupta, que ainda levaria cinco anos para despontar.
Formada em 2018, a banda atualmente integrada por Matheus Flores (vocais), Marcus Vinícius (guitarra), Daniel Martinho (baixo) e Henrique Oliveira (bateria) já carrega consigo um nível de experiência capaz de fazer inveja a muitos outros grupos com mais tempo de estrada: com dois discos de estúdio na bagagem – “Um Pouco de Paz Antes que Tudo Acabe”, (2019) e “Minha Casa é Longe Daqui (2020) – além de uma boa quantidade de singles (e até mesmo um registro ao vivo, “De Saída”, gravado durante a pandemia em 2021), o grupo soa moderno e futurista ao mesmo tempo.
O grupo também carrega vivências que incluem mudanças de formação e de sonoridade: o som de guitarra cru, com influências de stoner rock, deu lugar a uma presença maior de baixo e de sintetizadores com a saída de Marcus, em 2020, e a subsequente entrada de Daniel. Com o retorno do guitarrista, os últimos singles (“Vertigem” e “Ainda Somos Estranhos”, de 2023, e o mais recente lançamento, “Ultravioleta” / “Espiral”, disponibilizado em junho pelo selo Tratore) mesclam o som já concretizado nos trabalhos anteriores e apontam caminhos para o vindouro terceiro álbum, que, segundo os próprios, chega muito em breve.
“A Jupta é estranha o suficiente para ser totalmente independente”, opina o vocalista Flores. No entanto, esta “estranheza” já rendeu conquistas: além de terem sido consagrados no Prêmio Gabriel Thomaz de Música Brasileira em 2019, a banda recentemente teve a oportunidade de lançar seu mais novo single em grande estilo, fazendo um show especial em sua cidade natal como parte do projeto “Amplifica”, do Sesc, contando com a participação especial de Léo Ramos (Supercombo). Esses foram apenas alguns dos muitos assuntos abordados no bate-papo com o quarteto, que pode ser conferido a seguir. Com você, Jupta.
Queria começar perguntando sobre o single novo, “Ultravioleta/Espiral”. Como vocês têm percebido a recepção dos seguidores da banda nesses primeiros dias depois do lançamento?
Marcus: Nós sempre planejamos muito bem essas coisas, mas com estratégias diferentes, com uma antecipação maior, para depois criar um ambiente pra lançarmos nossas coisas. Agora pensamos: “vamos fazer algo diferente”, e o (Gustavo) Koch (responsável pela parte de divulgação) nos ajudou a ter uma outra visão, pensar em uma maneira de divulgar mais pensando no single. Foi meio de repente: a gente anunciou 10 dias antes, e não foi tão “de surpresa”, porque o público sacou que estávamos fazendo coisas. Quer dizer, a gente sumiu (risos), inclusive pra conseguirmos fazer as coisas. Então a própria reação da galera foi um pouco diferente, já que como a gente conseguiu engatilhar o show de lançamento, não houve muito tempo pra encontrar a galera e sentir o feedback antes de apresentar, então muito do pessoal que veio dar o feedback pessoalmente foi no dia do próprio show.
Daniel: E tem aquela coisa também: a galera que é mais chegada em nós é mais chegada do show mesmo, então, como a gente estava parado, quando divulgamos que íamos lançar coisas, a reação do pessoal pelas redes sociais foi bem surpreendente, com gente comentando e postando que íamos ter lançamento, que ia ter clipe… e o pessoal se animou, sem termos tido muito contato pessoal, físico, com a galera. A gente percebeu que a galera ficou bem animada, e o peso do show no Sesc mostrou que o que nós estávamos vendo nas redes era real…
Henrique: O pessoal que a gente não via há muito tempo começou a compartilhar tanto as músicas quanto o convite do show, muita gente que nós não encontrávamos pessoalmente compartilhou. Fiquei até bem surpreso, sabe?
Daniel: Não teve aquela coisa de chegar e falar “pô, escutei o single lá, legal”. Mas a resposta da divulgação já mostrou que o público fica animado que vamos lançar coisas novas. A galera gostou, já que observamos uma crescente de ouvintes no Spotify, e isso é muito mérito da divulgação também.
Flores: É legal que o pessoal também compartilhou coisas que a gente nem esperava. Então foi bom ficar em silêncio, porque mesmo os mais chegados estavam meio desesperados pelas coisas novas. Aí vieram comparações com sons que a gente nem mirou… Tem gente que falou que lembrou do My Chemical Romance, e aí você fala “ah, tá bom”.
Mas é uma boa comparação, não? Inclusive, pegando esse gancho das comparações, a Jupta sempre teve uma presença forte de sintetizadores, e agora dá para perceber que isso figura de uma outra maneira, mais protagonista. Como isso foi mapeado por vocês, pra significar uma nova fase na carreira? Foi uma coisa pensada, ou mais espontânea…
Flores: Foi muito natural. Desde o começo pensamos em ter esse elemento. Acho que o que foi mais diferente dessa vez foi que “Ultravioleta” e outras que estamos fazendo partiram de ideias de sintetizador, tanto do Henrique quanto minhas. São músicas onde, apesar de estarmos mais “orgânicos”, nos quatro elementos, a criação mesmo já foi para esse lado. Pô, como já usamos isso ao vivo, vamos tentar começar por essa parte, pra ficar mais natural.
Daniel: Também teve a questão do “Minha Casa É Longe Daqui”, quando o Marcus saiu. Apesar de eles já usarem [os sintetizadores], a guitarra era um grande integrante mesmo, e quando o baixo entrou no lugar, não teve como suprir essa falta. Então, ali nós resolvemos explorar esse mundo, e acabou sendo uma ferramenta legal. Hoje, é como um quinto elemento nosso, mesmo.
Henrique: E, pensando na nossa frequência de ensaios, querendo ou não, parte do que fizemos juntos (em “Minha Casa…”) não foi feito junto, porque tivemos o maior tempão de pandemia. Por isso, não deu para experimentar tanta coisa, e depois que tudo terminou e o Marquinhos voltou, nós tivemos a oportunidade de experimentar. Porque estamos quase sempre no estúdio, e por isso, muitas vezes, um erro acaba virando uma coisa boa, ou o contrário; inclusive nos ensaios de agora, sabe? Muita gente não tem isso, e antes também não tínhamos, mas agora temos, e sem “represália” nenhuma. Antes eu mesmo não participava com letras, mas hoje vou muito mais livre, e os outros também. Você perguntou se isso foi uma coisa pensada, ou escolhida… não foi, mas é um reflexo dessa nossa nova liberdade. E todo mundo viu só um pedacinho disso até agora, porque tem muita coisa ainda por vir.
Agora, falando do show de lançamento, vocês tiveram a participação ilustre do Léo Ramos, que é um cara muito bem estabelecido graças ao Supercombo e ao trabalho como produtor. Como se deu esse contato? E a rotina de ensaios, a química entre vocês que se refletiu, inclusive, no próprio show?
Flores: Nós estávamos com esse convite (do Sesc) já faziam uns seis meses. O Léo, mesmo estando no nosso meio coletivo, sempre foi uma referência muito forte para o Henrique. E pensamos em trazer um nome que fosse capaz de somar de uma forma mais orgânica e efetiva, e o Léo topou na hora. Na verdade, tivemos um ensaio, que foi no próprio dia. E nós já conhecemos muitas bandas, mas ele foi uma das pessoas mais gente boa que já conhecemos.
Daniel: Ele chegou no estúdio, cumprimentou todo mundo, ficou super tranquilo, e na hora de começar foi tipo “então, quais vão ser as músicas, pensei em fazer isso e aquilo na música de vocês…”. Ou seja, ele veio pronto para trabalhar, e as duas primeiras vezes que tocamos já rolaram muito bem. Depois disso, todo mundo tirou uma montanha das costas.
Henrique: Principalmente para mim, tinha muita expectativa. Você não sabe como vai ser, espera que seja tudo muito rápido, simples e perfeito, ou que seja muito difícil, e foi super relax. Ele deixou muito nas nossas mãos, falando de ordem das músicas…
Daniel: A gente fica na impressão de estar sendo avaliado, mas ele veio com a ideia de que ele era o convidado, então propôs algumas coisas diferentes.
Henrique: Sim, e eu pessoalmente consegui fazer um show muito tranquilo por causa desse contato prévio. Nós nunca tínhamos tido contato com ele antes, nem por WhatsApp. Só tínhamos uma mensagem de áudio dele, e isso definiu tudo.
Flores: E tem outro ponto: desde o começo a Jupta não faz covers, e de uma vez pegamos três.
Henrique: Além disso, ele tinha dito no começo que não queria tocar. A Jupta tem um guitarrista só, ao mesmo tempo que o Supercombo tem guitarras, teclados… fiquei com isso na cabeça, mas no fim ficou tudo muito fiel, e a voz dele soou excelente, como sempre. Até no camarim, o Marquinhos conversou bastante com ele, falou de guitarras, pedais e afins.
Marcus: Ele é muito disponível, e veio como se estivesse indo pra qualquer outro evento, até para as pessoas como um todo. Mesmo porque muitas das pessoas estavam lá por causa dele mesmo, e ele estava lá, assistindo o show do qual ele tinha acabado de participar, junto com o público. Tirou fotos, deu autógrafos e tudo.
Henrique: O Chapola (produtor de longa data da banda) gravou o ensaio e nos mandou, e já dava pra ver que estava tudo muito certo.
Inclusive, ainda nesse assunto, o Flores comentou durante o show sobre os cinco anos do lançamento de “Um Pouco de Paz Antes que Tudo Acabe”. Olhando para trás hoje, com mais um álbum, uma gravação ao vivo e alguns singles a mais na bagagem, como vocês avaliam esse álbum hoje em dia, e enxergam a evolução da banda ao longo dos últimos anos?
Henrique: Eu muitas vezes penso que esse é o nosso melhor álbum, sabe? Pelo menos até então (risos). Penso em como fizemos aquilo com um ano de banda, um ano de interação… porque a gente era novo, e como conseguimos aquele resultado com todas as dificuldades daquele tempo.
Daniel: E receberam prêmio de Música do Ano, do Gabriel Thomaz.
Marcus: Lembrando que nós, eu, Henrique e Flores, não éramos amigos antes de ter a banda. Nós nos conhecemos para ter a banda, e nosso entrosamento era para tocar. O Mateus tinha uma outra banda, chamou o Henrique e eu para entrar, e a banda foi se desintegrando, até que sobramos nós três.
Henrique: E não tinha nada escrito há muito tempo [quando o álbum foi feito]. Tudo saiu depois que a gente se conheceu. Eu não tinha experiência nenhuma em gravação de um álbum; para mim, fazer um álbum era a maior dificuldade. E tudo foi acontecendo, eu acho, de modo natural. Nem lembro de ter gravado todas as partes de bateria. Era tão natural, e éramos tão novos, que nem tinha esse peso de “pô, gravação”. Muitas das músicas não estavam prontas quando entramos para gravar. Hoje é diferente. Até o merch foi diferente: comprei vários equipamentos de serigrafia, para fazer silk screen, e não parecia difícil. E nós colhemos muita coisa desse disco, com premiação, e até dos clipes que fizemos sozinhos.
Daniel: Essa parte da biografia da banda é muito engraçada, sempre conversamos sobre isso. No começo, o foco era muito na guitarra, e quando o Marquinhos saiu, teve essa substituição, do baixo pela guitarra. E é legal, porque agora, para o álbum 3, estamos mais completos, e nosso público entende e gosta disso.
Henrique: Tudo aconteceu como tinha que acontecer, parece. Essas experiências eram importantes para nós, e ter tido mais enfoque tanto no baixo quanto na guitarra ajudou a balancear isso, e deixar todos serem protagonistas.
Durante a turnê Vertigem, além de lançar dois singles (“Vertigem” e “Ainda Somos Estranhos”) vocês tocaram em vários lugares de destaque, como o Casarão (em Piracicaba), o Asteroid (em Sorocaba), o Fffront e o Iglesia (em SP). Vocês enxergam a Jupta como parte de alguma “cena” específica?
Flores: A Jupta é estranha o suficiente para ser totalmente independente (risos). Não que isso seja bom ou ruim, mas nós somos bem estranhos.
Henrique: Nós estamos sempre tão preocupados em tocar que muitas vezes não vemos o que está rolando em volta, e as vezes somos os últimos a saber. E nunca esperamos que fosse reverberar tanto.
Daniel: Dentro da cena, isso é um desafio, alcançar essa atenção do pessoal. Ficamos felizes quando temos resultados, mas é um desafio grande porque, falando do underground, sabemos que tem uma cena forte de bandas cover. E que essas bandas tem lá o seu público. O mesmo acontece com as bandas de hardcore. Agora, quando se fala da Jupta, principalmente dentro de eventos, é mais difícil pensar nisso (em uma cena ou gênero específico). Nem a gente sabe; sempre caímos naquele negócio do “alternativo”, com um pezinho no “indie”, que é onde nos identificamos mais. Fica difícil ter um pé em vários lugares, apesar de fazermos um bom show, com um som que não lembre nada imediatamente. É uma vantagem, mas o desafio é construir um público que goste dessa mistura mais difícil de classificar. Todos buscam alguma referência.
Marcus: Já disseram que nós éramos como se fosse o Tom Morello com o David Bowie cantando, sob a produção do Josh Homme (risos). Já disseram “vocês são tão estranhos que é maravilhoso”. Mesmo o primeiro álbum sendo mais coeso, puxando um pouco para o stoner, para um indie mais “tradicional”, nós fomos incorporando elementos mais modernos, puxando de vários estilos. Algumas bandas, como o Foals, o Nothing But Thieves, ou o IDLES, fazem isso muito bem, também, fazem essas misturas deixando um pouco de lado um estilo mais simples. E o público deles acompanhou isso. Agora, com essa formação em quarteto, estamos buscando justamente essa coesão.
Daniel: É uma tendência mundial, dentro do mercado da música, procurar fazer diferente. Mas para nós é muito espontâneo. Já chegamos a descartar coisas legais que fizemos porque não ficou estranho, ou porque ficou demais em um padrão.
Henrique: Até a própria música “Espiral”, que agora saiu como single, começou como uma jam de encerramento de show. Já sentíamos a energia dela, mas não sabíamos que era uma música mesmo. E agora estamos colocando-a nos shows, e vendo que é um resultado de toda aquela busca por “estranheza” que aconteceu com os outros álbuns.
Vocês falaram muito dessa “estranheza”, que na verdade pode ser intepretada como “originalidade”, mesmo. Isso tem muito a ver com a identidade visual da banda, e inclusive com o clipe longo que foi feito para as duas novas faixas, “Ultravioleta/Espiral”, com 8 minutos de duração. Como vocês equilibram essa ambição artística com o momento atual, onde a capacidade de atenção do público é cada vez mais reduzida graças às redes sociais?
Flores: Acho que isso é complicado, porque apesar de nos darmos bem no audiovisual, somos “atrasados por opção” em algumas redes e trends, porque acho que já saturou demais. “Ah, o músico tem que ser influenciador, tem que ser criador de conteúdo…”; não, o músico tem que ser músico, e no máximo um artista audiovisual. Essa é a personalidade que nós quatro temos, e acho que não vamos ficar tentando nos adaptar a algo que completamente falso.
Daniel: Seria forçado da nossa parte. A gente discutiu bastante, e eu trouxe muito esse assunto também, por sentir que é uma realidade: faz falta não ter esse “espírito tiktoker”, uma coisa que ninguém aqui gosta de fazer. Mas isso pesa… a gente vê bandas mais novas, que não deixam de ter talento, que alcançam resultados muito visíveis por trabalharem muito esse lado das redes, da coisa rápida, sabe? Imediata… e a própria música acaba ficando de lado. Uma banda não é para ser uma coisa de “trends”. É para criar um espetáculo, e não para ser uma coisa de 15 segundos em alguma rede social.
Henrique: A gente pode “perder” nesse quesito, porque é um fato, mas nos garantimos no “pós –show”, de conversar com as pessoas. Essa é a parte da qual gostamos.
Daniel: O clipe mesmo foi uma jogada muito pensada dentro do nosso próprio conceito. 8 minutos de duração é muito para alguém acostumado a ver conteúdos de 15 segundos e passar para o lado. E ficamos felizes com o resultado, sabendo que, se tentássemos cativar o público pela presença em redes como o Tik Tok, talvez tivéssemos mais views ainda; mas isso seria deixar a originalidade de lado. É importante pensar em uma banda como uma empresa, de modo empreendedor, e isso não pode ficar totalmente de lado, para chegarmos aonde queremos chegar.
Inclusive, falando em objetivo: nós vivemos em um mundo onde é inevitável que o artista precise se posicionar politicamente. A Jupta nunca se restringiu, no que diz respeito aos valores progressistas que vocês sempre defenderam. Como vocês enxergam essa “necessidade”, como muitos enxergam, em ter um posicionamento claro?
Flores: Isso é extremamente necessário. É aquele clichê: rock sempre foi político. Eu me sinto mal ao ver bandas que eu adoro se colocarem de modo isento; ao mesmo tempo, eu entendo que é um campo onde se pode ganhar ou perder muito, então é preciso ser muito corajoso para falar de certas coisas. Sendo o cara que está com o microfone na mão, sempre fico atento a onde estamos, e como o público está, por questões de segurança (risos). A bandeira é importante, mas nossa vida é mais. Como parte da comunidade, tenho uma “mira”, e querendo ou não, o Brasil é o país que mais mata (pessoas LGBTQIA+). E já senti uma rejeição por certa parte do público. Mas nunca vamos evitar (nos posicionar). O que eu venho tentando nas letras é algo mais sutil, bem “entendedores entenderão”. É um momento de muito cuidado com as palavras, e a extrema-direita consegue ser muito inteligente em usar em favor próprio coisas que são feitas contra o que eles defendem. Como banda, tivemos uma fase mais “explícita”, mas comecei a repensar as coisas, e hoje usamos a estratégia do Cavalo de Tróia, o que é mais efetivo nesse momento de “pós-verdade”.
Daniel: O Matheus mira muito no sentimento, ao invés de atacar o fato político. É buscar o que já foi internalizado, e reflete em sentimento nas pessoas. É falar disso de maneira implícita, porque a arte nunca vai ser “em cima do muro”.
Marcus: A forma menos explícita do posicionamento político dentro da música acaba sendo mais “bonita”, ao invés de apontarmos o dedo o tempo todo. É claro que em vários momentos vai ser necessário apontar o dedo diretamente (contra o pensamento fascista); porém, a mensagem vai continuar lá, mesmo que o foco esteja na música.
Henrique: Não somos de forçar ninguém; quem força é a extrema-direita. Nós falamos o que pensamos e achamos, e quem sentir, sente junto. Mas forçar, jamais.
Flores: E voltando ao “Um Pouco de Paz…”, o próprio título do álbum é a principal diretriz da Jupta: oferecer um pouco de paz antes que tudo acabe. Quem nos ouve sabe que as coisas estão ruins, então queremos, sim, refletir isso, mas também queremos confortar.
Flores, falando um pouco das letras: quando você trabalha com a composição, as letras são todas trabalhadas como um arco conceitual, ou elas são compostas individualmente, e a conexão conceitual acontece de modo espontâneo?
Flores: Eu tentei pensar nelas conceitualmente, mas… a Jupta é uma força, então, muitas letras que eu pensei dessa maneira acabam sendo derrubadas por nós mesmos. Na verdade, desde o início da banda já percebi que isso não iria funcionar. Procuro focar na música em si, pensando em onde ela vai estar posicionada na ordem do álbum, e em que sentimento ela vai carregar. Através desse sentimento, procuro canalizar o que eu mesmo sinto através da canção. Nós ainda vamos fazer um disco conceitual, bem legal.
Marcus: A gente bem que tentou (risos). Já tivemos duas tentativas, e agora estamos na terceira.
Flores: É isso mesmo. Nós costumamos ir pela vibe das músicas, e as vezes vejo que as coisas vão ficar “enroscadas”, então pensamos no conceito de modo mais amplo, para que tudo seja mais livre. Durante o processo do “Minha Casa…”, eu tive uma travada criativa, meio que desaprendi; escrevia muito desde os 11 anos, e, de repente, tudo apagou. Isso começou a ser recuperado esse ano, porque já começamos com a ideia de gravar o disco, e eu fiquei bastante nervoso, pensando em como iria conseguir escrever. E as letras foram aparecendo. Eu imagino o disco muito como um show, mesmo, e penso em momentos mais reflexivos, alguns menos… e vou deixando o sentimento rolar em relação a isso.
Por causa das gravações, a Jupta não tem shows marcados para o futuro próximo. Vocês esperam retornar só com o disco novo, ou talvez voltem mesmo antes do lançamento?
Flores: A ideia este ano é pensar em shows de modo mais enxuto e restrito, para podermos trabalhar melhor o disco mesmo, além dos clipes. Para 2025, o foco vai estar totalmente na estrada.
– Davi Caro é professor, tradutor, músico, escritor e estudante de Jornalismo. Leia outros textos de Davi aqui.