Texto e fotos por Bárbara Moreira
Aquecendo os motores de sua Kombi, a Bala Desejo colocou o pé na estrada em uma turnê de encerramento de ciclo planejada para visitar três regiões do país – sul, sudeste e centro-oeste. Minas Gerais ficou com a terceira data, e o público tratou de logo garantir seu lugar, receosos pelas palavras “turnê de encerramento da banda”, como anunciado pela própria produção. Tudo não passou de um mal-entendido, porém: não seria a banda a encerrar as atividades, mas a finalização da turnê do álbum “SIM SIM SIM”, lançado em fevereiro de 2022. Tanto pela apreensão de perder o que poderia ser a última apresentação da banda quanto pela horda de fãs cativos que o quarteto possui, é certo dizer que quase 1700 lugares foram preenchidos por admiradores que precisam apenas de um espetáculo único para se divertir.
Dessa forma, Belo Horizonte recebeu com indisfarçada alegria a chegada de Zé Ibarra, Julia Mestre, Dora Morelenbaum e Lucas Nunes. Para a sorte de alguns, uma apressada Julia ainda estava às portas do Palácio das Artes pouco antes do início do show, sendo recebida por alguns gritos entusiasmados de fãs menos tímidos. Já a banda foi ovacionada por um teatro quase lotado, ao som do já conhecido instrumental de “Baile de Máscaras”, praticamente o cartão de visitas do grupo. Percebe-se que eles gostam do mistério: uma luz escura marca o início da apresentação e permanece em quase todo o show, para o desespero de fotógrafos e público que precisaram se contentar com a silhueta dos artistas.
Ainda que o grupo seja conhecido por ter uma sonoridade “neo-tropicalista”, é a primeira vez que a emulação da sonoridade setentista bate em cheio em solo belorizontino, talvez porque o grupo optou por dar um “chega pra lá” nos inferninhos e decidiu se apresentar no Grande Teatro da cidade. Para a felicidade dos amantes da “época de ouro” da MPB, a fineza da atuação e figurinos leva o público a uma viagem ao passado, empoeirado e desbotado como deve ser. “Lua Comanche”, segunda música do show — mas que oficialmente abre o espetáculo — dá espaço para todos os membros, mas é com “Passarinha” que o público se ouriça. Julia toma para si a atenção pelo seu timbre grave, mas seu poder hipnotizante teria o mesmo efeito se apenas girasse pelo palco, dado seu carisma. Necessário dizer que Dora arrancou alguns suspiros com sua potência vocal, deixando os fãs mais assíduos boquiabertos durante todo o show.
Cheios de orgulho, o show se desenrola com a prometida íntegra do álbum, com direito a uma apresentação de “Cronofagia (O Peixe)”, faixa executada ao vivo poucas vezes segundo Zé Ibarra. Além disso, o público ainda foi presenteado com versões de músicas de seus projetos solos, de parcerias e homenagens. Das flechadas de Julia em “Love Love” à potência de Dora em “Dó a Dó”, a sensibilidade de Zé Ibarra em “Como Eu Queria Voltar”, houve Bala junto, separado e misturado para todos os gostos.
Possivelmente aí está uma passada grande, que pode vir a escorregar. Com exceção de algumas bandas, é normal e até mesmo estimulado que os artistas apresentem suas músicas de projetos solos em seus grupos de origem, mas as frequentes autorreferências (inclusive em faixas que compõem o álbum da turnê) soaram de forma quase pretensiosa para um grupo que, apesar de talentoso e com vasta experiência em trabalhos com outros artistas, parece querer ser incansavelmente comparado a seus mestres, mas sem levar em consideração que esses são históricos justamente por suas jornadas pessoais e profissionais. Num dos momentos mais intimistas da noite, por exemplo, quando o quarteto se senta à beira do palco para cantar “Nana Del Caballo Grande”, é impossível não os comparar aos Doces Bárbaros pela fotografia da cena. Referência desavergonhada ou apenas coincidência, o lado positivo é que funciona dentro do proposto pelo grupo.
É possível dividir a apresentação em três atos: o primeiro, mais calmo e intimista, o segundo com suas referências e homenagens, e o terceiro que se assemelha mais às apresentações anteriores feitas pela banda. Explosivos, animados, um verdadeiro carnaval acontecendo em pleno teatro. O público se levantou das poltronas ao som de “Lambe Lambe”, mas ao fim da música pareceu confuso se deveria ou não permanecer de pé. A banda decidiu por eles, engatando a faixa dançante “Meu Paraíso” (Julia Mestre, Arrepiada). Como de praxe, terminaram com “Baile de Máscaras”, momento em que os músicos de apoio ganham seu destaque. Para finalizar a apresentação, todo o grupo passeou por entre o público em um cortejo que tornou a noite num ato digno da história de “SIM SIM SIM,” cujo processo criativo deu-se em plena pandemia, mas vislumbrando um futuro em que festa e felicitações seriam possíveis. Resta aguardar que o próximo álbum nos traga tão gratas surpresas como foi a estreia do grupo.
– Bárbara Moreira é fotógrafa. Conheça seu trabalho em https://eusoubabs.myportfolio.com/work
Essa banda, junto com marina sena é uma das coisas mais hypadas sem merecimento que já vi. Lembro de um show em Copacabana. Na saída uma moça negra num grupo comentava: fui só eu ou esse show de uma hora pareceu demorar três? Nos viramos e rimos concordando na hora. Típica banda zona sul carioca cheia de gratiluz