introdução por Diego Albuquerque
Buguinha Dub é um nome que remete e mantém as tradições dos MCs jamaicanos, os toasters. Um mago por trás dos pick ups, mestre dos vinis, quando não está tocando, Buguinha está adubando algo em seu estúdio. Em 2009, ele debutou com “Vitrola Adubada” e, após dois álbuns fazendo remixes para outros artistas (entre eles “Futuro”, de 2020, fruto da parceria com o BaianaSystem), agora retorna com “Aduba Duba Dub”, o quarto álbum da sua carreira.
“Aduba Duba Dub” foi produzido no esquema tradicional do reggae jamaicano, com o uso de uma banda de estúdio para criar os riddims que seriam alterados pelo mestre Buguinha. A banda, formada por músicos envolvidos com a cena pernambucana de reggae e outros estilos, é tão boa que Buguinha batizou de Yorujah (conexão entre as palavras Iorubá e Jah): Dudu Lemos (Mikahreggae), Erick Amorim (Caravana do Reggae), Ewerson Selector (Vietcong Promotion), João Falcão (Bantus Reggae) e Samuel Negão (Faces do Subúrbio).
Entre a gravação e o processo de produção, Buguinha dedicou quatro anos para, além de dar suas adubadas, se conectar com outros artistas parceiros do selo RockersTime, responsável pelo laçamento, que vieram a somar nos singles e nos sons do álbum. Segundo Ewerson Selector, batera da Yorujah, uma das características marcantes do disco é o timbre alcançado pela banda e por Buguinha. “Um som redondo e suave, nada agressivo. O grave bem suave, que você sente e entende a mensagem de acordo com o que tá tocando na caixa”, comentou.
Lançado no final de abril em todos os streamings (ouça no seu favorito aqui), o faixa a faixa chega agora porque procuramos ouvir o máximo de artistas envolvidos no projeto. Dá o play nas pedradas e saca o papo massa abaixo. E como diz o grande Buguinha, celebrai!
01) “Olhe o Mar” – Buguinha Dub, Joana B e Neguedmundo
Buguinha: Essa música foi inspirada em uma imagem vista por mim na beira da praia perto de casa aqui em Olinda. O barulho das ondas parecia um sorriso da natureza, uma benção. Por isso, o verso diz: “Olhem o Mar! Ri, é as ondas!”. Na mix, me inspirei numa pegada mais rockers, onde Neguedmundo chegou com sua poesia complementando a música e a melodia doce de Joana B.
02) “One Drop Style” – Buguinha Dub e Marina Peralta
Jah Leo (produtor): A conexão entre Buguinha Dub e Marina Peralta começou através da masterização do primeiro disco da cantora, intitulado “Agradece” (2016). A partir daí, surgiu a ideia de convidá-la para o projeto e ela logo topou.
Buguinha: Fiz inicialmente duas versões, uma clean e outra mais adubada com muitos efeitos, delays e reverb. Logo de cara, a versão adubada foi a escolhida.
Marina: Essa track foi inspirada naquele dia que você acorda e logo dá um play no reggae, movimentando positivamente o dia, dando aquele ânimo. Eu, sempre com minhas crias nos braços, prontas pra enfrentar o mundo. A ideia é enaltecer o estilo rub a dub e os laços sinceros de afeto que construímos na vida.
03) “One Drop Style Adubado” – Buguinha Dub e Yorujah
Buguinha Dub: A versão adubada do single com Marina Peralta. Adubar uma faixa é tipo caldo de cana, sai ali naquele momento e instante. Você vai remixando, adicionando efeitos, delays e reverb no som e uma nova faixa surge e ela é única. Cada mix apresenta uma versão diferente do som.
04) “Recife” – Buguinha Dub e Red Lion
Jah Leo: Esse foi o primeiro single deste projeto e traz uma mixagem inspirada no reggae pop.
Red Lion: Eu tinha ido pra Recife por motivos familiares e dei um salve no Jah Leo. Por coincidência tinha um baile do Leão Conquistador no dia em que eu ia pousar em Recife. Durante a sessão, o Jah Leo me disse que no dia seguinte teria sessão com Buguinha. A viagem já estava numa vibe insana. Desci do avião, passei na praia de Boa Viagem, depois fui no shopping e comprei uma camisa do Sport e segui direto pro baile. No dia seguinte, rolou um café da manhã especial nordestino e pegamos o Uber para o estúdio do Buguinha. No caminho já fui escutando a gravação demo do riddim e mentalizando a letra. Quando caí no estúdio, todo esse rolê me inspirou a escrever “Recife”, um lugar que fica fácil ser feliz.
05) “Aduba Duba Dub” – Buguinha Dub e Yorujah
Dudu Lemos (guitarra do Yourujah): Acho esse som muito especial, todos são, mas essa faixa foi muito especial porque surgiu no final da gravação do disco. A gente já tinha terminado de gravar praticamente e tinha um tempinho no estúdio e resolvemos aproveitar para criar alguma coisa e assim que surgiu a linha de baixo do João, eu já achei lindo. Aí quando cada um foi colocando seus instrumentos, ficou mais bonito ainda.
Jah Leo: Uma das faixas instrumentais do disco, apresenta a pura definição das versões adubadas do Buguinha Dub. Música para todos os momentos, “Aduba Duba Dub” apresenta um ritmo relaxante, dinamizando o ritmo intenso do disco.
06) “Sweet Dada” – Buguinha Dub e Luiz de Assis
Luiz de Assis (Vibrações): Sempre fui fã do Buguinha, desde que conheci o trabalho dele, me identifiquei. Além de ser do reggae, também é nordestino, o que é um mote pro meu trabalho, a nordestinidade. E quando gravamos nosso segundo DVD ao vivo, em Recife, Buguinha fez a mixagem e foi uma experiência muito massa. A música tem influência dos DJ Jamaicanos, que a gente chamou depois de Mestre de Cerimônias, mas que começou com os toasters lá na Jamaica. E eu peguei essa influência pro estilo de melodia e métrica da letra, o raggamurffin. E a letra é uma declaração de amor a Djah e uma chamada ao renascimento, numa melhora de conduta. Eu também faço paralelos entre guetos, falando do Sururu de Capote, periferia aqui de Maceió, e o soweto e o Bronx.
07) “Sweet Dada Adubada” – Buguinha Dub e Yorujah
Jah Leo: Essa é mais uma chance de viajar pelo universo adubado do Buguinha Dub com a versão dub de “Sweet Dada”. Efeitos, reverb e delay para produzir uma música que é feito caldo de cana, sai na hora.
08) “Every Thing We Need” – Buguinha Dub e Natto
Jah Leo: Fiz a ponte de Buguinha com Natto. Anteriormente, o meu selo RockersTime havia lançado um vinil 7” do cantor português com o single “Love”. Assim que Natto ouviu o riddim, logo improvisou alguns versos que deram origem a “Every Thing We Need”. A música é cantada no mesmo riddim que “One Drop Style”, mas diferentemente traz uma mix mais roots, com muitos elementos orgânicos.
Natto: É uma música de agradecimento, ao Buguinha, ao Djah Leo e a todos os que providenciam recursos para fazer a música. Além disso, é uma mensagem especial para aqueles que, às vezes, apenas pedem ao Universo, mas não agem para que seus objetivos aconteçam. Então, a mensagem que fica é que devemos agradecer, correr atrás dos nossos objetivos e não dar nada por garantido. O objetivo é criar uma mensagem positiva, para fins positivos, com uma grande mensagem de amizade, amor e confiança.
09) “Every Thing We Need Adubada” – Buguinha Dub e Yorujah
Jah Leo: Seguindo a máxima do reggae de produzir versões dub para o singles cantados, “Every Thing We Need” é a versão composta por Buguinha Dub.
10) “Oh Linda” – Buguinha Dub e Yorujah
Jah Leo: Última faixa e segunda instrumental do disco, um riddim tranquilo, lembrando um rolê pelas ladeiras de Olinda. O som é a despedida deste primeiro álbum, deixando o terreno preparado para mais lançamentos no futuro.
Diego Albuquerque é criador do blog de música brasileira Hominis Canidae, um dos maiores depósitos de discos brasileiros da última década, com diversos lançamentos, discos antigos