texto por Homero Pivotto Jr.
fotos de Billy Valdez
Ao passo que a “The Beast Ressurrection Tour” avança pelo Brasil, o vocalista Paul Di’anno vai deixando para trás um fantasma que ameaçou assombrar a sequência de 31 shows agendados entre fevereiro e março deste ano. E, neste caso, não seria o da ópera, personagem que “The Beast” — como é conhecido o cantor — evoca no clássico ‘Phanton of the Opera’, do Iron Maiden. Mas sim o de amargar performances ruins, como foram as do começo da gira que marcou seu retorno aos palcos depois de oito anos afastado por problemas de saúde (principalmente a primeira, em Fortaleza).
Na apresentação de Porto Alegre, o músico inglês que gravou os dois primeiros álbuns com a donzela de ferro mostrou-se confiante e à vontade para soltar a voz da melhor maneira possível, considerando-se que falamos sobre um senhor de 64 anos que experimentou os excessos do rock por décadas. O evento, realizado dia 23 de fevereiro no Teatro CIEE (com capacidade para 435 pagantes), reuniu um bom público (a assessoria foi questionada, mas não informou, até o momento, o número exato de pessoas) para ver um Paul Di’anno contente em voltar à ativa desfilando músicas do conjunto que o tornou famoso mundialmente.
Electric Gypsy e Noturnall estão responsáveis por abrir os trabalhos em todas as datas, e assim o fizeram na capital gaúcha. São músicos desses grupos que formam a banda de apoio da atração principal, inclusive. A saber: o cigano elétrico Nolas e Leo Mancini (guitarrras), Saulo Xakol (baixo) e Henrique Pucci (bateria) — os três últimos da Noturnall.
Segundo Paul, a digressão que ele protagoniza atualmente é a maior já feita por um músico gringo na terra do Carnaval. Também conforme o artista, isso torna o trabalho exaustivo — ainda mais para alguém que operou os joelhos há pouco —, porém recompensador. “Os médicos dizem que vocês são meu melhor remédio”, confessou Di’anno aos admiradores que o assistiam, em certa altura do concerto.
Antes de Paul começar a tocar, o escritor e jornalista croata Stjepan Juras, um dos responsáveis por cuidar de Paul nos últimos anos e autor de um livro sobre o ídolo, fez um pronunciamento. Em sua fala, reforçou a importância de o público consumir o merchandising oficial que está sendo vendido nos eventos. É a renda desse material que, diz Stjepan, vai ajudar na continuidade do tratamento para que Paul não precise mais usar cadeira de rodas.
Previsto inicialmente para às 22h, o show de The Beast começou às 23h15min. A instrumental ‘The Idles of March’ anunciou um setlist composto só de composições do Maiden. A primeira foi ‘Wrathchild’, em que Paul deixou algumas partes para a plateia cantar. A sequência veio com ‘Sanctuary’, ‘Murders in the Rue Morgue’ e ‘Remember Tomorrow’. Esta última dedicada ao antigo colega de Maiden, o baterista Clive Burr, morto em março de 2013, pouco antes de Paul excursionar pelo Brasil em sua suposta última tour.
Fazendo piadinhas e brincando com a galera, o corinthiano assumido apostou em seu humor britânico nalgumas ocasiões. Em uma delas, deixou a banda tocando o instrumental ‘Genghis Khan’ e anunciou que ia para o lado do palco fumar, já que no espaço principal do local não era permitido. Enquanto estava sendo empurrado pela equipe para dar uma pitada, bateu os braços, como se voasse, e deu um sorriso maroto. Sem medo de forçar a voz, Paul entoou ainda ‘Killers’ ‘Charlotte the Harlot’ e Phanton of the Opera’. Em ‘Running Free’, o veterano contou com participação do frontman Guzz Collins, da Electric Gypsy, no vocal de apoio. Para fechar a apresentação, tivemos ‘Prowler’ e ‘Iron Maiden’ com seus versos ameaçadores (well, wherever / wherever you are / Iron Maiden’s gonna get you/ no matter how far)..
Apesar das polêmicas e da situação em que se encontra, o velho Di’anno ainda tem relevância e se esforça para comprovar isso ao vivo. Fora isso, o homem segue trabalhando em novo projeto chamado Warhorse e mencionou que deve fazer mais shows no Brasil em breve. Quem se incomoda com isso, que corra para as montanhas.
Abertura
A primeira banda da noite foi a Electric Gypsy, de Belo Horizonte. Com presença de palco e boas composições, o quarteto apresentou aos gaúchos um hard rock influenciado por Van Halen e Mötley Crüe. Inclusive, tocaram versões desses artistas: ‘Hot for Teacher’ e ‘Kickstart my Hear’, respectivamente. Pelo lado autoral, ouvimos temas como ‘Heads or Tails’ e ‘Devil Made Me Do It’.
Em seguida, a Noturnall, de São Paulo, assumiu o palco para trazer seu metal progressivo com elementos de vários subgêneros dos sons pesados. Performático, o quarteto fez o público levantar das cadeiras com faixas como ‘Reset the Game’, ‘Fight the System (que teve trechos de ‘Capítulo 4, Versículo 3’ e ‘Diário de um Detento’, dos Racionais MC’s) e ‘Scream! For! Me!’ (escrita pelo baterista estadunidense Mike Portnoy, do Sons of Apollo e ex-Dream Theater). Rolou também uma releitura para ‘Thunderstruck’, do AC/DC.
A turnê de Paul Di’anno segue em frente Brasil afora. Ele ainda irá se apresentar em Limeira (25/02), Santos (26/02), Boa Vista (28/02), Manaus (02/03), Belém (03/03), São Luis do Maranhão (04/03), Teresina (06/03), Juazeiro do Norte (07/03), Natal (08/03), João Pessoa (10/03), Maceió (11/03) e Aracajú (12/03). Informações de locais e ingressos aqui.
– Homero Pivotto Jr. é jornalista, vocalista da Diokane e responsável pelo videocast O Ben Para Todo Mal.