texto por Bruno Lisboa
fotos de Alexandre Biciati
Pitty e Nando Reis construíram suas carreiras em momentos distintos do rock nacional. Por mais que estamos falando sobre o mesmo gênero musical, o contexto político social entre as décadas de 80 e o início dos anos 2000 diferem de maneira de substancial em diversos segmentos como público consumidor e mercado fonográfico. Talvez por esses fatores (entre outros) é tão raro ver parcerias que envolvam artistas de décadas distintas promovam o diálogo / aproximação de suas trajetórias.
Porém, quando ambos anunciaram que percorriam o país em uma turnê conjunta, estando no palco juntos durante toda a performance, muitos fãs ficaram curiosos em como se daria essa parceria. A iniciativa nasceu a partir do momento em que Nando viu Pitty cantando uma versão para “Relicário” no Programa Saia Justa. A partir daí surgiu o desejo de fazer algo juntos. Dessa vontade veio a primeira parceria formalizada através do single conjunto “Tiro no Coração”, lançado em 2021, e, na sequência, essa turnê conjunta.
Após debutar a turnê no Festival João Rock em Junho, a dupla fez uma série de apresentações pelos eixos Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-oeste. No dia 01 de novembro foi a vez de Belo Horizonte conferir o resultado. O show foi realizado no Expominas e reuniu dezenas de milhares de pessoas, naquele que seria, até então, o maior público da turnê intitulada “As suas, as minhas e as nossas”.
Com um pequeno atraso, em virtude de problemas externos ligados a entrada do público, Pitty e Nando subiram ao palco acompanhadas por um big band formada por músicos de apoio de ambas as partes formada por Martin Mendonça (guitarra), Felipe Cambraia (baixo), Daniel Weksler (bateria), Alex Valey (teclados) e Paulo Kishimoto (lap steel e percussão). O set composto por 16 canções promoveu nostalgia ao ser pautado por hits, mas ainda assim trouxe algumas surpresas como a faixa inédita, “PittyNando”, utilizada para a abrir a apresentação.
De forma geral, a apresentação adotou um formato inusitado ao apostar num mashup entre as canções. Essa escolha fez com que algumas delas fossem repaginadas e ganhassem ares mais pesados. Principalmente as do repertório de Nando Reis. Tal direcionamento em muito se dá pelo fato de que a cantora baiana é a responsável pela direção musical da turnê junto a Kishimoto.
Outro destaque foi o apelo visual da apresentação que apostou alto em luzes, projeções e o uso de grandes telões. Essa soma de fatores acabou por criar um cenário digno dos shows de grande porte. De início, a junção de faixas distintas como “Admirável Chip Novo / Do seu lado” e “Memórias/ Me diga” soaram estranhas em termos de arranjo e temática, mas à medida que a apresentação avança a dinâmica funcionaria melhor como em “Te conecta / Marvin” e “Máscara/ Não vou me adaptar”.
De fato, os grandes momentos do show foram aqueles em que suas vozes foram alternadas, no qual Pitty assumiu o protagonismo nas canções de Nando e vice-versa como se viu em “Cegos do Castelo” (gravada no “Acústico MTV”, do Titãs), “Déjà Vu” (presente em “Anacrônico”, de Pitty), “Resposta” (faixa de Nando eternizada pelo Skank) e “Me adora” (hit do álbum “Chiaroescuro”).
No bis vieram “O segundo sol” e mais um mashup bem-sucedido entre “Mantra / Serpente” colocando ponto final numa apresentação enérgica que foi correspondida pelo público, mostrando que apesar do não estar ocupando o protagonismo mercadológico de outrora, artistas de rock conseguem promover encontros e iniciativas capazes de mobilizar multidões.
– Bruno Lisboa escreve no Scream & Yell desde 2014. Alexandre Biciati é fotógrafo: www.alexandrebiciati.com