A nova temporada de O Ben para todo mal

por Homero Pivotto Jr.

Esses tempos vi um post do pai do Martín, mais conhecido como Marcelo Costa, editor deste nobre portal sobre cultura pop brasileira. Era uma citação de Jeff Tweedy, vocalista do Wilco. A banda do referido músico não é lá tanto do meu agrado, mas a reflexão que ele provocou bateu forte – ainda mais amplificada pelo ato de o Marcelo, a quem respeito, ter a usado nas redes sociais. O trecho em questão faz parte do livro “Vamos Nessa (para Podermos Voltar): Memórias de Discos e Discórdias com o Wilco, Etc. (Volume 1)”, escrito pelo cantor, e faz referência ao nascimento do seu primeiro filho, Spencer. Diz (mais ou menos) o seguinte: “Eu não estava pronto para amar alguém mais do que eu amava a música. E, de repente, lá estava ele nos meus braços”. Curtir um som, para muitos, envolve muito mais do que audição. É uma forma de se relacionar e se conectar com o mundo por meio de referências, memórias e simbolismos que nos tocam a alma. E dividir essa paixão nem sempre é fácil.

Meio que tentando agregar, não dividir, esses dois amores — música e filhos — pari a ideia d’O Ben para todo mal, uma série de entrevistas em vídeo que aborda pessoas do meio musical para falar sobre prole e sons. O parceiro e diretor Sérgio Caldas — que conheci em razão de bandas com as quais dividimos inferninhos por aí —, da Subverse Filmes, adotou a ideia e ajudou a gestar a empreitada. Primeiramente, a intenção era ter uma produção online, veiculada no Youtube. Porém, o projeto foi parar também no canal Music Box Brazil. É com foco nesse espaço televisivo que partimos rumo a uma nova temporada.

Para criar essa nova fase, temos a colaboração dos brothers Luigi Rockero — outro truta antigo do circuito underground — e Vini Lima, nas filmagens e captação de áudio, respectivamente.

Assim como criança que se desenvolve e quer ganhar o mundão, também estamos saindo do cercadinho. Durante o mês de agosto, estaremos em São Paulo para filmar papos com artistas e jornalistas culturais ligados à arte das sete notas.

Negra Jaque gravando “O Ben para todo mal”

Antes, porém, já rodamos dois bate-papos em Porto Alegre, terra onde reside a equipe. Um deles com a rapper, ativista, pedagoga e mãe do Erick (15 anos), Negra Jaque. Outro com Antônio Carlos, mais conhecido como Tonho Crocco, vocalista da Ultramen e pai dos gêmeos Martina e Santiago, de quatro anos.

Jaque abriu o coração e nos contou, entre tantas outras coisas, situações pelas quais precisa lidar uma mãe preta que não deixa de lado seus sonhos. Do racismo à incerteza sobre conseguir colocar comida no prato, realidade tristemente comum para quem escolhe ser artista num país que alimenta o descaso pela própria cena cultural. Jaque nos recebeu no Galpão Cultural Casa de Hip Hop, no Morro da Cruz, espaço criado por ela para desenvolver atividades artísticas como forma de educação e desenvolvimento.

“Eu tenho de criar uma criança consciente, não iludida. Criar alguém que consiga correr atrás das próprias coisas e que, mesmo às vezes cansado e precisando parar, no outro dia consiga com que aquele corpo preto que então repousa tenha força para mais um dia”, revelou Jaque.

Tonho Crocco se preparando para gravar

Já Tonho falou sobre a surpresa em saber que, de primeira, já teria duas bocas para sustentar e de quão satisfeito está com a paternidade. Na conversa, que rolou no Mondo Cane, bar no bairro boêmio Cidade Baixa, ele também abordou o compromisso que tem consigo mesmo em tentar passar o gosto pela música às crianças, bem como a peleia que é cuidar de dois pequenos com mesma idade e personalidades distintas.

“Hoje eu vejo que é diferente ser pai de uma criança, menino ou menina, e ser pai de um casal. Tem de estar diariamente explicando e ensinando coisas que valem para os dois. Numa época de ambiguidade, de liberdade de expressão. É desafiador”, avalia Tonho.

Eu sigo contente com a chance de filmar fora de casa para esse projeto pelo qual tenho apego paternal. Porém, tentando lidar com o fato de que estarei ausente, pela primeira vez nos seis anos do Benjamin, no Dia dos Pais.

Deveras, é complicado, Tweedy.

– Homero Pivotto Jr. é jornalista, vocalista da Diokane e responsável pelo videocast O Ben Para Todo Mal.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.