Literatura: “Aldobrando” é HQ de temática medieval que diverte, apesar dos clichês

por Leonardo Tissot

“Aldobrando” (Nemo) é um quadrinho italiano do roteirista Gipi (de “Uma História” e “A Terra dos Filhos”) e do artista Luigi Critone (publicado pela primeira vez no Brasil) que conta a história de — tome fôlego — um jovem órfão enviado pelo mago que o criou para buscar uma planta capaz de curar seu olho, após ser arranhado por um gato que não se deixou ser usado em um feitiço. No entanto, a história vai muito além dessa busca.

Acusado de atacar o príncipe de Due Fontane e deixá-lo entre a vida e a morte, Aldobrando é preso, mas faz amizade com a jovem princesa do reinado, Bianca — o que acaba também não sendo uma boa para ela, que é filha e esposa (você leu corretamente) do rei Brudagone Delle Due Fontane.

Comparada a “Dom Quixote”, a HQ também tem um quê de “Davi e Golias”, com um jovem franzino que precisa superar obstáculos para provar sua inocência — um incestuoso rei almofadinha, seus lacaios e até mesmo outro jovem aproveitador — e, o mais importante de tudo, permitir que seu mestre receba os cuidados necessários.

Quando a história parece que vai degringolar, o surgimento de um casal de personagens — o forte guerreiro (e foragido do reino) Beniamino e a escrava e confidente da princesa, Viola — ajudam a integrar Aldobrando de volta à ação. A partir daí, a saga do improvável herói ganha fôlego — e tem seu clímax em uma batalha que pode custar a coroa aos perdedores.

Lançada em 2020 lá fora, “Aldobrando” chegou em 2022 ao mercado nacional. Em pouco mais de 200 páginas, o quadrinho encanta mesmo a quem não é muito chegado em contos medievais ou de fantasia. Os diálogos concisos e bem sacados de Gipi (com tradução de Renata Silveira) tornam a leitura fácil e agradável. A sinergia com a arte elegante e cristalina de Critone torna tudo ainda melhor.

Apesar da temática já meio desgastada e até com alguns clichês, “Aldobrando” é um quadrinho que enche os olhos tanto pela qualidade da arte — a colorização por aquarela é um dos pontos fortes do livro — quanto pelo ritmo ágil do roteiro.

É o tipo de gibi que nos ajuda a esquecer os problemas da vida e que nos transporta para uma realidade paralela e divertida, sem ofender a inteligência do leitor. Em resumo, uma excelente companhia para uma manhã de domingo.

Embora não tenha sido premiado, “Aldobrando” integrou as seleções do Grande Prêmio da Crítica da ACBD e do Fauve de Ouro do Festival de Angoulême, ambas em 2021.

– Leonardo Tissot (www.leonardotissot.com) é jornalista e produtor de conteúdo

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