Ao vivo: Young Lights e Far From Alaska celebram noite de guitarras altas em BH

Texto e fotos por Alexandre Biciati

É bem verdade que o rap tem alçado grandes e merecidos vôos e feito a cabeça da atual geração consumidora de música, se consolidando como o estilo mais fértil da atualidade. Também é verdade que a música pop tem inundado todo e qualquer estilo musical – do tecno ao carimbó – promovendo uma profusão de músicas palatáveis, dançantes, melodiosas e cantantes que dão a tônica dos festivais. Isso não significa que o rock não mantenha uma cena forte de pé, com bandas que desafiam até mesmo as fronteiras do idioma, e prova disso foram os show de Young Lights (BH) e Far From Alaska (Natal) que fizeram a dobradinha na Autêntica em Belo Horizonte no último sábado de maio.

O Young Lights é formado por Jay Horsth (voz e piano), João Pesce (baixo), Bruno Mendes (bateria), Matheus Fleming (guitarra) e Henrique Corrêa (guitarra). Fazem indie rock com claras referências ao pós-punk e new wave e impressionam pela qualidade musical e performance ao vivo. Jay Horsth é quem puxa o carro. O vocalista demonstra conexão com a obra a cada música que interpreta com muita energia e uma voz carregada de sentimento. É natural que sejam dele a maioria das ideias de composição do grupo, que iniciou como projeto solo em 2013.

Jay mencionou mais de uma vez a saudade que estavam de tocar ao vivo após dois anos e meio afastados dos palcos e a banda tocou músicas do disco “Somewhere Between Here and Now”, que foi lançado durante a pandemia, e outras do álbum homônimo de 2017. Do trabalho mais antigo não ficou de fora “Chasing Ghosts” que fez parte da trilha sonora da novela “Um Lugar ao Sol”, da Rede Globo. Ainda de “Young Lights” (2017) marcaram presença “Understand, Man” e “Strangely Intimate”.

Nas pausas, Jay Horsth, comunicativo, convidava a plateia a dançar e antecipava o mood da próxima canção. Lá pela metade do show o assunto e os olhares eram de total aprovação e era possível ouvir de tabela comentários impressionados sobre o som da banda. Do disco “Somewhere Between Here and Now” veio a maior parte do show: “Pills”, “When You Were Here”, “Down River”, “Dancing To a Love Song”, “Your Gun” e “If I Only Had One from the Start” foram as escolhidas para o setlist na Autêntica.

Durante toda a apresentação, Jay dançou e pulou muito. Não satisfeito, desceu para a pista e convidou a platéia para pular junto. A apresentação foi marcada por essa química entre banda e público e soou como um alento para aqueles que adoram assistir a uma banda de rock com características autênticas ao estilo, que bebe em fontes respeitáveis e que detêm uma assinatura moderna. O registro vocal de Jay Horsth impressiona, assim como o profissionalismo da banda que o acompanha. Um show que paga o lineup de qualquer festival.

Na sequencia, detentores de sólida notoriedade e representantes do stoner rock, o Far From Alaska fechou a noite com um show empolgante e divertido. Abriram com “Thievery”, petardo que abre também “Modehuman” (2014) e o refrão foi cantado em coro, trazendo ao cabo “Another Round”, do mesmo disco. Emmily, que impressiona pela potência vocal e domínio técnico, tomou conta do show. Por vezes visitou a beira do palco e os companheiros de banda, Cris Botarelli (synths, baixo e lapsteel) e Rafael Brasil (guitarra), que pouco saíram das posições.

Embalados pela voz rasgada da vocalista, o público da Autêntica se jogou. Do palco, inclusive. Além das rodas de mosh na pista, a nova casa registrou seus primeiros stage-dive (!). O show seguiu com músicas do álbum “Unlikely” (2017), (quase) todas batizadas com nomes de animais: “Bear”, “Flamingo”, “Pig” (a mais pop delas), “Elephant”, “Monkey”, e “Pizza”. Ainda intercalaram “Politiks” e dois singles: o cover de Bob Marley “Iron Lion Zion” (2018) e “How Bad Do You Want It” (2019).

As longas pausas entre as músicas poderiam ter sido melhor administradas, mas não foram suficientes para esfriar o show. Uma delas, inclusive, rendeu uma grata surpresa. Rafael e Cris ensaiaram a introdução de “Mantenha o Respeito” do Planet Hemp e a brincadeira virou uma jam de “This is Love” de Bob Marley. O Far From Alaska fechou o set com “About Knives” e os hits “Dino vs Dino” e “Cobra”. A formação do trio e bateria se mostrou coesa fazendo um som cheio graças, principalmente, ao talento individual dos instrumentistas.

Talvez fazer rock em 2022 soe como contrafluxo, mas basta um show desses para deixar claro que existe sim um público cativo e sedento por músicas carregadas de peso e atitude em compasso 4 por 4. Temos nesse grande balaio, que convencionou-se chamar de indie rock, um sem número de bandas que fazem rock nu e cru, cada qual com seu tempero. E que bom que os palcos estão abertos pra quem gosta do veneno!

– Alexandre Biciati é fotógrafo: https://www.alexandrebiciati.com/

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