Ao vivo: Metallica promove noite inesquecível na “casa” do Sepultura

Texto e fotos por Alexandre Biciati

O Metallica encerrou a WorldWired Tour 2022 em Belo Horizonte. Diante de uma plateia mais que ansiosa – devido ao adiamento de 2 anos do show devido à pandemia – o Metallica, uma das maiores bandas clássicas de heavy metal na ativa, não tirou o pé, muito pelo contrário. James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e Robert Trujillo fizeram um show intenso e com peculiaridades que dão a esse fechamento de turnê um caráter de exclusividade. Daqueles shows para contar para o resto da vida: eu estava lá.

Como em todo evento dessa magnitude, a faixa etária da plateia variava de crianças assistindo ao primeiro grande show de rock à septuagenários que, adultos, viram a banda nascer em 1981. De certa forma, no palco também vimos bandas de gerações bem distintas. Ao lado do Metallica, Ego Kill Talent e a moçada do Greta Van Fleet fizeram apresentações de abertura honestas dentro dos limites técnicos e do tempo dedicado a elas.

Ego Kill Talent subiu ao palco pontualmente às 18h30 para um show que surpreendeu a maioria dos presentes que não conheciam suas músicas. Não bastou muito para que surgissem comentários positivos sobre o som e performance dos brasileiros. Cantando em inglês, Jonathan Dörr se mostrou um frontman com todas as qualidades que uma banda precisa para além da boa voz: presença de palco e carisma.

Revezando a bateria com Raphael Miranda – o que é um diferencial nas formações tradicionais – Jean Dolabella, velho conhecido dos Belorizontinos, certamente viveu um momento especial tocando diante dos amigos e familiares. Jonathan fez questão de agradecer nominalmente ao Metallica pela turnê antes de deixarem o palco. O show do EKT só deixou a desejar pela restrição de som. É perceptível como o punch da banda pede mais volume.

A balizar pela sonoridade e estética, a Greta Van Fleet parece mesmo ter saído dos anos 70. Muito comparados por tais características às bandas clássicas do hard rock, os já não mais meninos do Greta fizeram um show dedicado mas pouco empolgante. As músicas com solos enormes e o excesso de agudo vocal pareciam incompatíveis com a expectativa extrema de quem estava ali para ouvir a porrada da banda de Hetfield.

A turma só sacudiu mesmo a partir da introdução do hit definitivo da banda “Highway Tune”. Se cabe uma avaliação do repertório apresentado, Daniel Wagner e os irmãos Kiszka parecem presos num purgatório onde miram a construção de uma identidade musical sólida, mas ainda estão presos no lamacento mergulho das influências.

Nos intervalos entre os shows rolaram clássicos do rock pesado, mas num volume tão baixo que era difícil reconhecer e em nada empolgava ou contribuía para o clima do evento. Barulho mesmo veio das arquibancadas e nada tinha a ver com o Metallica. Era gol do Cruzeiro que se classificaria na Copa do Brasil e provocou a euforia de pelo menos metade do Mineirão. O fato acabou quebrando o silêncio e o tédio da espera que poderia ter sido feito de modo mais habitual pela produção, bastando aumentar o volume da música ambiente.

Com atraso de aproximadamente 10 minutos deu início “It’s Long Way to the Top” do AC/DC que marca o início do show do Metallica. Pela primeira vez fizeram bom uso do som disponível no estádio. A banda entrou no palco e daí em diante o que se viu e ouviu foi um espetáculo acima de qualquer expectativa. Para entender o impacto do show bastava reparar a feição do público que era de sorriso e admiração. Vantagens de sentir a energia que pulsa na pista em detrimento ao confortável pit dedicado aos fotógrafos da banda. E por falar em pit, a banda dispensou o famoso snake pit optando pelo palco tradicional com grade de sobra para bater cabeça.

O cenário do palco era uma parede de pé-direito altíssimo cobrindo toda extensão, formada por telas de resolução impressionante onde eram exibidos vídeos temáticos e muito bem produzidos a cada música. Nas extremidades, as letras “M” e “A” do logotipo mais moderno do Metallica de onde subiam labaredas que também dançavam pelo fundo e laterais do palco fazendo deste um show de luzes, lasers e fogos de artifício que em momento algum pareceram exagerados ou desproporcionais.

O show teve início com “Hardwired” ao invés de “Whiplash” que abriu os demais shows na América do Sul (saiba como foram os shows em Porto Alegre e em São Paulo). Ainda durante a primeira música, um incidente atrapalhou quem estava à frente do palco. Diante do microfone central, se formou uma confusão por causa de um indivíduo transtornado que provocou briga – coisa que fazia tempo que não via num show de rock. O episódio foi resolvido com a retirada do elemento pelos seguranças que agiram imediatamente.

Na sequência, “Ride the Lightning” e “Whatever I May Roam” visitando os álbuns clássicos de 84 e 91 dando a tônica do setlist. Dez das dezesseis músicas do show foram dos dois discos. De “Ride the Lightning” o Metallica tocou também “For Whom The Bell Tolls”, “Creeping Death”, “Fade to Black” e “Fight Fire With Fire”. Do “Black Album” ainda rolaram “Sad but True”, “The Unforgiven” e, na sequência final, “Nothing Else Matters” e “Enter Sandman”. Isso prova o peso de ambas as obras na discografia do Metallica, verdadeiras coletâneas de músicas que funcionam muito bem em arena.

James Hetfield foi algumas vezes ao microfone interagir com o público e numa delas lembrou que estavam tocando na cidade natal do Sepultura, banda com quem dividiram palco muitas vezes em turnês mundo afora. Anunciou então uma música do álbum “Kill ‘em All” e deu início às guitarras de introdução de “Seek and Destroy”. No telão, imagem de um cartaz de turnê mostrava o nome de ambas as bandas. Certamente uma emoção extra para Paulo Xisto Jr. e Jairo Guedz (que já teve uma banda cover de Metallica e hoje lidera a banda autoral Troops of Doom) que assistiam ao show da pista.

O momento mais inédito do show também aconteceu em off. Antes de introduzir “Sad But True” à capela, James fez discurso de coração aberto sobre os episódios de luta contra o alcoolismo severo, que o afastaram da família e da banda, e que começou por volta de 2004 quando decidiu procurar ajuda e, após várias recaídas, parece ter chegado ao fim. Ele agradeceu aos amigos de banda pelo apoio e ressaltou a importância de não estar sozinho em situações como esta: “se estou no palco agora é por causa deles”. James foi correspondido com um abraço coletivo da banda ficando nitidamente emocionado e emocionando a todos.

A banda ainda tocou “Moth Into Flame”, a balada “One” com uma introdução literalmente explosiva, “Cyanide” do álbum “Death Magnetic” e o clássico dos clássicos “Master of Puppets” de 1986.

Ao final do show a banda parecia não querer sair do palco. A luzes acesas e em meio a uma chuva de palhetas arremessadas ao público, comemoraram o final de mais uma turnê. Belo Horizonte, que muitas vezes fica fora do circuito de mega shows, esperou muito, mas teve a sorte de receber o Metallica logo no show de encerramento. Um show intenso e emocionante em vários aspectos e um encontro que esperamos deixar saudade a ponto de promover um próximo show na capital mineira.

– Alexandre Biciati é fotógrafo: https://www.alexandrebiciati.com/

5 thoughts on “Ao vivo: Metallica promove noite inesquecível na “casa” do Sepultura

  1. Matéria impressionante, registrou de maneira ímpar todo evento….m e senti como se estivesse lá….fotos incríveis!!!! Meus parabéns!!!! Sucesso sempre!!!!!!

  2. Matéria fantástica! Me senti dentro do evento! Fotos perfeitas! Trabalho incrível!!!! Parabéns Alexandre Biciati!!

  3. Excelente matéria e fotos espetaculares! Dignas da noite do show. Me senti revivendo a noite de quinta, com tantos detalhes e informações novas. Parabéns pela matéria e pelas fotos, Alexandre! Que venham mais grandes shows!

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