Ao vivo: Lamparina e Francisco, el Hombre promovem festa vermelha na reabertura da Autêntica, em BH

Texto e fotos por Alexandre Biciati

Lamparina e Francisco, el Hombre se apresentaram no segundo dia de shows que celebram a reabertura da Autêntica, em Belo Horizonte, que agora tem capacidade para 1.200 pessoas em detrimento das 400 que comportavam a antiga casa, uma das mais bacanas da capital mineira. Nesta primeira semana esgotaram os ingressos para os três dias de shows, sendo Tom Zé e Laura Catarina na primeira noite e Marina Sena na terceira.

O novo espaço, um galpão localizado no bairro Santa Efigênia, chama atenção por aspectos técnicos e de funcionalidade que favorecem a experiência dos frequentadores. A exemplo da antiga instalação, a casa prima por um setup de som que impressiona pela qualidade, além de um sistema de iluminação totalmente profissional e muito bem-vindo.

A escolha das bandas desta primeira semana deixam claro qual será a atuação da Autêntica: artistas da nova e tradicional cena com público cativo que emergem do underground e flertam com o mainstream. Nesse ponto, a curadoria acertou em cheio ao colocar no mesmo dia Lamparina e Francisco, el Hombre. As bandas fazem shows muito próximos no que diz respeito a sonoridade e energia e que compartilham o mesmo perfil de público.

O Lamparina, no reencontro com a cidade natal, se deparou com uma plateia afiada cantando a plenos pulmões as letras do novo disco “Zam Zam” (2021) que foi tocado praticamente na íntegra. A banda ainda presenteou os fãs com canções do primeiro álbum “Manda Dizer” (2018), tocando na sequência “Bordaduras”, “Clareava” e “Quando a Saudade foi Embora”.

Temperado com uma verdadeira profusão de estilos musicais que vão do pagodão baiano ao r&b e ritmos como ijexá, coco, maracatu e ciranda, o show do Lamparina funcionou como um abraço aos que tanto esperavam para reviver a experiência da banda ao vivo em espaço lotado. E sem máscaras – a prefeitura de Belo Horizonte desobrigou o uso em locais fechados na mesma semana. E não faltou interação!

Em momento insólito, Cotô Delamarque incitou o público a abrir espaço na pista e convidou Mateo Piracés-Ugarte, da banda Francisco, el Hombre, para se juntar à festa. Em outro, pediu para que o público abrisse um corredor onde promoveu mais um momento de euforia aglomerativa. Os episódios se repetiram no show da Francisco, el Hombre provando a consonância de propostas. O Lamparina encerrou com os hits que fizeram sucesso nas plataformas digitais em 2019, “Não Me Entrego Pros Caretas” e “Pochete”.

E se no show do Lamparina a casa já puxava coro contra o presidente, durante o show da Francisco, el Hombre, reconhecida por colocar os problemas sociopolíticos na mesa, o caldo engrossou de vez. No repertório, uma mistura equilibrada de músicas de todos os discos. O show começou com “Loucura” que abre o trabalho mais recente “Casa Francisco” (de 2021, e um dos discos do ano para a APCA), mas não faltaram as diretas “Bolso Nada” de “Soltabruxa” (2016), e “Arranca a Cabeça do Rei” em homenagem ao presidente. O público ainda entoou “Olê, olê, olê, olá. Lula, Lula” e a banda comprou a ideia tocando junto e fazendo uma verdadeira festa vermelha. E o vermelho ainda voltaria com tudo nas luzes do palco para fechar a noite.

Mateo Piracés-Ugarte elencou motivos para que o show daquela noite fosse especial, dentre eles a reabertura da Autêntica e o aniversário da baixista Helena Papini (que entrou na banda em 2020). Helena que protagonizaria o momento mais emocionante do show ao ser beijada por Juliana Strassacapa (percussão e voz) após cantar a líndissima “Triste, Louca ou Má”, música que, nas palavras de Juliana, se transformou em um hino feminista e se faz obrigatória nos shows da Francisco, el Hombre.

Era nítida a satisfação de banda e público que celebraram juntos esse encontro de forma intensa e com final apoteótico. “Chama Adrenalina”, do segundo disco “Rasgacabeza” (2019), tirou todo mundo do lugar. Na sequência, “Matilha: Coleira ou Cólera”, cujo videoclipe lançado em 2020 acumula mais de 220 mil visualizações no YouTube. Como cereja do bolo, Mateo anunciou a presença da Pataxó Maria Flor Guerreira que participou do vídeo e pediu que abrissem novamente uma roda, transformando a Autêntica em Carnaval. A banda fechou o show com “Chão Teto Parede” botando fogo no palco rubro e acendendo os ânimos de quem pulava junto e respondia à batida.

Quem esteve na Autêntica nesta noite não saiu decepcionado, seja pela experiência do espaço, que promete ser a principal casa do gênero para grande público, seja pela performance pautada na legítima entrega de ambas as bandas. O único incidente ficou a cargo da irresponsabilidade de alguns poucos presentes que insistiram em fumar dentro do recinto, apesar de haver espaço dedicado na área externa, e acionaram algumas vezes o alarme da casa. Fumaças à parte, a noite foi impecável para quem preza pela diversão aliada ao conforto.

– Alexandre Biciati é fotógrafo: https://www.alexandrebiciati.com/

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