Balanço: Dia 2 do Lollapalooza consagra Miley Cyrus e conta com grandes shows de Jup do Bairro e Emicida

Texto por Janaina Azevedo, Marcelo CostaRenan Guerra
Fotos – Divulgação Lollapalooza

DIA 2 – 26 de março de 2022 – Sábado
introdução por Renan Guerra

Saiba como foi o Dia 1 e o Dia 3

Se o primeiro dia contou com chuva e muita lama pelo autódromo, o segundo dia foi marcado pelo sol forte. E a máxima de que mormaço queima nunca se fez tão presente: era comum ver pessoas passando com a pele vermelha, quando se sente a ardência das queimaduras de sol à distância. Muita gente esqueceu de passar protetor ou mesmo de reaplicá-lo durante o dia e quem chegou cedo acabou torrando sob o céu com poucas nuvens.

Com um público notadamente muito maior no segundo dia, o festival conseguiu ainda manter a organização apenas do fluxo intenso do público. As filas nos caixas e nos banheiros era pequena e isso possibilitava uma circulação mais rápida entre palcos e espaços, e isso é fundamental num dia em que a concentração de pessoas era intensa. O fluxo entre palcos no início da noite era de deixar qualquer um zonzo, mas mesmo assim a logística seguiu se mostrando eficaz.

O curioso do segundo dia estava na diversidade do público: entre shows marcadamente pops e outros pro lado do rock mais pesado, foi divertido ver o desfile de looks pelo autódromo. Entre roqueiros clássicos e o look confortável de quem é um aventureiro costumaz de festivais, havia também muitos looks espalhafatosos e cheios e exagero, nos melhores dos sentidos. Couro, látex, pelúcia e plumas eram avistadas em diferentes cantos. Depois de tanto tempo, as pessoas querem novamente desfilar seus looks e parecem cada vez mais livres e ousadas na hora de montar combinações.

Além da diversidade do line-up, os shows do segundo dia foram marcados pelas homenagens a Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighters que faleceu na sexta-feira, aos 50 anos. A mais marcante delas ficou por conta da headliner do dia, Miley Cyrus, que era amiga de Taylor. Miley chegou postar alguns tweets antes do show falando sobre o quanto estava abalada psicologicamente com tudo o que aconteceu nos últimos dias e como esse show seria um momento de força para ela. Veja abaixo como foi o segundo dia do Lollapalooza Brasil 2022.

Terno Rei (BUD 13:05 – 13:50)
por Renan Guerra
Cedinho da tarde e com o sol a pino, a Terno Rei subiu ao palco principal do Lollapalooza, que já estava com sua frente tomada de fãs da Miley Cyrus e que chegaram cedo para guardar seu lugar na grade. De todo modo, os fãs de Terno Rei também chegaram cedo e conseguiram ocupar de forma bonita o imenso espaço desse palco. Mesclando canções do disco “Violeta” e do recém-lançado “Gêmeos” (eles conversaram sobre o disco conosco aqui), a banda paulistana mostrou maturidade em um show redondinho, com força pop bastante latente. Canções como “Dia Lindo”, “Solidão de Volta” e “Vento na Cara” fizeram a plateia cantar em coro. Mesmo assim, destaca-se a força das novas canções da banda, como “Difícil”, “Dias da Juventude” e a beleza que é “Brutal”.

MC Tha (ADIDAS 13:05 – 13:50)
por Marcelo Costa
Dona de um discos mais interessantes da música brasileira recente (“Rito de Passá”, 19º mais votado nos Melhores do Ano Scream & Yell), MC Tha chegou toda de vermelho se apresentando: “Para quem não me conhece, sou MC Tha. Minha música mescla funk com ritmos afro-brasileiros. Sou da Cidade Tiradentes, aqui de São Paulo e estou muito feliz de estar aqui”, avisou a cantora para felicidade de um bom público que sabia todas as letras de cor. No set, faixas como “Comigo Ninguém Pode”, “Valente” e “Coração Vagabundo” ganharam o reforço do apoio dos presentes, mas foi com a percussão brilhante em “Ponto de Iemanjá” que o show começou a se tornar imperdível. Dai pra frente teve “Jorge da Capadocia” (Jorge Ben), “Ciranda Para Janaína” (bastante conhecida em terreiros de Umbanda), “Despedida”, dedicada às vítimas da Covid-19 e a faixa título de “Rito de Passá”, com espaço para encorpar o gripo de “Fora Bolsonaro” e pedir a volta do ex-presidente Lula.

Clarice Falcão (ONIX 13:55 – 14:40)
por Renan Guerra
Clarice Falcão apresentou o um show bastante próximo daquele que ela já vinha fazendo um pouco antes da pandemia começar: com repertório calcado no disco “Tem Conserto”, seu trabalho de caráter mais eletrônico. Para isso, Clarice apresenta canções anteriores, como “Monomania” e “Irônico” em versões repaginadas para o formato eletrônico. Leve e divertida, Clarice parecia oscilar entre a festa e o nervosismo no palco e isso gerou falhas em determinados momentos do show, como uma canção a ser recomeçada ou letras que se perderam em determinados momentos. Para alguns o show de Clarice pode ter parecido meio estranho, mas é para seus fãs uma festa meio torta, com esse humor meio esquisito da artista, que oscila entre a piada e a melancolia.

Jup do Bairro (ADIDAS 14:45 – 15:45)
por Renan Guerra
Jup do Bairro é uma força da natureza e isso ficou muito claro no palco do Lollapalooza. Com uma produção foda e um cuidado extremo, Jup conseguiu apresentar o seu trabalho de forma coesa, bem amarrada e extremamente envolvente no palco. Acompanhada de uma banda cheia de outros artistas excelentes, como Badsista, Apeles e Malka Julieta, Jup conseguiu amarrar suas canções com uma celebração afirmativa de todos os artistas que trocam e criam ao lado dela. Com um setlist baseado na canções do ep “Corpo Sem Juízo”, Jup foi do riso à emoção no palco, celebrando esse momento de forma única no palco e ao lado de seus pares – Liniker e Rico Dalasam, dois artistas amigos de Jup, eram parte do público emocionado ao vê-la brilhar no palco.

Jão (ONIX 15:50 – 16:50)
por Marcelo Costa
Cantor de sucesso entre o público adolescente, Jão começou a surpreender os presentes com a bela estrutura de um polvo tomando todo o palco, com os integrantes da banda, vestidos de branco, aconchegados entre os braços do molusco. A surpresa se seguiu com a proliferação da audiência, que tomou todo o morro que leva aos palcos ONIX e ADIDAS para assistir, dançar e cantar as canções do artista do interior de São Paulo em uma das maiores aglomerações de pessoas naquela área no festival. Jão mostrou personalidade no palco não só embarcando no coro de #ForaBolsonaro como o classificando como “o maior hit do festival” e incentivado a seus fãs a tirarem de título de eleitor (o prazo se encerra em 4 de maio), pois “não basta gritar aqui, tem que votar”. Foi um show pop redondo, com cover atualíssima de Cazuza (“O Tempo Não Para”), hits (“Coringa”, “Santo”, “Vou Morrer Sozinho”, “Me Beija Com Raiva” e “Não Te Amo”) e, infelizmente, playback vocal, mas o público curtiu demais.

Remi Wolf (ADIDAS 16:55 – 17:55)
por Renan Guerra
A californiana Remi Wolf lançou ano passado seu disco de estreia, o ótimo “Juno”, porém ela já vinha angariando fãs e ouvintes desde que seus primeiros singles começaram a chamar atenção do público na internet. Com uma estética exagerada, algo meio kitsch ali do final dos anos 90, Remi ganha o público no palco com uma mistura entre o humor desbocado e seu vozeirão surpreendente. Sua voz assume espaços muito amplos e altos e isso fica ainda mais forte com o seu canto veloz e caudaloso. Para quem não conhecia as canções autorais de Remi, uma boa prova de sua capacidade no palco foram os seus covers de “Crazy”, do Gnarls Barkley, e “Electric Feel”, do MGMT. Para além disso, faixas como “Liquor Store”, “Sexy Villain” e “Hello Hello Hello” levantaram o público que aproveitava o pôr-do-sol nesse horário.

Emicida (BUD 19:05 – 20:05)
por Janaina Azevedo
Emicida subiu no palco do Lolla gozando do status de um dos artistas mais esperados no line up desse ano. Uma multidão lotou a área do palco Bud, para o show que antecedeu a headliner, Miley Cyrus. Estava tudo ganho. Então o rapper empunhou uma guitarra e começou o show com “Boa Esperança”, uma das letras mais contundentes sobre a desigualdade racial no Brasil dos últimos anos. Os cantos africanos ganharam o reforço de uma roupagem punk, e Emicida rosnou a letra: “o tempero do mar é lágrima de preto”. A apresentação foi dividida entre atos 1 e 2 e epílogo. É o evangelho de Emicida, que priorizou a parte mais política e social de seu repertorio, e deixou de fora hits poéticos como “Pequenas Alegrias da Vida Adulta” e “Passarinho”. Cronista da vida brasileira, Emicida trouxe em vez disso suas letras otimistas, como “Levanta e Anda”, parceria com Rael, e “Princípia”, que foi arrematada com um sermão de Padre Antonio Vieira, sobre amor. Não há tempo pra cinisno nesse show. Emicida está interessado em tocar a vida das pessoas com sua palavra. Maior que o próprio repertório, Emicida usou o Lollapalooza pra escancarar sua mensagem de contestação e fé no futuro. Se referia ao festival como “Lullapalooza” e desabafou sobre o período difícil na pandemia: “quando eu tava muito desesperançoso, eu lembrava do brilho nos olhos de vocês, da energia da voz de vocês”. Para essa retomada aos grandes palcos, além de Rael trouxe também Drik Barbosa e Majur, duas artistas que fazem parte do universo da Lab Fantasma. Já na reta final, pediu pro público cantar alto “pro Belchior ouvir lá de cima”. Era “Amarelo”, composição clássica transformada em hino libertador, que levantou o espírito da multidão do Lolla.

Asap Rocky (ONIX 20:10 – 21:25)
Por Janaina Azevedo
O show era do A$AP Rocky, mas o nome que não saiu da boca do público que lotou o palco Onyx era o dela, Rihanna, a namorada e futura mãe do filho do rapper. No meio do caminho entre as apresentações de Alessia Cara e de Miley Cyrus, o show ficou repleto de jovens ansiosos por uma aparição ou menção ao nome da estrela. Mas não rolou nada disso. A$AP subiu ao palco atrasado, sozinho e sorridente. Estiloso, de calça, saia kilt e bota, aposta no visual dos imensos telões e efeitos visuais pra um show pré-gravado. Em alguns momentos, fica visível o uso de playback ou ao menos de muitos efeitos na voz rouca do rapper. O show começou empolgado, mas foi na terceira música, Praise the Lord, que o público pirou e cantou letra por letra. A$AP não tem um grande sucesso avassalador, ao menos não que ultrapasse o gênero, mas conta com o respeito de rappers, trappers e nomes da música eletrônica. Econômico nas palavras, uma das únicas vezes que o rapper se dirigiu ao público foi para dedicar uma música aos “trippy”. Então cantou L$D, com o telão mostrando imagens lisergicas de Alice no País das Maravilhas. Quando se aproximava do final, A$AP começou a perder público. Devido ao atraso, fez um show curto, pouco menos de uma hora, pouco considerando que ele é um dos headliners da noite. Ao se despedir, falou: “tão dizendo que tenho que sair do palco”. A resposta do público foi mínima. O marido da Rihanna então repetiu, mais alto. E aí conseguiu arrancar uma reação da plateia já dispersa.

Miley Cyrus (BUD 21:30 – 23:00)
por Renan Guerra
A quantidade de pessoas que se amontoou na plateia do palco principal provam a força do nome de Miley como uma headliner, mas o mais importante é que para além disso, ela sustenta de forma potente e única um show grandioso. É possível que se desgoste de determinadas escolhas da carreira de Miley, porém é inegável a força dela no palco. A cantora, que ganhou fama no Disney Channel, consegue fazer um setlist que passeia por diferentes momentos de sua carreira, porém tudo mantendo a pose de rockstar, seja se jogando no chão ou cantando de forma delicada sentada em uma cadeira. Sua homenagem a morte de Taylor Hawkins foi bela e delicada, com uma Miley que se deixou tomar pelas lágrimas e que só terminou os versos de “Angels Like You” com o auxílio do público. Entre diferentes momentos icônicos, Miley auxiliou um namorado que queria pedir a mão de seu amado em casamento, emocionante e fofo. De todo modo, o que bateu forte mesmo foi a participação de Anitta, cantando “Boys Don’t Cry”. As duas se divertiram muito juntas e Miley rasgou elogios para a cantora brasileiro.

– Janaina Azevedo (www.facebook.com/janaisapunk) é jornalista e colabora com o Scream & Yell desde 2010.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Faz parte do Podcast Vamos Falar Sobre Música e colabora com o Monkeybuzz e a Revista Balaclava.

Saiba como foram as demais edições do Lollapalooza Brasil:
2012 – 2013 – 2014 – 2016 – 2018 – 2019

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