Três discos: Illuminati Hotties, Rachel Lime, Magneto

resenhas por Gab Piumbato

“Let Me Do One More”, Illuminati Hotties (Snack Shack Tracks/Hopeless Records)
O nome sensacional Illuminati Hotties é obra de Sarah Tudzin, a responsável pelas composições, vocais e produção de “Let Me Do One More”, um disco divertido cuja energia das canções mais frenéticas (“Pool Hopping”, “MMMOOOAAAAAYAYA”, “Joni: LA’s No. 1 Health Goth”) não deixa ninguém sentado na cadeira. “Tanta violência, mas tanta ternura”: o verso de Mário Faustino poderia ser a descrição deste gênero “tenderpunk”, etiqueta dada pela própria Tudzin. O grande destaque vai para “u v v p”, com participação do guitarrista Buck Meek, do Big Thief (e que nas horas vagas participa como dublê de músico de apoio de Bob Dylan, no especial “Shadow Kingdom”). Os 37 segundos de “Toasting” (com vocal de Alex Menne, da banda Great Grandpa) são a melhor mostra do humor de Illuminati Hotties. Como os colegas californianos do Best Coat, Sarah Tudzin mostra que a superficialidade dum riff pesado de guitarra pode ser tudo o que você precisa para abrilhantar o seu dia.

Ouça: Spotify, Bandcamp, Youtube

Nota: 8

“A.U.”, Rachel Lime (Inside Voices Records)
Você também tem vontade de viajar num universo alternativo? Rachel Lime descreve a sua música como uma procura por outros mundos. “Karrakaz”, que dá início ao seu álbum mais recente, joga o ouvinte num sonho pelo ser amado (“You’re not alone, I’m alone”), aprofundando a solidão dessa viagem. A busca pelo contato é o tema de “Voyager 3”, canção que parece conter várias canções dentro dela (clipe mais abaixo). Parece melhor ir se perdendo na vertigem desse álbum, que poderia ser apenas um sonho eletrônico de Charly García e Fito Paez decodificado em linguagem alienígena. Profecias, geometria sagrada, mensagens transitando pela Via Láctea além do azul. Sussurros filtrados por uma chamada telefônica, dedos estalando, sintetizadores. Ritmos que remetem para as estranhezas de Tom Waits. Instrumentos coreanos, como o Janggu (espécie de tambor) e o Gayageum (tipo de cítara). Alguns artistas têm estilo, outros são um universo. Rachel Lime pertence à categoria do pálido ponto azul de Carl Sagan.

Ouça: Spotify, Bandcamp, Youtube

Nota: 8,5

“Requiem pour Satana”, Magneto (Gusstaff Records)
De Varsóvia, o trio instrumental composto por Bartek Tyciński (guitarra), Hubert Zemler (bateria) e Piotr Domagalski (baixo) apresenta o seu “Requiem pour Satana”, uma trilha sonora de um western interestelar ainda inexistente. Mais do que mero surf rock ou imitação fuleira de Dick Dale, estes poloneses adicionam outros ingredientes na equação (desde ritmos mais tropicais ou tribais até escalas exóticas), com a excelência e o timing característicos de músicos de jazz. Daquele reverb molhado que goteja na faixa de abertura (“Pama Rum Kwan”) até o que parece ser um wah-wah estrangulado em “Mikolaj”, tudo é surpreendente. A banda disse ter entrado em estúdio para não enlouquecer durante a pandemia: quem enlouqueceu foi a música. Há até espaço para a “Garagem do Pedrinho” – mas vai ficar para você decifrar essa mensagem.

Ouça: Spotify, Bandcamp, Youtube

Nota: 8

– Gab Piumbato é jornalista e autor da melhor discografia comentada de Bob Dylan em português (aqui)

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