texto por Paolo Bardelli
Indo direto ao ponto, Yves Tumor ainda não adentrou o coração da grande massa, o que é uma decepção. Ele já é aclamado pela crítica, certo, mas ainda não ultrapassou aquela etapa extra que torna um cantor reconhecível além das fileiras dos aficionados, daqueles onívoros musicais que estão atentos a produções musicais menos óbvias. Este recém-lançado “The Asymptotical World EP” (2021) pode ajudar a trazê-lo para este lado? Diria que sim.
O festejado álbum “Heaven to a Tortured Mind” (2020) oferecia uma epifania trazendo em si um brilho de cores que cintilavam e depois se fundiam em um preto pantanoso que, pessoalmente, adoro, mas que não é o cenário mais amado pelo público em geral, que normalmente foge das coisas darks. Mas aqueles com uma alma sombria só podiam apreciá-lo. Agora “The Asymptotical World EP” faz desta lama um tormento pop, um conto épico, que talvez possa terminar tragicamente, mas que em si é o portador de uma batalha sólida, determinada e incansável.
“Jackie”, a primeira faixa, atinge o alvo com louvor ao contar uma história trágica de um personagem que não come nem dorme, vivendo uma espécie de depressão pós-traumática na qual você precisa de um contato, de um pensamento (“Quando você acorda pensa em mim?”, repete Yves), embalada num roupagem pop mais dark, com introdução e refrão robustos, mas mais linear que as canções de “Heaven to a Tortured Mind” – provavelmente menos experimental e até por isso mais funcional.
“The Asymptotical World EP” conta com seis faixas (à venda em um boxe com três vinis de 7′), e ainda que “Jackie” seja a faixa histriônica que introduza o ouvinte nesse novo trabalho de Tumor, são as outras canções que desencadeiam definitivamente a virada “new wave” do artista, uma espécie de nova onda que começa com refinamentos quase doces (“Crushed Velvet”, com uma virada emocional esplêndida quase shoegaze após os 2 minutos) para chegar ao punk flexível (“Secrecy Is Incredibly Important To The Both of Them”, uma música levada na velocidade da luz, com uma bateria eletrônica anos 80 e um envolvimento sentimental muito alto, como se Joy Division tentasse soar como DIIV e/ou Preoccupations – quando os últimos ainda atendiam pelo nome de Viet Cong).
A segunda metade do EP traz a bola de volta ao centro do mundo que já conhecíamos de Yves Tumor, ainda com cólicas estomacais e mostrando que o artista não esgotou nada de seu som, mesmo que tudo pareça estar sendo suavizado, pouco a pouco.
No cômputo geral, “The Asymptotical World EP” é uma lufada de ar fresco, a (eterna) descoberta de um novo álbum pelo qual iremos adorar morrer e que vamos querer ouvir ad libitum nas próximas semanas, em estrita ordem de tracklist, porque é assim os álbuns merecem ser ouvidos. E não venha dizer que não pode entrar nas listas de fim de ano, por ser um EP: se o novo disco autointitulado de Vince Staples é um álbum de 22 minutos, por que um EP de pouco mais de 18 minutos tem que ficar de fora?
Quer saber? Fodam-se os números, mesmo aqueles (de um público maior) que podem não chegar, e viva a qualidade de fazer as coisas. Yves Tumor prova mais uma vez que é capaz, caso seja necessário.
Texto publicado originalmente no site italiano Kalporz, parceiro do Scream & Yell