entrevista por Luiz Mazetto
Imagine gravar um dos discos mais importantes da história do punk com apenas 16 anos de idade. Foi exatamente isso que o guitarrista Frank Agnew fez, ao lado do seu irmão mais velho Rikk Agnew, quando entraram em estúdio para registrar em poucos dias o já icônico “Blue Album” (1981) do Adolescents, dono de hinos como “Amoeba” e “Kids of the Black Hole” e até hoje presença constante em qualquer lista dos melhores discos de punk e hardcore de todos os tempos.
Depois disso, em meio a separações e reuniões do Adolescents, Frank tocou em outras bandas importantes da cena punk da Califórnia, incluindo nomes como T.S.O.L, Lethal Weapon e 45 Grave, além de ter mostrado suas habilidades musicais, que também incluem tocar baixo e teclado e fazer backing vocals, em diversos outros grupos e projetos. Mais recentemente, no início de 2020, o músico se uniu ao amigo de longa data Greg Antista na banda que leva seu nome e acaba de lançar o disco “Under the Neon Heart” (2021).
Na entrevista abaixo, feita por videochamada no último mês de maio, Frank falou sobre a vida na pandemia, como foi sair da sua zona de conforto para gravar o disco com Greg, relembra o início do Adolescents e os 40 anos do “Blue Album”, além de falar sobre como é tocar ao lado dos irmãos Rikk e Allfie, entre muitas outras coisas.
Como estão as coisas por aí? Você já conseguiu se vacinar?
Sim, eu consegui. Eu tomei a vacina da Johnson & Johnson de dose única. Porque eu pensei: “Bem, eu odeio agulhas. Então por que tomar duas agulhadas se posso tomar uma só?” (risos). Eu tomei de manhã e então no final do dia comecei a me sentir meio mal. Mas me senti mal só por um dia e meio e depois fiquei bem. Então as coisas estão meio que normais por aqui depois de mais de um ano.
E como foram esses cerca de 14 meses de pandemia até agora? Você conseguiu tocar, visitar sua família?
Basicamente, nós todos ficamos quietos. Quer dizer, pude visitar minha família, porque todos nós estávamos ficando quietos de qualquer maneira. Mas sem shows, nada desse tipo. Eu meio que tirei o ano de folga, li muitos livros, assisti muita TV e tentei não engordar muito (risos). Mas tudo muito tranquilo. Porque eu tenho 56 anos e pensei: “Eu não quero essa coisa”. Muitas pessoas falavam coisas como “Ah, você pega o vírus, mas se tiver uma boa imunidade deverá ficar bem”. Mas eu nunca fui de apostar, prefiro ficar quieto, sem problemas. Isso tudo vai passar eventualmente. Mas para responder a sua pergunta, apenas fiquei quieto, vi alguns pouquíssimos amigos e familiares e foi isso.
E você começou algo novo, talvez um novo hobby? Ou talvez redescobriu músicas do passado que nunca tinha parado para ouvir de verdade?
Muito do que eu fiz foi uma limpeza de primavera. Apenas mexi em muitas coisas que estava adiando há anos, foi algo como “Ok, agora tenho tempo para fazer isso”. Também li muito. Mas acho que não comecei nada de novo, foi mais uma questão de voltar para coisas que estava adiando há algum tempo. E isso meio que fez os dias passarem.
Uma pergunta sobre o disco novo com o Greg Antista, “Under the Neon Heart” (2021). Vocês gravaram tudo antes da pandemia ou tiveram que fazer algo no estúdio durante a pandemia?
É interessante porque entrei em contato com o Greg Antista, de quem eu sou amigo há cerca de 40 anos, em janeiro de 2020, antes da pandemia. Acho que apenas liguei para ele para saber como as coisas estavam, esse tipo de coisa. E então começamos a falar sobre a banda dele, porque eles já tinham um álbum lançado e estavam fazendo shows. Daí também falamos sobre o que eu estava fazendo – e eu não estava fazendo nada na época. E depois ele me ligou de volta, perguntando se eu teria interesse em entrar para a banda porque o outro guitarrista da banda tinha ficado muito ocupado e então falei “Claro, por que não? Não estou fazendo nada no momento. O que vocês estão fazendo?”. E então ele respondeu que estavam prestes a gravar um disco novo e então falei “Ah, legal! E quando estão planejando fazer isso?” e ele respondeu “Você entraria no estúdio em duas semanas” (risos). Então ele começou a vir na minha casa com um violão para me passar o básico das músicas e aí eu comecei a criar algumas coisas no estúdio, mais ou menos, que é algo que gosto de fazer, de qualquer maneira. Geralmente eu não tenho nada pronto, gosto de ir para o estúdio e sentir as coisas, para então fazer alguns testes – e então manter o que funcionar melhor. Mas é interessante porque eu gravei primeiro a maioria das minhas partes de guitarra e depois os teclados e os backing vocals. E acho que no último dia fiz alguns retoques de guitarra e coisas do tipo e esse foi o dia em que começaram a fechar tudo por causa da pandemia. Então eu terminei tudo bem a tempo. Foi tipo tudo naquele dia em que estavam fechando tudo e pensei “Ufa, está finalizado” (risos).
Além de guitarra e backing vocals, você mencionou que também gravou teclado no disco. Essa foi a primeira vez que gravou teclado em um disco?
Não, eu toquei teclado em outras coisas. Estou tentando lembrar de uma em especial; foram muitas demos e coisas assim. E acho que gravei teclados em gravações de outras pessoas, mas é engraçado porque realmente não registro essas coisas. Alguém pode me pedir “Ei, pode vir aqui e gravar isso e aquilo?” e apenas digo que “Ok” e vou lá (risos).
E o que você começou a tocar primeiro, guitarra ou teclado?
Na verdade, quando eu tinha 10 anos de idade eu ganhei um baixo baratinho. Então eu comecei tocando baixo. Quando fiz 13 anos, comecei a tocar guitarra e então no final da adolescência, eu tinha um vizinho que tinha um piano e comecei a brincar com aquilo. E meu irmão mais velho, o RIkk (Agnew), tinha instrumentos diferentes entrando e saindo de casa, então aprendi a tocar teclado sozinho desta maneira, apenas testando “Ah, isso soa como aquilo”. Porque o teclado é basicamente uma longa corda de guitarra, então você apenas pega as notas e esse tipo de coisa. Então aprendi a tocar sozinho fazendo isso. Comecei com o baixo, fui para a guitarra e depois meio que aprendi sozinho como tocar teclado.
E pensa que o fato de ter começado a tocar baixo antes da guitarra influenciou de alguma maneira o seu jeito de tocar guitarra, talvez a sua maneira de “abordar” o instrumento?
Não sei. Porque eu sempre abordei cada instrumento que peguei meio que cru, uma vez que nunca tive aulas formais. Eu e meus irmãos nunca fizemos aulas, apenas meio que nos alimentávamos um dos outros. Mas ter começado com o baixo provavelmente me ajudou para tocar bases porque era um pouco mais sólido, você precisa segurar aquele lance mais sólido. Mas, ao mesmo tempo, eu era um grande fã dos Beatles quando estava crescendo – ainda sou, aliás – e gostava muito das linhas de baixo do Paul McCartney. Ele tinha linhas muito musicais e eu tentava replicá-las. Então acho que apenas a musicalidade. É interessante porque a maioria dos baixos apenas meio que ficam no fundo, mas sempre admirei baixistas que tocam o instrumento de maneira mais melódica. Então diria que ajudou também com os solos. Mas acho que tudo meio que se misturou.
Você já tocou e gravou diferentes estilos de música além de punk e hardcore antes, incluindo tocar em diversas bandas e gravar covers do Velvet Underground, Rolling Stones e David Bowie, por exemplo. Por isso, queria saber se você sentiu que estar nesta banda nova e gravar esse disco foi talvez um novo desafio para te tirar da sua zona de conforto, vamos dizer, do que tocar algo que você já estava mais acostumado a fazer?
Na verdade, no disco novo o interessante é que o desafio foi meio que me segurar. Porque já participei de diferentes projetos em que havia muitas coisas acontecendo. E a música do Greg é muito simples e descontraída – há muito ar, muito espaço. Então o desafio era algo como “Ok, não faça demais, apenas o suficiente”. Por isso, precisei realmente colocar um freio em algumas coisas – algo como “Em vez de fazer demais, sente-se e dê apenas o que é preciso”. Então esse foi um desafio que eu realmente gostei porque é realmente muito mais difícil do que parece. Era algo como “Simplifique as coisas. Não faça um solo longo, mas um solo curto, melódico, com poucas notas”. E isso meio que te força a escolher as notas certas. Então em vez de colocar o seu lick de sempre, você tem de pensar em algo melódico e com menos notas e que se encaixe com a melodia vocal. Isso foi divertido porque foi algo que nunca fiz de forma consciente nos outros gêneros que já gravei. E gostei disso! Quando você tem menos, isso te faz realmente pensar no que vai fazer para entregar apenas o que é certo.
No release para a imprensa sobre o lançamento do disco, o Greg (Antista) fala muito sobre a sua importância para a banda como músico, afirmando que não há nada que você não possa fazer em termos musicais, mas ele destaca que o mais importante é o senso de irmandade com o qual você contribui para o grupo. Como é isso? Além de conhecer o Greg há bastante tempo, você também já conhecia os outros integrantes há algum tempo?
Sim, eu conheço o Warren (Renfrow, baixista) por meio de associações na cena musical – ele tocou em uma banda chamada Cadillac Tramps por muito tempo. E eu conhecia por estarmos próximos e esse tipo de coisa. Já toquei com o Jorge (Disguster, baterista) em alguns projetos no passado, nos últimos 20 anos – então também o conheço há bastante tempo. E ele também tocou em algumas músicas que eu fiz demos. Ele é um dos meus bateristas favoritos porque ele é muito sólido. Então sim, há um senso de irmandade na banda. Com a diferença de que o que é legal é que somos todos mais velhos agora, então somos mais tranquilos. Enquanto a irmandade de quando éramos mais novos era muito caos (risos). Arrumar muitas confusões, como as pessoas jovens costumam fazer (risos). Mas é legal porque quando ensaiamos há um senso de irmandade, de camaradagem, como falei. Somos todos amigos, já nos conhecemos há bastante tempo. E todos estão muito tranquilos agora, focados apenas em tocar e se divertir.
Antes de tocar com o Greg, que você já conhecia há bastante tempo, você já tinha tocado com muitos outros guitarristas, incluindo seus irmãos e seu filho, e também nomes como Pat Smear e Brian Hansen. Por isso, queria saber se para você é diferente estar no palco com alguém que é da sua família ou que você conhece bem?
Acho que é mais relaxado, por causa da familiaridade. Mas diria que quando eu tocava com meus irmãos, era algo meio mágico. Porque nos conhecíamos tão bem, e a maneira como tocávamos tão bem juntos porque era quase como uma segunda natureza, quase como se pudéssemos prever o que íamos fazer e para onde cada um seguiria. Então nos encaixávamos muito bem. Então adorava tocar com os meus irmãos dessa maneira, nós apenas tínhamos o mesmo sentimento e tudo mais. Tocar com outro guitarrista é algo que às vezes pode ser muito fácil, porque vocês apenas combinam. E outras vezes não é tão fácil, então é preciso fazer alguns ajustes. Mas definitivamente quanto maior a familiaridade, mais relaxado você toca. Porque parece mais natural.
Este ano (2021) marca o aniversário de 40 anos do “Blue Album” (1981) do Adolescents. Como você vê hoje em dia o legado e a importância do disco? Quando vocês o gravaram, eram todos muito jovens. Na época, tinham ideia de que esse álbum continuaria sendo tão importante ainda quase meio século depois?
Nenhuma ideia, nem de longe (de que o disco teria essa importância quatro décadas depois). Porque me lembro de pensar quando estávamos nos preparando para gravar: “Uau, vamos gravar esse disco e quem sabe conseguiremos vender mil cópias”. Era nisso que eu estava pensando, que talvez a gente fosse conseguir alguns shows melhores e esse tipo de coisa. Mas nunca pensei, nem em um milhão de anos, que o disco fosse fazer o que fez – porque eu tinha 16 anos quando gravei esse disco. E acho que nenhum de nós pensava na época que o álbum fosse conseguir algo além de uma popularidade local, entre o nosso grupo de pessoas e o público. Porque é preciso lembrar que em 1981 a cena punk não era nem de longe tão grande quanto acabou se tornando. E nunca pensei que fosse virar algo mainstream como aconteceu, porque as coisas eram muito diferentes na época.
Mesmo quando gravamos o disco e estávamos escutando depois de terminar a gravação, eu pensava “Ok, legal. O disco soa bem o bastante. Acho que vai se sair bem localmente”. Porque nós gravamos o álbum muito rapidamente. Acho que começamos em uma segunda-feira e gravamos todas as faixas básicas no primeiro dia. E então eu e o Rikk (Agnew) gravamos todos os overdubs de guitarra na terça-feira. Os vocais foram gravados na quarta-feira e na quinta-feira fizemos a mixagem e a edição. E foi isso, o disco ficou pronto em quatro dias! Bang! Rápido assim! E acho que tudo correu de maneira tão fácil porque nós basicamente gravamos o setlist dos nossos shows na época, com alguns ajustes na ordem das músicas. Mas aquelas 13 músicas eram o setlist dos nossos shows. E já as estávamos tocando há algum tempo, por isso apenas entramos no estúdio e fizemos tudo muito rápido. Mas para responder a sua pergunta: eu não tinha nenhuma ideia de que o disco seria relevante dessa maneira. Pensava que poderia ter relevância por alguns anos e depois sumir. Não tinha ideia de que ainda seria relevante tanto tempo depois.
E como foi ver de longe o disco ficar tão grande? Porque a banda acabou temporariamente pouco tempo depois do lançamento do “Blue Album” e o álbum apenas continuou crescendo e crescendo depois. Isso foi estranho?
Foi sim (estranho), porque, como disse, eu não esperava por isso. E você tem razão, nós nos separamos alguns meses depois de o disco ser lançado – e eu pensei que ele iria apenas desaparecer. Mas então parecia que todo ano uma nova geração de punks comprava esse disco. Tipo esse álbum, o disco dos Sex Pistols e alguns outros eram algo como “Essa é a sua introdução ao punk e esses são os discos que você precisa ouvir”. E o “Blue Album” era um desses discos. À medida que os anos passavam, eu ficava pensando “Ok, o disco precisa cair em esquecimento a qualquer momento agora”. Mas isso não aconteceu. E agora eu estou começando a pensar que esse disco vai viver mais do que eu (risos). Mas nenhuma ideia. Porque na época, na minha perspectiva, nós estávamos apenas nos divertindo.
Você mencionou que a cena era bastante local na época, que era uma cena menor. Por isso, queria saber se havia alguma competição com a cena de Los Angeles, bandas como Germs, X e Weirdos. Vocês os conheciam, eram próximos de alguns deles?
Sim, éramos todos amigáveis, especialmente com os caras do Bad Religion, Circle Jerks e Black Flag. Tocávamos nos mesmos lugares, ficamos amigos e saíamos juntos. E se fôssemos todos tocar no mesmo lugar, todos se reuniam no backstage de uma das bandas, não é como se ficássemos separados falando “Ah, vamos naquele lugar”. Era tudo muito amigável, basicamente todo mundo se dava bem.
E você pensa que a cena LA de forma geral, incluindo aí também Orange County, talvez tenha passado a receber um maior reconhecimento mais recentemente, em comparação com outras cenas, como Nova York e Londres, que talvez sempre tenham sido mais comentadas pelas pessoas quando se falava de punk?
Talvez. Pela minha perspectiva, especialmente no início da cena de Los Angeles e Orange County, havia muita variedade. Você tinha bandas mais diretas como os Weirdos, que eram fantásticos, especialmente ao vivo – meu deus, eles eram muito bons ao vivo. E você também tinha bandas como X e Germs, que eram diferentes. E então você tinha bandas como The Deadbeats, que eram completamente diferentes. Eles faziam um lance com uma pegada bem artística, com levadas mais viajantes e esse tipo de coisa. E era isso que eu achava tão legal sobre a cena de Los Angeles – talvez outras cenas fossem assim também e eu não soubesse. Mas havia tanta variedade na cena punk, na cena que era considerada punk. Havia muita variedade, era fantástico.
Quando você começou a tocar baixo, havia algum baixista que admirava ou se espelhava? Ou quando começou com o baixo já tinha um olho na guitarra?
Acho que escolhi o baixo porque pensei “Ok, tem quatro cordas, vai ser mais fácil de aprender” (risos). Para ser honesto, acho que foi por isso: porque parecia que seria mais fácil de aprender a tocar. Mas, ao mesmo tempo, eu também admirava o Paul McCartney – era tipo “Uau, ele faz coisas incríveis com o baixo nas músicas”. Mas sim, no início fui para o baixo apenas porque parecia que seria mais fácil de aprender.
E teve alguma banda local que te inspirou a querer tocar com uma banda? Porque quando falei com o Steven McDonald, do Redd Kross, ele mencionou a The Runaways como uma inspiração para ele e o irmão dele, que também eram muito jovens quando começaram a banda. Houve alguma banda local que inspirou vocês a pegarem seus instrumentos e começarem a tocar em uma banda?
Com certeza. Eu já tocava há algum tempo, mas havia uma banda local chamada The Mechanics, que existiu no final dos anos 1970. Eles tinham um estúdio de ensaio no centro de Fullerton. E eu e meu irmão mais velho (Rikk) costumávamos ir lá, porque eles faziam ensaios abertos em que os amigos podiam ir e ficar por lá enquanto eles tocavam. Eles eram uma banda muito, muito boa e tiveram uma grande influência em nós. Era algo como “Uau, isso é algo para irmos atrás, sermos tão bons quanto esses caras. Realmente entrar em uma banda e ser bom assim”. The Mechanics era uma banda fantástica, que deveria ter chegado muito mais longe. Deve ter sido algum lance de timing, acho que eles estavam um pouco à frente da época e meio que perderam aquela onda. E eles também foram uma grande influência para mim e para o Rikk na maneira de abordarmos o lance das duas guitarras. Raramente os dois guitarristas deles faziam exatamente a mesma coisa, e nós fomos inspirados pelos Mechanics e pela dinâmica entre as duas guitarras. Então sim, diria que o The Mechanics foi uma grande influência para nós no sentido de tirar as guitarras do nosso quarto e realmente formar uma banda de verdade.
Pensa que o fato de ter começado tão cedo – você tinha 15, 16 anos quando começou a tocar com o Adolescents – fez com que tivesse mais consciência sobre a indústria musical em geral e talvez apreciar mais as pequenas coisas que vem com uma carreira na música?
Acho que provavelmente aprendi a apreciar mais as coisas à medida que fiquei mais velho. Quando era jovem, era apenas diversão, algo como “Ah, nós vamos fazer um show e haverá amigos, garotas e nós vamos tocar” – e era tudo sobre isso. Mas acho que à medida que o tempo passa, você vivencia mais coisas na indústria musical e vê o quanto ela muda rapidamente. Penso que à medida que fiquei mais velho, aprendi a apreciar – do tipo “Oh Ok, eu fui muito afortunado de poder ter feito tudo isso”. É que apenas aconteceu e quando aconteceu eu era jovem e não pensava realmente desta maneira. Só pensava “Ah, legal. Isso é divertido e está acontecendo”. Foi só quando fiquei mais velho que parei, olhei para trás e pensei “Uau, isso foi um privilégio e tanto”.
E você já pensou em fazer um disco solo? Quero dizer, você toca vários instrumentos e também canta.
Escrevi muita coisa que nunca se encaixou realmente com nenhuma banda em que já toquei. Muitas dessas coisas quase soam como uma trilha-sonora de um filme. E já pensei nisso, apenas fui muito preguiçoso em realmente me dedicar e fazer isso. Mas isso ainda é algo que eu gostaria de fazer, poder gravar todas essas coisas. É tudo instrumental, mas muito musical e tudo mais. Mas pensando nisso, de fazer um disco solo, eu provavelmente tenho material para fazer pelo menos um disco de algo nessa linha de trilha-sonora, com um clima e coisas do tipo.
E há alguma trilha-sonora de que você goste mais ou que te inspire de alguma maneira?
Diria que muitas coisas do Ennio Morricone, as coisas antigas de spaghetti western que ele fez. A música dele era fantástica. Desde que eu era criança, já me sentia atraído pela música dele. Suas trilhas eram muito emocionais, te levavam para muitos lugares emocionalmente, em vez de funcionar apenas como uma música em segundo plano. Então ele foi uma grande inspiração para mim em termos de pensar “Uau, você pode definir emoções com a música. E vice-versa: ter música forjada em diferentes emoções”. Então definitivamente diria que o Ennio Morricone é a minha principal inspiração neste sentido.
Gostaria que me dissesse por favor três discos que mudaram a sua vida e porque eles fizeram isso.
O primeiro provavelmente foi o “Sgt Pepper’s” (1967). Ouvi esse disco quando era criança e fiquei simplesmente maravilhado. Apenas a paisagem sonora do álbum e tudo que havia nele. E é claro que quando você é criança e escuta esse disco e olha para a capa, havia tanta coisa para ver e absorver ali. Então esse foi um.
Outro foi o primeiro disco dos Ramones (1976). Esse disco foi tipo uma injeção no braço (risos). Porque me lembro da primeira vez que ouvi e de não saber muito bem o que pensar sobre ele. Foi algo do tipo “É isso? É tão simples. Mas ainda…” – porque na época parecia rápido, sabe? Lembro de pensar “Hmm, isso é um pouco estranho”. Mas então me vi colocando o disco para tocar de novo e de novo e de novo. E apenas ouvir o disco inteiro de novo e apenas ficando “Uau!”. Foi como se algo tivesse me acordado, foi algo muito revigorante.
Então temos o “Sgt Pepper’s”, o primeiro disco dos Ramones. Estou tentando pensar qual outro disco foi um grande divisor de águas para mim. Se tivesse de escolher um terceiro… esses são os dois que realmente saltam à minha mente. Preciso pensar, deixa eu ver se a minha lista de músicas no celular me dá uma ideia (risos). Vamos ver (nota: neste momento, Frank começa a cantarolar melodias enquanto mexe no celular).
Quer saber? Um outro disco que definitivamente posso colocar nessa lista é o “Machine Gun Etiquette” (1979), do The Damned. Esse álbum me desconcertou porque foi o primeiro disco punk que escutei que tinha teclados e coisas com um som mais pop, mas que ainda era punk. Vocais harmonizados e tudo mais. Do início ao fim, o “Machine Gun Etiquette” é apenas um álbum fantástico, em todos os níveis. É algo como “Uau, esse disco é tipo o ‘Sgt. Pepper’s’ do punk” (risos). Especialmente uma música como “Smash it Up”, com as duas partes e todas as coisas diferentes de guitarra. Então, para mim, como guitarrista, esse disco foi algo como “É isso aí”. Então definitivamente o “Machine Gun Etiquette”.
Essa é a última pergunta. Do que você tem mais orgulho na sua carreira?
Eu diria que o fato de poder fazer isso por tanto tempo. Quero dizer, nunca foi completamente consistente. Houve momentos em que tirei um tempo para a família, filhos, esse tipo de coisa. Se pensarmos em um trabalho específico que é mais conhecido, obviamente diria que o que tenho mais orgulho é o “Blue Album”, do Adolescents. Mas apenas o fato de que ainda posso fazer isso, de ainda amar fazer isso. Mesmo agora, com 50 e poucos anos, entrar em uma banda nova e me sentir tão animado como quando eu tinha 15 anos e me juntei ao Adolescents. Eu nunca soube se seria algo para a vida toda, mas aparentemente é. Então é disso que tenho mais orgulho, o fato de ainda gostar tanto quanto quando eu era jovem.
– Luiz Mazetto é autor dos livros “Nós Somos a Tempestade – Conversas Sobre o Metal Alternativo dos EUA” e “Nós Somos a Tempestade, Vol 2 – Conversas Sobre o Metal Alternativo pelo Mundo”, ambos pela Edições Ideal. Também colabora coma a Vice Brasil, o CVLT Nation e a Loud!