entrevista por Luciano Ferreira
Ser independente no Brasil e conseguir lançar seus trabalhos já é uma tarefa árdua diante das inúmeras dificuldades que qualquer banda ou artista enfrenta. Quando além das dificuldades “externas” surgem também as internas, fazer música acaba sendo uma tarefa hercúlea.
A banda belo-horizontina Kill Moves sabe muito bem disso. Entre uma série de mudanças de integrantes e incertezas, o grupo conseguiu vencer as adversidades, intensificada também pela pandemia, e finalizar seu terceiro EP, “Colorful Noises” (2021, Balaclava Records), num processo que eles chamam de construção e reconstrução. Atualmente um trio, Kill Moves tem hoje na formação o fundador Vitor Jabour mais Israel Bianchi e Yago Phelipe.
A reconstrução segue em andamento e perpassa também a identidade musical, que tem no novo EP o que eles definem como “virada de chave”. Com apenas três faixas, “Colorful Noises” mostra o grupo enveredando pela sonoridade perpetrada poe bandas de indie-dance e até mesmo das shoegazers que adicionaram balanço em suas canções, isso sem abrir mão dos elementos psicodélicos sessentistas pela visão dos anos 90, com direito a elementos percussivos e flauta.
Na conversa abaixo, Vitor Jabour explica o processo de destruição e reconstrução, o quanto a pandemia afetou a banda, cita influências de bandas como Curve, Chapterhouse, Happy Mondays e Stone Roses no EP “Colorful Noises” e provoca o leitor e o ouvinte em relação ao futuro: ‘Estamos finalmente produzindo o nosso full que marcará definitivamente a nossa personalidade musical e a ideia é expandir para chegar em mais pessoas, sem tirar de nós a gordura do underground”. Confira o papo!
Pra começar, poderia nos contar sobre esse processo de destruição e reconstrução citado no release do novo EP?
“Destruição” pois gastamos muita energia em três sons com o adicional de adversidades pessoais e a pandemia. A junção disso destruiu e desgastou, e de certa forma o Kill Moves nunca mais será o mesmo. A reconstrução ainda acontece.
E como foi o processo de construção do EP durante a pandemia, e de que forma isso impactou no resultado?
Com certeza, como eu disse, a pandemia mudou a banda, desde a sua formação até mesmo no som. Começamos a produzir esses sons em 2018 logo após a turnê com o Turnover e pouco depois, já na produção, eu decidi que iria parar de tocar guitarra e me dedicar às vozes e explorar elementos percussivos. Chamamos o Clayton Vilaça para voltar a ser nosso guitarrista. Fizemos vários shows em 2018 e a formação estava perfeita. Mas o Yago e o Adolfo decidiram se mudar para Portugal, e abriu-se um buraco no conjunto, o que nos fez pausar a banda por meses até 2019. O ano se inicia e convido o Israel Bianchi para assumir a outra guitarra e o Gentil Nascimento para as baquetas e logo demos início à gravação do EP. Mas 2019 marcou o Kill Moves como um ano confuso e muito disso foi por minha causa. Eu tive a oportunidade de me mudar para o Canadá e nisso uma série de indecisões e decisões caíram sobre mim. Pensando nos caras, imagina você estar numa banda, gravando, sabendo que o vocalista vai se mudar para longe? Foi tenso e tudo estava na minha mão, aliás, outras coisas para além da banda também estavam em jogo. Resumindo: não me mudei e algumas relações já estavam desgastadas, mas seguimos produzindo e gravando como dava. Até a finalização do EP, mais uma vez, a formação muda novamente: Clayton e Gentil saem e pouco tempo depois antes do lançamento o Estevão também (para se dedicar a academia e nos seus projetos solo de Black Metal e de música eletrônica). Yago retorna de Portugal para o Brasil e volta para a banda, consolidando o trio. Por fim finalizamos os sons mais árduos e complexos da nossa história e lançamos “Colorful Noises”. O resultado foi um expurgo e tudo isso que eu disse foi muito mais confuso do que consegui escrever.
“Perfect Pitch” mostra um lado mais viajado, percussivo e ao mesmo tempo mais dançante, mas em todas as faixas é possível encontrar elementos psicodélicos. O que poderiam nos contar a respeito desses direcionamentos, inclusive o uso da flauta?
Lisergia e ir em raves nos “afetou” nos últimos anos, e no meio de todas as referências, desde música brasileira, até as principais, como Curve, Chapterhouse, Happy Mondays, Stone Roses e muitas outras. Nos sentimos na obrigação de adicionar elementos até então nunca utilizados por nós, como flautas e várias percussões. Henrique Pederneiras gravou a flauta e Felipe Valderrama, percussão. Modificamos totalmente o que era a “Perfect Pitch”, tiramos a bateria acústica gravada por Gentil e substituímos por drum machines, adequando o último som para fechar o EP aos nossos gostos do presente.
O videoclipe de “Perfect Pitch” usa um recurso de sobreposição bastante usado nos anos 90, de quem foi a ideia? Pretendem lançar videoclipe também para “Colourful Noises”?
A direção de arte da banda fica por minha conta. Gosto muito de experimentar utilizando mídias antigas. O clipe de “Perfect Pitch” foi editado de forma analógica com um mixer AV de 89. Sobre “Colorful Noises”, no final de 2019 gravamos um clipe com Betacam que foi engavetado, mas alguns frames do clipe foram utilizados como as capas dos singles e do EP.
Considerando o contexto atual, sem a possibilidade de shows, vocês acham que isso dificulta o processo de divulgação do novo trabalho?
Com certeza! Estava nos planos a turnê nacional que a gente brincava que seria o “Kill Moves Full Band” haha e seria nada mais que o adicional do percussionista e do flautista. O primeiro show dessa série seria tocando com os nossos amigos do Terno Rei, aqui em BH em junho de 2020.
Conseguem imaginar shows da Kill Moves futuramente? Onde?
Sinceramente não consigo imaginar shows nos formatos prévios que fazíamos. Pensamos em fazer uma “The Last Rewind Tour” talvez. “Colorful Noises” marca a nossa história e uma virada de chave na banda. Foram anos fazendo um som de rock nicho no Brasil e cantando em inglês, para poucxs. No início quando eu falei que a reconstrução ainda acontece isso toca justamente neste ponto. Estamos finalmente produzindo o nosso full que marcará definitivamente a nossa personalidade musical e a ideia é expandir para chegar em mais pessoas, sem tirar de nós a gordura do underground.
– Luciano Ferreira é editor e redator na empresa Urge :: A Arte nos conforta e colabora com o Scream & Yell.
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