Entrevista: Novo álbum do Enforced invoca a força do crossover

entrevista por Homero Pivotto Jr.

O Enforced é uma das forças promissoras do crossover na atualidade. Mesmo com uma trajetória curta iniciada em 2016, o quinteto estadunidense do estado da Virginia conquistou projeção mundial com sua mistura de elementos do thrash, do death e do hardcore – além de dividir o palco com grandes nomes do som extremo mundial (Sacred Reich, Iron Reagan e Integrity, por exemplo).

Fosse pouco, ainda com apenas um trabalho de estúdio (“At the Walls”, 2019) na bagagem, assinou com a Century Media para seu segundo álbum completo. “Grid Kill” (2021) não apenas marca a estreia da banda em uma grande gravadora, como traz capa assinada por Joe Petagno (criador do Snaggletooth, mascote do Motörhead) e mixagem do experiente Arthur Rizk (Power Trip, Cavalera Conspiracy, Code Orange). O lançamento do novo petardo ocorre em 12 de março, mas três singles (“Malignance”, “Curtain Fire” e “Hemorrhage”) já foram liberados (ouça-os abaixo), o que pode lhe dar uma boa ideia do que vem por ai.

O play tem nove faixas que pendem para o thrash e mostram um grupo com garra e potencial para crescer ainda mais. A produção é clara, destacando as palhetadas nervosas de guitarra. A bateria, quase sempre em ritmo acelerado, e o vocal raivoso também se destacam na audição. Por e-mail, o guitarrista Will Wagstaff respondeu questões sobre história da banda, trabalho paralelo, influências e trampo mais recente.

“Grid Kill” será o primeiro disco completo do Enforced pela Century Media. O que você acredita que vai mudar daqui para frente estando em uma gravadora grande?
Espero que a distribuição do disco e o tipo de shows que teremos sejam diferentes. Quero poder tocar em qualquer lugar, no mundo todo, e espero que a Century Media nos proporcione isso.

O Enforced pode ser considerada uma banda nova, foi formada em 2016. Mas vocês já têm algumas conquistas. Além de estar em uma gravadora de renome, já tocaram com nomes como Integrity e Sacred Reich. Sente algum tipo de pressão pelo fato de a banda estar ganhando visibilidade? Isso afeta vocês de alguma maneira?
Na real, não. Prosperamos na pressão e amamos tocar com bandas grandes ou pequenas do mesmo jeito. Curtimos também shows maiores e menores, não importa. Vamos sempre detonar no palco!

A banda é a atividade principal de todos os integrantes ou há alguém com emprego regular? Caso sim, como fazer para gerenciar o tempo entre o trampo tradicional e uma banda que ganha cada vez mais espaço e respeito?
Haha, sim! Todos temos empregos regulares. Somos empreiteiros e bartenders. Boa parte de nós faz pintura, carpintaria e gesso. Ethan, nosso baixista, trabalha em uma cervejaria local de Richmond. É bem trabalhoso. Ficamos acordados desde cedo pela manhã trampando para a banda, fazendo entrevistas. Tipo agora, enquanto respondo suas perguntas, são 23h30min, e estou de pé desde as 6h. É bastante tarefa para se lidar, mas, por sorte, todos gostamos de trabalhar. Isso nos mantém jovens.

O Enforced faz uma mistura dentro da paleta extrema de sons. Tem thrash, death e hardcore, por exemplo. Na sua cabeça, quais elementos desses subgêneros mais agressivos do rock são agregados para compor a musicalidade da banda?
A velocidade e a ferocidade do hardcore, e a musicalidade e forma de compor do metal. Além da brutalidade de ambos.

Poderia citar três bandas ou discos que são referências para o pessoal do Enforced? E também artistas ou títulos que, de alguma maneira, influenciaram o novo álbum?
Qualquer artista, de Dark Angel, Possessed, Death a Judas Priest, Black Sabbath, Ozzy, AC/DC, Madonna, Discharge, Disclose e Poison Idea.

Temas relacionados à guerra são temática recorrente no thrash e crossover. Inclusive, em músicas do Enforced. Por que acredita que isso acontece? Talvez a bateria estilo bombardeio, a palhetada meio metralhadora…
Talvez. Acho que tem mais a ver com a brutalidade da temática do que com relação ao som de algum instrumento.

E como o contexto atual afeta o processo de composição do Enforced? Pandemia, polarização política, brutalidade policial, degradação do meio-ambiente, preconceitos contra minorias… Isso, de algum jeito, perpassa pelo som de vocês?
Ajuda no conteúdo lírico, eu acredito. E na tristeza ou ferocidade do processo de composição real.

O que você pensa do cenário extremo atual? Certamente há boas bandas, mas é possível crescer, exercer a criatividade e ter uma identidade própria?
Penso que é possível sim. É difícil, e numa época na qual há muita coisa repetida, pode ser ainda mais complicado. A gente não curte paradas mais eletrônicas ou outro tipo de coisas mais new school. Nós, basicamente, queremos detonar e trabalhar com tanto afinco quanto qualquer outra banda já fez. Acho que a ética de trabalho pode te levar longe e diferenciar sua banda das outras. Também acredito que o show ao vivo é importante — é preciso mais do que vestir jeans e botas no palco para detonar.

Acredita que a música, mesmo as mais pesadas ou sombrias, pode ajudar as pessoas em tempos difíceis?
Sim, pode auxiliar a extravasar agressividade. Pode ajudar também a se relacionar com o fato de a pessoa estar descontente e fazer algo para mudar a situação.

Tem alguma experiência pessoal na qual a música te ajudou, foi tipo uma salvação?
Sim, por quase todo o ensino médio haha! Eu não tinha quase amigos, ouvia música e tocava bateria e guitarra todo santo dia depois das aulas. A música foi a salvação definitiva pra mim.

Pode nos dizer suas três faixas preferidas de “Grid Kill”? E por qual razão são suas favoritas?
“The Doctrine”, “UXO” e “Curtain Fire”. Todas elas nos fizeram ir além dos limites em diferentes perspectivas. Seja pela velocidade, solos ou compondo algo mid-tempo que não fosse sacal. Todos esses sons apresentam desafios. E se há algo de que gostamos é conquistar novos desafios.

– Homero Pivotto Jr. é jornalista, vocalista da Diokane e responsável pelo videocast O Ben Para Todo Mal.

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