Cinema: “Tenet”, de Christopher Nolan

por Otávio Augusto

Um novo filme de Christopher Nolan sempre cria uma gigantesca expectativa em escala mundial. “Tenet” (2020) foi o primeiro longa a entrar em cartaz nos cinemas depois do fechamento total dos espaços públicos em função da pandemia e, em tempos tão sombrios, Nolan nos convida, mais uma vez, a embarcar em uma viagem temporal com todos os elementos da melhor forma da espionagem ao estilo 007. Com roteiro e direção do próprio Nolan, “Tenet” é menos complexo do que “A Origem” (2010) e “Interestelar” (2014) e essa é a grande jogada de Nolan para fazer o que parece ser a proposta: um bom filme de ação. Contudo, “Tenet” já tem despertado críticas severas entre aqueles que querem do filme aquilo que Nolan não se propôs a dar.

John David Washington é um protagonista sem nome, agente de uma organização secreta que precisa evitar que o mundo acabe em uma terceira grande guerra mundial. A missão já seria difícil se não fosse a complexidade da “inversão temporal”. Não se trata de viagem no tempo no sentido tradicional da narrativa da ficção científica como conhecemos. Em “Tenet”, o que muda é o tempo, porém o espaço é o mesmo. Essa proposta é apresentada com uma bala que sai do buraco em que estava alojada e volta para a arma do atirador, intrigando o “Protagonista” enquanto o tempo, em sua forma linear, continua normalmente. Isso se chama “entropia” e tem fundamentos em uma hipótese científica real. Mas esse é um assunto para outra hora…

Voltando à trama, o “Protagonista” tem dois encontros importantes antes de seguir a sua missão complexa: primeiro com uma cientista (Clémence Poésy) que explica a ele o que é entropia e depois com um oficial da inteligência britânica (Sir Michael Caine) que lhe dá um cartão de crédito ilimitado e o manda encontrar Neil (Robert Pattisson) e, assim, se aproximar de um importante traficante de armas: Andrei Sator (Kenneth Branagh).

A partir daqui, “Tenet” poderia se chamar “007 – Viver ou morrer” (“007 – Live and Let Die”, 1973) com o acréscimo das idas e vindas temporais que nos faz ter vontade de responder a questão que Neil coloca para o Protagonista: ”Sua cabeça já está doendo?” A simultaneidade das narrativas temporais, numa mesma cena, parece dar um nó indecifrável a respeito dos próximos passos, mas as cenas seguintes seguem a sua normalidade, ignorando a suposta complexidade que não é o mais importante em “Tenet”.

Kat (Elizabeth Debicki) é uma elegante especialista em arte e, também, esposa chantageada sem piedade pelo vilão Andrei Sator por ter autorizado a compra de um Goya falsificado. A expectativa do romance entre Kat e o Protagonista é evidente e a coragem da atuação de John David Washington é um dos pontos altos do filme. Quando questionado por Andrei Sartor se ele já teria dormido com sua esposa, responde: “ainda não”.

A jornada de Neil e do Protagonista para evitar o fim do mundo é carregada de cenas de explosões, perseguições em alta velocidade, cenários paradisíacos, incêndio em aeroporto e tudo que um bom filme de ação pode oferecer sem perder a mão da narrativa. Enquanto o Protagonista é mais intenso, Neil parece ser a cabeça pensante por trás do plano. A parceria entre os dois exemplos de “James Bond” na tela segue implacável por 2h30m de filme.

Por fim, ainda que com toda entropia na história, “Tenet” não é tão complexo como parece. Nolan sabe que vamos ficar confusos em algum momento, mas a narrativa não se desfaz nas indas e vindas do tempo e resiste à velocidade das informações sugeridas. Se não fosse a pandemia, os cinemas estariam cheios e “Tenet” teria cumprido sua função de ser um boa dose de ficção científica e ação. Agora, com a chegada do filme ao streaming, você já pode se divertir em casa.

– Otávio Augusto é historiador e fã de cultura pop;



One thought on “Cinema: “Tenet”, de Christopher Nolan

  1. No começo a gente toma uma pancada na cabeça, mas no decorrer do filme, vai-se entendendo a tal “viagem no tempo”. É um ótimo filme.
    Sem contar a cena do avião, que o Nolan preferiu comprar uma aeronave e explodi-la a rodar usando computação gráfica.
    Depois de Amnésia, Batman, A origem, Dunkirk, é mais um filmaço que o Nolan dirige. É um dos meus preferidos!

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