Meu disco favorito de 2020: Jehnny Beth

MEU DISCO FAVORITO DE 2020 #10
“To Love is To Live”, Jehnny Beth
escolha de Vinicius Castro

Artista – Jehnny Beth
Álbum – “To Love is To Live”
Lançamento – 12/06/2020
Gravadora – Caroline Records

Em “To Love is To Live”, seu primeiro disco solo, porém não sozinha, Jehnny Beth (Savages) nos traz pra perto, em plano íntimo, seja na sonoridade impulsiva de suas composições ou mesmo ao expurgar palavras que costuram suas letras em um disco forte e frágil; tenso e confortável; ruidoso e delicado.

Em meio a uma colagem de synths tensos que pouco depois dividem espaço com certa delicadeza, “I Am”, faixa que abre o disco, é um enunciado em primeira pessoa, como um prólogo de preparo para tudo que o ouvinte possa se deparar dali por diante:

I am naked all the time,
I am burning inside,
I am the voice no-one can hear
I am drifting through the years

A vulnerabilidade e a intimidação agressiva que Beth consegue imprimir são partes de um todo bem equilibrado e isso fica mais evidente em faixas como “Innocence”, que surge por entre beats encorpados e dispara contra a religião enquanto a seguinte, “Flower”, traz Beth para perto de um timbre quase tão doído como o de Beth Gibbons, do Portishead.

“To Love is To Live” é um disco livre, algo que Beth sentia falta em sua antiga banda. Ao Guardian, ela chegou a dizer que o Savages passou a funcionar como uma espécie de prisão para a criatividade, já que, na visão dela, a banda era muito pura musicalmente e como uma forma de arte, ela não queria quebrar isso.

De “We Will Sin Together” vem o trecho que batiza o disco: “to love is to live, to live is to sin”. Ela, acompanhada de “A Place Above”, declamada pelo ator Cillian Murphy; e a nervosa “I’m the Man”, mostram que entre o noise e o spoken world há um amplo campo de emoções possíveis. Além de Murphy, o disco também traz o vocal do Idles, Joe Talbot, na faixa “How Could You”.

O ponto alto está na linda “French Contryside”, até o momento a melhor do disco. É o tipo de música que te abraça e silencia o mundo. É você, ela, o piano e toda uma esfera de sensações entregues enquanto Beth, de origem francesa, confessa que todas as noites canta suas músicas para alimentar seus medos.

“To Love Is to Live” é um disco pra ouvir na íntegra. É um conto. Um pequeno romance. Um álbum de fato, repleto de histórias. E como uma roda viva do que é viver e do que é o amor, “Human” encerra o disco da mesma forma que ele começa, com Beth recitando novamente um trecho da letra de “I Am”, que abre “To Love Is to Live”. Um disco destemido, fluído e contrário a qualquer controle. Assim como o amor. Assim como a vida.

Vinicius Castro é guitarrista da Huey, mantém o projeto solo Throe e é responsável, ao lado de Amanda Mont’Alvão, pelo site Sounds Like Us

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One thought on “Meu disco favorito de 2020: Jehnny Beth

  1. gostava bastante de Savages – acho que justamente pelo motivo “limitador” que a incomodava -, já esse solo dela não me agradou, salvo algumas poucas faixas.

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