Faro: Panoramas de Novembro na Música e Cultura Ibero-americana

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Oito países unidos pelo mesmo ideal de compartilhar cultura e, com ela, ideias, sonhos, desejos, revoluções. Não a toa, a política norteia muitos dos relatos vindos destes nove países ibero-americanos que compõe o Panorama de novembro da FARO, uma aliança de meios de comunicação musicais e culturais ibero-americanos.

ARGENTINA
por Juampa Barbero / Indie Hoy

Novembro na Argentina foi vivido com a esperança da chegada da vacina e o andamento das negociações dos protocolos para a volta dos shows presenciais. E os lançamentos musicais do mês exteriorizaram esses rastros do contexto, refletindo uma luz no final do túnel.

Lançamentos
2020 foi um ano de consagração para a Bizarrap, o produtor favorito do trap argentino. Suas sessões não param de quebrar recordes e se tornar tendência instantânea. Sua produção mais recente com Nathy Peluso superou todas as expectativas com uma repercussão abismal, e não é por menos, já que esta fusão irradia a energia voraz inerente a ambas as figuras.

Para Paco Amoroso, o isolamento foi uma oportunidade de explorar caminhos distantes para o traficado com sua dupla Ca7riel. O músico mostrou o absurdo de classificá-lo em um único gênero com o lançamento do single “Fatal“, uma peça sentimental que oscila entre o pop sensível e os ritmos disco.

Após um 2019 repleto de turnês e lançamentos, Las Ligas Menores fez uma pausa e lançou só agora seu primeiro single do ano. “Hice Todo Mal” mantém o calor substancial da banda de Buenos Aires com instrumentação afiada, letras animadas e um vídeo encantador sobre as aventuras de suas viagens.

Mi Amigo Invencible reuniu seus últimos singles em um EP intitulado “Nuestro Mundo”. A obra publicada pelo selo Devil In The Woods é composta por uma versão elétrica e uma acústica de “Jardín Secreto“, uma colaboração com a cantora mexicana Mariana Ruzzi intitulada “Algo No Ha Terminado” e “Suavemente Entusiasmado”, música tema do mais recente curta-metragem da banda.

Os portenhos da Gativideo voltaram com um novo single intitulado “Pasarela”, uma música que combina pop e funk com humor e estilo. Ela vem acompanhada por um vídeo criado com o artista gráfico Francisco Negrello que mostra seus integrantes caricaturados no psicodélico de uma caminhada intergalática.

Ainda, o projeto folk formado por Esmeralda Escalante e Yago Escrivá, lançou seu álbum “Millones”, produzido por Adán Jodorowsky. Um trabalho do qual se percebe a suave brisa que distingue a dupla, mas com ares renovados que transbordam do clima folclórico de suas canções passadas para revelar novos horizontes.

Miranda Johansen lançou “Envoltorio”, um álbum conceitual que cria uma atmosfera onírica e misteriosa com uma interpretação sobre a dualidade entre o corpo e a alma. Em seu repertório, a artista mergulha na busca por formas alternativas de abordar a música e tem como convidadas Anyi, Lupe e Vanessa Zamora.

CINEMA
No que diz respeito à área cinematográfica, foi anunciado que “Los Sonámbulos”, o filme dirigido por Paula Hernández e estrelado por Érica Rivas, foi escolhido para representar o nosso país na cerimónia de entrega do Oscar 2021. Será a segunda vez que a atriz argentina chega ao tapete vermelho após a indicação ao “Relatos Selvagens” em 2015.

Nenhum cinéfilo pode esquecer a 35ª edição do Festival de Mar del Plata. Com virtudes elogiadas como a expansão federal e falhas inevitáveis como a sensação cativante de apreciar filmes em uma tela gigante, a programação fornecia um catálogo para todos os gostos. Seu maior prêmio foi para “El Año Del Descubrimiento”, do espanhol Luis López Carrasco. A cobertura completa do Indie Hoy pode ser lida aqui.

LITERATURA
A jornalista especialista em música e feminismo, Romina Zanellato, publicou um livro extremamente valioso intitulado “Brilla La Luz para Ellas”. Nele, ela aborda uma investigação cronológica das mulheres na história do rock e a árdua batalha até alcançar a visibilidade que só hoje prevalece. Um estudo detalhado que revela a mudança de paradigma no cenário nacional dos pioneiros do gênero ao Gardel de Oro de Marilina Bertoldi.

ADEUS A MARADONA
A morte de Maradona chocou o mundo inteiro e as homenagens superaram o campo esportivo. De Queen e Oasis, ao circuito underground local, com tudo que inclui distância, a morte do camisa 10 manifestou sua imortalidade na memória coletiva. Algumas homenagens estão disponíveis nesta nota, com uma menção separada para a carta escrita por Charly García.

O QUE VEM EM DEZEMBRO
O que está por vir é o que esperamos o ano todo: a reabertura gradativa de teatros e shows ao ar livre em diversos setores do país. Recuperar a experiência ao vivo dos shows, após testes contínuos via streaming, era algo impensável há alguns meses e por isso a alegria é algo difícil de esconder.


BRASIL
por Marcelo Costa / Scream & Yell

Novembro no Brasil é sempre um mês agitado com diversas atividades culturais, mas em 2020 foi diferente. O medo de uma segunda onda de contágio da Covid-19 sem termos saído da primeira continua mantendo grande parte da população em casa, e, enquanto o governo do incompetente Jair Bolsonaro nada faz, o setor cultural tenta retomar pequenas atividades. Alguns grandes concertos já estão sendo marcados, mas o cenário independente segue apostando em lives e eventos on-lines. Entramos no 9º mês de quarentena sem lockdown nem alguma ação efetiva do governo federal e já ultrapassamos a marca das 180 mil mortes. 2020 segue cruel para nosso povo, mas a música, o cinema e a literatura ainda nos acalantam.

O mais importante grupo de rap do país, os Racionais MC’s, tiveram seus seis álbuns oficiais relançados em uma caprichada edição de vinil numa parceria dos selos EAEO Records, Fatiado Discos e da produtora Boogie Naipe. Os últimos três lançamentos – “Sobrevivendo no Inferno”, “Nada Como Um Dia Após o Outro Dia” (em edição quadrupla!) e “Cores & Valores” se esgotaram praticamente no mesmo dia.

A área de lançamentos também teve um mês agitado. Julico, vocalista e guitarrista da banda The Baggios, natural do povoado de São Cristóvão, vizinha da capital Aracaju, no Nordeste do Brasil, apresentou seu primeiro disco solo, “Ikê Maré”, que combina elementos de soul, psicodelismo e música brasileira de uma maneira bastante apaixonada.

De Salvador, na Bahia, Luedji Luna surge com seu segundo disco, “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água”, um registro forte que se conecta com o melhor da tradição da música brasileira ao mesmo tempo em que insere elementos de jazz e soul, confirmando a ascensão dessa grande artista.

De Maceió, nas Alagoas, Wado reúne parceiros de longa data e novos nomes da cena em seu 11º disco, “A Beleza que Deriva do Mundo, mas a Ele Escapa”, um álbum em que ele abandona as percussões e se aproxima de harmonias e de timbres acústicos num dos registros mais bonitos do ano.

Veteranos da cena indie rock brasileira, o Wry lançou “Noites Infinitas”, seu sexto disco de uma trajetória iniciada nos anos 90. As 10 faixas refletem a experiência de viver em uma cidade conservadora espelhando a ansiedade, o desespero e a busca por caminhos não convencionais em direção à esperança. Conversamos com eles no Scream & Yell.

Em novembro também tivemos lançamentos do Selo Scream & Yell, dois discos que podem ser baixados gratuitamente no site como também ouvidos em plataformas de streaming: o primeiro deles foi “Canções de Inverno – Um songbook de Ivan Santos & Martinuci”, um álbum de lirismo afiado e melodias densas, indicado para fãs de nomes como Cowboy Junkies, Tindersticks e Nick Cave. O segundo foi “SIEMENSDREAM”, quarto álbum do projeto de música eletrônica instrumental ruidosa Borealis, uma viagem eletrônica por uma Alemanha imaginária/imaginada/real, evocando tecnologia, Muro de Berlim, Guerra Fria, noitadas underground e autobahns sem fim.

No território dos lançamentos ainda é importante citar “Do Meu Coração Nu”, de Zé Manoel; “Leão Alado Sem Juba”, de Bruno Capinam; “Singular”, de Vanessa Krongold (entrevista e vídeos aqui); “3”, de Juliana Cortes; o EP “o mundo acabou mas continua girando”, de Marina Melo (entrevista); e os dois singles deliciosos de um duo formado na quarentena, LOVNIS.

CINEMA
Na sétima arte, o Brasil anunciou seu escolhido para representar o país na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar. Será “Babenco: Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer Parou”, filme de Bárbara Paz que revela como o amor de Héctor Babenco pelo cinema o manteve vivo por tantos anos. Também tivemos estreias em algumas capitais de filmes como “Sem Descanso”, de Bernard Attal, documentário que acompanha a busca de um pai por um filho assassinado pela polícia; “O Barco”, de Petrus Cariry, que conta uma história que se passa em uma comunidade de pescadores; e “Marighella”, filme importante que marca a estreia de Wagner Moura (ator de “Narcos”) na cadeira de diretor. Ele conversou longamente com o Scream & Yell.

Também tivemos em novembro alguns dos mais importantes festivais de cinema do nosso calendário: a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que neste ano aconteceu de maneira majoritariamente on-line e contou com 199 filmes, premiou “Valentina“, de Cássio Pereira dos Santos (Brasil) e “Eyimofe (Esse É o Meu Desejo)”, de Arie Esiri e Chuko Esiri (Nigéria). “Valentina” também foi o grande premiado do 28º Festival MixBrasil, o mais importante festival LGBTQ+ do país. Foram exibidos 101 filmes de 24 países no festival.

Aberta em outubro, e com data final marcada para 22 de fevereiro, a exposição “OSGEMEOS: Segredos”, primeira exposição panorâmica da dupla de artistas formada pelos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, é um dos grandes eventos culturais da cidade de São Paulo neste final de ano. Os ingressos estão esgotando rapidamente assim que são colocados à venda – está tudo vendido até 16 de janeiro de 2021!

O QUE VEM POR AI
Teremos, pela primeira vez, uma edição do Russian Film Festival no país. Oito filmes russos estarão disponíveis de maneira gratuita na plataforma http://spcineplay.com.br, de 10 a 30 de dezembro.

08 de dezembro estreou o documentário “AmarElo, É Tudo Pra Ontem”, de Emicida, na Netflix. Usando o show do rapper no Theatro Municipal, em São Paulo, em 2019 como espinha dorsal, o filme dirigido por Fred Ouro Preto explora a produção do disco “AmarElo” (2019) e, ao mesmo tempo, busca contar a história da cultura negra brasileira nos últimos 100 anos. Imperdível.

Em dezembro também serão lançados dois livros musicais interessantíssimos (e bilíngues: português / inglês): “Jimmy Page no Brasil”, de Leandro Souto Maior, que narra os dias que o eterno guitarrista do Led Zeppelin viveu na Bahia (conversamos com o autor), e “Lindo Sonho Delirante 3“, de Bento Araújo, que compila 100 discos corajosos do Brasil de 1986 a 2000!

Por fim, de 04 a 06 de dezembro aconteceu a Comic Con Experience SP – CCXP Worlds, primeira edição 100% digital do evento, com acesso gratuito e presença confirmada de Neil Gaiman, Art Spiegelman, Jeff Lemire, Gerry Conway, Trina Robbins e Scott Snyder, entre muitos outros. São 680 nomes e 536 mesas virtuais confirmadas!


CHILE
por Equipe POTQ Magazine

Vivemos novembro de 2020 no Chile com ressaca pós-eleitoral e também com muitas músicas novas. Vemos que uma tendência foi criada este ano para a publicação de singles e EPs ao invés de álbuns cheios. E parece algo compreensível quando vemos o estado em que se encontra todo o aparato cultural local, que, antes da eclosão social de 2019, já vivia uma crise de anos. A isso, se somarmos a pandemia, entendemos por que a publicação de discos se tornou um tanto irregular e os criadores continuam fazendo o que podem, em meio à incerteza e precariedade.

Mas atenção, apesar disso, no Chile continua a ser produzida música excelente e é isso que detalharemos a seguir.

SINGLES
Jirafa Ardiendo é um dos grupos indies mais importantes da primeira década dos anos 2000, embora sua fundação tenha ocorrido em 1995. Em 2009 a banda, apesar de sua persistência e bons registros, decidiu se separar, e demorou quase uma década para escuta-los novamente. Eles voltaram em 2018 só editando singles, inclusive este que estreou em novembro, intitulado “Luminoso Sendero“, uma música que passa por várias etapas do pop a que já estamos acostumados: a passagem de versos com teclados remete a Los Planetas, mas o refrão com guitarras mais fortes é a essência do grupo.

Pablo Chill-E também nos mostrou novas músicas. “Aburrido del miedo de salir a comprar / O de que el paco me vaya a apresar”, diz em “Aburrido”, novo single em que colabora com Quilapayún e Inti Illimani Histórico, dois grupos essenciais dentro da Nova Canção Chilena e da canção política, com 50 anos de história. Se tivéssemos que imaginar como soaria um feat entre um artista de trap chileno e um desses grupos elementares de música popular local, seria exatamente assim. Um cruzamento perfeito. E do que eles estão falam? Desse sentimento difícil de explicar porque é muito complexo ao mesmo tempo em que é simples: o Chile acordou e a pandemia nos prendeu e nos empobreceu, tudo ao mesmo tempo.

Ouvir Rosario Alfonso é sempre um abraço e em novembro tivemos a oportunidade de recebê-lo novamente, graças à publicação de “Tranquila”. “Sua violência me surpreende / sua ignorância me satura / sua indolência me machuca”, declama. Só queremos estar tranquilos. Por outro lado, Maler descreveu seu novo single desta forma: “dançante, mas muito escuro. Muito dark”. “Brillante Oscuridad” é a quarta entrega do que ele chama de sua fase experimental produzida por Nico Hernández (Sweet Pomelo). Um electropop minimalista que poderia facilmente ter soado nas pistas de dança da discoteca da capital que tantas vezes nos trouxe felicidade, Blondie (snif).

Drefquila também veio com novidades, “Ring“. Com portais dimensionais e uma estética com pequenos matizes cyberpunk chilenos chega o videoclipe da música. Aparentemente é uma mensagem para aqueles que não acreditaram nele e agora o chamam para participar de seus projetos. Curto, preciso, simples e maleável.

“L3VEL”, o iminente terceiro álbum de El Calle Latina, será lançado no próximo semestre. “Que Hablen” é seu primeiro single, produzido pela CLMusic World (e com um videoclipe estrelado pelo cantor ao lado de Fer Figueroa). Uma música que fala de se libertar de dúvidas e preconceitos, ao ritmo de uma variante própria de reggaeton. E para continuar dançando, chegamos a “For Ya“, uma das melhores músicas que Paloma Mami lançou desde que alcançou a fama com “Not Steady”. A música está em baixa rotação, mas seus dois minutos e meio de duração são intensos e você vai querer ouvi-la novamente.

No meio do mês nós conhecemos um novo single da Cami, “Big Bang“. Armada com um ukulele e com sua voz que a tornou uma das artistas mais valorizadas da cena pop local, a cantora nos faz olhar para o céu.

Já se foi o tempo em que Cancamusa era reconhecido por ser uma parte fundamental de outras bandas. Com “LATE” ele deixa claro que sua proposta artística é interessante demais para deixar passar. Além do mais, se tivéssemos que fazer apenas uma crítica à música, é porque adoraríamos que durasse mais, fora disso, acho que é seguro dizer que estamos diante de uma grande canção com todas as suas letras.

Quem clamava pela próxima música para bailar sensualmente pode parar de procurar, porque sim, Polimá Westcoast fez de novo. Em “Otro Día, Otro Intento” ele retorna com sua armadilha romântica que a esta altura já é marca registrada do cantor. Ao contrário da letra da música em que tudo dá errado, a música funciona e entrega exatamente o que estamos pedindo a Westcoast: amor e dança em partes iguais.

Em “Dame“, seu novo single, Princesa Alba reinventa os nudes (lemos isso no Twitter e aprovamos). Estamos diante de uma artista que já decolou, que está trabalhando livremente e, neste caso, o faz de mãos dadas – mais uma vez – com o espanhol Alizzz. Um som que está relacionado ao seu primeiro trabalho (e o nosso favorito) “Del Cielo Mixtape”.

Uma das notícias mais emocionantes deste mês foi a volta da Playa Gótica, que há um ano nos dizia que o projeto estava em hiato indefinido. O seu novo single chama-se “Anilina“, onde levam uma veia mais punk, juntando este hit com urgência e rapidez, mas como estamos a falar do Plaza Gótica, toda esta sujeira se mistura com funk, pop e a voz característica de Fanny, sua vocalista.

Cocó e Centella se unem na bela canção “El Bosque y El Fuego“. Uma levada macia e primaveril de três minutos e meio em que o som de um piano, que poderia estar perfeitamente numa canção de Fito Páez, gruda na sua cabeça como um verme de som.

Arranquemos del Invierno também chega com novidades este mês. Trata-se de “Bruma“, um pop etéreo, que por coincidência do destino, acabou musicalizando uma das últimas sextas frias antes do verão iminente. Uma canção que, da musicalidade à letra, entrega nostalgia aos montes, algo que Paola Navarrete acentua quando aparece com a voz.

Fármacos também retorna com um terceiro single antecipado de seu novo álbum. Diego Ridolfi, o músico por trás do projeto, explica que se trata de uma canção pop que tem o piano como arma essencial. Se você curte a majestoso “Sol de Invierno”, de Javiera Mena, pode ser que “Cuando Hablo de Ti” seja uma canção que encontre um lugar na sua vida.

Há dois anos, Francisco Victoria lançou “Prenda”, seu primeiro álbum. Agora ele retorna com sua própria música, depois de uma longa temporada trabalhando como produtor em diversos projetos, como a nova etapa de Felicia Morales e Princesa Alba. O single foi composto ao piano, com arranjos de cordas trabalhados com Marcelo Wilson e os coros de uma das revelações de 2020, a malamía. E aqui estamos frente a frente com um compositor que já decolou, com voz própria e, esperamos, com um grande futuro pela frente.

“Acho que rir de mim mesmo é a única maneira honesta que tenho de desmascarar essa simbiose sombria entre música e publicidade que é tão popular hoje”, disse Diego Lorenzini no comunicado de imprensa com o qual compartilhou “All-Time Favorite“, seu novo single a meio caminho do standard jazz, mas com a sua marca e acompanhado pelo multi-instrumentista siciliano Stefano Ortisi, com quem se encontrou na turnê acústica de Erlend Øye pela Alemanha, em 2018.

DISCOS
Um dos melhores letristas do Chile lançou um novo álbum em novembro. “El Mapa de Los Días” é o mais recente trabalho de Dadalú, dez canções nascidas em diferentes exercícios de composição. Um deles, durante 2018, com a tarefa de compor uma música por dia. Exercício que ele repetiu algum tempo depois, inspirado no Inktober. No álbum surgem muitas ideias e questionamentos, mas prevemos que você irá encontrar críticas ao sucesso, às formas tradicionais de promoção na indústria musical (“escolho o que ouço / não um robô“), ao machismo e também frases que provavelmente passaram pela sua cabeça no meio da pandemia que estamos vivendo. Depois desse vômito de emoções e pensamentos das nove músicas anteriores, “Aqui”, com Zita Zoe, aparece para fechar o álbum e se levantar como um manifesto: “Aqui eles nos ignoram e continuamos assim / fazemos nossas coisas e ficamos aqui / não paramos, compartilhamos assim”.

Um mês depois de colaborar com Sofía Viola no single “Te Santifico”, La Plaza del Puma apresenta seu terceiro álbum, “El Valle de los Desilusionados”. Giancarlo Valdebenito e Felipe Bórquez fazem catarse sobre o estado do mundo em um álbum dark por definição, onde a música urbana e a influência latino-americana caminham juntas.

“My Life, My Canvas”, o tão esperado primeiro álbum de Frank’s White Canvas pode finalmente ser ouvido, e tal como havia deixado claro com suas músicas anteriores, o que se busca neste LP é combinar a sensibilidade pop com seu lado mais rock e metal. O experimento funciona e vale a pena conferir, especialmente para aqueles roqueiros que ficam se perguntando onde o rock está hoje. A resposta para esses boomers? Neste disco.

INDUSTRIA

Novembro é também o mês da Pulsar, uma feira de música que, como todas estas instâncias a nível global, se desenvolveu virtualmente. Concertos, palestras e até mercado para comprar produtos fizeram parte desses dias que duraram uma semana. E algo semelhante nos espera na primeira semana de dezembro com a Fluvial, outra feira local de música que acontece em Valdivia todos os anos, no sul do Chile. Nesta ocasião, também remotamente, as atividades serão orientadas para o trabalho das Primeiras Nações, a sustentabilidade ambiental e também a reativação do setor musical.

O QUE VEM

Entre 2 e 8 de dezembro acontece nosso festival de cinema favorito, o In-Edit Chile, festival de documentários musicais que, em sua 16ª edição, traz uma programação variada que este ano atinge todo o Chile através de um canal online e na POTQ Magazine, como todos os anos, estaremos atentos para escolher nossos favoritos.


COLÔMBIA
por Sebastián Peña / Shock.co

Em novembro, vários povoados da Colômbia foram varridos pelo inverno. As ilhas de San Andrés e Providencia foram atingidas pelo furacão Iota e na região do Pacífico as chuvas inundaram cidades inteiras. É por isso que vários músicos dessas regiões uniram forças e organizaram eventos virtuais para arrecadar fundos e reconstruir as áreas afetadas.

A maior novidade é que no dia 8 de dezembro, pela primeira vez desde março, o Movistar Arena de Bogotá, um dos maiores palcos da capital, abriu suas portas para o show beneficente Un Canto X Las Regiones. A transmissão pode ser assistida no YouTube.

Durante o mês também registramos vários lançamentos interessantes que mexeram com o cenário musical. Preste atenção a esta viagem musical, que acabou sendo também uma ampla viagem geográfica pelas paisagens da Colômbia.

LANÇAMENTOS – NOVOS DISCOS
Já falamos muito sobre a artista colombiana-americana Kali Uchis no Shock, mas desta vez demos um mergulho profundo em “Sin Miedo (Del Amor y Otros Demonios)”, seu segundo álbum completo e o primeiro álbum que ela canta quase inteiramente em espanhol. Um dos melhores do ano, sem dúvida.

A cantora de Bucaramanga, Elsa y Elmar, regravou “Ojos Noche”, canção que foi eleita pelo Shock a melhor música de 2019, com a mexicana Carla Morrison. Em 2021 Elsa Carvajal (seu primeiro nome) publicará seu terceiro álbum.

Frente Cumbiero, um dos projetos mais interessantes da música colombiana na última década, lançou seu segundo LP, dez anos depois do álbum anterior, “Frente Cumbiero Meets Mad Professor”. “Cera Perdida”, o álbum, é intitulado em homenagem à matéria-prima do instrumento que serve de espinha dorsal da cumbia colombiana: a gaita (de origem indígena). O álbum explora novos sons dos conjuntos tradicionais da costa caribenha colombiana, abordados do ponto de vista contemporâneo. (Mario Galeano, a mente que lidera a Frente Cumbiero, nos falou sobre o álbum aqui).

Com novos discos apareceram no mapa também o ácido e experimental Julián Mayorga com “Cuando Tengo Fiebre Veo la Cabeza de un Leopardo Magnífico”. Ao todo são 10 cortes que englobam a visão artística e surrealista do músico radicado em Madrid. A propósito, tivemos uma conversa com ele que vai fazer você balançar a cabeça.

De Boyacá, a banda Quemarlo Todo Por Error publicou seu segundo álbum, “A través Del Miedo”, onde mostra uma evolução no som, mas sem perder o toque rebelde e sujo de seu primeiro disco.

Por fim, em termos de álbuns, o rapper Nanpa Básico, um dos nomes mais ouvidos da cena rap local, lançou o álbum “Unicornio”. (aqui ele nos contou sobre o disco).

NOVAS MÚSICAS
No começo de novembro lançamos uma sessão acústica especial com a cantora antioquenha Antonia Jones e sua canção “Pago Yo”. A música contou com a participação do experiente guitarrista Toby Tobón, vencedor do Grammy Latino e reconhecido na indústria por seu trabalho com Juanes.

A cantora Adriana Lucía apresentou o emocionante vídeo de “El Río“, single que nasceu da inspiração que as águas do rio Bajo Sinú, localizado na região de Córdoba, produzem para a cantora.

O grupo da capital Salsangroove estreou uma nova combinação de salsa com eletrônica com o trombonista e produtor Mauricio Castillo. Os versados salseros o conhecerão por seu trabalho com nomes como Oscar D ’Leon, Tito Nieves, Joe Arroyo ou Yuri Buenaventura. “Para El Monte” ganhou registro numa sessão ao vivo.

O cantor e compositor de Bogotá Juan Pablo Vega também começa a preparar o terreno para o que será seu próximo álbum de estúdio e lança “Lo Volvería“, que vem acompanhado do clipe mais artístico de sua carreira.

O grupo de acid jazz e rock psicodélico Los Niños Telepáticos também lançou uma música, “Imágenes“, que vem acompanhada de um vídeo com imagens gravadas na região de Casanare. Uma verdadeira ode às belezas naturais do país.

Finalmente, um recomendado emergente: Pavlo, Amantina e Siempre Perdida são três representantes do novo electro pop alternativo colombiano. Eles se uniram e de uma sessão experimental de estúdio nasceu a canção “Perdón“.

LIVROS
O músico samario Carlos Vives publicou via Editorial Planeta o livro “Cumbiana, Relatos de un Mundo Perdido”, obra co-escrita ao lado do historiador Guillermo Botero. Neste lançamento, o vencedor de três Grammy Latinos pelo seu mais recente álbum (que leva o mesmo nome) conta o que a cumbia, gênero vernacular dessas terras, representa para ele.

Para músicos e outros interessados em um dia viver da música, a advogada colombiana Catalina Santa lançou o livro “Music Business Para Todos”, um texto informativo no qual explica o ABC que todo artista deve saber para aproveitar ao máximo sua carreira musical. Para falar sobre o seu livro, realizamos uma conversa virtual em que participaram vários especialistas em direito da indústria do entretenimento.

CINEMA
Muitos cinemas na Colômbia reabriram após oito meses sem exibir um único filme. Um dos filmes que marcou este retorno foi “Nowhere”, dirigido pelos irmãos David e Francisco Salazar. O filme desenvolve a história de um casal homossexual conhecido nos Estados Unidos, mas devido ao seu status de imigratório, um deles deve retornar à Colômbia, obrigando-se a escolher entre lutar pelo amor ou enfrentar sua família homofóbica.


ESPANHA
por Rubén Scaramuzzino / Zona de Obras

Menos de um mês antes do final deste ano desastroso. Vivemos entre pessoas desanimadas e exaustas com a situação, e outras tão despreocupadas que o contágio continua sendo uma ameaça. A cultura continua sendo uma das áreas que mais sofre com a pandemia, mas apesar de tudo, a atividade não para. O melhor teste para verificar você lê nas linhas abaixo.

Após o sucesso de seu álbum “Sanación”, María José Llergo apresenta “La Luz” e “Tu Piel”, duas novas canções co-produzidas por $kyhook e Didi Gutman (Brazilian Girls) que mostram a artista cordobesa dando mais um passo em seu caminho para o consagração fundindo raízes do flamenco com eletrônica e sons ambientais.

Com o álbum “Manifiesto” obteve excelentes críticas e abalou a cena flamenca mais vanguardista. Agora a dupla RomeroMartín se junta a Hnos. Munoz – que com seu álbum “Nuevo Romance” expressa seu amor pelo pop ambient e pelos tiques sulistas –, em “Mala Suerte”, um single conjunto que é um exemplo fantástico de fusão entre raízes do flamenco e ritmos urbanos. Segundo os seus próprios autores: “é um lamento noturno entre palmas e tonalidades; é uma incursão por novas áreas das duas bandas, procurando um ponto de encontro baseado nas raízes andaluzas e na sonoridade contemporânea”.

O novo videoclipe de Soleá Morente não poderia falhar. A canção é de Ana Fernández-Villaverde (também conhecida como La Bien Querida) e o clipe, que conta com a presença de Pilar Albarracín e da ginasta e acrobata Laura Díaz, é dirigido pelo inquieto e lúcido ator e diretor Paco León. É assim que chega a peça audiovisual “Lo Que Te Falta”, faixa-título de seu álbum publicado há poucos meses, que combina o quejío flamenco em toda a sua intensidade com o ruído do indie-noise. Ver uma Soleá totalmente expressiva correndo por um beco vestida de cantora flamenca enquanto canta: “Se você não pode ser feliz com o que tem, nunca será feliz com o que falta”, emociona.

Maria Rodés e David Rodríguez (La Estrella de David) decidem montar um projeto conjunto que publicará seu primeiro álbum, “Contigo”, no próximo ano pela Elefant Records. Conhecendo os protagonistas, a novidade é emocionante, e muito mais depois de ver o videoclipe recém-lançado “Hacer El Amor”, em que oferecem exercícios bluegrass, pedal-steel, ritmo sincopado e letra charmosa e cheia de carinho. María publicou recentemente o álbum “Lilith”, uma obra conceitual repleta de referências mitológicas na qual desmistifica a palavra “bruxa”.

Misturando gêneros e estilos como r& b, neo-soul, hip hop e house e a influência de elementos culturais e musicais do Caribe latino-americano, Cantamarta, trio formado por dois andaluzes e um colombiano-venezuelano, publica “La Menor” através do selo Casa Maracas, um single com letras poderosas e cadência sensual.

Com uma melodia fresca e uma narrativa sensível e sutil, tudo emoldurado por uma proposta de pop contemporâneo e urbano, com toques de eletrônica e neo-soul, chega “Wu wu” de Sen Senra, com a participação do colombiano Feid, colaborador regular de J Balvin e Nicky Jam, entre outros. Com este novo single, o jovem músico galego parece estar mais do que preparado para deixar de ser uma grande promessa e dar um salto a um público mais vasto.

O consolidado septeto de Burgos La M.O.D.A. (ou La Maravillosa Orquesta del Alcohol) sempre teve sua marca de identidade influenciada pelo folk e seus derivados. Já com “Conduciendo y Llorando” – nova prévia de seu próximo álbum “Ninguna Ola”, que será lançado em dezembro –, ele surpreende muito, saindo de sua zona de conforto com uma música sugestiva. O grupo se recusou a dar mais detalhes sobre a música ou letra, com o intuito de não influenciar o ouvinte e na esperança de que cada pessoa forme sua própria opinião ao ouvi-la. A música é produzida por Raül Refree, que deixa sua marca no som e o videoclipe é dirigido por Anna Karinving.

Por sua vez, Hidrogenesse ficou marcada com “La Casa Exagerada“, curta-metragem feito para o remix da canção “La Carta Exagerada” de Chico Blanco, um gênio dos que não abundam: uma peça audiovisual de quase sete minutos que transborda talento, imaginação, qualidade, lucidez, humor absurdo e desempenho técnico impecável. No filme, em que a dupla formada por Carlos Ballesteros e Genís Segarra dançam ao ritmo da house remix de Chico Blanco, o pintor miniatura David Macho aparece e traz dicas, tutoriais e receitas para o confinamento à vontade em casa. Há passos de dança, receitas para fermentar vegetais, informações sobre arte, saúde e beleza e muito mais. Brilhante seria uma palavra apropriada para definir este trabalho.

“Si Mi Rayo Te Alcanzara” é o título da nova obra do galego Xoel López, primeira depois da trilogia composta por “Atlántico” (2012), “Paramales” (2015) e “Sueños y Pan” (2017). Este 15º álbum de sua carreira – quatro deles solo – marca o início de uma nova etapa que, certamente, trará boas notícias porque, como já dissemos uma vez: enquanto o resto dos mortais lutam com a vida, esquivando-se de golpes com sorte diferente, há caras (como Xoel) que parecem seguir um mapa luminoso.

A Monkey Week, realizada de 17 a 22 e articulada para a ocasião como um programa de TV online, superou o desafio com destaque na sua atípica edição de número 12. Foram seis sessões online gratuitas com palestras, entrevistas e mais de 80 shows e showcases de 74 artistas de 15 países diferentes. Faro, que foi media partner do evento, participou numa das atividades com a presença de Cynthia Flores, da IndieRocks!

Durante novembro, vários concursos de cinema interessantes foram realizados com destaque para o Festival de Huelva (em formato online, de 13 a 20), dedicado ao cinema ibero-americano, no qual foi eleito Melhor Filme “Planta Permanente”, dirigido pelo argentino Ezequiel Radusky e estrelado por Rosario Bléfari e Liliana Juárez, que ganhou o prêmio de “Melhor Atriz”.

Por sua vez, o Festival Márgenes subiu o pano no dia 26 (em formato híbrido: presencial e online) com “Karen”, de María Pérez Sanz, uma das cineastas mais destacadas do momento que apresenta seu segundo longa-metragem, estrelado por Christina Rosenvinge. O evento, voltado para o cinema ibero-americano independente, vai até o dia 13 de dezembro.

De 18 a 21, a cidade galega de Carballo foi o epicentro de web series e conteúdos digitais com a 7ª edição (online) do festival Carballo Interplay, um evento que ofereceu, como de costume, uma representação latino-americana variada na sua programação. Como Mlhjor Webserie internacional foi eleita a portuguesa “Subsolo”; como Melhor Série Eletrônica Espanhola, “Válidas” e como “Melhor Série em Versão Original em Galego”, “Os 20 de XX”.

“30 Monedas”, série de terror e suspense de Álex de la Iglesia, composta por oito capítulos em que uma série de fenômenos paranormais começam a ocorrer em uma pequena cidade, chegou à telinha pela HBO. O padre local deve resolver o mistério que estaria relacionado a uma moeda que faria parte das 30 com que Judas pagou por sua traição a Jesus Cristo, e que levará a uma conspiração que envolve o Vaticano e ameaça o mundo inteiro.

De 23 a 27, a semana inaugural da Bienal Ibero-americana de Design (BID), o evento mais importante do design ibero-americano contemporâneo, foi presencial e online na Central de Diseño, em Matadero Madrid. A exposição desta 7ª edição pode ser visitada até o final de janeiro (para depois percorrer diferentes cidades ao redor do mundo).

Entre os dias 16 e 21 realizou-se o Festival Eñe, uma das mais importantes festas literárias da Península. Para a ocasião, o diretor literário foi o escritor e jornalista Jesús Ruiz Mantilla, que assina o manifesto desta edição: “A distopia morreu”. Viva a utopia! Nomes de destaque do campo literário e cultural participaram das diversas atividades como Mario Vargas Llosa, Elvira Lindo, Luis García Montero, Soledad Puértolas, Antonio Muñoz Molina, Martín Caparrós, Santiago Roncagliolo, Irene Vallejo, Guillermo Arriaga, Doris Salcedo e Benjamín Prado, entre muitos outros.

Antes de terminar, uma recomendação literária: “Zona a Defender”, novo livro do galego Manuel Rivas, publicado pela Alfaguara, uma obra empenhada no mundo em que vivemos e que devemos deixar como herança. Diz o comunicado de imprensa: “Em um mundo focado no desempenho econômico e industrial, este livro propõe uma perspectiva literária e esperançosa sobre a necessidade de promover uma mudança no significado de palavras como ‘sociedade’, ‘natureza’, ‘poder’, ‘individual’, ‘cultura’ ou ‘criação’, e encontrar um espaço de reflexão sobre o que nos falta”. Leia um trecho aqui.

O QUE VEM
Vários álbuns interessantes são esperados, incluindo “La Distancia Entre El Barro Y La Electrónica. Siete Diferencias Valdelomarianas”, de Niño de Elche; “Curso de Levitación Intensivo”, de Bunbury; “Ninguna Ola”, de La M.O.D.A., e “La Música Moderna Que Emociona a la Juventud”, EP de Temerario Mario.

Por último, chegou sexta-feira, dia 11, aos cinemas “Nieva em Benidorm”, de Isabel Coixet, cuja estreia foi suspensa à última hora de Outubro devido às restrições da pandemia; e no mesmo dia Pedro Collantes estreia “El Arte de Volver”, filme estrelado por Macarena García que conta a história de Noemí, uma jovem atriz que volta para casa para assistir a um casting que pode mudar sua vida.


MÉXICO
por Cynthia Flores / Indie Rocks!

Novembro foi um mês relevante para a comunidade feminina do México que continua na luta pela igualdade de direitos e ações concretas de justiça do governo de Andrés Manuel López Obrador diante dos múltiplos feminicídios que ocorrem em nosso país.

Em vários estados a justiça é exigida com mais frequência em espaços públicos para os milhares de desaparecidos, esquartejados ou estuprados em nosso país. O número continua aumentando.

Em Cancún, no início do mês, o diretor da polícia municipal, Eduardo Santamaría, deu a ordem de atirar para o ar durante o protesto de 9 de novembro para interromper a marcha, porém dois repórteres tiveram ferimentos a bala. Isso gerou grande revolta nas redes sociais, fato que exemplifica a ineficiência das lideranças que governam nosso país.

“Nem uma a menos”, “Você não está sozinha”, “A polícia não cuida de mim, meus amigos cuidam de mim!” são frases que todas cantamos em uníssono em cada marcha que acontece no México. Essas ações, asseguro-lhe, não vão parar. Estamos cansadas.

Continuando com a nossa querida coluna mensal sobre música e cultura, recomendamos vivamente que assista aos episódios de um festival que tanto amamos, o NRMAL Camarada. Nessas sessões ao vivo, você verá mais variedade de projetos latino-americanos e propostas renovadoras. Não perca esta oportunidade.

Em outra notícia relevante para a comunidade independente mexicana, Austin TV finalmente lançou um de seus álbuns de maior sucesso nas plataformas: “Fontana Bella”. Material emblemático que marcou uma nova era no rock mexicano com outros tipos de propostas sonoras, neste caso, o math rock.

Entre as sessões virtuais que foram apresentadas em diferentes plataformas, a Casa del Lago teve uma sessão maravilhosa com o projeto Amor Muere, no âmbito do festival online Poesía en Voz Alta. O quarteto sonoro experimental formado por Gibrana Cervantes (Vyctoria), Mabe Fratti, Concepción Huerta e Camille Mandoki capturou algumas de suas canções em um espaço ao ar livre em Coatepec, Veracruz durante mais de 40 minutos.

PROPOSTAS
Do álbum de estreia lançado este ano pelo Strange Color, quarteto da Cidade do México, sai o videoclipe para  “Fuzzphere”. Uma peça brilhante e psicodélica da qual o realizador Andy Agus mescla visuais da banda ao vivo e um personagem robô animado que ele aprecia junto com a peça.

De Guadalajara, as meninas do Neptuna estrearam o vídeo e single “Ikite Iru“, uma composição escrita e interpretada em japonês sob a produção de Milo Froideval, que reflete o amor que o grupo mexicano sente pela cultura oriental, que ganhou um tema audiovisual genial produzido por Artivo.

Diles Que No Me Maten é um projeto muito jovem da Cidade do México, que surpreendeu muitos ao vivo pela sua execução, a profundidade de suas letras e o cuidado na entrega de som. Este ano eles apresentaram “Edificios”, um EP que deu muito o que falar na comunidade musical mexicana, e agora surgem com um novo single, “Quién Es Nosotros”, peça trip hop que parece viver na escuridão da solidão da cidade grande.

Gonzalo Pascual, mais conhecido por La Era de Gomes, é uma proposta que tem construído o seu som com alguns toques psicadélicos e lo-fi que realçam a dramaticidade da mensagem que projeta no seu mais recente lançamento, “Si Ya Te Vas“.

DISCOS
Amparo Carmen Teresa Yolanda é o nome de uma das propostas mais frescas do “pysch” mexicano e vem com um terceiro material chamado “No Hay A Donde Ir”. Hipnotizante, estrondoso e sincero.

O jovem produtor de música eletrônica da Cidade do México, Edgar Mondragón, estreia com “No Hay Recuerdo Que No Se Apague”, seu primeiro full-length com nove faixas repletas de grande força, dinamismo e experimentação eletrônica.

NOVIDADES
Duas destacadas expoentes do hip hop mexicano, Hispana e Niña Dioz, se juntam para apresentar “Mezcal”, uma faixa com batidas e toques muito mexicanos para reforçar o discurso feminino de seu círculo musical.

Fermín Sánchez (The Guadaloops), com o seu projecto a solo, apresenta “La Marea”, uma composição pop que te mergulha por alguns momentos nas profundezas da tristeza ou do medo. Confira o vídeo oficial com uma animação feita por Nadja Zendejas.

“A las 8 con Caloncho” foi o nome do show virtual criativo que o sonorense Caloncho ofereceu a mais de 50 mil pessoas, no qual lançou seu novo single, “Sensei”. Nele desfrutamos de um folk tropical suave.

CINEMA
Vencedor do Festival Internacional de Cinema de Guadalajara deste ano, recomendamos que você siga a trilha de “KOKOLOKO”m de Gerardo Naranjo. Uma viagem dos sonhos na história de uma garota de Oaxaca em um país cheio de questões complexas e manifestações de violência de gênero.

O QUE VEM
O festival Mutek de áudio digital e arte audiovisual com representação no México, celebrará sua 17ª edição em formato híbrido online em conjunto com a Mutek Japão, que terá uma rica programação que poderá ser desfrutada de 9 a 13 de dezembro.

O Centro de Creadores Musicales convida à Semana Cultural de conferências gratuitas de 14 a 18 de dezembro via Zoom, ministradas por: Mario Santos, Natalia Lafourcade, Memo Gil, Pablo Lach, Rodrigo Galindo, José Luis Esquivel, Agustín Ayala , Rosino Serrano e Adolfo Tapia. Mais detalhes para se cadastrar neste link.

O MTV Unplugged da Fobia fará sua estréia em 17 de dezembro na MTV América Latina. Prepare-se para curtir 13 grandes sucessos que marcaram a carreira musical desta já consagrada banda mexicana.


PERU
por Renzo Lobato/ Rock Achorao

Novembro de 2020 desencadeou a pior crise política das últimas décadas no Peru. Fartos da ação desastrosa de um grupo de parlamentares neste último mandato (3 presidentes em 4 anos), dezenas de milhares de peruanos foram às ruas para fazer sentir sua rejeição e exigir uma série de reformas estruturais. Infelizmente, nessas manifestações massivas que deveriam ser pacíficas, houve dezenas de feridos, desaparecidos e dois mortos. Dois meninos de 22 e 24 anos: Inti Sotelo e Jack Pintado, que serão lembrados por defenderem com vida a democracia de um país. Eles fazem parte disso, a Geração Bicentenária.

Já com um novo presidente interino instalado no Palácio do Governo, ares de tranquilidade são sentidos sob o olhar de um povo vigilante e pronto a agir perante qualquer má decisão. O trabalho foi retomado e a música continua a tocar. Este são os destaques de novembro no Peru.

NOVOS SINGLES
De Ayacucho, a princesa andina do pop, Renata Flores, nos fazia esperar por novas músicas e acaba de nos surpreender agradavelmente com “Chañanan Cori Coca”, uma canção inspirada no lendário guerreiro Inca que fez o Chancas recuar, ajudando Pachacútec a defender Cusco . É o primeiro corte do próximo álbum que garantimos que será uma pérola do “pop andino”.

Attawalpa é o nome real do músico de sangue peruano nascido em Londres que veio ao nosso radar após apresentar seu EP “Spells” no início deste ano. Ele publicou recentemente “Killer“, uma magistral pela de dream rock cheia de mistério, nostalgia e escuridão.

Este é definitivamente o ano do cantor e compositor Adrián Bello, de Lima. Após conseguir duas importantes colaborações com Jósean Log em “Escondidos” e com Ximena Sariñana em “Explotion”, ele nos dá “Vas a Llorar (No se Querer)”, uma canção para aqueles corações partidos atingidos por nostalgia e desgosto, no melhor estilo do pop & soul latino-americano em homenagem à comunidade LGTBIQ +.

Quem também soube contornar a recessão gerada pela pandemia são o casal Alejandro e Maria Laura. Eles até decidiram se mudar para o interior, longe da barulhenta Lima, para se inspirarem para criar novas músicas. “Aparato” é um convite – em tom um tanto irônico – para se conectar com a vida real, no que diz respeito à nossa dependência de dispositivos eletrônicos no nosso trabalho diário.

Wanderlust é uma banda de math rock peruana por excelencia e, em seu gênero, está sempre um passo à frente em busca de novas passagens sonoras pelas quais viajar. Em “Desierto” experimentam novas texturas e nuances enquanto nos motivam a continuar de cabeça erguida para superar qualquer obstáculo.

Los Estroboscópicos são a banda chiclayana com maior projeção nos últimos anos. Não há dúvida. Este mês eles finalmente lançaram seu EP de estreia que inclui todos os singles publicados individualmente desde 2018 e acrescenta “Flores”, a única faixa inédita do álbum.

10 longos anos tiveram que se passar para que Los Chapillacs, de Arequipa, nos desse uma nova música. É um single duplo que traz as canções “Día de Salvación” e “Fiesta de Mostros“, que, como sempre, são uma amostra explosiva de cumbia insolente para mexer o corpo sem derramar a cerveja, como naquelas intermináveis festas de purita, cumbia e rock and roll.

Como Dante disse no filme “Martín (Hache)”: “Você tem que foder mentes”. Ximena Vasquez sabe disso muito bem, por isso compôs “Mind Games”, uma música que retrata a natureza fascinante dos jogos mentais em processo de descoberta interpessoal. É acompanhada pelo rapper de Lima Giru Mad Fleiva com quem consegue um interessante equilíbrio entre soul, rap e aquela sensual dembow para dançar grudadinho no escuro.

Mial é o novíssimo projeto pessoal do músico limenho Miguel Ángel Labán que estreia com “Panea”, uma canção pop rock com piscadelas etéreas que nos emociona e nos deixa com expectativas de muito mais. Vamos ver o que você tem guardado para mais tarde.

Também recomendamos ouvir: “Ansiedad” de Roxie, “Nicotina” de Yamilé, “Existo (Mi Universo)” de Ati Lane Ft. Buen José e “Normal” de Gonzalo Genek ft. Miguel Guerrero.

NOVOS ÁLBUNS
De Piura, no norte do Peru, Vringo se reencontra após uma longa pausa para realizar seu primeiro álbum completo, “Muladar”. Um disco de sonoridade ácida, poética e visceral que retrata a “viagem” mental de uma pessoa sob a influência de entorpecentes até chegar a um depósito de lixo. Recomendamos.

Varsovia está de volta com “Diseñar y Destruir”, um álbum lisérgico de oito faixas punk de sintetizador corrosivo, escuro, incendiário e direto. Ideal para sair à rua para marchar.

O incansável Garzo é um dos músicos peruanos com maior número de projetos musicais em paralelo (Plug Plug, Metamorphosis, Raysed by Zebras, Radiación Selenita, etc). Sua inquietação criativa o levou a lançar quatro (Quatro!) álbuns durante a pandemia. “Ánimo” é o mais recente e é uma coleção de pequenas doses de punk hardcore com letras irreverentes e engraçadas. Ele mantém sua marca mesmo com o passar dos anos.

Também recomendamos ouvir: “Los Manayupa” de Esvedra, “Artifice” de Blue Tiger e “Unojoalfuturo” de Somontano.

O QUE VEM
O ranking anual do Rock Achorao: 25 álbuns, 25 videoclipes e 100 canções peruanas de 2020, revisados por diferentes meios de comunicação nacionais e internacionais. O festival “Rok An Pop” organizado pela Move Concerts, que anunciou o retorno quase completo da formação original do Libido, talvez a banda mais popular do Peru. Também está chegando a edição 2020 da Apufest em Cusco, um evento presencial para reativar o turismo no umbigo do mundo no qual também serão oferecidas visitas arquitetônicas, gastronômicas e musicais.


URUGUAI
por Kristel Latecki / PiiiLA

Novembro marcou uma mudança na trajetória do Coronavirus no Uruguai: a partir de um controle de casos no início desta fase, houve um aumento exponencial das infecções, atingindo números recordes a cada dia. Com o Estado colocando o controle da pandemia sobre a vontade e a responsabilidade do povo, enquanto a vida social e profissional continua em plena normalidade, a situação de dezembro não é muito animadora.

No entanto, como afirmado no Panorama anterior, a programação de espetáculos ao vivo continuou a oferecer espetáculos imperdíveis e diversos, principalmente no que se refere à esfera independente, que graças aos protocolos de saúde pode se dar ao luxo de tocar em mídias e grandes palcos, fazendo com que suas propostas brilhem ainda mais e se esgotem rapidamente.

LANÇAMENTOS
Este mês no PiiiLA estreamos o CADENCIA, um podcast onde aproveitamos para conversar com músicos sobre diversos temas. E um dos últimos programas foi com Franny Glass, que acaba de lançar seu excelente sexto álbum “Canciones de Amor para el Fin del Mundo”. Com um título muito adequado para 2020, apresenta composições feitas com uma banda ampliada com trompas e cordas, que dão asas às letras extremamente cativantes.

Eli Almic lançou seu segundo LP, “Días Así”. Desta vez fazendo dupla com o baixista e produtor Migue Nieto, a rapper mostra não só o quão manejável sua interpretação é (ela sempre parece ter um novo fluxo, uma nova voz), mas também se abre para mostrar depressões, inseguranças e pensamentos não filtrados, no tom do hip hop, trap e até candombe.

Outro excelente álbum de hip hop é o de AVR, a estreia do rapper que já havia lançado uma colaboração com a CHN intitulada “Satori” (2018). Em “Sankofa”, ele oferece uma espécie de “tese” sobre o passado, o presente e o futuro, atravessada pelo racismo e inspirada na poesia de seu bisavô Juan Julio Arrascaeta, o primeiro poeta afro publicado na América Latina. Unindo o candombe ao rap, conta também com convidados como Rubén Rada, Hugo Fattoruso, Santi Mostaffa e Viki Style.

Voltando ao rock, Romina Peluffo apresentou um segundo álbum com uma sensibilidade à flor da pele, uma distorção que seus shows ao vivo pediam e um conjunto de letras que revelam maturidade e dúvidas eternas. Para saber mais sobre “Piel Fina”, você pode ouvir uma entrevista que fizemos com Romina em nosso podcast.

Inspirado no primeiro mês da pandemia, o multi-instrumentista Ignacio Vecino criou “Golden Age”, o sexto álbum de seu projeto solo Mountain Castles, como uma espécie de “resgate emocional” entre o medo e a paranóia. Com sua voz mais presente e nítida na mixagem do que em trabalhos anteriores, ele surge mais direto, mas sem perder sua psicodélia vintage.

No último fim de semana de novembro, Contramarea, uma nova banda psicodélica e fuzzm estreou ao vivo com músicos de longa data. Em “24.7“, a primeira música que publicaram até agora, dão uma amostra das dimensões que este quarteto atinge.

Pekeño 77 continua sua excelente sequência de vídeos, e neste mês repetiu a grande ideia de colaborar com o lendário Rubén Rada. Abandonando brevemente o trap que o tornou famoso nos dois lados do Río de la Plata, Peke explora o funk com uma faixa produzida por Gustavo Montemurro, Matías Rada e Pedro Alemany. “Ese Pibe” entra totalmente na atmosfera dos anos setenta com uma estética vintage de pura festa.

Um dos álbuns previstos para dezembro é o de Kira1312, que neste mês lançou o primeiro corte em forma de videoclipe. Numa fusão de funk e trap carioca do produtor e DJ LVZY, “Radioaktiva” revê o passado da rapper, mostra seu excelente presente e dá dicas de seu futuro brilhante.

Hache Souza, membro do MAC Team y Los Buenos Modales, e um dos rappers mais afiados e habilidosos, lançará o sucessor de “Primavera en la Antártida” (2014) em janeiro e a primeira prévia é “Modo Avión“. Feito com o produtor BNT, é um trap puro e simples, e que rima com altura.

Outro dos MCs de Los Buenos Modales também tem um novo tema. Arquero continua a festa com 6 AM, faixa produzida por Rodrigo Baeza e Luis Angelero, que em suas palavras combina o “under e o mainstream” com perfeição. Onda e carisma não faltam.

EVENTOS
O pianista uruguaio Gustavo Casenave recebeu o Grammy Latino de “Melhor Álbum de Tango”. O músico é um dos poucos uruguaios a ser premiados: no ano passado foi eleito o “Melhor Álbum Instrumental” e no total acumula seis indicações.

Já Bajofondo – também indicado ao Grammy Latino – foi selecionado no Grammy na categoria “Melhor álbum alternativo ou rock latino”.

MC Naicen foi coroado o campeão uruguaio do Red Bull Batalla de los Gallos, reconhecida como a competição mais importante do estilo livre hispânico. Ele representará o Uruguai na final internacional que será realizada na República Dominicana em 12 de dezembro.

O Ballet Nacional del Sodre estreou “La Tregua”, uma adaptação da obra de Mario Benedetti em comemoração ao seu centenário. Com dramaturgia de Gabriel Calderón, música de Luciano Supervielle e coreografia de Marina Sánchez, leva os protagonistas seu enredo a uma rotina interrompida pelo amor à dança. Os ingressos se esgotaram rapidamente.

Até o dia 5 de dezembro se realizou o 38º Festival Internacional de Cinema do Uruguai, organizado pela Cinemateca Uruguaia. Esta edição aconteceu em oito teatros de Montevidéu, e com quatro apresentações em Punta del Este durante os finais de semana. Foram 156 filmes (83 longas e 73 curtas metragens) de 54 países em sete seções competitivas, duas panorâmicas, uma seção temática, cinema e música, uma seção de autores consagrados e exibições especiais.

O QUE VEM
O último mês do ano sempre tem uma boa ninhada de álbuns esperados: no dia 4 chegará a estreia de Kira1312, e Buenos Muchachos já confirmou seu nono trabalho para o dia 11. Patricia Turnes prometeu um novo álbum ainda sem data, e também estamos aguardando a primeira carta de apresentação do Nomusa nas primeiras semanas.

Dobrados aos protocolos, são numerosos os shows confirmados ao vivo, entre os quais se destacam os citados Buenos Muchachos que farão seu clássico show de fim de ano, desta vez com cinco eventos no La Trastienda Club Montevidéu. Alucinaciones en Familia também retorna ao palco, rapidamente esgotando os ingressos em novembro; Martín Buscaglia continua apresentando seu álbum; e Mocchi regressa ao Teatro El Galpón com convidados.

One thought on “Faro: Panoramas de Novembro na Música e Cultura Ibero-americana

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