Faixa a faixa: O primeiro disco de Vinícius Sarmento

 entrevista por Bruno Lisboa
faixa a faixa por Vinícius Sarmento

Natural de Recife (Pernambuco), o violonista Vinícius Sarmento surgiu na cena musical contemporânea como um dos mais talentosos e requisitados da sua geração. Nascido em 1992, sua dedicação ao instrumento começou aos 8 anos, fruto da influência musical familiar.

Experiente, o músico tem em seu vasto currículo parcerias com Dominguinhos, Yamandu Costa, Henrique Annes, Geraldo Maia, Zé Manoel, Lula Queiroga, Lucas dos Prazeres, Junio Barreto e o clarinetista americano Robby Marshall entre outros. Após anos de dedicação e vivência com outros artistas era chegada a hora de seu primeiro trabalho solo.

Com produção própria, o álbum “Vinicius Sarmento” é composto por 10 faixas instrumentais, onde em 9 delas o músico aposta num abrangente repertório de releituras homenageando ícones da MPB como Caetano Veloso (“O Ciúme”) e Paulinho da Viola (“Inesquecível) e também de artistas referência do violão 7 cordas, como Radamés Gnattali, Henrique Annes, Garoto e Lalão. A única faixa autoral do disco é “Canção pra Helena” que fez parte da trilha sonora da série “Fim do Mundo”,de Hilton Lacerda.

Na entrevista e no faixa a faixa abaixo, Vinícius Sarmento fala sobre os motivos que o moveram a lançar um disco em plena pandemia, o processo de seleção do repertório, suas influências, a busca pela originalidade, as motivações que o levaram a gravar cada uma das releituras e muito mais. Confira.

2020 tem sido um ano de muitos desafios devido a pandemia, em especial, para a classe artística. Nesse sentido como tem sido este período para você? E ainda: o que o motivou lançar um disco neste período?
Pro mundo tem sido um ano complicado, mas tenho tentado buscar o lado positivo. Quando começou o lockdown eu percebi que poderia usar esse tempo pra aprender coisas novas e é isso que venho tentando fazer desde o início. Evidente que não poder fazer show é um problema, mas cada um vai se virando como pode. O disco foi gravado entre setembro de 2019 e janeiro de 2020. Em março já tínhamos todas as faixas masterizadas. Na minha cabeça seria lançado esse ano, e apesar da pandemia – ou talvez por causa disso –, acho que é um momento favorável pro mercado fonográfico.

O disco é composto por 10 faixas onde 9 delas são releituras de canções de artistas consagrados da música popular brasileira. Desta feita como se deu o processo de seleção do repertório e o quão desafiador (ou seria prazeroso?) é revisitar a obra de um ídolo?
É meu primeiro disco solo, então ele é de alguma forma resultado desses anos todos de formação de repertório, pesquisa etc. Procurei fazer um disco que reproduzisse com fidelidade o músico que sou hoje. Quem ouve o disco percebe que tenho uma grande influência da escola tradicional do violão brasileiro, muito ligado ao choro. Essa é a base do disco, porque é a base do que eu sou. Mas também tem valsa, uma peça de Radamés que é mais pro erudito, uma canção de Caetano…

Em sua trajetória você já trabalhou junto com diversos artistas, das mais variadas searas. De que maneira o contato e a vivência com outros músicos inspiraram o seu fazer musical?
Eu tive contato com tanta gente boa que até fica difícil mensurar a importância que eles tiveram na minha vida. Acho que o mais importante para um músico é absorver o máximo de boas influências e tentar devolver isso pro mundo numa forma original.

faixa a faixa por Vinícius Sarmento

Choro pra Yamandu
Choro do meu conterrâneo e gênio do violão Lalão, em homenagem ao grande violonista gaúcho. Só foi gravada pelo próprio Yamandu até então. É a faixa que escolhi pra abrir o disco, por vários motivos, o mais importante entre eles a música em si, seu equilíbrio entre virtuosismo e sonoridade. Contou também o fato de ser um choro pernambucano.

Com Mais de Mil
Choro do Canhoto da Paraíba, muito conhecido e executado no meio violonístico. Foi um atrevimento gravá-lo, visto que alguns dos maiores violonistas brasileiros o fizeram em seus discos: Raphael Rabello, Marco Pereira e Yamandu Costa, por exemplo. De qualquer forma é uma música que sempre esteve no meu repertório e que eu sempre imaginei como fazendo parte do meu primeiro disco.

Recife Antigo
Valsa do grande compositor e violonista pernambucano Henrique Annes, foi uma das últimas a entrar no disco. Como o próprio nome sugere, é uma música carregada de nostalgia, uma ode ao passado, uma busca da beleza pela simplicidade.

O Ciúme
Queria trazer algo da canção brasileira pro disco e escolhi essa música de Caetano Veloso, que é um compositor que marcou profundamente algumas épocas da minha vida.

Inesquecível
Um dos choros mais bonitos de todos os tempos. Choro de Paulinho da Viola, composto em 1972. Seu nome nasceu da intenção do autor de prestar uma homenagem àquele que muitos consideram o maior músico de choro de todos os tempos: Jacob do Bandolim. Até onde eu sei, não foi muito gravado por violonistas.

Sinal dos Tempos
Peça menos conhecida de Garoto, autor de verdadeiros clássicos do violão brasileiro. A conheci através do disco de Paulo Belinati e desde então ela não saiu mais do meu repertório. Até hoje custo a entender sua menor projeção em relação a outras músicas do mesmo compositor.

Vininha
Valsa dedicada a mim, composta pelo meu pai, Nuca, quando nasci. Aqui sou acompanhado pelo meu tio Bozó, um dos maiores violonistas de sete cordas do Brasil.

Canção pra Elena
Única composição minha no disco. É uma canção singela, de amor e despedida. Esteve presente na trilha sonora da série “Fim do Mundo”, de Hilton Lacerda.

Choro pra Rossini
Choro do meu pai em parceria com o bandolinista Marco César, em homenagem ao bandolinista e compositor pernambucano Rossini Ferreira. Uma das melodias mais bonitas que eu conheço. Nessa faixa conto com o acordeão de Júlio César Mendes.

Tocata em Ritmo de Samba II
Sou alucinado por essa música desde criança, quando a ouvi pela primeira vez numa gravação ao vivo com Raphael Rabello e Dininho. Sempre esteve decidido que ela estaria no meu primeiro disco, é uma das coisas que eu mais gosto de tocar.


– Bruno Lisboa  é redator/colunista do O Poder do Resumão. Escreve no Scream & Yell desde 2014.

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