Entrevista: Marion K, da dance music para a dance gospel

entrevista por André Aram

A cantora jamaicana Marion K é uma artista de múltiplos talentos, além dos poderosos vocais – ela também é compositora, atriz e dançarina. Ao longo de sua carreira, Marion K já cantou com Jimmy Cliff, Gloria Gaynor e Pato Banton, além de ter conhecido o lendário astro do reggae, Bob Marley, que rasgou elogios a Marion quando a viu dançando em um espetáculo em sua terra natal.

Sua carreira artística começou cedo, aos 10 anos de idade, onde ela fez de tudo um pouco, desde formar uma dupla com a irmã até participar de uma companhia de dança na Jamaica onde viajou os quatros cantos. Ela ainda fez teatro, se apresentou no maior festival de reggae do mundo, o Sunsplash, atuou em musicais e estudou artes plásticas na universidade.

Na música, o seu debute foi com uma gravação da canção “Love is a Crazy Game”, com produção de Tyrone Downe, tecladista da banda de Bob Marley. Nessa época, ela assinava com o nome de Gabrielle Harban – o compacto da Sky Records pode confundir desavisados, já que traz Gabriel Harban no rótulo, mas basta o timbre para reconhecer sua voz, e assinaria seus primeiros singles de dance music como Gabrielle.

A consagração, porém, viria em 2000, já como Marion K, quando ela regravou um grande hit da cantora britânica Sonique, “It Feels So Good”, que durante sete meses foi a música mais tocada nas rádios do Brasil. Outros sucessos da cantora incluem “What Can I Do”, “Love me Baby” e “Things from Brazil”, que Marion gravou junto com Pato Banton.

Vivendo no Brasil desde 2016, Marion K concedeu uma entrevista direto de sua casa em São Paulo, falando um português impecável, e adiantando que, após aceitar o chamado de Deus e se tornar cristã, prepara um single gospel eletrônico, que levará o nome de “Without Him”: “Tem batidas eletrônicas misturadas com ritmos africanos, dance, tem guitarra de rock, uma coisa muito louca, entende”, explica. Confira o papo.

Você fala português fluente, como você conseguiu aprender tão bem o nosso idioma, inclusive as nossas gírias?
Tenho facilidade, acho, a minha mãe era poliglota. Quando vim a primeira vez ao Brasil e vi as pessoas falando, pensei: “Meu, eu nunca vou aprender a falar português”, mas depois, estando aqui algumas vezes e alguns meses, eu já havia sacado várias coisas, daí comecei a falar. Acho que a chave para você falar qualquer língua é… falar. Você pode falar mal, mas você tem que conversar nessa língua, senão você nunca vai falar, não é? Aprendi na rua mesmo. Eu ia ter aulas e uma amiga minha me disse: “Pra quê? Você vai ficar aqui uns meses, aprende na rua, com as pessoas”. E foi assim mesmo. Amo a língua brasileira, é muito linda.

Existem vários artistas jamaicanos que fizeram muito sucesso no Brasil, como Grace Jones, Bob Marley, Jimmy Cliff, aliás você chegou trabalhar com este último e conheceu Bob Marley, e Grace Jones também?
Nunca trabalhei com ela, mas me lembro de quando eu era mais jovem na Jamaica, ela fez um show em um teatro, que na verdade era um cinema, inacreditável e foi a primeira vez que eu a vi, mas eu nunca tive uma conexão (encontro) com ela. Eu era pequena, criança naquela época. Mas a vi essa única vez lá.

Atualmente você mora no Brasil. Há quanto tempo você está em São Paulo?
Vai fazer quatro anos, mas eu vou e volto.

Você vê muitas semelhanças entre a Jamaica e o Brasil?
Há várias coisas semelhantes, tipo o carisma das pessoas. O Brasil não é tão tropical quanto a Jamaica, o Rio de Janeiro é, fiquei no Rio também, São Paulo é mais intermediário, aqui (SP) a temperatura é mais imprevisível, mas gosto daqui e estou feliz morando aqui. Gosto de mato também né (risos), do verde, da praia, mas eu me adapto facilmente a muitas coisas.

O fato de você viajar a trabalho fazendo shows te possibilitou conhecer muitos diferentes locais no Brasil…
Sim, fiz vários shows no Brasil. Vários, e foi muito legal, mas antes da pandemia eu já tinha parado. Eu tive um problema nas cordas vocais e a primeira pausa foi por isso. Eu decidi parar por um ano, para a minha voz voltar ao normal e voltou muito melhor. Mas após isso, eu fui pra Jamaica e fiquei lá quase dois anos e meio e voltei para o Brasil, mas nessa ida pra Jamaica, Deus me chamou, acredite se quiser. Aconteceu uma coisa muito doida comigo (risos) e Deus me chamou. Eu estudei com uma pastora/ profeta na Jamaica durante esse tempo, aprendendo sobre Deus e decidi me tornar cristã, já tinha decidido isso antes de ir quando perdi a minha voz, foi o meu primeiro encontro, eu havia pedido pra me tornar cristã, porque eu havia perdido tudo assim como Jó, sabe? Perdi shows, etc, mas não me desesperei, comecei a ler a Bíblia e tudo mais e pedi para me tornar cristã, mas uma coisa é você se decidir, outra coisa é Deus te chamar. É engraçado porque quando alguém se torna cristã, a gente logo pensa “xiii vai ficar chata etc” enfim, mas eu nunca imaginei que eu ia sair da dance music para a música gospel, mas Deus não disse pra eu mudar o meu estilo, meu jeito de ser, não é nada disso, ele simplesmente muda o conteúdo.

Você vai cantar gospel daqui pra frente?
Estou trabalhando em uma música super enlouquecida com eletrônica, que mistura reggae jamaicano com rap, super dançante e é gospel, minhas amigas me chamam de “piricrente” (risos). Porque viver para Deus, não significa que você tenha que usar aqueles vestidos longos, cobrir a cabeça, essas coisas todas, não é nada disso e tem mais, Deus não vem para os perfeitos, não! Deus vem para pessoas como eu, como você, Deus vem para nós, para as pessoas diferentes. Meu show, minha onda de Deus é justamente isso, é por ele, por causa dele e por isso a gente vive. Nada é forçado. Deus chama a gente onde a gente está.

E após a pandemia, veremos uma Marion K cantando seus sucessos como “It Feels So Good” e “What Can I Do” paralelo ao gospel?
Tem pessoas que têm chamados diferentes, eu posso inserir “It Feels So Good” e “What Can I Do” nos meus shows, eu já mudei um pouquinho a letra, algumas palavras, porque é uma música de amor. Essas duas músicas, eu fiz um trabalho em cima delas e posso tocar. Fiz uma versão inacreditável de “What Can I Do”.

E como será essa música gospel que você vai lançar em breve que mistura diferentes ritmos?
Eletrônica! A música gospel pode tocar em qualquer lugar, na danceteria, na casa das pessoas, em qualquer lugar, o ritmo dela pode tocar em qualquer lugar. É muito legal, é em inglês, tem reggae, tem rap também. As pessoas acham que por ser gospel é uma coisa assim… chata, eu também pensava assim (antes), mas tem batidas eletrônicas misturado com ritmos africanos, dance, rock, tem guitarra de rock, uma coisa muito louca, entende. E eu canto em inglês, vai ter bailarinos também, tudo diferente mesmo.

E por falar em música, a Jamaica é o berço do reggae, você gosta de reggae?
Gosto sim. Misturo muitos ritmos, e aí no gospel tem o reggae com o rap jamaicano, chamado de patuá, a gente tem o reggae com o patuá no meio. É muito legal e super dançante, porque a gente pega o ritmo e dá um toque brasileiro nela. Junto com o meu baterista a gente faz um mix bem legal.

Você disse patuá, que pra nós tem um outro significado….
Patuá, isso. É um dialeto jamaicano. Isso vocês chamam de amuleto, boa sorte…

E quais são as coisas que você mais gosta no Brasil? Comida, lugares… 
Eu amei Natal (Rio Grande do Norte)! Gosto muito de farofa (risos), feijoada, que não se pode comer muito, não é (risos). Natal é um lugar lindo, tem alguns lugares aqui super legais que eu visitei, acho que fui uma vez para Balneário Camboriú, se não me engano, Ilha Comprida (SP) eu fui algumas vezes e foi muito legal. Fui ao Rio de Janeiro, Angra dos Reis, é lindo lá. Tem vários lugares no Brasil que são legais, e a comida brasileira é top, camarão hummm é muito bom.

Você vê muitas semelhanças entre a comida brasileira e a jamaicana?
Não muito. Assim… acho que na Bahia tem mais coisas assim diferentes, talvez tenha coisas mais parecidas. Jamaica é muito peixe, eles comem carne, mas não como no Brasil. A Jamaica é uma nação mais de comida natural, entende? E o que natural é mais barato, tipo… arroz branco é caro, mas o arroz natural não é; açúcar branco é caro, mas açúcar demerara natural não é. A gente vê muito mais coisas naturais do que no Brasil, na nossa dieta a diferença seria essa.

Quais seus projetos pós pandemia?
Logo após a pandemia vamos gravar um videoclipe com a música nova, chama-se “Without Him”. A gravei antes da pandemia, como te falei ela é gospel, eletrônica misturada com swing africano, é uma mistura, com rock no meio, muito legal, tem batidas. Eu já estava trabalhando nessa música com banda meses antes da pandemia. Nós vamos fazer o videoclipe em breve e em seguida vamos fazer uma live, e então dar continuação com a divulgação que estamos planejando, com muito eletrônica, batidas, backing vocal e tudo mais e vamos soltar isso nas plataformas e acho que será incrível. Vejo as pessoas falarem do gospel, mas não vejo desse jeito, Deus não pediu que eu mudasse o meu jeito de ser, ele não falou isso pra mim, eu tenho que segui-lo com certeza, é uma linha reta, eu acho que quando sair a música, as pessoas vão ver a diferença do que eu disse, vendo o gospel sob um ângulo diferente.

E vivendo em São Paulo, quais lugares você quer ir logo que essa pandemia terminar?
Gosto muito de verde e praia, mas eu gosto de ir quando não tem multidão (risos), eu não gosto de muita movimentação, acho que isso vem de shows né, acho que a maioria dos artistas são assim por causa do trabalho da gente, às vezes a gente fica na multidão. E eu gostaria de deixar um grande beijo para todos os meus fãs do Brasil, me sigam no instagram.com/marionkoficial

– André Aram é jornalista e redator. Tem passagens pela África, America do Norte/Sul e por vários países da Europa. Colabora com o Euro Dicas e outros sites e portais. É também consultor de viagens para destinos na África e Europa e apoia projetos de conservação da vida selvagem na África do Sul.

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