Três discos portugueses: Birds Are Indie, Clã, Filipe Sambado

Resenhas por Pedro Salgado

“Migrations – The Travel Diaries #1”, Birds Are Indie (Lux Records)
Com a edição de “Migrations – The Travel Diaries #1”, os Birds Are Indie comemoram 10 anos de existência relendo cinco temas da sua discografia, apresentando cinco faixas novas e sintetizando as viagens realizadas pelo grupo e os caminhos sonoros que percorreram ao longo desse período. Num disco marcado pelo conceito de partida e regresso, o trio de Coimbra mantém o foco nas harmonias vocais e na simplicidade artística, que caracterizam a sua música, abrindo caminho para o rock imediato, no single “Black (Or The Art Of Letting Go)”, mostrando diversos temas pop e, pontualmente, exibindo uma vertente rítmica sedutora (“The Senior Dancer”). Na maior parte das canções, sobressaem momentos de agitação emocional e, conjuntamente com o realismo das letras, representam uma valorização para as histórias da banda. A intimista “Time To Make Amends”, os ecos dos Moldy Peaches na colorida “Instead Of Watching Telly” (numa versão mais apelativa do que a original) e a comovente “The Place” representam o melhor de um trabalho cativante que ilustra a qualidade sonora dos Birds Are Indie.

Nota: 8

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“Véspera”, Clã (Edição de Autor)
O nono álbum de estúdio dos Clã, que sucede ao disco “Corrente” (2014), pretende simbolizar o espírito conturbado do tempo presente e procura retratar o estado de alerta e a expetativa para as mudanças que se avizinham. “Véspera”, que conta com letras de Sérgio Godinho, Samuel Úria, Capicua, Arnaldo Antunes, Carlos Tê, Regina Guimarães e Aurora Robalinho, destaca-se pelas suas mensagens fortes, mas também por uma renovação sonora, ancorada em tentativas bem-sucedidas de dar novas formas ao pop melódico que caracteriza o grupo portuense. A faixa de abertura, “Sinais” (com letra de Samuel Úria), patenteando uma toada imponente e misteriosa num contexto de alarme perante o cenário mundial e da apreensão sobre o futuro, é um desses exemplos. O pop funk “claustrofóbico” de “Armário” (com letra de Capicua), a versátil “A Arte de Faltar À Escola”, que inclui um spoken word de Arnaldo Antunes, bem como a encantadora “Tudo no Amor”, completam o lote das canções mais marcantes do trabalho. Globalmente, “Véspera” reafirma a criatividade dos Clã, com base na profundidade musical e lírica, num registo honesto e suscetível de agradar aos seus fãs e conquistar novos seguidores.

Nota: 8,5

“Revezo”, Filipe Sambado (Edições Valentim de Carvalho)
A necessidade de procurar novos estímulos criativos e encontrar uma sonoridade mais inclusiva levou Filipe Sambado a afastar-se do psicodelismo que marcou o seu trabalho anterior, “Filipe Sambado & Os Acompanhantes de Luxo” (2018), e modernizar o componente estético do folclore tradicional português. Neste “Revezo”, as influências de Zeca Afonso e Fausto destacam-se e a maior parte das letras abordam experiências pessoais, nas quais Filipe assume o papel de observador narrativo. Outro aspecto que define o álbum resulta de seu perfeiçoamento pop, explorando a visceralidade dos vários caminhos sonoros e tentando estabelecer uma ponte com as raízes musicais de referência. Em temas como “Tusa Mole”, o músico lisboeta desenvolve pequenas modificações ao canto alentejano com bons resultados, o single cativante “Jóia da Rotina” estabelece uma ponte eficaz entre as diversas etapas de “Revezo” e a dançável “Gerbera Amarela do Sul” completa o lote dos melhores momentos do disco. De um modo geral, Filipe Sambado tirou partido das suas qualidades musicais e de elementos artísticos da sua eleição e deu corpo a um trabalho aprimorado.

Nota: 9

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– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui.

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