Literatura: “A Intuicionista”, “Mars Club”, “Ida, Um Romance”

Resenhas por Adriano Mello Costa

“A Intuicionista”, de Colson Whitehead (Harper Collins Brasil)
Colson Whitehead ganhou o Prêmio Pulitzer de 2017 e foi finalista do Man Boooker Price com o livro “Underground Railroad – Os Caminhos Para a Liberdade” – que foi publicado aqui pela Harper Collins Brasil. A mesma editora no ano seguinte colocou no mercado uma edição com o primeiro romance do autor, lançado originalmente em 1999 nos USA, chamado “A Intuicionista” (The Intuitionist). Com 320 páginas e tradução de Caroline Chang, esse debute é ambientando em uma cidade fictícia (mas não tanto assim) que mistura modernismos estruturais, políticas sociais e comportamentais conservadoras com racismo e misoginia bem entranhados. A protagonista é Lila Mae Watson, uma das raras inspetoras negras do Departamento de Inspeção de Elevadores, um órgão forte que além da importância tem grande poder de barganha junto ao governo. Quando um elevador de um prédio chique despenca logo após uma verificação em que nada de errado foi atestado, Lila Mae se vê no meio de uma trama intricada e complexa com política, ego, interesses próprios e corrupção dos envolvidos. A leitura de “A Intuicionista” é um pouco travada, pois o texto se preocupa de modo demasiado em exibir conceitos e técnicas do cenário que usa como ambientação, além de contrapor as teorias dos lados envolvidos na briga por uma grande revelação que mudará tudo. Não possui o brilho do premiado “Underground Railroad – Os Caminhos Para a Liberdade”, mas já carrega em seu corpo as características que seriam exploradas de modo mais luminoso anos depois como a crítica social tendo o racismo como principal alvo.

Nota: 5

Site do autor: https://www.colsonwhitehead.com

“Mars Club”, de Rachel Kushner (Todavia Livros)
Quarto livro da escritora americana Rachel Kushner (autora de “Os Lança-Chamas”), “Mars Club” (The Mars Room) saiu aqui pela Todavia Livros em 2019 com 344 páginas e tradução do Rogério W. Galindo. A protagonista do romance é Romy Leslie Hall, condenada a prisão perpétua que é apresentada ao leitor em 2003 enquanto se encaminha para cumprir a pena dentro de um ônibus com outras detentas. Aos poucos é narrado como ela chegou até esse ponto, como que a vida desaguou para isso. Ao mesmo tempo em que narra os infortúnios da protagonista, a autora insere personagens coadjuvantes e ao contar um pouco das suas histórias engrandece a trama, pois são criadas figuras fascinantes que trazem junto histórias fortes em igual medida, mas com nuances gerais diferentes. Foca não somente na sobrevivência dentro do sistema carcerário, como também nas dúvidas, (falsas) esperanças e arrependimentos de cada uma. O tom utilizado ora se concentra em um drama de contornos mais pesados, ora explora um humor ácido e cruel enquanto discute pontos importantes como machismo, misoginia, racismo e questões de gênero. Romy Leslie Hall é uma personagem forte, que desde cedo sofreu muito mais do que qualquer um deveria e sempre seguiu em frente. O ato que lhe levou para a cadeia é o estopim de uma situação provocada justamente pelas decisões de uma vida sem glamour e alegrias, além de um filho e momentos bem ocasionais de felicidade. Repleto de frases e tiradas interessantes, “Mars Club” é uma leitura bem recomendável.

Nota: 7,5

“Ida, um Romance”, de Gertrude Stein (Ponto Edita)
Gertrude Stein nasceu no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 1874. Em 1903 mudou-se para Paris e um tempo depois conheceu Alice B. Toklas, que seria sua companheira até o falecimento em 1946. Virou um dos símbolos da “geração perdida”, um grupo de artistas e escritores que durante esse período buscou refúgio na capital francesa para extravasar suas manifestações, discussões e criatividade. Ela recebia em casa nomes como Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald e Pablo Picasso, com os quais nutria relação próxima. Dona de um estilo experimental de escrita – ainda mais se considerarmos a época em que viveu –, Stein escreveu dezenas de livros e ficou famosa. Um desses livros ganhou edição nacional no final do ano passado pela Ponto Edita, editora independente de São Paulo. “Ida, um Romance” (Ida A Novel, no original de 1941) tem tradução de Luís Protásio e edição de Mauricio Tamboni com 224 páginas e um formato extremamente original que apresenta um trabalho gráfico primoroso tanto nas cores, letras e design, como no cuidado com a inserção de vários textos contextualizando e dissertando sobre a obra. Obra que trata da história de Ida, sobre identidade e liberdade, que tem a vida real cruzando a cada esquina com a fantasia, o cotidiano invadido por pílulas de alucinação e certezas flertando com devaneios na busca por ser quem se deseja realmente ser. É um livro magnífico, para ser lido com calma e se possível em voz alta saboreando cada palavra, cada frase, cada colocação.

Nota: 10

Entrevista: Mauricio Tamboni, da Ponto Edita, conversou com o Scream & Yell. Confira aqui.

– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop ( http://coisapop.blogspot.com.br ) e colabora com o Scream & Yell desde 2009!

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