Boteco: Cinco cervejas paulistas e cinco curitibanas

por Marcelo Costa

Começando uma nova sequencia de cervejas nacionais com a Dama Bier, de Piracicaba, no interior de São Paulo, que retorna ao site com a Anelise, uma Hop Weiss cuja receita aposta suas fichas no dry-hopping do lúpulo alemão Hallertau Saphir, que difere de outras variedades germânicas devido a suas características de aroma frutado, doce e levemente cítrico. De coloração amarela levemente alaranjada com creme branco de boa formação e retenção, a Dama Anelise apresenta um aroma que valoriza a lupulagem com notas cítricas (tangerina) suplantando a tradicional pegada de banana da Weiss – ela está aqui, claro, mas na retaguarda. Há, ainda, percepção de leve doçura. Na boca, doçura melada no primeiro toque seguido de uma combinação mais de igual para igual entre tangerina e banana – com leve supremacia da primeira. O amargor é leve, 25 IBUs que conseguem diminuir levemente o ataque da doçura. Já a textura é cremosa com delicada picância (de levedura Weiss). Dai pra frente, uma Hop Weiss bem saborosa, ainda que um tiquinho doce demais. No final, tangerina e banana, notas que retornam no retrogosto. Delicinha.

De São Paulo para o Paraná com uma cerveja da cigana Pictos, que produziu a receita da Morgana, uma American Pale Ale, na fábrica da Way Beer, em Pinhais, na grande Curitiba. Na receita, destaque para o dry-hopping de Amarillo, Centennial e Citra (usados também no final da fervura, para aroma). De bonita coloração amarela e creme branco excessivamente espumoso, de longa formação e retenção, a Pictus Morgana apresenta um aroma com notas cítricas suaves sugerindo abacaxi e maracujá, doçura maltada leve e picância discreta de levedura. Na boca, doçura cítrica no primeiro toque abrindo com sugestão de abacaxi bem leve, mas adorável, seguida de picância e amargor pronunciado, 31 IBUs que até soam um pouco mais do que isso (podendo chegar a uns 50). A textura é quase suave com leve picância e, dai pra frente, surge uma APA com amargor acentuado e jeitão de cigana, com uma aspereza típica das cervejas de panela (ainda que essa tenha sido feito numa grande cervejaria). No final, amargor médio. No retrogosto, mais amargor e leve cítrico.

Do Paraná novamente para o interior de São Paulo, mas desta vez para Ribeirão Preto com mais uma cerveja da Invicta a passar por aqui, desta vez a Sociedade Anônima, uma Session IPA de coloração dourada e creme branco de ótima formação e retenção. No nariz, sugestão herbal deliciosa derivada da lupulagem em primeiro plano sobre uma base discreta que traz doçura e também um leve cítrico. Na boca, doçura bastante rápida no primeiro toque seguida de uma pegada herbal acentuada (pinho) e leve cítrico. Os 35 IBUs de amargos são pegados, marcando presença de maneira interessante, mas sem assustar o bebedor. Já a textura é bastante leve. Dai pra frente, uma Session IPA bem sossegada e sem muitas arestas, como manda o estilo, sugerindo bastante refrescancia, doçura e um herbalzinho. No final, doçurinha e leve herbal. No retrogosto, doçurinha, leve herbal e refrescancia.

Voltando para Pinhais, no Paraná, com outra cerveja cigana produzida na Way Beer, dessa vez a da Numb Brewery, nano cervejaria que tem apenas três rótulos lançados, entre eles essa Knockout, uma Double APA de coloração amarela levemente dourada e turva com creme branco espesso de ótima formação e longa retenção. No nariz, bastante doçura caramelada, percepção de álcool (são 8.1%) e, meio escondidas, notas sutis de frutado cítrico. Na boca, doçura maltada intensa no primeiro toque caramelada em álcool, tal uma malt liquor, com leve sugestão de calda de frutas cítricas na sequencia. O amargor é marcante(43 IBUs) e ganha ainda mais impacto com o álcool, que chega arrastando e arrasando tudo que vê pelo caminho. Já a textura é suave, quase sedosa, e picante (de álcool, claro). Dai pra frente, uma Double APA totalmente desequilibrada, com álcool sobrando por todos os lados e um meladinho de caramelo e cítrico tentando, em vão, disfarçar o exagero. No final, amargor e álcool. No retrogosto, mais álcool e caramelo. Equivoco.

Voltando para São Paulo, agora para o bairro do Limão, que abriga a Cervejaria Tarantino, que retorna ao site com sua Dry Stout, uma cerveja que apresenta uma coloração marrom escura (translucida nas bordas) com creme bege de boa formação e retenção. No nariz, as notas clássicas do estilo, derivadas da utilização de cevada torrada, como café torrado, pão australiano, toffee e chocolate amargo bem sutil. Na boca, uma replicação caprichada do que o aroma adianta, com doçura caramelada bastante rápida no primeiro toque seguida de café torrado, pão preto e chocolate amargo, novamente sutil. O amargor é equilibrado, 35 IBUs eficientes. Já a textura é cremosa. Dai pra frente, uma cuidadosa replicação do estilo original, com bastante torra e sugestões caprichadas de café e pão preto. No final, amargozinho médio. No retrogosto, mais torra. Eficiente.

Retornando ao Paraná com uma nova Gauden Bier, de Curitiba, a passar por aqui, desta vez com a Doppelbock Winter Selection 2018, uma cerveja de coloração âmbar acastanhada com creme bege claro de média formação e retenção. No nariz, aroma maltado intenso com sugestão de caramelo tostado, melaço e açúcar mascavo com uma pitadinha de álcool (são 8.6%). Na boca, doçura maltada intensa no primeiro toque seguida rapidamente por uma junção de sugestão de melaço, caramelo e álcool, que combina impressionantemente bem. Os 20 IBUs de amargor não conseguem fazer frente a tanta doçura, e é atropelado pelo caramelo tostado. Já a textura é melosa, caramelada, com leve picancia de álcool. Dai pra frente, uma Doppelbock agradável, caramelada e alcoólica. No final, picancia de álcool. No retrogosto, caramelo e calor alcoólico.

De Curitiba para Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, com a primeira da micro cervejaria Walfänger a passar por aqui, a Sebastian, uma Altbier, estilo antigo, histórico e raro de Dülsseldorf, na Alemanha. De coloração âmbar translucida e creme bege bastante espesso de ótima formação e longa retenção, a Walfänger Sebastian exibe um aroma notadamente dominado pelo malte tostado sugestionando toffee, tabaco, defumado bem discreto e distante, caramelo além de um pegada herbal caprichada (derivada dos lúpulos) que remete a mate. Na boca, tosta no primeiro toque com acentuação toffee na sequencia seguida de herbal (mate), tabaco e amargor marcante, 45 IBUs excelentes. A textura é leve com delicada cremosidade. Dai pra frente, amargor caprichado com toques herbais e de tabaco, toffee e caramelo tostado sutil. O final é seco e amargo. O retrogosto traz mais amargor, tabaco e toffee. Ótima!

De volta ao Paraná com uma cerveja produzida pela Gauden Bier na Cervejaria Curitiba para o Clube do Malte, a Ghost Brew Blond, uma Belgian Blond Ale de coloração dourada levemente turva com creme branco de boa formação e média retenção. No nariz, doçura e panificação intensa remetendo a pão doce com cobertura de açúcar mais sugestão de frutas cristalizadas, de maçã caramelada e biscoito doce. Na boca, doçura intensa no primeiro toque seguida de mais doçura maltada com sugestão de pão doce coberto de açúcar e leve percepção de frutas cristalizadas quanto de condimentação leve. A doçura vence o amargor de 7 x 1 e a textura é meladinha, com uma leve picância alcoólica (6.7% no conjunto). Dai pra frente, uma Belgian Blond Ale que passa de ano raspando, com a doçura intensa sobrepujando tudo e escondendo as demais qualidades que essa cerveja (e estilo) poderia ter. No final, doçura e álcool leve. No retrogosto, mais doçura melada. Fraca.

De volta à capital paulista para mais uma cerveja produzida em brewpub, a Lemon Pie, uma Sour com adição de limão e lactose produzida pela Whats on Tap, belo brewpub na Vila Nova Conceição (próximo ao Eataly). De coloração amarela com creme branco de média formação e retenção, a WOT Lemon Pie apresenta um aroma intenso de limão com leve doçura de lactose também presente. Há, ainda, sugestão de acidez. Na boca, limão bem doce no primeiro toque seguido de acidez média, que remete muito mais à fruta do que ao estilo, com doçura tentando chamar atenção em meio ao delicioso suco de limão. Não há amargor, e a acidez é bastante levezinha nessa kettle sour deliciosa. A textura, por sua vez, é leve, e, dai pra frente, surge uma cerveja que, sim, remete a torta de limão, com um azedinho típico da fruta tomando conta do paladar e a lactose marcando presença de maneira delicada e saborosa. No final, limão. No retrogosto, mais limão e refrescancia.

Fechando a série com uma receita da elogiada Morada Cia Etílica produzida na Cervejaria Curitiba, a Saison da Caatinga, uma Farmhouse Ale cuja receita recebe adição de mandioca, caju, cajá e melado de cana. De coloração dourada cristalina com creme branco de média formação e retenção, a Morada Saison da Caatinga apresenta um aroma em que só falta o caju saltar da garrafa e pular no colo do bebedor, tamanho o destaque, que encobre totalmente os outros ingredientes, não deixando espaço para mais nada. Na boca, doçura melada rápida atropelada pela sugestão de caju na metade do segundo seguinte. A acidez é baixa e a doçura também. Já a textura exibe leve efervescência. Dai pra frente, uma cerveja saborosa, ainda que o sabor seja só de caju, e refrescante, que promete mais do que entrega. No final, adstringência suave. No retrogosto, caju.

Dama Anelise
– Produto: Hop Weiss
– Nacionalidade: Piracicaba, SP
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.30/5

Pictos Morgana
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Pinhais, PR
– Graduação alcoólica: 5.2%
– Nota: 3.21/5

Invicta Sociedade Anônima
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Ribeirão Preto, SP
– Graduação alcoólica: 4.6%
– Nota: 3.28/5

Numb Knockout
– Produto: Double APA
– Nacionalidade: Pinhais, PR
– Graduação alcoólica: 8.1%
– Nota: 2.75/5

Tarantino Dry Stout
– Produto: Dry Stout
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 3.8%
– Nota: 3.30/5

Gauden Doppelbock Winter Selection 2018
– Produto: Doppelbock
– Nacionalidade: Curitiba, PR
– Graduação alcoólica: 8.6%
– Nota: 3.29/5

Walfänger Sebastian
– Produto: Altbier
– Nacionalidade: Ribeirão Preto, SP
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3.41/5

Ghost Brew Blond Ghost
– Produto: Belgian Golden Ale
– Nacionalidade: Curitiba, PR
– Graduação alcoólica: 6.7%
– Nota: 2.77/5

Whats on Tap Lemon Pie
– Produto: Keetle Sour
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 4%
– Nota: 3.50/5

Morada Saison da Caatinga
– Produto: Farmhouse Ale
– Nacionalidade: Curitiba, PR
– Graduação alcoólica: 4.8%
– Nota: 3.30/5

Leia também
– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

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