Zona para Respiradores: Um rolê por 1975

Zona para Respiradores #01, por L. Lyra
Um rolê por 1975 (ouça a playlist)

O apocalipse nós já temos.

Basta ouvir o ex-presidente em exercício expelir mais alguma atrocidade pela sua fétida boca ou acompanhar o número crescente de mortos hora a hora.

É muita obscenidade.

Precisamos de espaço pra respirar. Algo que transcenda a miséria e o horror a que somos submetidos no Brasil. Um respiro pra já, porque amanhã pode ser tarde demais.

Uma zona para respiradores.

Vamos voltar a 1975. Muita energia liberada naquele ano:

– “Refazenda”, de Gilberto Gil
– “Novo Aeon”, de Raul Seixas
– “Roberto Carlos”, de…Roberto Carlos!
– “Tim Maia Racional”, de…Tim Maia!
– “Moraes Moreira’, de…Moraes Moreira!

Deixo aos curiosos o esclarecimento do dia exato em que cada álbum foi lançado.

Os interessados também podem somar os números de 1975 e chegar a um número cabalístico.

Não é extraordinário que no mesmo ano Jorge Ben cantasse sobre Santo Tomaz de Aquino e Jorge da Capadócia e Raul Seixas gritasse “eu sou egoísta”, que Milton Nascimento falasse em fé cega, faca amolada e Roberto Carlos abrisse os trabalhos com “QUERO QUE TUDO O MAIS VÁ PRO INFERNO” enquanto Tim Maia doutrinava o seu Universo em Desencanto e Moraes Moreira – bem, Moraes Moreira está sempre cantando:

porque sabe que a dor não tem lugar permanente no coração de ninguém.

Aqui os mais apressados poderiam dizer neste desgraçado começo de maio: pois, é isto mesmo, Moraes Moreira partiu porque não suportou mais toda essa barra pesadíssima. Como se toda a alegria que ele nos deu fosse uma espécie de paraíso coletivo, onde a chuva no brejo é motivo de festa, festa que agora se apagou.

O que o Brasil pode oferecer hoje é morte e crueldade. Uma crueldade que não respeita nem os mortos nem a morte. A pureza e a inocência de Moraes Moreira parecem fora da nossa galáxia. E é por isso que devemos ouvi-las uma vez mais, principalmente a canção mais intimista desse álbum, apenas Moraes e sua voz e seu violão:

Moraes Moreira pode aceitar tudo, menos que mudem seu coração. Onde não há dor permanente. Quantos puderam e podem cantar essas palavras? Então,

Inspira.

Expira.

Nesse mar.

Nessa ilha.

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