Entrevista por Leonardo Panço
Formado em 1997 em Fortaleza, a Siege of Hate lançou sua primeira demo, “Return to Ashes”, no ano seguinte. Depois vieram o primeiro álbum “Subversive by Nature” (2003, lançado na gringa em 2004) e o split “Out of Progress” (2006) – compartilhado com os canadenses da Time Kills Everything. O nome da Siege of Hate se consolidou com “Deathmocracy” (2009), época em que começam as turnês internacionais.
A primeira dessas turnês contou com 16 shows em 07 países (Portugal, Alemanha, República Tcheca, Áustria, Eslovênia, Itália e França). Depois, divulgando “Animalism” (2013), a banda fez 12 shows em 06 países (Alemanha, Holanda, Bélgica, França, Espanha e Itália). Em 2016 foi a vez da América do Sul (Chile, Peru, Argentina e Brasil) receber a porrada grind da banda. Em 2018, os caras lançaram “Cerco de Ódio”, um EP com músicas totalmente em português.
Lançado em 2017, o livro “Siege of Hate – Em Rota de Colisão” (200 páginas, editora Grind Ages) foi escrito durante (e entre) quatro turnês feitas pelo grupo entre os anos 2009 e 2016. Ao todo, foram 39 shows, 12 países visitados, 38027 quilômetros rodados de van, avião, ônibus, carro, metrô e trem. Quase sempre com os instrumentos nas costas, como bons soldados do rock indo para a guerra, onde o campo de batalha é a estrada e cada show é uma vitória.
No papo abaixo, o baixista George Frizzo (que está na banda desde a gravação do primeiro álbum, em 2003) conta como foi o processo de construção do livro, rememora alguns shows históricos, conta que a formação atual da banda é ele no baixo e Bruno Gabai, um dos fundadores do grupo lá em 1997, no vocal e na guitarra, com bateristas convidados se revezando no banquinho, e que a produção do quinto álbum Siege of Hate já começou. Confira o papo!
O livro não tem um autor na capa. Como foi essa decisão? Quem escreveu?
O livro é uma obra construída em conjunto, escrito pelo S.O.H. (Siege of Hate). Todo mundo da banda colaborou diretamente pro livro acontecer, mesmo que eu tenha escrito a maior parte, a linha condutora das histórias. Uns colaboraram mais, outros menos, outro sequer escreveu algo, mas todos me passaram suas impressões e observações sobre as viagens. Por isso, na hora de colocar o nome de quem escreve, na capa do livro, surgiu a ideia de colocar só o nome da banda, como colocamos nos discos. Mas na parte interna, na folha de rosto, a gente nomeia quem escreveu algo, como uma ficha técnica de um disco.
Vocês, do SOH, atrasaram o lançamento do livro porque viria uma tour importante para acrescentar. Foi isso? Com quem vocês iriam tocar e em que lugares?
Hehehe não, não… esse atraso não foi intencional. As coisas simplesmente aconteceram. Em 2005 a banda tinha feito uma tour maluca pelo Brasil, mas só fizemos registros em fotos, não rolou nenhum diário escrito pra postarmos, e tiveram boas histórias pra contar. Então, em 2009, quando surgiu essa viagem, a primeira tour européia, a ideia do livro surgiu. Então eu comecei escrever ainda quando estávamos no processo de contato com os produtores da Europa e fazia a organização da viagem. A princípio eu pensava em transformar esses textos em algo no futuro, um blog, ou um livro, talvez. Na época eu estava muito influenciado pelo livro “Jason – 2001 uma Odisseia na Europa“, escrito por você. Na viagem eu continuei escrevendo, narrando o que acontecia no decorrer da tour. Mas nem sempre a gente tinha tempo, ou acesso a computador com internet, pra ficar postando online, isso me limitou a escrever só no caderninho pautado que eu levava na mochila. Em paralelo, o Lucas também escrevia as mesmas experiências na visão dele com a gente na viagem, e combinamos juntar as nossas escritas. O que era pra ser o livro em si acabou virando o primeiro capítulo. O que aconteceu foi que depois da viagem a banda voltou pro Brasil e eu fiquei morando na Alemanha e simplesmente deixei de lado o caderno, e muita coisa precisava ainda ser escrita. Aquele negócio, na correria você faz anotações pra lembrar e escrever melhor depois. Dois anos se passaram e eu volto pro Brasil. O Siege of Hate grava um novo disco, “Animalism”, e a gente articula outra turnê pela Europa, mas dessa vez, muita coisa foi diferente, tanto pra fechar a tour quanto no decorrer dela, e o resultado foi bem desanimador, e mesmo tendo sido uma experiência riquíssima, ficamos tão desapontados (quase que a banda acaba ao final da turnê) que resolvi não escrever sobre ela, e o livro continuou de “stand by”. Com a correria da vida, deixei o projeto do livro de lado. E as coisas com o Siege of Hate foram acontecendo. Em 2015 fizemos uma turnê pelo Brasil, lançamos um ep em vinil e no início de 2016 fomos convidados pra abrir para o Extreme Noise Terror, uma grande influência nossa, em turnê pela América Latina. E essa aventura foi incrível, shows legais, histórias engraçadas, reencontro com amigos. Tiveram perrengues, claro. Mas foi tudo tão bacana que deu voltade de voltar ao projeto do livro, e encerra-lo com essa viagem, com um “final feliz”.
Daria para fazer um the best de 3 melhores shows da banda?
Fizemos muitos shows legais, é difícil pinçar só três… mas vamos lá:
Toulouse/França, na primeira tour (2009) … o lugar não tinha palco, tocamos no chão no meio da galera, espaço abarrotado de gente se jogando e se quebrando ao redor da banda e equipamento, foi memorável. Um show verdadeiramente underground. Na segunda Tour tocamos no Catharsis Metal Fest, na cidade de Torelló, na Espanha. Tudo bem organizado, produção do evento 100%, zoação no backstage, equipamento foda, gravamos esse show em multipistas e ele entrou como bônus no mais recente lançamento do SOH, o Ep “Cerco do Ódio”. Para o terceiro eu gostaria de citar último show da tour com o Extreme Noise Terror, e consequentemente o último do livro, que rolou no Uniclub em Buenos Aires, na Argentina. Além do show ter sido muito bom, público e lugar massa, equipamento bacana, todas as bandas foram muito fodas, e a turnê terminou num clima muito bom.
Quantas cópias foram impressas do livro? Não é fácil circular com uma banda de grind core, o circuito não é tão grande. Como têm sido as vendas do livro?
Fizemos inicialmente 200 cópias do livro. Realmente não é fácil circular com uma banda de Grind pelo Brasil e fora. São várias as dificuldades. Fazer música independente, principalmente metal, ou rock pesado e não comercial, no Brasil é sempre uma batalha árdua. As dificuldades vão desde conseguir lugar pra tocar, falta de seriedade de alguns produtores de shows, estrutura precária em alguns shows, passagens caras e longas distâncias para se fazer shows fora do estado, até a falta geral de grana. Isso tudo atrapalha o crescimento do metal nacional. Mas é uma luta que lutamos bravamente, pra mostrar o som do S.O.H.
Além de Fortaleza, vocês fizeram lançamento do livro em quais cidades mais?
Não, assim que o livro saiu fizemos um único lançamento oficial no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, e ao longo do ano fizemos dois shows de lançamento. Mas todos em Fortaleza. O livro tem vendido bem, já estamos com a primeira tiragem de 200 cópias quase esgotada.
Vão acontecer mais turnês gringas?
Provavelmente não. Infelizmente.
Quais os novos projetos do SOH?
Começamos 2020 trabalhando na pré-produção do nosso quinto disco. Já temos umas 10 músicas novas já compostas e estamos começando a montar uma pré-produção com os arranjos e partes de bateria para depois ensaiarmos, fazermos os ajustes finos para gravarmos e lançarmos ainda em 2020. Adotamos oficialmente a formação de dupla. Com o Bruno Gabai no vocal e guitarra e comigo no baixo, nos últimos shows contamos com a ajuda do Mardonio Malheiros, baterista do Obskure, e funcionou muito bem.
– Leonardo Panço (https://leonardopanco.bandcamp.com/) é um homem multitarefas: desde o começo dos anos 90 que ele atua em diversas frentes culturais seja tocando em bandas e gravando discos (Soutien Xiita e Jason), seja escrevendo livros (“Jason 2001: uma odisseia na Europa”, “Esporro” e “Caras Dessa Idade Não Leem Manuais”), seja lançando artistas pelo selo Tamborete (com destaque para Gangrena Gasosa e Zumbi do Mato) (continue lendo). A foto que abre o texto é de Andre Olive.