por Marcelo Costa
Começando mais uma sequencia de duas cervejas por cervejaria por Minas Gerais, mais precisamente Nova Lima, com a primeira de duas Capapreta, a Porter Berry, uma Porter “com maltes torrados, aveia e um toque de framboesa vermelha (raspberry)”, segundo a cervejaria. De coloração marrom escura praticamente preta e um creme bege espesso de excelente formação e longa retenção, a Capapreta Porter Berry apresenta um aroma com notas que remetem a café e chocolate, suaves, acrescidos de, realmente, um leve toque de frutas vermelhas (a framboesa não se destaca no conjunto, mas dá um colorido interessante na paleta de aromas). Na boca, por sua vez, o malte torrado ainda chega antes no primeiro toque, mas, dai em diante, a framboesa aparece com mais presença, ainda que nada que supere o café e chocolate, criando um conjunto bem saboroso. O amargor é baixo, 27 IBUs, e a textura, macia. Dai pra frente, uma Porter levemente diferente, mas nem tanto, com a framboesa brilhando no fundo. No final, a framboesa aparece de forma caprichada e se estica até o retrogosto junto ao café e ao chocolate.
De Minas para o interior de São Paulo, mais precisamente Ribeirão Preto com a segunda (e a terceira) da Cervejaria Pratinha a passar(em) por aqui (a primeira foi a Marifasa Lupina), a Birudo, uma Witbier cuja receita combina lúpulo Sorachi Ace com adição de extratos de laranja, de yuzú (fruta cítrica originaria do leste chinês) e de coentro. De coloração amarela tendendo ao âmbar e creme branco de média formação e retenção, a Pratinha Birudo apresenta um aroma com forte sugestão de chá em primeiro plano, leve toque cítrico e floral na base além de bastante percepção de doçura. Há, ainda, discretas reminiscências de gengibre, laranja, mel e coentro. Na boca, doçura cítrica no primeiro toque seguida de uma pancada de mel e sugestão de chá mais amargor levezinho, 17 IBUs que parecem 7. A textura é leve, mas com certa suavidade melosa. Dai pra frente, uma Witbier bastante melada, mas com leve cítrico e a sensação de chazinho. No final, doçura de mel. No retrogosto, mais melado e um leve cítrico.
Permanecendo em Ribeirão Preto para a sétima edição da série Brasil com S, da Colorado, a Double Appia é a versão turbinada da Appia, um dos sucessos da cervejaria do interior paulista, que aqui ainda destaca a utilização do mel da rara abelha brasileira da espécie Mandaçaia. O resultado é uma cerveja de coloração âmbar bonita e creme bege claro espesso de boa formação e longa retenção. No nariz, um aroma intenso de mel sobre uma base suave de cereais sugerindo pão doce. Há, ainda, leve percepção de levedura Weiss. Na boca, um replay do aroma, com doçura de mel intensa no primeiro toque, mas de uma maneira saborosa, nada enjoativa, seguida por um perfil tendendo ao mel, mas com percepção da carga de malte com trigo e sugestão de panificação. Amargor? A cervejaria diz que são 20 IBUs, mas a sensação é de -5 IBUS, de tanta doçura. A textura é suave. Dai por diante, uma Hefeweiss bastante doce, melada, e um pouco anjoada para beber sozinho 600 ml (ou seja, divida), mas interessante. No final, adivinha, mel. No retrogosto, mel, algo que remete a laranja e pão doce.
De Ribeirão Preto para Paraisópolis, em Minas Gerais, com mais uma “invenção” de uma das favoritas atuais da casa, a Zalaz, que surge aqui com a Capim Limão, uma Pilsen (da Serra da Mantiqueira) que recebe adição de capim limão da horta da fazenda em que a cervejaria está localizada. De coloração dourada com turbidez mínima e creme branco espesso e majestoso de ótima formação e permanência, a Zalaz Capim Limão apresenta um aroma com o frescor do capim-limão se envolvendo deliciosamente com as notas de cereais da receita. Há, ainda, leve doçura. Na boca, refrescancia de capim limão já no primeiro toque, seguida de leve toque cítrico e herbal além de doçura média. O amargor é baixo, 25 IBUs, a textura é leve e, dai pra frente, surge um conjunto deliciosamente refrescante, que oferece mais do que uma Pilsen tradicional e, sim, até por isso descaracteriza um pouco o estilo (pro bem). No final, capim limão. No retrogosto, herbal, cítrico leve e refrescancia deliciosa.
De Minas Gerais para o bairro de Santa Cecilia, em São Paulo, que abriga o taproom da Cervejaria Dogma, que retorna ao site com duas cervejas produzidas no local. A primeira é a Hefe Hopfen, uma Hopweiss que destaca a utilização dos lúpulos Ariana e Mandarina Bavaria. De coloração amarelo palha com creme branquíssimo de ótima formação e média alta retenção, a Dogma Hefe Hopfen apresenta um aroma que combina notas herbais, leve cítrico (casca de laranja), um toque de anis (até achei que havia El Dorado aqui) com a potência da sugestão de banana tradicional do estilo e a leveza da percepção de trigo. Na boca, herbal meio floral no primeiro toque seguido de condimentação, um toque cítrico e anis. O amargor é baixo, a textura é leve querendo ser cremosa, e, dai pra frente, surge um conjunto bastante agradável que cumpre a promessa da Weiss lupulada. No final, herbal e anis. No retrogosto, mais herbal, mais anis e um pouco de sugestão de pão.
Retornando para Nova Lima com um clássico da Cervejaria Capapreta, a Melon Collie IPA, uma India Pale Ale turbinada com maltes estadunidenses, mas com a grande diferença vinda da utilização do malte alemão Hull Melon – há, ainda, adição de aveia na receita (e, sim, o nome também com o melhor disco de toda a carreira dos Smashing Pumpkins). De coloração dourada levemente translucida com creme branco espesso de ótima formação e média alta retenção, a Capapreta Melon Collie IPA exibe um aroma com uma pancada de frutas cítricas (maracujá em destaque, mas também manga e toranja) seguidas de doçura de malte, suave, quase discreta, e também leve herbal. Na boca, frutado cítrico no primeiro toque (maracujá) seguido de herbal envolvente, doçura discreta e amargor menos pegado do que eu esperava (50 IBUs que soam 30), e me deixou felizmente surpreso. A textura é cremosa e, dai pra frente, segue se uma IPA exemplar, saborosíssima, frutada e levemente amarga. No final, amargor sutil, mas mais pegado. No retrogosto, maracujá, pinho e toranja. Bela!
A segunda da Cervejaria Pratinha é a Cabruca, uma Catharina Sour com polpa de cacau do sul do Bahia. De coloração amarela mais para o palha com leve traços avermelhados e creme branco de média formação e retenção, a Cabruca apresenta um aroma com notas frutadas que remetem a doçura do caju, trazendo ainda um pouco de sugestão de acidez. Há, ainda, percepção de azedume e uva verde. Na boca, suco de caju alcoólico (3.4% apenas) no primeiro toque seguido de doçura da fruta, azedume suave e sugestão tanto de uva quanto de maçã verde. A acidez é baixa, o amargor é zero, a doçura chega a impressionar e a textura é levemente (mas bem leve mesmo) frisante. Dai pra frente, a sensação é de um suco de caju verde bastante saboroso e refrescante. No final, caju. No retrogosto, refrescancia.
A outra representante da Colorado é a Tropicana, uma lager cuja receita utiliza duas frutas citadas na famosa letra de “Morena Tropicana”, de Alceu Valença, o umbu e o cajá. De coloração dourada, cristalina, com creme branco espesso de ótima formação e média alta retenção, a Colorado Tropicana apresenta um aroma com presença sutil das duas frutas, mas facilmente perceptíveis, ou seja, o perfil lager continua dando as cartas (ainda que alguns a classifiquem com Fruit Beer pela adição do umbu e do cajá) e as frutas dão um leve colorido tanto na paleta aromática quanto no paladar, que abre com uma doçura frutada leve, mas deliciosa no primeiro toque seguida de doçura maltada média (mel) e um amargor bem baixinho, 10 IBUs para se beber um caminhão tanque de cerveja. A textura é leve com discreta cremosidade. Dai pra frente, uma lager delicadamente frutada deliciosa, perfeita para o verão. No final, frutadinho suave. No retrogosto, doçura leve e refrescancia.
Agora mais uma da mineira Zalaz, que retorna com um rótulo da linha Potira, que homenageia flores. A desta vez é a Viúva da Manhã, uma flor rara e escura, que aqui enaltece o estilo Black IPA com adição de café da Fazenda Santa Terezinha, em Paraisópolis, local que abriga a cervejaria. De coloração marrom bastante escura e creme bege médio, a Zalaz Viúva da Manhã apresenta um aroma com muita presença de lúpulo Cascade, forte sugestão herbal e o café tradicional que (a torra do malte e) o estilo acrescenta(m), nada mais. Na boca, herbal e torra praticamente juntas no primeiro toque, seguindo-se juntas e abraçadas e enamoradas dai pra frente. É possível perceber toques deliciosos de café, ainda que não dê para distingui-los como sendo café ou notas provenientes da torra do malte. O amargor é médio, 58 IBUs marcantes, mas não exagerados. A textura é suave e levemente picante. Dai pra frente, segue-se um conjunto bastante saboroso, com herbal (derivado do lúpulo), café e amargor muito bem balanceados. No final, amargor e torra. No retrogosto, café, pinho e amargor.
Encerrando o passeio pela paulistana Dogma com a Gymnopedie, uma Sour IPA com adição de mirtilo, abacaxi, lactose e baunilha além de utilização do lúpulo HBC 472. De coloração vermelha turva, juicy (para usar um termo na moda cervejeira), com um creme branco com traços vermelhos de boa formação e baixa retenção, a Dogma Gymnopedie apresenta um aroma que remete a um Danoninho de morango liquido com baunilha e mirtilo destacados, saltando pra fora da taça e inebriando o ambiente. Ainda é possível perceber, sutilmente, o abacaxi. Na boca, a sensação de Danoninho liquido permanece, mas as notas se aprofundam mais com mirtilo se destacando no primeiro toque, abacaxi ainda sutil, mas perceptível na sequencia, e a baunilha fazendo a diferença em seguida. Não há sensação de amargor, e mesmo a acidez derivada do estilo Sour é bem baixa numa proposta de Keetle Sour que resulta em uma cerveja de textura levemente frisante deliciosa, que provoca o bebedor (tal como Erik Satie fazia com sua música). No final, acidez leve, mirtilo e baunilha. No retrogosto, Danoninho. Delicia.
Balanço
A Capapreta Porter Berry foi uma bela surpresa pelo equilíbrio do conjunto, saboroso. (…)A Votus 018, apesar de bagunçar o estilo com a adição de café, entrega uma baita cerveja saborosa, uma cafezão gelado delicioso! A Pratinha Birudo, no entanto, não me impressionou. Me pareceu cansada, melada demais, com os adjuntos pouco presentes. Falando em melado, a Colorado Double Appia é puro mel… e enjoa um tiquinho, mas divida a garrafa e seja feliz. A Zalaz Capim Limão vai além do que uma Pilsener oferece, e uma delícia refrescante. A Dogma Hefe Hopfen é uma Hop Weiss bem agradável, com lúpulo destacado e sugestão de pão. A Capapreta Melon Collie IPA é uma IPA digníssima desses mineiros, com frutado, herbal e amargor muito bem distribuídos numa cerveja cremosa. A Pratinha Cabruca é uma Catharina que abdica do Sour, mas ainda assim soa bastante saborosa. Colorado Tropicana é uma lager deliciosa, com a fruta trazendo bastante delicadeza, mas também personalidade. A Zalaz Viúva da Manhã é uma Black IPA tradição, e eu esperava que o café saltasse mais, mas não saltou. Fechando com a Dogma Gymnopedie, uma Keetle Sour que mais parece um Danoninho liquido. Delicia.
Capapreta Porter Berry
– Produto: Porter
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5.5%
– Nota: 3,49/5
Pratinha Birudo
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5.9%
– Nota: 2,98/5
Colorado Double Appia
– Produto: Hefeweis
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3,29/5
Zalaz Capim Limão
– Produto: Pilsener
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,41/5
Dogma Hefe Hopfen
– Produto: Hefeweizen
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3,50/5
Capapreta Melon Collie IPA
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.5%
– Nota: 3,67/5
Pratinha Cabruca
– Produto: Catharina Sour
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 3.4%
– Nota: 3,31/5
Colorado Tropicana
– Produto: American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.3%
– Nota: 3,30/5
Zalaz Viúva da Manhã
– Produto: Black IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7.5%
– Nota: 3,47/5
Dogma Gymnopedie
– Produto: Sour IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.3%
– Nota: 3,83/5
Leia também
– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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