Pato Fu festeja 27 anos com um belo show “para maiores” em SP

Texto por Marcelo Costa
Fotos por Fernando Yokota

Uma das mais bandas mais legais da música brasileira nos últimos 30 anos, o Pato Fu decidiu dar um descanso para os instrumentos de brinquedo (no momento em que lançam o segundo DVD da série) para festejar 27 anos de estrada com um show “para maiores” no Carioca Club, em São Paulo – ainda que o repertório de “Música de Brinquedo 2” seja uma deliciosa provocação – também para maiores – que só os mineiros manjam fazer. Foi uma noite repleta de fãs saudosos na plateia relembrando qual foi a primeira vez que ouviu e viu um show da banda, até quantos shows já tinham visto e memórias dos encontros com o casal Fernanda Takai e John Ulhoa – completam o time Ricardo Koctus (baixo), Glauco Mendes (bateria) e Richard Neves (teclados).

Uma banda de fãs apaixonadamente fieis, “o Pato Fu de 2019 continua sendo, em essência, o Pato Fu de 1992. Eles souberam atravessar os anos 90 com sabedoria, em meio aos percalços de praxe, e hoje podem gozar de liberdade criativa total, utilizando a seu favor o que antes era intuitivo. Dessa forma, o que se celebra aqui não é apenas a longevidade de uma deliciosamente atípica banda de sucesso chamada Pato Fu, mas também (e principalmente!) a sua esperteza, genialidade e, claro, sorte em ter conseguido se destacar no cenário mantendo intactas suas características primordiais de pop rock torto esquisito e divertido” (trecho control c control v da introdução ao “Songbook do Pato Fu”, escrito por este que vos fala.

Apesar de saber de tudo que um ato celebratório carrega e da insistência da banda em permanecer criativa num mundo que louva a zona de conforto, vê-los ao vivo reiterando essa sabedoria pop (aliada, agora, a um posicionamento político necessário nestes tempos incertos) é de colocar um grande sorriso no rosto e alimentar a adrenalina com amor. Ainda que o último disco de inéditas (para maiores) seja de cinco anos atrás (“Não Pare Pra Pensar”, de 2014), as canções que ecoaram no Carioca Club perpassando toda a carreira dos mineiros traziam um frescor que fazia imaginar pão de queijo quentinho saindo do forno agora mesmo. O tempo, tempo, tempo, mano velho, passa para todos nós, mas para o Pato Fu parece que só faz melhorar a aparência, o caráter “à vontade” no palco, e a delicia de um repertório incrível repleto de lados b (ainda que os fãs pedissem épicos como “Um Ponto Oito” e “Capetão” a todo momento)…

Diante de uma casa com um ótimo público (que iria cantar praticamente tudo na próxima hora e meia) , mas longe de estar sold out, os mineiros abriram a noite com “O Hino Nacional do Pato Fu”, presente no disco de estreia, o independente “Rotomusic de Liquidificapum”, de 1993 – já ouviu a sensacional versão com João Gordo? Na sequencia, uma das favoritas dos fãs do álbum “Tem Mas Acabou” (1996), “Por Que Te Vas”, escrita pelo compositor espanhol José Luis Perales, e sucesso mundial nos anos 1970 por embalar algumas cenas do filme “Cria Cuervos”, de Carlos Saura (sendo exibido no telão). Ao final, a vocalista saudou o resgate de uma canção em espanhol num momento em que precisamos olhar e aprender com nossos vizinhos latinos: “A gente também precisa ir para a rua”, disse Fernanda Takai.

O grande álbum “Gol de Quem?” (1995) foi celebrado na sequencia com a execução do hit “Sobre o Tempo” e também da deliciosa (e rara) “Spoc”, e ainda traria para a noite outros dois grandes momentos, duas covers: primeiro “Qualquer Bobagem”, de Tom Zé e gravada pelos Mutantes (com direito ao clipe que a banda fez na metade dos anos 90 sendo exibido no telão), e “Vida de Operário”, dos Excomungados, já no primeiro bis, e que John contou ironicamente ter sido gravada pela banda quando “o Brasil era socialista e o comunismo dava certo aqui”. Outro momento politico veio na sequencia (e terminaria no camarim, com a banda mandando um feliz aniversário para o ex-Presidente Lula): “Me disseram que esse governo deixou essa música ainda mais atual”, a deixa para “Menti Pra Você, Mas Foi Sem Querer”, do grandioso “Ruido Rosa” (2001).

Entre os grandes momentos da noite estiveram a maravilhosa execução de “Agridoce”, que trouxe ao cabo o hit (e outra grande letra de John) “Perdendo os Dentes”, mais a sempre divertida “Made in Japan” (para felicidade de um grupo de japoneses no bar do local), a delicada “Canção Pra Você Viver Mais” e a luz lançada sobre “Simplicidade’, uma faixa menos badalada (e incrível – aliás, procurem a versão 2.0) do álbum “Toda Cura Para Todo Mal” (2005), apresentada por John “como nossa canção mais mineira”. Mais hits radiofônicos (“Depois” e as covers para “Eu Sei” e “Eu”, respectivamente da Legião e da Graforreia) e o pano seria baixado no segundo bis de maneira monocratica, pois enquanto fãs gritavam por umas 10 músicas diferentes, e Fernanda explicava que o Pato Fu é uma democracia, John pontuava: “Que nada, é uma monocracia em que importa o que é melhor para a Fernanda, afinal, a panela é dela”, citando uma das músicas do repertório do Sexo Explícito (sua banda nos anos 80 com Rubs Troll) recuperada pelo Pato Fu de maneira irreparável no álbum “Isopor” (1999): a sensacional “O Filho Predileto do Rajneesh”.

Faltaram muitas (pruma banda com 27 anos de estrada, sempre falta), mas a sensação de leveza na alma por reencontrar o Pato Fu inspiradíssimo em seu formato “para maiores” estampava um sorriso nos lábios de todos, enquanto fãs faziam uma fila na entrada do camarim para registrarem essa noite em suas memórias ao lado do quinteto, e poderem dividir com outros amigos em shows futuros (e, claro, em suas redes sociais). Fica a torcida para que a turnê “Música de Brinquedo” perdure, assim como o sucesso da carreira solo de Fernanda Takai, mas também o desejo para que essa noite “para maiores” não fique apenas nesta comemoração (paulista), e sim parta para outras praças alternando o repertório e distribuindo felicidade musical para esse país tão carente de carinho, cuidado, amor e compreensão. Afinal, é muito mais do que apenas música…

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/

5 thoughts on “Pato Fu festeja 27 anos com um belo show “para maiores” em SP

  1. Um show emocionante ( sou fã do Pato Fu desde os meus 14 anos, nunca tinha visto ao vivo…acreditem!!!Sou do interior do Paraná e durante 22 anos nunca havia conseguido me programar até que minha irmã me presenteou com esse) ..Foi lindo me chorar na abertura e chorar em ver Fernanda ( essa mulher extraordinária) de pertinho pela primeira vez… Amei demais!!!

  2. Sem duvida é a melhor banda de todos os tempos, estava lá, e pude conferir como eles são Fu…
    Caramba, escutar Agridoce, foi mel para meus ouvidos, que música boa , umas das melhores do mundo, merece entrar em todos as listas de melhores do universo. Que venha mais shows como esse. Abraços a todos

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