Três livros: “A Mulher Na Janela”, “Elza”, “Marrom e Amarelo”

Resenhas por Adriano Mello Costa

“A Mulher Na Janela”, de A. J. Finn (Editora Arqueiro)
Um dos livros mais vendidos de 2018 nos EUA foi “A Mulher Na Janela” (The Woman In The Window), que logo teve os direitos vendidos para um filme que chega provavelmente no início de 2020 com a estupenda Amy Adams no papel da protagonista. A editora Arqueiro publicou nacionalmente a obra em 2018 com 352 páginas e tradução de Marcelo Mendes. Com elogios de autores consagrados como Gillian Flynn e Stephen King, o trabalho causou burburinho também por conta do autor. Creditado no livro como A. J. Finn, na verdade descobriu-se depois que se tratava de Dan Mallory, escritor que conta com um histórico de mentiras e invenções na bagagem, mas, isso é outra história. Na trama de “A Mulher Na Janela”, a personagem Anna Fox sofre de agorafobia e vive trancada em casa com pouco contato real além do psiquiatra e da fisioterapeuta. Tem como principal passatempo espionar os vizinhos pela janela se dedicando a pesquisas virtuais sobre cada um deles, enquanto mistura seus remédios com (muito) vinho, assiste a filmes antigos e conversa em um fórum da internet com pessoas que sofrem da mesma doença. Com uma rotina quase que totalmente estabelecida, ela vai muito levemente superando os medos, mas vê as coisas mudarem quando uma nova família muda para a rua. Da curiosidade e excitação inicial a trama gira para uma sequência de ardis, farsas e trapaças embaladas com muita paranoia. Com reviravoltas interessantes, a leitura é daquelas capazes de prender o leitor, contudo ao término é esquecida tão rapidamente quanto foi consumida.

Nota: 6 (leia um trecho)

“Elza”, de Zeca Camargo (Editora Leya)
Antes da palavra “resiliência” aparecer diariamente em status e perfis de redes sociais (sem muito sentido na maioria delas, convenhamos), ela já encontrava há muito tempo eco e relação direta com a carioca Elza Gomes da Conceição, a Elza Soares. Desde criança (nascida em 1930), passando pelo ano de 1953 onde teve a “audácia” de subir em um auditório comandado por Ary Barroso encantando o apresentador e o público, até a última revigorada na carreira iniciada com o estupendo disco “A Mulher do Fim do Mundo”, de 2015, a vida de Elza Soares é uma constante de retomadas, quedas, adaptação, mudanças e novas retomadas. Na biografia “Elza”, que a editora Leya lançou em 2018 com 384 páginas, o jornalista Zeca Camargo se debruçou sobre essa vida tão ampla e tão marcante que já atravessa oito décadas com a missão de contar parte de tudo que aconteceu baseado em pesquisas e principalmente nos olhos e memória da própria artista. De sair na rua quando criança catando coisas do chão e do lixo para vender depois e ajudar em casa, de ser forçada a casar aos 13 anos com um homem que também não era mais que um garoto, da morte do primeiro filho, do relacionamento mais que intenso com Garrincha, das diversas baixas e dos recomeços que vieram em sequência, Elza sempre renasceu mais e mais forte. Com o caminho sempre marcado pela violência e o preconceito, temos uma história de vida espetacular, que apesar de ser escrita com um tom (talvez) leve demais, ainda assim vale cada página.

Nota: 8

“Marrom e Amarelo”, Paulo Scott (Editora Alfaguara)
O racismo está entranhado na cultura nacional, por mais que alguns rebolem com argumentos mirabolantes ou comparações esdrúxulas tentando negar esse fato. Está na escola, na rua, na universidade, no escritório, em casa, na festa. Vai desde o apelido “inofensivo” até atos e injúrias que desestruturam e são espelhados em maior grau para o resto da vida em oportunidades de trabalho, promoções, reconhecimento, etc. É sobre isso (e mais um monte de coisa) que o escritor gaúcho Paulo Scott fala em “Marrom e Amarelo”, lançamento desse ano da editora Alfaguara com 160 páginas. Na base, trata-se da história dos irmãos Federico e Lourenço em diversos momentos da vida que se entrelaçam do meio para o final, porém vai além disso e é – em algum nível – a história de milhares de pessoas espalhadas pelo país. Começa com Federico entrando em uma comissão federal de um novo governo espúrio que tem como missão rever o processo do ingresso de jovens negros no ensino superior pelo sistema de cotas, retorna para a adolescência em Porto Alegre e deságua no confronto da sobrinha com a Polícia em um protesto. De absurdos maiores como a criação de um software para definir quem é negro ou não até coisas menores do cotidiano, a obra de Paulo Scott é Brasil em estado puro. Com uma narrativa que alterna o tipo de escrita, mas nunca deixa de ser direta, clara e simples, temos um trabalho poderosíssimo e mais atual e relevante do que nunca. Uma pedrada daquelas.

Livro: 9,5 (leia um trecho)

– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop ( http://coisapop.blogspot.com.br ) e colabora com o Scream & Yell desde 2009!

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