Projeto Tanto Mar: Mini Box Lunar entrevista Madrepaz

por Rafael Monteiro

“A conjuntura é favorável para o surgimento de registros artísticos que venham colaborar para a luta em um país em colapso”, assim explica o músico Otto Ramos ao ser questionado sobre o motivo do Mini Box Lunar estar só agora lançando seu primeiro álbum. Formado em 2008 na cidade de Macapá, o grupo, que já rodou o país com seu pop psicodélico, está a 10 anos preparando o seu primeiro registro de estúdio. “Passou pela produção do Miranda, ele se foi e deixou muitas referências pra nós, será um disco com coisas dele e novas músicas”.

Cruzando o oceano temos o Madrepaz, banda de Lisboa formada por remanescentes do Os Golpes, nome importante da chamada “nova música portuguesa” no começo do milênio. O Madrepaz se destaca pela sua performance cênica, o lirismo que nos remete aos grandes nomes do cancioneiro português como Zeca Afonso e a musicalidade psicodélica do rock dos anos 60 e 70. O conjunto, que no ano passado lançou o seu segundo álbum, “Bonanza”, está passando por um ótimo momento ao chegar este ano à final do Festival da Canção com sua interpretação da música “Mundo a Mudar”.

O fascínio pela liberdade estética dos anos 60 é claramente um ponto em comum entre as duas bandas. Ao ouvir o a música dos portugueses, o MiniBox Lunar percebeu rapidamente uma conexão estética: “Gostamos da temática que resgata ancestralidade com música pop, a maioria dos trabalhos assim são de música tradicional”, afirma Otto Ramos, que chama atenção ainda para o cuidadoso trabalho nas vozes harmonizadas e no visual do grupo tuga. Sendo, segundo ele, “um fator que potencializa as letras e toda a música do Madrepaz”.

Influências, instrumentos musicais, música portuguesa e até mesmo Clube da Esquina são alguns dos assuntos que rolaram neste segundo capítulo de nosso projeto, que segue firme na luta por criar conexões e promover a troca de ideias entre artista brasileiros e portugueses. E do outro lado desta ponte, apesar de tanto mar, o Mini Box Lunar recebe um caloroso alô lusitano de Pedro da Rosa (voz/baixo) em nome dos Madrepaz: “Muito obrigado pelas perguntas apuradas e inteligentes. Cá vai o nosso melhor para responder”. Confira o bate papo:

Mini Box Lunar: O som de vocês lembra muito a música mineira do Brasil, como Clube da Esquina. Há uma busca mais apurada quando o assunto é arranjo vocal?
Madrepaz: Quando começamos a correr o país para apresentar o nosso primeiro disco, “Panoramix” (2017), começamos também a ouvir essa comparação com o Clube da Esquina, que não conhecíamos (apenas o Milton, de quem somos grandes admiradores). Foi como um presente que estava por desembrulhar há 40 anos! A comparação é, portanto, recebida com muita honra e simpatia. Diria que, resumida e fundamentalmente, temos em comum a língua portuguesa e a influência dos Beatles. Cá por casa trabalhamos sempre até nos soar tudo harmonioso, de maneira confortável e prazerosa. Os arranjos vocais são como um músculo que trabalhámos durante muito tempo, até soarem naturais e a nós próprios. Nem sempre é fácil encontrar as soluções, mas é um jogo muito divertido por si só.

Mini Box Lunar: Percebemos no vídeo do Sofar que na formação da banda não tem baixo, a segunda guitarra está com oitavado simulando um baixo?
Madrepaz: É isso, com outros truques à mistura. É o baixo-batota. No início, ainda experimentei agarrar numa viola baixo, mas o braço e a grossura das cordas não eram tão confortáveis como a guitarra elétrica que estudei desde a adolescência. Então adaptei-me com o que tinha à mão: um amplificador de baixo, a guitarra certa com uns toques na eletrônica e um pedal de oitavas que usava para simular um orgão. Juntei-lhe umas cordas flatwound e ficamos todos contentes com o som.

Mini Box Lunar: O que há hoje no trabalhado de vocês que lembrem as primeiras bandas que vocês participaram, o que ficou impresso na identidade musical do Madrepaz?
Madrepaz: Diria que o Canina (bateria) tem uma batida muito dele, facilmente reconhecível em qualquer banda por onde passou… E as vozes (minha e do Ricardo).

Mini Box Lunar: O rosto de cada um de vocês está pintado em algumas lives ou clipes, o que são essas pinturas?
Madrepaz: É uma moda auto-imposta que, como todas as modas, também passará.

Mini Box Lunar: O que da música portuguesa tradicional (além das vozes arranjadas) está impresso nesse último disco?
Madrepaz: Principalmente o ritmo, estruturas líricas e alguns arranjos e sons de instrumentos tradicionais portugueses. No “Bonanza” (2018) saíram canções em ¾, meio “corridinho”, e houve muita influência lírica de senhores da Música Popular Portuguesa como José Mário Branco, Fausto Bordalo Dias e José Afonso.

– Rafael Monteiro (fb/rafael.monteiro.7902) é professor, músico e responsável pelo Projeto Tanto Mar.

PROJETO TANTO MAR:
01) Terceiro Mundo Bom (Brasil) entrevista Tipo (Portugal)

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